Cascais
município e vila de Portugal / De Wikipedia, a enciclopédia encyclopedia
Cascais é uma vila portuguesa da sub-região da Área Metropolitana de Lisboa, pertencendo à região com o mesmo nome e ao distrito de Lisboa, com 64 310 habitantes (2021) no seu perímetro urbano.
Cascais | |
Vista aérea do território cascalense. | |
Mapa de Cascais | |
Gentílico | Cascaense; Cascalense |
Área | 97,40 km² |
População | 214 158[1] hab. (2021) |
Densidade populacional | |
N.º de freguesias | 4 |
Presidente da câmara municipal |
Carlos Carreiras (PPD/PSD.CDS-PP, 2021-2025) |
Fundação do município (ou foral) |
7 de junho de 1364 |
Região (NUTS II) | Área Metropolitana de Lisboa |
Sub-região (NUTS III) | Área Metropolitana de Lisboa |
Distrito | Lisboa |
Província | Estremadura |
Orago | Nossa Senhora da Assunção |
Feriado municipal | 13 de junho (Santo António) |
Código postal | 2750 Cascais |
Sítio oficial | www.cascais.pt |
Município de Portugal |
É sede do município de Cascais, com uma área total de 97,4 km2 e 214 158 habitantes[1] (2021), subdividido em 4 freguesias.[2] O município é limitado a norte pelo município de Sintra, a leste pelo município de Oeiras e a sul e a oeste pelo Oceano Atlântico.
A sua origem enquanto entidade independente data da Carta da Vila, de 7 de junho de 1364, na qual o Rei D. Pedro I de Portugal a separava do termo de Sintra[3] em virtude do seu desenvolvimento económico.[4] Administrativamente, apenas se torna independente em 1514, data em que é provida de um foral próprio.[4] Ocupado desde o Paleolítico, e com um importante património arqueológico, o município esteve desde cedo voltado para a produção agrícola, pesqueira e para a extração de recursos. Também a sua posição estratégica na Barra do Tejo contribuiu para a sua importância, dispondo hoje de um vasto património arquitetónico militar.
Pelos seus valores naturais e paisagísticos, tanto a vila como o município conheceram um surto de popularidade que a viram tornar-se no destino preferido das elites portuguesas e estrangeiras a partir do século XIX. A chegada e eletrificação do caminho de ferro foram transcendentais para o progresso do município, sendo o principal fator para a sua urbanização a partir de 1930.
A parir daí, cresce até se afirmar como um dos principais subúrbios de Lisboa e um dos principais destinos turísticos do país,[5] partilhando dos fenómenos de suburbanização e periurbanização que se foram dando na restante área metropolitana, evidentes sobretudo no interior do município.
Cascais e o seu município encontram-se no extremo sul-ocidental da Península de Lisboa, que limita a norte com Sintra, a leste com Oeiras e a sul e a oeste com o Oceano Atlântico. Possui o seu ponto mais ocidental no Cabo Raso, e o mais oriental em Talaíde, na margem direita da Ribeira da Laje. O seu ponto mais setentrional, bem como o mais alto, encontra-se na Peninha, que se eleva em 465 metros. De forma semelhante aos restantes municípios da Península de Lisboa, apresenta um relevo cujos elementos mais marcantes da paisagem são normalmente os vales das ribeiras, estreitos e encaixados, e cujos exemplos mais relevantes são os vales das ribeiras da Foz do Guincho, das Vinhas, da Penha Longa, de Caparide e Ribeira da Laje.[6][7] Acrescentam-se a estes alguns relevos pontuais, como são o Cabeço de Mouro, o Alto de Bicesse e o Monte da Cabeça Gorda.[8]
O quadrante nordeste é dominado pela Serra de Sintra, sendo aí que se registam as maiores altitudes que vão diminuindo suavemente quando mais a sul, na sua transição para a plataforma de Cascais. Esta plataforma, bastante regular, possui uma vertente suave para sul (até ao Cabo Raso) e corresponde a uma superfície de abrasão marinha.[6] A altitude média nestas áreas encontra-se entre os 250 e os 350 metros (Malveira da Serra, Janes, Biscaia), sendo que raramente ultrapassa os 400 metros[8] Nesta zona, a costa é predominantemente escarpada, com a formação de várias grutas como a Boca do Inferno, e cujas arribas podem chegar aos 100 metros.[9] A única exceção dá-se na zona da Praia Grande do Guincho, uma extensa área arenosa que, a nível hidrológico, potencia a ocorrência de fenómenos de infiltração e a desorganização da rede de drenagem. A predominância dos ventos frescos de norte leva à formação de dunas, que se prolongam desde a Cresmina até à zona de Oitavos,[10] onde se situa a única duna consolidada do município.[9]
À semelhança do rebordo da serra, no resto do município os declives são pouco acentuados, e metade do seu território apresenta decives inferiores a 5%. A disposição do relevo faz com que as vertentes não possuam uma exposição marcadamente definida (51%), enquanto que nas restantes predomina a exposição de vertentes viradas a sul (18,5%), o que confere ao município uma feição soalheira, aprazível e confortável,[8] abrigada dos ventos de norte (caso da Costa do Estoril, uma das áreas mais amenas da Área Metropolitana de Lisboa).[7] Nesta faixa, a costa vai alternando entre pequenas praias e faixas escarpadas, dando origem a áreas de relevância ambiental, como é o caso da Zona de Interesse Biofísico das Avencas. A zona interior do município é mais elevada quando mais a norte, com algumas localidades a altitudes superiores a 100 metros: Murches, Alcabideche, Bicesse, Trajouce e Talaíde. O interior demonstra ainda vestígios do seu passado rural,[8] e é composto por duas áreas relativamente planas: o Chão das Travessas, na zona da Aldeia de Juso, e o Planalto de Massapés, em Trajouce.
A vila de Cascais situa-se a 27 km de Lisboa, junto à orla marítima, numa pequena baía. É a quinta vila mais populosa de Portugal (depois de Algueirão - Mem Martins, Corroios, Rio de Mouro e de Oeiras). Cascais recusa-se a ser elevada à categoria de cidade, por motivos turísticos.[11]
O município está atualmente dividido em quatro freguesias (Alcabideche, Carcavelos e Parede, Cascais e Estoril e São Domingos de Rana), que anteriormente à reforma administrativa de 2013 eram seis (com Cascais, Estoril, Carcavelos e Parede como entidades autónomas). Por sua vez, as freguesias integram várias localidades definidas geograficamente mas sem valor administrativo. Várias localidades concelhias encontram-se divididas entre freguesias (caso de Atibá, Pau Gordo, Penedo, Rebelva) e entre municípios (Cabra Figa — cuja área no município adquire o nome de Pomar das Velhas —, Carrascal de Manique — com a AUGI do Barrunchal pertencente à freguesia de Sintra — e Talaíde, cujo contínuo urbano se expande para Oeiras [onde se inclui o Taguspark] e Sintra [Casal do Penedo, em Rio de Mouro]).
Freguesia | Residentes (2011) | Residentes (2021)[1] |
---|---|---|
Alcabideche | 42162 | 44102 |
Carcavelos e Parede | 45007 | 46535 |
Cascais e Estoril | 61808 | 64310 |
São Domingos de Rana | 57502 | 59187 |
Total | 206479 | 214134 |
Existem várias linhas de água em Cascais, divididas por duas regiões hidrográficas, que possuem importância por marcarem, juntamente com a Serra de Sintra, a orografia do município. A maioria delas são de curta extensão e não possuem caudal durante a maior parte do ano. Para além dos cursos de água, existem também três áreas de interesse hidrogeológico para a recarga e proteção de aquíferos. No quadrante ocidental do município encontra-se o Sistema Aquífero de Pisões-Atrozela. A delimitação deste sistema foi efectuada numa cooperação entre o Instituto da Água e o Centro de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, sendo o único aquífero existente no norte da Área Metropolitana de Lisboa.[9] Para além deste aquífero, existe também o Maciço Subvulcânico de Sintra e as áreas de Calcários e Arenitos do Cretácico da região de Cascais.
Está também presente em território concelhio uma albufeira de águas públicas classificadas de utilização protegida, a do Rio da Mula, situada na Malveira da Serra e pertencente à bacia hidrográfica do mesmo rio.
Linhas de água
O município de Cascais possui diversos sistemas ribeirinhos que se dividem entre as regiões hidrográficas do Vouga, Mondego, Lis e Ribeiras do Oeste e a Região Hidrográfica do Tejo. A primeira ocupa apenas o extremo noroeste do município, sendo delimitada pela bacia hidrográfica da Ribeira da Foz do Guincho, e contando com onze bacias hidrográficas.[12] Nesta região, a orientação dos cursos de água dá-se de nordeste para sudoeste.[6] Os restantes cursos de água de Cascais pertencem já à Região Hidrográfica do Tejo, caracterizando-se pela sua maior extensão e caudal relativamente às primeiras. Dentro do município, esta região hidrográfica é dividida por 15 bacias hidrográficas cujas linhas de água, vindas de norte, desaguam na sua costa sul[6]
Todas as ribeiras do município possuem a sua cabeceira na Serra de Sintra, e apresentam caráter intermitente, torrencial durante o inverno, e com grande estiagem do seu caudal. A sua extensão é reduzida, percorrendo vales encaixados e desaguando de forma abrupta nas arribas do litoral.[6] A maioria das ribeiras apresenta um padrão de drenagem do tipo paralelo, com a única exceção da bacia da ribeira das Vinhas, cujo padrão de drenagem é do tipo dendrítico.[8]
Grande parte destas ribeiras encontram-se alteradas pela ação humana, muitas vezes circulando por leitos completamente artificializados ou canalizados, sobretudo nos seus troços finais.[12] Apesar disto, nos espaços menos urbanizados é possível encontrar galerias ripícolas bem preservadas e cuja dimensão permite que a linha de água, nestes locais, assegure a sua função biofísica, quer a nível de promoção da biodiversidade, quer como regulador do sistema hidrológico da respectiva bacia. No entanto, o surgimento de estrangulamentos devido a construções, acumulação de detritos ou a espécies infestantes compromete o regular escoamento das águas, podendo levar a fenómenos de cheias.[8]
As ribeiras mais relevantes e consideradas linhas de água principais são doze[13] (Assobio, Grota, Arneiro, Foz do Guincho, Mochos, Vinhas, Castelhana, Cadaveira, Bicesse, Manique, Marianas e Sassoeiros). Destas, a maioria apresenta-se poluída ou muito poluída, e as que apresentavam menor qualidade de água em 2008 eram as ribeiras de Caparide, das Marianas e a das Vinhas, sobretudo graças às descargas indevidas de resíduos no leito e margens, bem como a descarga de águas residuais não tratadas. Nas ribeiras das Vinhas e de Caparide, existem também grandes números de espécies exóticas, que conformam uma ameaça constante às restantes espécies e ao habitat que ocupa, chegando a destruir a vegetação envolvente e a aumentar significativamente o desenvolvimento algal.[14] Estas ocorrências afetam também a qualidade das águas balneares nas zonas nas quais desaguam.[8]
Águas balneares
O município de Cascais possui diversas praias, diversificadas entre si e pertencentes à zona designada por Costa do Estoril. Destas, duas apresentam atualmente uso suspenso devido à falta de segurança decorrente da inexistência de sedimentos: a Praia da Baforeira e a Praia do Abano.[16] Em 2016, a grande maioria das águas balneares do município apresentaram níveis de água excelentes, exceptuando-se apenas as da Duquesa e Conceição.[17] Para além das praias constantes dos Planos de Ordenamento da Orla Costeira, existem outras dez, a norte do Abano, de difícil acesso e extensão média de 60m.[9] As praias do ocidente do município, inseridas no Parque Natural de Sintra-Cascais, apresentam-se como aquelas com maior afluência para a prática de desportos aquáticos, sendo aí realizados campeonatos mundiais de várias modalidades.[18] É também de destacar a Praia da Parede, procurada pelas suas características terapêuticas graças à exposição ao iodo e ao sol.[19] As praias do município são geralmente estreitas e curtas, à exceção da Praia Grande do Guincho e da de Carcavelos, e recebem em média 10 horas de sol na época balnear, com ausência de precipitação e temperaturas médias da água de 15º a 19º e do ar de 18º a 28º.[9] Todas elas possuem uma hidrodinâmica dominada pela maré, semi-diurno e mesotidal de 2-4m, estando moderadamente expostas. Na costa sul, as praias pertencem à Região Hidrográfica do Tejo e são de tipologia urbana, regidas pelo POOC Cidadela–São Julião da Barra. As praias da costa oeste são de tipologia não urbana e regidas pelo POOC Sintra–Sado, já na Região Hidrográfica das Ribeiras do Oeste.[9]
Todo o município apresenta um clima temperado mediterrânico marítimo húmido, com verão seco e temperado (Csb na classificação climática de Köppen-Geiger). O município apresenta um gradiente de temperatura que aumenta consoante a latitude, sendo o interior mais frio que as zonas urbanizadas da costa, Sassoeiros e Talaíde. Os invernos são bastante suaves, sendo um dos locais mais aprazíveis da área metropolitana graças ao efeito de ilha urbana, à proximidade com o mar, à boa exposição ao sul, à serra de Sintra (que abriga parte do município dos ventos norte) e à passagem da corrente quente do golfo. Os verões seguem a mesma tónica, devido ao facto de este ser o município mais ocidental de Portugal, por conseguinte possuindo uma maior proximidade do oceano. Em concreto, deve-se ao afloramento costeiro causado pelos ventos de norte, que fazem emergir as águas mais fundas e frias e afastam as águas mais quentes, de superfície.[9]
Definida pelo Ministério de Obras Públicas e Transportes como «a manifestação externa, imagem, indicador ou chave dos processos que têm lugar no território, quer correspondam ao âmbito natural ou ao humano», esta tem sofrido nas últimas décadas, no município de Cascais, uma crescente degradação.[20] Foram delimitadas no âmbito do Plano Diretor Municipal de Cascais diversas unidades de paisagem que ponderam a integração dos elementos naturais (topografia, hidrologia, fauna ou a flora) e culturais/humanas (economia e história) de cada zona, onde estas se «apresentam com um padrão específico, e a que está associado um determinado carácter».[20] Em Cascais, foram caracterizadas seis unidades de paisagem que, por sua vez, se dividem em macro-unidades de paisagem:[21]
- Serra de Sintra – Compreende a aba sul do Maciço Eruptivo de Sintra, abrangida pelo município de Cascais, e classificada pela UNESCO enquanto Património da Humanidade – Paisagem Cultural, devido aos seus valores culturais e naturais. É o relevo mais acidentado do município e, pela sua orientação a sul (abrigada dos ventos húmidos de norte) manifesta-se numa paisagem mais seca do que a restante serra. Na subunidade «Serra de Sintra», as suas características geomorfológicas favoreceram as atividades de pastorícia, sendo atualmente pouco arborizada e com inúmeros afloramentos rochosos (caos de blocos). A faixa do litoral, denominada «Litoral da Roca», é bastante escarpada e dominada por linhas de água que originam nichos ecológicos e acidentes geológicos de interesse;
- Serra de Sintra
- Litoral da Roca
- Abano–Penha Longa – Faixa de largura constante e de declive suave, com presença de linhas de água e vestígios do passado agrícola da zona (moinhos de vento e fornos de cal);
- Abano–Penha Longa
- Outeiro das Fontainhas – paisagem humanizada, algo descaracterizada pelo crescimento urbano, também dominada pelos vestígios do seu passado agrícola (arquitetura tradicional, compartimentação singular de terrenos e ruínas de moinhos de vento e de azenhas) que se deveu em grande medida à presença de linhas de água e aquíferos que abasteciam a zona. Divide-se nas subunidades «Chão das Travessas», «Planalto da Arca d'Água» e «Planalto de Massapés»;
- Outeiro das Fontainhas — Planalto da Arca d'Água
- Outeiro das Fontainhas — Planalto de Massapés
- Vales das Ribeiras – Unidade de paisagem compreendida pelas principais linhas de água municipais, de morfologia diversa. Consiste de aluviões com grande potencial agrícola onde se instalaram as quintas históricas do município, com terrenos de cultivo de hortofrutícolas e de vinha ao longo das ribeiras. A pressão urbanística levou à redução significativa dos troços naturalizados, mantendo-se ainda algumas destas situações. Divide-se nas subunidades Vale das Vinhas, Vale da Castelhana, Vale de Bicesse, Vale de Manique - Caparide, Vale de Sassoeiros e Vale da Parreira;
- Costa do Sol – Integra o sistema dunar Cascais–Guincho, as arribas costeiras e a costa balnear, abrangendo a maioria da costa municipal. É uma paisagem constituída por fenómenos geológicos de considerável importância a nível nacional e importantes habitats para a flora e fauna costeira, com uma exposição solar que lhe confere um clima ameno e luminosidade particular. Divide-se nas subunidades «Arribas Cascais–Cabo Raso», «Dunas Guincho–Cascais» e «Costa Balnear»;
- Costa balnear
- Urbano – Consiste na mancha urbana que se foi constituindo a partir da década de 60 do século XX, integrando os maiores centros populacionais do município. Estes foram sido desenvolvidos ao longo do litoral, graças às oportunidades turísticas, comerciais e de lazer e possuem diversos pontos de interesse arquitetónico como villas, casas apalaçadas e quintas, usadas na sua grande maioria como antiga casa de férias das famílias mais abastadas de Lisboa.
O município sofreu, desde meados do século XX, um elevado crescimento demográfico, o que se traduziu numa construção desordenada e dispersa, ocupando áreas de importância em termos ecológicos. A estrutura ecológica municipal foi sendo relegada para segundo plano em relação a estruturas habitacionais, de transportes e sociais.[20] As atuais normas para espaços verdes urbanos indicam que o município carece de espaços verdes principais, cuja área mínima deveria ser de 510 hectares.[22] Em Cascais, está definida uma Rede Ecológica Concelhia, que define a sua «Estrutura Verde Principal» e «Secundária», integrada na Rede Ecológica Metropolitana.[22] As áreas de influência das principais linhas de água concelhias (as linhas de água, as zonas com bons solos e as áreas sujeitas a cheias, as zonas de máxima infiltração e as cabeceiras das ribeiras) concentram em algumas das suas zonas o pouco que resta do património natural de Cascais, e integram a Rede Ecológica Metropolitana.[23] Em Cascais, outras ligações naturais apontadas como vitais para a Rede Ecológica Concelhia são as ribeiras de Manique, Marianas, Carcavelos e Laje.[22] O quadrante noroeste do município encontra-se ocupado pelo Parque Natural de Sintra-Cascais, classificado no PROT-AML como uma Área Estruturante Primária e em conjunto com os anteriores, contribui para a salvaguarda dos componentes naturais e humanos, solo, água, flora e fauna, e paisagem de grande valia.[22]
Entre os espaços com grande importância ambiental, também no que concerne à componente ambiental solos, encontram-se as antigas quintas espalhadas pelo município, que poderiam servir para reduzir o efeito das cheias, para a saúde pública, para a produção de frescos e para a integração do espaço urbano no espaço natural, permitindo um desenvolvimento sustentável. Neste âmbito encontram-se as quintas situadas ao longo da ribeira de Caparide, a Quinta do Barão, a dos Ingleses (ou de Santo António) e restantes quintas de Carcavelos, nas quais se produzia o Vinho de Carcavelos; a zona do Mato dos Celcos (a norte do Arneiro) e com ligação à Quinta do Marquês, em Oeiras; as zonas a norte de Bicesse e da Douroana; e os vales das ribeiras da Mula e dos Mochos e as zonas de proteção do Parque Natural, especialmente o Pisão de Cima e de Baixo, onde se encontra o que resta de uma floresta de carvalho lusitano.[22]
Parques urbanos
Um correto ordenamento do território exige, no mínimo, 10 metros quadrados de espaços verdes secundários por habitante, o que em Cascais implicaria entre 170 e 310 hectares deste tipo de espaços. O município possuía, até meados de 2000, quatro parques urbanos (Parque Marechal Carmona, Parque da Ribeira dos Mochos, Parque Palmela e a Quinta da Alagoa), apenas complementados pelos Espaços Verdes de Área Reduzida, mantidos pelos moradores.[22] A estes foram adicionados, mais recentemente, outros, como o Parque Morais, o Bosque dos Gaios e os Parques Urbanos do Outeiro de Polima, da Quinta de Rana, das Penhas do Marmeleiro e do Outeiro dos Cucos.[24] Existem também vários parques infantis espalhados por todo o território concelhio.[25]
Quintas
De passado agrícola, o município foi outrora pontilhado por quintas onde os seus proprietários buscavam aliar o caráter de recreio e lazer à função agrícola. Situavam-se em zonas do interior do município, onde os solos eram férteis e os recursos naturais abundantes, tendo desaparecido progressivamente a favor da urbanização de diversas zonas e com o declínio da atividade agrícola, sendo fragmentadas e hoje praticamente reduzidas às às áreas de habitação e suas dependências.[26] As mais afamadas devem a sua notoriedade à produção do Vinho de Carcavelos, hoje produzido nas Quintas da Ribeira e dos Pesos (Caparide), da Samarra (Livramento) e na Quinta do Marquês (Oeiras).
Por entre as freguesias cascalenses, destacam-se, em São Domingos de Rana, as quintas históricas da Ribeira, dos Chainhos, da Torre da Guilha, de Rana e da Estrangeira; em Carcavelos as do Barão, da Alagoa, a Quinta Nova (ou de Santo António, ou dos Ingleses), a de São Miguel das Encostas, e a de Santa Maria do Mar; em Cascais a Quinta da Charneca; no Estoril a Quinta Patiño; e finalmente em Alcabideche as quintas de Vale de Cavalos, do Marquês de Angeja, de Santa Rita (nas Almuinhas Velhas), de Nossa Senhora da Lapa (Alcoitão), de Manique, do Pisão de Baixo, do Casal de Porto Covo e do Casal de Assamassa.[26]
Flora
Flora terrestre
O município de Cascais inclui-se no Reino Holártico e na região biogeográfica mediterrânica.[27][28] A sua flora divide-se por duas unidades principais, a primeira das quais se encontra na Serra de Sintra, um maciço granítico, e a outra a sul, na área mais aplanada da Plataforma de Cascais cujos solos são de natureza calcária. Nas encostas graníticas da serra, dão-se florestações de pinheiro e eucalipto, bem como espécies invasoras como as acácias e pitósforos-ondulados. Restam alguns indivíduos dispersos de sobreiro e medronheiro, com uma sub-coberta de tojais e urzais, assim como formações de carvalhiça.[20]
Nas zonas calcárias, a vegetação característica é composta por bosques de carvalho-cerquinho e zambujais, sendo que os primeiros possuem um peso residual devido às alterações humanas e a sua área potencial limita-se aos vales frescos das ribeiras dos Marmeleiros e Penha Longa. Atualmente, no seu lugar, encontram-se matagais de carrasco, tojais de tojo-durázio e prados vivazes de braquipódio ricos em orquídeas. Os zambujais, por sua parte, podem ocorrer potencialmente em toda a área calcária do município incluindo em solos basálticos e calcários mais pesados (vertissolos), mas a sua presença é novamente escassa devido ao uso tradicionalmente agrícola destes solos. Assim, estas zonas estão cobertas por etapas mais baixas da sucessão ecológica (carrascais ou espinhais de carrasco, estrepe, espinheiro-preto, sanguinho-das-sebes e madressilva-caprina, e tojais de tojo-gatunho e salva-do-sul em mosaico com arrelvados vivazes de Brachypodium phoenicoides e panasco), que são delimitadas normalmente por sebes espinhosas de abrunheiro-bravo, que também ocorrem pelos muros de pedra solta que separavam os campos agrícolas. Nos campos agrícolas onde os solos se encontram alterados, caso também das zonas urbanas e margens de caminhos, surgem espécies vivazes nitrófilas (caso da tágueda, talha-dente e funcho).[20]
As galerias ripícolas concelhias estão em avançado estado de degradação, sendo muitas vezes substituídas por comunidades de canaviais e silvados. Porém, ainda é possível encontrar algumas áreas de freixiais, choupais e ulmais, embora estes últimos sejam frequentemente afetados pela grafiose e apresentem um porte arbustivo. Nos leitos de cheia, dão-se prados húmidos de alpista-da-água e junco, que podem surgir acompanhados de juncais de Juncus valvatus, uma espécie endémica das regiões calcárias do oeste português.[20]
Na região de transição para os granitos, de calcários e margas meteorizados pelo contacto com os granitos, é possível observar sobreiros acompanhados de carvalho-cerquinho.
Na vertente sul, em vales e vertentes desabrigadas e acima dos 250 m, persistem núcleos de carvalho-negral que podem misturar-se com sobreiros. Na zona de sienitos, dar-se-ia uma ocupação potencial dessa mesma espécie, algo impedido pela intervenção humana (pela arroteia e depois pela florestação de espécies exóticas), o que torna os bosquetes de carvalho-negral resquiciais e propicia o crescimento de giestais, tojais e arrelvados vivazes de baracejo. A noroeste, nas encostas graníticas mais húmidas e sombrias, acima dos 300 m e com clima mais atlântico, surgem pequenos núcleos de carvalho-alvarinho que são normalmente pontuais e de porte arbustivo. Nestes locais, a paisagem é dominada por povoamentos de pinheiro e matagais de carvalhiça juntamente com tojais e arrelvados de baracejo. Já nas margens das ribeiras serranas, ocorrem salgueirais-pretos muito fragmentados e amiais com trepadeiras (Rubus ulmifolius e Hedera iberica) e sabugueiros bem conservados.
As arribas da costa, fustigadas pelos ventos marítimos carregados de sais, são de grande particularidade quanto às suas comunidades. Assim, é possível observar espécies endémicas da família das plumbagináceas (Limonium spp. e Armeria spp.). Nas arribas de substrato calcário, caso do Cabo Raso e Abano, surgem limónios (Limonium multiflorum e L. virgatum) e raízes-divinas, enquanto que nas arribas de substrato granítico (a partir da Praia da Grota) florescem comunidades exclusiva deste território compostas por endemismos como o cravo-romano e a cravina-de-sintra. Completam estas comunidades os sabinais com carrascos, com um aspecto típico de “almofada” adaptado às condições edafoclimáticas.[20]
No município, os táxones de interesse para a preservação incluem Aceras anthropophorum, Anacamptis pyramidalis, Armeria pseudoarmeria, Asplenium hemionitis, Centaurea africana, Cepalanthera longifolia, Coincya cintrana, Dianthus cintranus ssp. cintranus, Herniaria maritima, Iberis procumbens ssp. microcarpa, Iris lusitanica, Iris subbiflora, Jonopsidium acaule, Juncus valvatus, Limonium multiflorum, Limonium dodartii ssp. lusitanicum, Myrica faya, Omphalodes kuzinskyanae, Ophrys bombyliflora, Ophrys fusca ssp. fusca, Ophrys lutea, Ophrys scolopax, Ophrys speculum ssp. lusitanica, Ophrys tenthredinifera, Orchis coriophora, Orchis italica, Serapias lingua, Serapias strictiflora, Serapias parviflora, Silene cintrana, Silene longicilia, Verbascum litigiosum, Thymus villosus e Ulex densus.[8]
As espécies usadas para ornamentação por todo o município são variadas e incluem a alfarrobeira, ameixoeira-dos-jardins, amoreira, araucária-de-norfolk, carvalho-alvarinho, casuarina, choupos-brancos e negros, cipreste-comum, cipreste-de-monterey, eucaliptos, figueira-da-austrália, freixo, ginkgo, grevíleas, jacarandás, ligustros, lódão-bastardo, mélias, nespereiras, olaias, paineiras, palmeiras-da-califórnia e das canárias, pimenteiras-bastardas, pinheiros-de-alepo e mansos, plátanos, salgueiro-chorão, sobreiros, tamariz, tílias-prateadas, tipuanas e zambujeiros.[29]
Flora marinha
As populações nas duas grandes manchas de recifes rochosos dentre 0 e 10 metros de profundidade são compostas de Fucus spiralis, Cystoseira usneoides, Corallina elongata, Lithophyllum incrustans, Lithophyllum lichenoides, Ceramium spp., Osmundea pinnatifida, Ulva intestinalis, Ulva rigida, Ulva prolifera e Ulva obscura.
O município de Cascais possui uma grande diversidade de formações geológicas, de características litológicas, idades e espessuras diferentes, variadas inclinações e direções das camadas geológicas, com morfologia e estruturas diversificadas.
A maioria do município de Cascais é moldado pelo Maciço Eruptivo de Sintra, de especial importância em termos geológico, orográfico e climático.[8] De forma elíptica alongada, seguindo um eixo este-oeste, consiste num conjunto de rochas magmáticas, com um núcleo de rochas sieníticas, envolvidas por um anel granítico e um anel gabro diorítico descontínuo. Encontram-se os seus afloramentos nas zonas a norte e noroeste do município, com granitos, gabros, dioritos e sienitos. O maciço data de há 82–75 milhões de anos (final do Cretácico), fazendo ascender correntes de magma que arrefecem no interior da crosta terrestre, dando origem às rochas já referidas. Devido a isto, os estratos mais antigos do Jurássico Superior e do Cretácico foram deformados e metamorfizados, o que origina uma série de filões de rochas paralelos e perpendiculares ao maciço, compostos de basalto, traquibasalto, riolítico e rochas alteradas não identificadas.[21]
Os materiais de maior antiguidade, com 140 milhões de anos, datam do Cretácico Inferior (formações de Maceira, Rodízio, Cabo Raso e Guincho), tendo a sua origem em rochas sedimentares como calcários, arenitos, margas e pelitos. A maioria corresponde a formações calcárias fossilíferas e por algumas margas e grés, apresentando uma inclinação máxima de 50º na zona de encosto com o maciço granítico, diminuindo gradualmente a sua inclinação.[8][21]
As formações do Jurássico Superior afloram a sul e sudeste do Maciço Eruptivo de Sintra, e consistem sobretudo de calcários (calcários compactos metamorfizados, calcoxistos e calcários margosos). Estas formações podem ser observadas na arriba litoral e no corte da Estrada da Malveira. A sua inclinação máxima é de 60º, que diminui à medida que se afasta do maciço.[21]
Nas zonas a leste surgem afloramentos do Complexo Vulcânico de Lisboa, resultante da ascensão de magma à superficie com um vulcanismo efusivo, sendo que entre os níveis vulcânicos é possível encontrar por vezes paleossolos. Estas ascensões devem-se à progressiva abertura do oceano Atlântico, que causou uma distensão e adelgaçamento da crosta terrestre. Sobretudo presentes no Complexo são os basaltos em diversas formas, como chaminés, das quais ainda restam relevos residuais no Cabeço de Mouro, Alto de Bicesse ou Pau Gordo. Estes afloramentos apresentam espessuras muito variáveis, com uma espessura máxima de 400m.[21]
Os materiais mais recentes, a Formação de Areolas da Estefânia e a Formação de Entrecampos datam do Miocénico (há 20 milhões de anos) e surgem na parte oriental do município, numa orientação norte–sul, de Sassoeiros a São Julião da Barra.[21]
Por fim, os aluviões surgem paralelos às linhas de água, consistindo de litologias sedimentares muito recentes, pouco consolidadas e muito heterogéneas litologicamente.[21]