Controvérsia hesicasta
De Wikipedia, a enciclopédia encyclopedia
A controvérsia hesicasta foi uma disputa teológica no Império Bizantino durante o século XIV entre os defensores e oponentes de Gregório Palamas. Ainda que ela não tenha sido a causa principal da Guerra civil bizantina de 1341-1347, ela influenciou e foi influenciada pelas forças políticas em jogo nesta guerra. A disputa terminou com a vitória dos chamados "palamistas" e a inclusão da doutrina palamita como parte do dogma da Igreja Ortodoxa e com a canonização de Palamas.
Por volta de 1337, o hesicasmo atraiu a atenção de um erudito membro da Igreja Ortodoxa, Barlaão de Seminara, um monge calabrês que havia vindo para Constantinopla sete anos antes. Em reação às críticas feitas aos seus escritos teológicos que Gregório Palamas, um monge de Monte Atos e expoente do hesicasmo, havia lhe feito, Barlaão se encontrou com hesicastas e ouviu descrições de suas práticas. Treinado na teologia escolástica ocidental, Barlaão ficou escandalizado pelas descrições que ouviu e escreveu diversos tratados ridicularizando as práticas hesicastas. Ele ficou particularmente chocado que com a doutrina - que ele considerava herética e blasfema - da chamada "luz não criada", cuja natureza os hesicastas acreditavam ser a mesma da luz que manifestara aos discípulos de Jesus na Transfiguração no Monte Tabor e cuja experiência o objetivo da prática hesicasta. As informações que ele obteve atestavam que a crença era de que esta luz não seria parte da essência divina e era contemplada como sendo uma outra hipóstase ("existência").[1] Barlaão acreditava que este conceito era politeísta, pois postularia a existência de dois seres eternos, um Deus imanente visível e um outro transcendente invisível.[2]
Gregório Palamas, que depois se tornaria arcebispo de Tessalônica, recebeu um pedido dos monges de Atos para que defendesse o hesicasmo dos ataques de Barlaão, o que ele fez fazendo uso de seu excelente conhecimento da filosofia grega e da dialética, métodos também utilizados no ocidente. Ele escreveu uma série de obras e participou de diversos sínodos realizados em Constantinopla na década de 1340, sempre em defesa do hesicasmo.
Em 1341, a disputa foi levada perante um sínodo em Constantinopla que, levando em consideração o apreço tido pelas obras de Pseudo-Dionísio, o Areopagita, condenou Barlaão, que abjurou suas ideias e retornou para a Calábria. Ele se converteu ao catolicismo e se tornou bispo de uma diocese de rito bizantino em comunhão com o papa. Cinco outros sínodos foram realizados sobre o assunto, com uma breve vitória dos oponentes de Palamas no terceiro. Contudo, em 1351, num sínodo presidido pelo imperador bizantino João VI, a real distinção Essência-Energias de Palamas foi estabelecida como uma doutrina da Igreja Ortodoxa.
Gregório Acindino, que havia sido discípulo de Gregório e tinha tentado mediar a disputa entre ele e Barlaão, se tornou um crítico do antigo mestre após a partida do monge calabrês em 1341. Outro oponente do palamismo foi Manuel Calecas, que era um defensor da reconciliação entre as igrejas do ocidente e do oriente, separadas desde o Grande Cisma de 1054. Após a decisão de 1351, iniciou-se uma forte repressão contra os pensadores anti-palamistas, reporta por Calecas ainda 1397, e os teólogos que discordavam de Palamas. A única saída foi emigrar e se converter ao catolicismo, caminho seguido por Calecas, Demétrio Cidones e João Ciparissiota.