A Rebelião Houthi no Iêmen, também conhecida como insurgência dos houthi no Iêmen[31][32] ou Conflito de Sadá, foi uma guerra civil que teve origem no norte do Iêmen.[33] Iniciada em junho de 2004, quando o clérigo dissidente Hussein Badreddin al-Houthi, ex-parlamentar e líder dos zaiditas, encabeçou uma revolta contra o governo iemenita. A maioria dos combates ocorreu na província de Sadá, no noroeste do Iêmen, embora alguns dos combates se propagassem pelos mohafazah vizinhos de Haja, 'Amran, Jaufe e na região saudita de Jizã. Rapidamente a revolta se espalhou pelo país, com a generalização do conflito.

Factos rápidos Crise Iemenita, Beligerantes ...
Rebelião Houthi no Iêmen
Crise Iemenita

Expansão do território sob o controle dos Houthis no Iêmen (de janeiro de 2014 a março de 2015)
Data 18 de junho de 200416 de setembro de 2014
(10 anos, 2 meses, 4 semanas e 1 dia)
Local Norte do Iêmen e Região de Jizã, Arábia Saudita
Desfecho Vitória dos Houthis no Norte do Iêmen; conflito se transforma em uma guerra civil em grande escala com uma intervenção estrangeira.[1]
  • Em 2011, após anos de luta, insurgentes Houthis tomam várias cidades do Iêmen e firmam uma administração independente na região de Sadá;[2][3] Partes das províncias de Amran, Jaufe e Haja também são tomados.[4]
  • Em setembro de 2014, os rebeldes assumem o controle da capital do país, Saná.[5]
  • Houthis assumem o controle de grande parte do norte do Iêmen.[6]
  • Golpe de Estado contra o presidente em exercício, Rabbuh Hadi.[7]
  • Nações do mundo árabe iniciam uma intervenção armada em favor do regime de Hadi.[8]
Beligerantes
 Iêmen

 Arábia Saudita[13]
 Jordânia[14][15]
 Catar[13]
Kuwait[13]
 Emirados Árabes Unidos[13]
 Bahrein[13]
 Egito[16]
 Marrocos[17]

Apoiado por:
 Estados Unidos[18][19][20]

 Turquia
Houthis

Apoiado por:
 Irã[21]

Hezbollah
Comandantes
Iémen Abd Rabbuh Hadi
(2011-2015)

Iémen Ali Mohsen al-Ahmar
(2011-2014)
[22]
Iémen Ali Abdullah Saleh
(2004-2012)
Iémen Ali Mohammed Mujur
(2007-2012)
Iémen Abdul Qadir Bajamal
(2001-2007)
Iémen Mohammed Basindawa
(2011-2014)
Iémen Ahmed Saleh
(2000-2012)
Iémen Yahya Saleh
(2001-2012)
Iémen Amr Ali al-Uuzali  
Iémen Ali al-Ameri  [23]
Iémen Ahmed Bawazeir  [23]
Arábia Saudita Khalid bin Sultan
(2011-2013)

Arábia Saudita Saleh Al-Muhaya
(1957-2011)
Abdul Malik al-Houthi[24]

Hussein Badreddin al-Houthi 
Yahya al-Houthi
Muhammad al-Houthi
Abdul-Karim al-Houthi
Abdullah al-Ruzami
Abu Ali al-Hakem
Yusuf al-Madani 
Taha al-Madani
Abu Haider 
Abbas Aidah 
Mohammad Abd al-Salam
Ali al-Qantawi 
Fares Mana'a4


Iémen Ali Abdullah Saleh (suposto desde 2014)
Iémen Ahmed Saleh (suposto desde 2014)

Iémen Yahya Saleh (suposto desde 2014)
Forças
Governo Iemenita:

30 000[25]

Arábia Saudita:
100 000 soldados (mobilizados)[26]

Jordânia: 2 000 (supostamente)[17]
2 000 (2004)[27]

10 000 (2009)[28]

100 000 (2011)[29][30]
Baixas
1 000 - 1 300 mortos
6 000 feridos
+ 5 500 mortos
+ 3 000 presos
Fechar

O governo do presidente Abd Rabbuh Hadi alegou que os houthi tentavam derrubá-lo para aplicar a lei religiosa xiita. Os rebeldes contra-argumentam que eles estavam "defendendo sua comunidade contra a discriminação" e a agressão do governo.[34] As autoridades iemenitas ainda acusavam o Irã de dirigir e financiar a insurgência.[35] Em 2015, os houthi tomaram a capital do país, Saná, e destituiram o governo. Vários países da região, liderados pela Arábia Saudita, organizaram-se uma uma intervenção armada para reinstalar Hadi no poder. Enquanto isso, a chamada al-Qaeda do Iêmen aproveitou-se do caos reinante para expandir sua base de operações na região.[carece de fontes?]

Antecedentes

Thumb
Mapa dos grupos etno-religiosos no Iêmen (2002) com xiitas (verde) e sunitas (amarelo).

Em 1962, uma revolução no Iêmen do Norte encerrou mais de 1.000 anos de governo dos imames zaiditas, que reivindicam ser descendentes do profeta Maomé. Sadá, no norte do país, era o seu principal reduto e desde a sua queda do poder, a região foi amplamente ignorada economicamente e permanece subdesenvolvida. O governo iemenita tem pouca autoridade em Sadá.[36]

Durante a Guerra Civil do Iêmen de 1994, os wahabitas, partidários de uma versão ortodoxa do sunismo, ajudaram o governo em sua luta contra os separatistas do sul. Os zaiditas reclamam que o governo permitiu, posteriormente, que os wahabitas tivessem hegemonia política no Iêmen. Por sua vez, a Arábia Saudita, wahabita, alegava temer que conflitos tão próximos da sua fronteira pudessem acabar por atingir o próprio território saudita.[36]

O conflito foi desencadeado em 2004 pela tentativa do governo de prender Hussein Badreddin al-Houthi, líder religioso zaidita dos houthi e ex-parlamentar, cuja cabeça o governo havia colocado a prêmio, oferecendo uma recompensa de US $ 55.000.[36]

Motivos e objetivos

Quando o conflito armado irrompeu pela primeira vez, em 2004, entre o governo do Iêmen e os houthi, o então presidente iemenita acusou os houthi e outros grupos de oposição de tentarem derrubar o governo e o sistema republicano. Os líderes houthi, por sua vez, desqualificaram a acusação, afirmando que nunca haviam rejeitado o presidente ou o sistema republicano, mas apenas se defendiam contra os ataques do governo à sua comunidade.[37]

Segundo uma reportagem da Newsweek, de fevereiro de 2015, os houthi lutam "pelas coisas que todos os iemenitas anseiam: accountability do governo, fim da corrupção, serviços públicos regulares, preços dos combustíveis justos, oportunidades de emprego para os cidadãos comuns e o fim da influência ocidental" [38]

Numa entrevista ao Yemen Times, Hussein Al-Bukhari, um militante houthi, afirmou que o sistema político preferível dos houthi é uma república com eleições e onde as mulheres também possam ocupar cargos políticos. Declarou também que eles não pretendem formar um governo liderado por um clérigo, semelhante ao modelo da iraniano. "Não podemos aplicar este sistema no Iêmen, porque os seguidores da doutrina [de jurisprudência islâmica sunita] Shafi'i são maiores em número do que o zaiditas," disse ele.[39]

Histórico

Desde junho de 2004, conflitos violentos ocorridos na província de Sadá , noroeste do país, causam mais de 25 mil mortos[40] e provocam importantes deslocamentos populacionais. Os conflitos originaram-se de um movimento de revolta iniciado pelo clérigo dissidente Badreddin Hussein al-Houthi. O governo iemita acusou o governo iraniano de dirigir e financiar a insurgência.

Ao cessar-fogo negociado em junho de 2007, seguiu-se um acordo de paz, em fevereiro de 2008. Em abril do mesmo ano, no entanto, a paz esteve ameaçada, na medida em que cada uma das partes envolvidas acusava a outra de não implementar determinadas medidas previstas no acordo. Alguns analistas sugeriram que um agravamento do conflito teria impacto na situação humanitária na região.[41] De fato, em maio de 2008, estimava-se que cerca de 77 mil pessoas tinham sido forçadas a abandonar suas casas, como resultado dos enfrentamentos.[42]

Em agosto de 2009, o exército iemenita lançou uma nova ofensiva contra os houthi, no norte da província de Sadá. Centenas de milhares de pessoas foram deslocadas pelos combates. O conflito assumiu uma dimensão internacional em 4 de novembro de 2009, quando ocorreram confrontos entre os rebeldes do norte e as forças armadas da Arábia Saudita, ao longo da fronteira entre os dois países. Na sequência, os sauditas atacaram os houthi. Os rebeldes acusaram a Arábia Saudita de apoiar o governo iemenita. O governo saudita negou.[43]

Os líderes houthi afirmam que o envolvimento dos Estados Unidos na guerra começou em 14 de dezembro de 2009, quando os americanos lançaram 28 ataques aéreos contra os houthi.[44]

Entre 2009 e 2010, os houthi enfrentam as forças do presidente Ali Abdullah Saleh.[45] Os combates deixaram centenas de mortos. Aproveitando-se do caos imperante, grupos de fundamentalistas islâmicos, como a al-Qaeda, realizam atentados terroristas contra os houthi e contra o governo central. Apoiando o regime de Saleh, os Estados Unidos começaram a enviar vários drones para bombardear os insurgentes. Também ofereceram apoio financeiro e militar ao governo do Iêmen.[46]

No começo de 2011, o povo do Iêmen foi às ruas para exigir mudanças no governo. As forças de segurança reprimiram as manifestações, deixando pelo menos dois mil mortos. Na sequência, o presidente Saleh e o primeiro-ministro Mujawar renunciaram. Um frágil governo de transição assumiu.[47] No meio desse caos, milícias lideradas pelos houthis começaram a combater grupos salafistas e extremistas, além de também lutar contra as forças do governo, em Saná.[48] Entre 2012 e 2014, os Houthis ganharam nova importância e mais influência. Além de apoiar a luta armada, eles também organizaram protestos em massa pelo país.[49]

Em 19 de setembro de 2014, os rebeldes atacaram a capital do país, Saná, e, dois dias depois, já haviam tomado vários prédios do governo, expulsando da capital as forças governamentais.[50] Em três dias de luta, mais de 200 pessoas morreram.[51] No dia 24, autoridades do governo deixaram a capital. O exército e as forças policiais entraram em colapso na região. Insurgentes houthi e manifestantes de oposição ao governo tomaram as principais ruas da capital. O líder rebelde, Abdul Malik al-Houthi, saudou a 'revolução'. Segundo ele, os houthi haviam conseguido forçar o governo a atender as demandas populares. Um novo regime seria apontado pela liderança dos rebeldes e de outros movimentos de oposição.[52] Abd Rabbuh Mansur Hadi, o então presidente, alertou para o colapso das instituições do país e afirmou que a nação "caminhava para uma nova guerra civil".[5]

Consequências

A crise dentro do Iêmen continuou, com os houthi expandindo a área sob seu controle. Na capital do país, militantes houthi atacaram o palácio presidencial no fim de janeiro de 2015 e tomaram a sede do governo. O presidente Abd Rabbuh Mansur al-Hadi e vários ministros renunciaram, deixando o país sem uma liderança clara. Várias regiões do país eram controladas por milícias locais, em anarquia total.[53] No meio do caos, guerrilheiros ligados à al-Qaeda começaram a expandir suas zonas de influência no país. Em março, com os houthi avançando de forma implacável e com pouco apoio, o presidente Hadi decide fugir do seu esconderijo, na cidade de Áden, para uma base aérea na Arábia Saudita.[54] As autoridades sauditas ordenaram, então, vários ataques aéreos (Operação Tempestade Decisiva) contra alvos dos houthi na capital e em outras áreas.[55] Outros países árabes também enviaram aviões e tropas para combater os houthi no Iêmen e ajudar os sauditas a reinstituir Hadi no poder.[56] Apesar da intensidade dos bombardeios aéreos feitos pela coalizão, os houthi continuaram a avançar, especialmente em direção ao sul, levando os confrontos à estratégica cidade portuária de Áden. Enquanto isso, os combates em toda a região, entre diferentes grupos, intensificava-se de forma acentuada.[57]

Referências

  1. «HOW AL QAEDA'S BIGGEST ENEMY TOOK OVER YEMEN (AND WHY THE U.S. GOVERNMENT IS UNLIKELY TO SUPPORT THEM)». The Intercept. 22 de janeiro de 2015. Consultado em 22 de janeiro de 2015
  2. The Muslim News Yemen after Saleh: A future fraught with violence Arquivado em 25 de agosto de 2012, no Wayback Machine., 27 de maio de 2011.
  3. «Gulf Arabs say they are defending Yemen against aggression». The Daily Star. Consultado em 26 de março de 2015
  4. «Saudis 'in a panic mode' as Shi'ite rebels move North from Yemen». Worldtribune.com. 4 de dezembro de 2009. Consultado em 28 de março de 2015
  5. Canales, Pedro (3 de dezembro de 2009). «Marruecos y Jordania envían tropas de élite para ayudar a los saudíes en Yemen». El Imparcial (em Spanish). Consultado em 29 de dezembro de 2009
  6. «Yemen seeks US help to quash Houthis». Ahlul Bayt News Agency. 11 de novembro de 2009
  7. Martin Reardon (30 de setembro de 2014). «Saudi Arabia, Iran and the 'Great Game' in Yemen». Al Jazeera
  8. Arrabyee, Nasser. «Yemen's rebels undefeated». Al-Ahram Weekly. Consultado em 24 de setembro de 2014
  9. «Tracker: Saudi Arabia's Military Operations Along Yemeni Border - Critical Threats». Criticalthreats.org. Consultado em 17 de outubro de 2014. Arquivado do original em 10 de outubro de 2014
  10. «Peninsula on the brink». Consultado em 24 de setembro de 2014. Arquivado do original em 27 de março de 2013
  11. Houthis Kill 24 in North Yemen, 27 de novembro de 2011.
  12. Hill, Ginny. «Yemen fears return of insurgency». BBC News. Consultado em 28 de março de 2015
  13. McGregor, Andrew (12 de agosto de 2004). «Shi'ite Insurgency in Yemen: Iranian Intervention or Mountain Revolt?» (PDF). The Jamestown Foundation. Terrorism Monitor. 2 (16): 4–6. Cópia arquivada (PDF) em 21 de novembro de 2006
  14. Johnsen, Gregory D. (20 de fevereiro de 2007). «Yemen Accuses Iran of Meddling in its Internal Affairs» (PDF). Terrorism Focus. 4 (2): 3–4. Consultado em 7 de abril de 2007. Cópia arquivada (PDF) em 16 de junho de 2007
  15. Nasser Arrabyee (25 de maio de 2005). «Rebellion continues». Al-Ahram Weekly. Consultado em 11 de abril de 2007. Arquivado do original em 24 de outubro de 2005
  16. «Timeline: Yemen». BBC News. 11 de novembro de 2009
  17. «Yemen President Hadi Resigns After Shiite Rebels Seize Palace». Bloomberg. Consultado em 27 de janeiro de 2015
  18. «Presidente do Iémen foge do país». Jornal de Notícias. Consultado em 26 de março de 2015
  19. "Saudi Arabia begins air strikes against Houthi in Yemen". Página acessada em 26 de março de 2015.
  20. "Saudi and Arab allies bomb Houthi positions in Yemen". Página acessada em 28 de março de 2015.

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