Guerra de Independência Argelina
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A Guerra de Independência Argelina, também conhecida como Revolução Argelina ou Guerra da Argélia (em árabe: الثورة الجزائرية Ath-Thawra Al-Jazā’iriyya; em francês: Guerre d'Algérie), foi um movimento de libertação nacional da Argélia do domínio francês, que tomou curso entre 1954 e 1962. Como uma guerra de independência e de descolonização, opôs os nacionalistas argelinos - principalmente unidos sob a bandeira da Frente de Libertação Nacional (FLN) - à França e seus colonos (chamados de pieds-noirs, “pés negros” em francês). Ocorre principalmente no território argelino - com repercussões também na França metropolitana - e está inserida no movimento de descolonização do continente africano.[11]
Guerra de Independência Argelina | ||||
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Guerra Fria e Descolonização de África | ||||
Data | 1 de novembro de 1954 – 19 de março de 1962 | |||
Local | Argélia francesa | |||
Desfecho | Vitória Argelina
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Beligerantes | ||||
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Forças | ||||
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Baixas | ||||
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A Argélia era caracterizada pela separação entre as comunidades, atormentada por uma desigualdade generalizada - haja vista que a França recorreu a todas as formas possíveis de domínio para se impor - que oprimia a população desde o início da conquista e vivendo em um ambiente marcado por contradição e incerteza.[12] Desta forma, o percurso que conduziria a uma ruptura com a França já começava a se delinear, aos poucos as tendências federativas e assimilacionistas moderadas davam lugar a uma radicalização anticolonial.[13] Neste contexto, ao passo que a frustração crescia, o nacionalismo argelino se mostrava cada vez mais convencido de que a via legal de emancipação estava esgotada, ou melhor, nunca tivera espaço para se desenvolver por causa da violenta repressão francesa.[14]
O islamismo de vertente sunita, religião professada pela quase totalidade da população argelina desempenharia um papel tão importante quanto o dos partidos políticos conservadores e o avanço da consciência nacionalista. Como ocorria em vários países do Oriente Médio desde fins do Século XIX, o islamismo seria uma força de oposição ao imperialismo ocidental.[15]
Na década de 1950, as tensões anticoloniais se acumulavam por todo o continente africano.[16] As dificuldades vividas pela França na Indochina e na Argélia contribuíram para a independência negociada em 1956 no Marrocos e na Tunísia, que, posteriormente, apoiaram o nacionalismo argelino.
O principal rival argelino da Frente de Libertação Nacional (FLN) — partido que deu o início oficial à revolução — era o Movimento Nacional Argelino (MNA), criado mais tarde, cujos apoiantes principais eram trabalhadores argelinos em França.[17] A FLN e o MNA lutaram entre si durante quase toda a duração do conflito, pelo menos até pouco após a independência, onde a FLN consolidou-se como partido único.
A Revolução Argelina comprovaria a eficiência de uma ampla luta popular desencadeada por um partido revolucionário solidamente ligado às camadas populares.[18] O processo, apresentou um alto preço, e os métodos usados durante a guerra por ambos os lados (tortura, repressão da população civil), que por alguns são considerados controversos, são justificados, em defesa dos argelinos, como uma resposta à repressão e ocupação francesa, que alteraram o a organização comunitária da sociedade argelina, baseada nas tradições islâmicas.[19] O fim da luta armada marcaria o início do processo de descolonização, o que implicaria transformações fundamentais no relacionamento entre Argélia e França, uma vez que esta deixasse aquela em situação econômica e social caótica.[20]
O conflito levou, após os acordos de Évian de 18 de março de 1962, à independência total da Argélia 4 meses depois, e precipitou o êxodo de habitantes de origem europeia - milhares de europeus-argelinos fugiram para a França em poucos meses com medo da vingança da FLN. Desses, muitos, ao deixarem a Argélia, destruíram ou prejudicavam o que não podiam levar, o que incluía desde infraestruturas básicas e serviços públicos até móveis e automóveis.[21]
Durante o processo, a Argélia destacou-se pelos importantes resultados obtidos no processo de socialização da economia, trabalhando questões como: a reforma agrária, a autogestão, a nacionalização progressiva de bancos e grandes indústrias, bem como as conquistas sociais e culturais alcançadas e reconhecidas internacionalmente.[22]
Após terem lutado quase 10 anos - movidos pela forte onda nacionalista que percorreria o continente - ao menos 300 000 argelinos morreram durante o processo -, os argelinos, ao conquistar a independência, passaram a enfrentar o desafio de reorganizar um país com inúmeras feridas coloniais. No geral, a Argélia representou uma alternativa de desenvolvimento voltada para a exploração de seus recursos nacionais, priorizando o mecanismo de autogestão da vida econômica, mantendo ainda sua independência política e influenciando movimentos anticoloniais e anti-imperialistas em todas as partes do mundo.[23]
Cabe reforçar que intelectuais da Teoria Pós-Colonial, como Aimé Césaire tensionaram a violência da colonização francesa a comparando com as ações nazistas na Europa. Isso é reforçado por alguns franceses, como o advogado e ex-guerrilheiro antinazista Jacques Vergès, que comparou a resistência francesa frente a ocupação nazista com a resistência argelina frente a ocupação francesa. Aimé Césaire também fala de Adolf Hitler, pensando suas ações como um crime contra o homem branco e responsável por aplicar à Europa processos colonialistas que até então só os árabes da Argélia, os coolies da Índia e os negros da África estavam subordinados.[24]