Carcassona
comuna francesa / De Wikipedia, a enciclopédia encyclopedia
Carcassona[2][3][4] (em occitano: Carcassona; em francês: Carcassonne, forma também usada em português) é uma comuna francesa do departamento de Aude na região de Occitânia.[5] Em 2010 a comuna tinha 47 795 habitantes (densidade: 734,4 hab./km²).[1] Em 2009, residiam na área urbana 96 420 pessoas.
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Comuna francesa | |||
Vista aérea da cidade | |||
Símbolos | |||
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Gentílico | carcassonnais | ||
Localização | |||
Localização na França | |||
Coordenadas | 43° 13' N 2° 21' E | ||
País | França | ||
Região | Occitânia | ||
Departamento | Aude | ||
Administração | |||
Prefeito | Gérard Larrat (UMP; 2020–2026) | ||
Características geográficas | |||
Área total | 65,08 km² | ||
População total (2018) [1] | 47 795 hab. | ||
Densidade | 734,4 hab./km² | ||
Altitude | 100 m | ||
Altitude máxima | 250 m | ||
Altitude mínima | 81 m | ||
Código Postal | 11000 | ||
Código INSEE | 11069 | ||
Sítio | www |
A cidade situa-se numa região povoada desde o Neolítico, na planície do Aude, na encruzilhada de dois importantes eixos de circulação, usados desde a Pré-história, que ligam o Oceano Atlântico ao Mediterrâneo e o Maciço Central francês aos Pirenéus. Encontra-se 90 quilómetros a sudeste de Toulouse, 60 km a oeste de Narbona e cerca de 70 km a oeste da costa mediterrânica. É conhecida pela sua cidadela, construída c. 890–910, para defesa contra os ataques dos normandos e inscritas na lista do Património Mundial desde 1997.[6]
O primeiro topónimo conhecido da cidade é Carcasso. Plínio, o Velho (século I d.C.) cita esse nome, ou mais precisamente Cascasso dos Volcas Tectósagos (em latim: Carcaso Volcarum Tectosage), mas aparentemente o nome já existia no século XIV a.C.[7] O nome em occitano (Carcassona) deriva diretamente da forma latina. Os francos, que tomaram a cidade aos sarracenos no século VIII, chamaram à cidade Karkashuna. Outros nomes conhecidos são Carcasona e Carcassiona.[8]
- Lenda da origem do nome
Segundo uma lenda local, o nome da cidade data do início do século IX, quando estava nas mãos dos sarracenos. A lenda reza que Carlos Magno cercou a cidade, mas a governante local, a Dama Carcas resistiu tenazmente. Os dois exércitos tinham poucos mantimentos e os soldados ficaram famintos. Quando não restava mais do que uma medida de trigo e um pequeno porco na cidade, a Dama Carcas teve uma ideia para desmoralizar os inimigos
O porco foi alimentado com o trigo e depois foi lançado por cima das muralhas para os sitiantes. Pensando que a cidade tinha ainda muitos mantimentos, Carlos Magno levantou o cerco. Nesse momento, a Dama Carcas fez soar as trompetas, o que fez o imperador franco voltar atrás e a Dama Carcas propôs-lhe então a paz. Daí vem a expressão "Carcas sonne" (lit: "Carcas soa").
Historicamente, a reconquista das terras do Languedoque ocorreu durante o reinado do pai de Carlos Magno, Pepino, o Breve, em meados do século VIII, quando Carlos era adolescente, pelo que é pouco provável que tivesse comandado um cerco a Carcassona.
Localização
Carcassona situa-se no sul de França, na região natural conhecida como o Carcassès ou o Carcassonnais, uma planície limitada pela Montanha Negra a norte, o maciço das Corbières a leste, a planície do Lauragais a oeste e o vale do Aude a sul.
Em termos geológicos, planície é constituída por depósitos recentes trazidos pelo Aude e provenientes dos Pirenéus. Esses depósitos são chamados molassa de Carcassona, a qual se carateriza por uma alternância de arenito, conglomerados e margas arenosas fluviais datadas do Eoceno.
A cidade é cruzada por três cursos de água: o rio Aude, o Fresquel e o canal do Midi.
Comunas limítrofes de Carcassona | ||
Pennautier • Pezens | Villemoustaussou | Villalier • Villedubert |
Caux-et-Sauzens | Berriac • Trèbes | |
Lavalette • Roullens • Alairac | Cavanac • Cazilhac • Palaja | Montirat |
A comuna é tradicionalmente dividida em duas, a cidade baixa, que ocupa as margens do rio Aude a ocidente, e a cidade alta (ou cité; cidadela), que ocupa a colina debruçada sobre o Aude. A cidadela ocupa uma pequena meseta formada pela erosão do Aude, a cerca de 150 metros de altitude. A cidade baixa situa-se ao nível do Aude, a 100 metros de altitude.[9]
O Aude chega a Carcassona depois do seu périplo montanhoso nas gargantas do vale alto do Aude, no maciço do Carlit (parte dos Pirenéus). À sua passagem pela cidade já é um rio mais calmo, que passa na zona de Païcherou, ao longo do cemitério de Saint-Michel, e depois divide-se em dois braços formando a chamada "ilha do Rei". Há quatro pontes sobre o Aude: a Ponte Garigliano, a Pont-Vieux (Ponte Velha), acessível só a peões, a Pont Neuf (Ponte Nova) e a Pont de l'Avenir (Ponte do Futuro). O canal do Midi passa igualmente na cidade entre a estação ferroviária e o jardim André Chénier, ao lado da bastide[nt 1] Saint-Louis.
Clima
A estação meteorológica de Carcassona-Salvaza mede quotidianamente vários parâmetros meteorológicos desde 1948,[10] mas há registos de medições regulares desde 1849, que se devem à colocação de um pluviómetro por iniciativa de Don de Cépian, um engenheiro do departamento.
Segundo a classificação climática de Köppen-Geiger, o clima de Carcassona é do tipo Cfa, subtropical húmido, uma ocorrência invulgar na França metropolitana, onde o clima fora das zonas altas é maioritariamente do tipo Cfb (oceânico ou Csa (mediterrânico).
O verão é relativamente quente e seco, principalmente em julho; o outono e inverno são amenos, com geadas e gelo relativamente raros. As chuvas repartem-se de forma mais ou menos equitativa entre os meses de outubro e maio. As precipitações mais intensas ocorrem no outono, no mês de outubro, e na primavera, no mês de abril. As chuvas de verão ocorrem geralmente sob a forma de trovoadas, por vezes violentas e com granizo, que são desastrosas para as vinhas abundantes na região. Em média ocorrem anualmente 19 trovoadas e 14 dias de nevoeiro. Neva ocasionalmente, em média sete dias por ano, entre dezembro e março. Durante o inverno de 2009/2010, a neve cobriu o solo durante 15 dias, o que não acontecia há mais de meio século. A 13 de janeiro a espessura da neve atingiu os 40 cm.[11] Há notícias de que no inverno de 1913/1914 a neve teria atingido um metro de altura, mas os registos são incertos.
O recorde de temperatura máxima (41,9°C) foi registado em 13 de agosto de 2003 e o de temperatura mínima (-15,2°C]) ocorreu em 4 de fevereiro de 1963. Durante alguns invernos mais frios, como foi o caso dos de 1956, 1963, 1985 e 2012, o índice de resfriamento pode chegar a baixar aos -20°C ou até -25°C devidos aos ventos fortes de noroeste. A área é muito ventosa, registando-se anualmente em média mais de 117 dias com ventos superiores a 55 km/h. Os ventos dominantes são de leste, marítimos e de oeste, estes chamados de Cers. A insolação é elevada, superior a 2 190 horas por ano no período 1961—1990.
Entre as ocorrências meteorológicas excecionais destacam-se várias cheias do Aude em 1872, 1875 e 1891. Nestas últimas, as águas subiram oito metros, inundando toda a parte baixa da cidade.[10] Em agosto de 2012 Carcassona foi fustigada por um tornado que provocou grandes estragos, como plátanos quebrados, telhados destruídos, etc.
Dados climatológicos para Carcassona | |||||||||||||
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Mês | Jan | Fev | Mar | Abr | Mai | Jun | Jul | Ago | Set | Out | Nov | Dez | Ano |
Temperatura máxima recorde (°C) | 21,1 | 23,6 | 27,3 | 31 | 35,2 | 39,8 | 40,2 | 41,9 | 36,4 | 31 | 26,2 | 22,4 | 41,9 |
Temperatura máxima média (°C) | 9,2 | 10,8 | 13,3 | 16,1 | 20 | 24,4 | 27,9 | 26,9 | 24,1 | 19 | 13 | 9,8 | 17,9 |
Temperatura média (°C) | 5,9 | 7,2 | 9,1 | 11,7 | 15,3 | 19,1 | 22,1 | 21,5 | 19 | 14,8 | 9,6 | 6,7 | 13,5 |
Temperatura mínima média (°C) | 2,7 | 3,7 | 4,9 | 7,4 | 10,5 | 13,8 | 16,3 | 16,1 | 13,9 | 10,7 | 6,7 | 3,5 | 9,1 |
Temperatura mínima recorde (°C) | −12,5 | −15,2 | −7,5 | −1,6 | 0,9 | 6 | 8,4 | 8,2 | 2,9 | −2 | −6,8 | −12 | −15,2 |
Precipitação (mm) | 67,3 | 67,7 | 64,8 | 71,5 | 62,3 | 43,0 | 29,1 | 43,2 | 46,1 | 74 | 56,7 | 69,4 | 695,1 |
Dias com precipitação | 10 | 9,4 | 9,6 | 9,7 | 8,5 | 5,9 | 4,5 | 5,4 | 5,6 | 7,5 | 8,5 | 9,3 | 93,9 |
Dias com neve | 2,1 | 2,1 | 0,9 | 0,3 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0,6 | 1,4 | 7,4 |
Humidade relativa (%) | 82 | 79 | 74 | 74 | 72 | 69 | 64 | 68 | 73 | 80 | 82 | 84 | 75,08 |
Horas de sol | 97 | 120 | 173 | 188 | 215 | 240 | 275 | 260 | 213 | 145 | 102 | 92 | 2 120 |
Fonte: [12][13][14] |
Demografia
Pirâmide etária (1999) | ||||
% | Homens | Idade | Mulheres | % |
0,2 | +95 | 0,5 | ||
8,4 | 75–94 | 13,3 | ||
13,4 | 60–74 | 15,5 | ||
18,1 | 45–59 | 17,6 | ||
20,8 | 30–44 | 19,6 | ||
20,8 | 15–29 | 18,2 | ||
18,3 | 0–15 | 15,3
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Carcassona é a segunda maior cidade do departamento de Aude a seguir a Narbona (51 039 habitantes). Em contrapartida, a área urbana é a mais populosa, com 96 420 contra os 88 745 de Narbona. Com 729 hab./km², a comuna de Carcassona é a mais densamente povoada de Aude, a grande distância de Limoux (313 hab/km2) ou Narbona (295 hab/km2), embora muito inferior a cidades como Toulouse (3 735 hab/km2), Montpellier (4 524 hab/km2) ou Perpinhã (1 725 hab/km2).[15]
A evolução demográfica desde o fim do século XVIII é regular e geralmente crescente, à parte de breves períodos com ligeiros declínios. As diminuições de população na década de 1970 e início da década de 1980 deveram-se a saldos migratórios negativos em benefício de Toulouse e Montpellier, cidades próximas com melhores ofertas de emprego. Um dado demográfico curioso é a percentagem de habitantes de nacionalidade britânica, que aumentou quase 6 vezes, entre 1975 e 1999, passando de 0,042% para 0,24%, ainda assim um número inferior à do departamento de Aude, que é de 0,3%.[16]
População de Carcassona (1793 – 2012) [17][18] | |||||||||||
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1793 | 1800 | 1806 | 1821 | 1831 | 1836 | 1841 | 1846 | 1851 | |||
10 400 | 15 219 | 14 985 | 15 752 | 20 997 | 22 623 | 21 333 | 21 607 | 20 005 | |||
46,3% | 1,5% | 5,1% | 33,3% | 7,7% | 5,7% | 1,3% | 7,4% | ||||
1856 | 1861 | 1866 | 1872 | 1876 | 1881 | 1886 | 1891 | 1896 | |||
19 915 | 20 644 | 22 173 | 24 407 | 25 971 | 27 512 | 29 330 | 28 235 | 29 298 | |||
0,4% | 3,7% | 7,4% | 10,1% | 6,4% | 5,9% | 6,6% | 3,7% | 3,8% | |||
1901 | 1906 | 1911 | 1921 | 1926 | 1931 | 1936 | 1946 | 1954 | |||
30 720 | 30 976 | 30 689 | 29 314 | 33 974 | 34 921 | 33 441 | 38 139 | 37 035 | |||
4,9% | 0,8% | 0,9% | 4,5% | 15,9% | 2,8% | 4,2% | 14% | 2,9% | |||
1962 | 1968 | 1975 | 1982 | 1990 | 1999 | 2006 | 2011 | 2012 | |||
40 897 | 43 616 | 42 154 | 41 153 | 43 470 | 43 950 | 46 639 | 47 268 | 47 068 | |||
10,4% | 6,6% | 3,4% | 2,4% | 5,6% | 1,1% | 6,1% | 1,3% | 0,4% |
Histograma |
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Morfologia urbana
Os dois bairros mais importantes são a cidadela ou cidade alta e a bastide ou cidade baixa. Ambos são ligados pelo bairro da Trivalle, onde se situa a Ponte Velha que cruza o Aude.[19] A cidadela ergue-se sobre um promontório elevado e é rodeada por espessas muralhas desde a Idade Média. O habitat urbano da cidadela é dense e antigo, e a circulação automóvel é difícil, regulamentada e interdita nos meses de julho e agosto. A cidade baixa é uma antiga bastide[nt 1] com planta regualr em hexágono cujos ângulos são flanqueados por bastiões. As ruas cruzam-se em ângulo reto e organizam-se em volta de uma praça central, a Praça Carnot. Em volta do conjunto da bastide há um boulevard que segue o percurso das antigas muralhas, destruídas em 1764 por ordem do bispo Armand Bazin de Bezons. Ao contrário das ruas da bastide, o boulevard é largo e aberto. Em muitas das ruas da bastide está interdito o trânsito automóvel.
Os outros bairros importantes da cidade são: La Conte et Joliot-Curie, Ozanam et Saint-Saëns, Saint-Georges, le Viguier, Saint-Jacques, la Cité Fleming, Grazailles-la Reille, la Cité la Prade, la Cité Albignac, le Palais, Gambetta, le Plateau, les Capucins, Bellevue e Pasteur. Na comuna há numerosas pequenas localidades rurais (em francês: hameaux), como Montlegun, Montredon, Grèzes, Herminis, Maquens e Villalbe.
Habitação
Em 2007 Carcassona tinha 25 632 fogos, a maioria deles construídos antes de 1990 — em 1999 só 8,9% das residências principais (primeira residência) eram posteriores a 1990 e as anteriores a 1949 representavam 29,2% do total. 86,6% das casas eram residências principais, 51,3% individuais e 47,8% apartamentos. 48% dos habitantes eram donos das casas onde residem; 49,8% eram arrendatários e 2,2% tinham alojamento gratuito.[20][21]
Em 2013 a cidade respeitava as disposições legais vigentes em França sobre solidariedade social e renovação urbana que determinam que nas comunas mais importantes a percentagem de habitação social deve ser pelo menos 20% do total. Em 1999, 9,4% do parque habitacional da cidade estava desocupado. Em 1998 o gabinete de HLM (habitação de renda controlada)[nt 2] do governo do departamento de Aude participava em programas de melhoramento de habitações construindo casas que integravam domótica. Os prédios "l'étoile" e "Roosevelt" de Carcassona foram as primeiras construções HLM desse tipo em França.[22] A maior parte das habitações sociais encontram-se nos bairros do Viguier e de La Conte. Os seus residentes são maioritariamente imigrantes ou descendentes de imigrantes.
A maior parte das residências tinha quatro divisões (62,4%); as de três divisões representavam 18,8%, as de duas 13,5% e os estúdios 5,3%. A cidade tem numerosas residências de dimensões relativamente grandes devido a não haver restrições no espaço imobiliário e à pouca procura por alojamentos de pequena dimensão.[20][21] A maior parte das casas têm boas infraestruturas, como aquecimento central (89,9%), garagem individual, partilhada (box) ou parque de estacionamento (57,4%).