As aves oceânicas ou aves marinhas são aves adaptadas ao meio ambiente marinho, como os albatrozes, não se devendo confundir com as aves costeiras já que, ao contrário destas, apenas vêm a terra com a intenção de nidificar.[1] Apesar da variedade de estilos de vida, comportamento e fisiologia, as aves marinhas exibem muitas vezes uma marcada convergência evolutiva, já que os mesmos problemas de adaptação ao seu ambiente e os mesmos nichos ecológicos alimentares resultaram em adaptações semelhantes. As primeiras aves marinhas evoluíram no Cretácico e as modernas famílias de aves marinhas emergiram no Paleogénico.

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Uma avoceta (Recurvirostra avosetta) em Norfolk.

De maneira geral, as aves marinhas vivem mais tempo, reproduzem-se mais tarde e têm menos crias do que outras aves, mas investem grande quantidade de tempo nas crias. A maioria das espécies nidifica em colónias, que podem ser constituídas desde algumas dúzias de indivíduos até alguns milhões. Muitas espécies são conhecidas por efectuarem grandes migrações anuais, atravessando o equador ou dando a volta à Terra em alguns casos. Alimentam-se na superfície marinha e também abaixo dela. As aves marinhas podem ser marcadamente pelágicas, costeiras ou em alguns casos passar uma parte do ano sem ser no mar.

As aves marinhas e o ser humano possuem uma longa história comum: as aves providenciam comida aos caçadores, guiam os pescadores até ao stocks de pesca e encaminham os velejadores até terra. Muitas espécies estão actualmente ameaçadas devido a actividades humanas, sendo que estão a ser efectuados esforços de conservação para melhorar a situação.

Classificação de espécies como aves marinhas

Não existe uma única definição sobre que grupos, famílias e espécie são aves marinhas, e a maioria das definições são de certa forma arbitrárias. Nas palavras de duas cientistas que estudam estas aves, "A característica comum a todas as aves marinhas é a de que se alimentam em água salgada; mas, como acontece com qualquer afirmação na Biologia, tudo tem exceção".[2] No entanto, por convenção, todos os pinguins e Procellariiformes, todos os Pelecaniformes excepto os membros da família Anhingidae, e alguns dos Charadriiformes (as skuas, gaivotas, andorinhas-do-mar, tordas e bicos-de-tesouras) são classificados com aves marinhas. O falaropo também é normalmente incluído.

As mobelhas e os mergulhões, que normalmente nidificam em lagos mas invernam no mar, são normalmente categorizadas como aves aquáticas e não aves marinhas. Apesar de ocorrerem um número de patos-marinhos na família Anatidae, que são verdadeiramente marinhos durante o Inverno, por convenção são excluídos do grupo das aves marinhas. Muitas aves costeiras e também alguns ardeídeos são também altamente marinhos, vivendo junto à costa, mas não são tratados como aves marinhas.

Evolução e registo fóssil

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Hesperornis: uma ave marinha do Cretácico

As aves marinhas, em virtude de viverem num ambiente geológico deposicional (isto é, no ambiente marinho onde os sedimentos são prontamente levados para o fundo), estão bem representados no registo fóssil.[2] A sua primeira aparição acontece no Cretácico e o primeiro grupo a aparecer foram os Hesperornithiformes, como a espécie Hesperornis regalis, uma ave marinha semelhante à mobelha e que mergulhava usando as patas para se deslocar,[3] possuindo um bico cheio de dentes afiados.[4]

Apesar de Hesperornis não ter presumivelmente deixado descendentes, a mais antiga ave moderna marinha também apareceu no Cretácico, com uma espécie denominada Tytthostonyx glauconiticus, que se julga próxima dos Procellariiformes e/ou dods Pelecaniformes. No Paleogeno, os mares foram dominados por Procellariidae ancestrais, pinguins gigantes e duas extintas famílias, Pelagornithidae e Plotopteridae (um grupo de grandes aves marinhas que se assemelhavam a pinguins).[5] Os géneros modernos começaram a sua grande rediação no Miocénico, apesar de o género Puffinus (que inclui a actual pardela-preta e o bobo-pequeno) poderão datar do Oligocénico.[2] A maior diversidade de aves marinhas terá aparentemente ocorrido durante e Miocénico tardio e durante o Pliocénico. No final deste último, a cadeia alimentar oceânica sofreu um período de distúrbio devido à extinção de um número considerável de espécies marinhas;[6] subsequentemente, a dispersão de mamíferos marinhos parece ter prevenido que as aves marinhas conseguissem atingir uma diversidade como antes.[7]

Características

Adaptações à vida marinha

As aves marinhas possuem numerosas adaptações à vida e à alimentação em regiões oceânicas. A morfologia da asa foi moldada pelo nicho onde uma espécie individual ou uma família evoluiu, de tal modo que a ser observada a forma da asa e a carga alar, um cientista pode aferir os seus comportamentos de alimentação. Asas mais compridas e com baixa carga alar são típicas de espécies de aves pelágicas, enquanto que aves mergulhadoras possuem asas menores.[8] Espécies como o albatroz-errante, que se deslocam e se alimentam em grandes distâncias no oceano, têm uma capacidade reduzida de voo propulsionado e são dependentes de um tipo de voo planado denominado voo dinâmico (ende o vento deflectido pelas ondas providenciam meio de sustentação de voo) ou através de voo de talude.[9] As aves marinhas possuem normalmente patas com membranas interdigitais, com vista a ajudar na movimentação no topo da água, assim como no auxílio ao mergulho em algumas espécies. Os Procellariiformes têm uma característica pouco usual nas aves: o seu sentido do olfacto é apurado, utilizado para localizar comida à distância num oceano vasto,[10] e possivelmente para localizarem as suas colónias.

As glândulas do sal são usadas pelas aves marinhas para lidar com o sal que ingerem por beberem água do mar e ao alimentarem-se (particularmente de crustáceos), ajudando-as a osmorregular.[11] As excreções destas glândulas posicionadas na cabeça das asas, emergido da fossa nasal, são formadas quase exclusivamente por cloreto de sódio puro.

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Este corvo-marinho-de-orelhas (Phalacrocorax auritus), possui uma plumagem que é parcialmente humedecível, permitindo que mergulhe com maior eficácia

Com excepção dos cormorões e algumas espécies da família Sternidae, e em comum com a maioria das outras aves, todas as aves marinhas possuem uma plumagem à prova de água. No entanto, comparadas com as aves terrestres, possuem muito mais penas a providenciar protecção ao corpo. Esta densa plumagem é mais apta a proteger a ave de ficar molhada, sendo que o calor é mantido por uma densa camada de penugem. Os cormorões possuem uma camada especial de penas que retêm uma pequena camada de ar, mas que de qualquer maneira absorve água.[12] Isto permite que estas aves possam nadar sem que tenham de combater a força que impele a boiar, causada pelo ar retido nas penas, e ao mesmo tempo evitando uma excessiva perda de calor causada pelo contacto com a água.

A plumagem da maioria das aves marinhas é menos colorida que a das terrestres, variando principalmente nos tons de preto, branco e cinzento.[8] Algumas espécies exibem plumas coloridas (como algumas aves tropicais e pinguins), mas a maioria da cor nas aves marinhas aparece no bico ou nas patas. Pensa-se que a plumagem das aves marinhas, em muitos casos, sirva como camuflagem, quer defensiva (a cor dos navios de guerra da Marinha dos Estados Unidos é a mesma do prion-antarctico,[8] e em ambos os casos existe redução de visibilidade) quer agressiva (o ventre de cor branca exibido por muitas aves marinhas ajudam-nas a serem menos visíveis para as suas presas que se encontram abaixo).

Dieta e alimentação

As aves marinhas evoluíram para explorar diferentes recursos alimentares existentes nos oceanos e mares do planeta, e de uma maneira geral, a sua fisiologia e comportamento foram moldados pela sua dieta. Estas forças evolutivas muitas vezes causaram que espécies em diferentes famílias e até ordens, desenvolvessem estratégias e adaptações similares para os mesmos problemas, dando origem a uma notável convergência evolutiva, tal como acontece com as tordas e os pinguins. Existem quatro tipos básicos de estratégias alimentares, ou guildes ecológicas, relativas a alimentação no mar: alimentação à superfície, mergulho de perseguição, mergulho em voo picado e predação de vertebrados superiores; dentro destas guildes existem múltiplas variações.

Alimentação à superfície

Muitas aves marinhas alimentam-se à superfície do oceano, já que a acção das correntes marinhas muitas vezes concentra alimentos com o krill, peixes, lulas ou outras presas, logo abaixo da superfície e ao alcance do bico.

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Um painho-de-wilson logo acima da superfície da água

A alimentação à superfície pode ser dividida em dois tipos principais: alimentação à superfície em voo (praticado, por exemplo, pelos membros do género Pterodroma e Fregata e pelos painhos) e alimentação à superfície utilizando movimentos de natação (praticada pelos fulmares, pelas gaivotas e pelos membros do género Pterodroma). As que se alimentam à superfície em voo são das aves marinhas mais acrobáticas, apanhando pequenos pedaços de comida da água (como fazem os membros da família Fregatidae e alguns da família Sternidae), ou "caminham", movimentando as patas de maneira suave e rápida, ou ficando suspensas na superfície da água, tal como alguns painhos fazem.[13] Muitas destas aves nunca sequer chegam a descansar em água, e algumas têm dificuldade em voltar a colocarem-se em voo se o fizerem.[14]

Referências bibliográficas

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