Holocausto
genocídio de judeus pela Alemanha Nazi durante a Segunda Guerra Mundial / De Wikipedia, a enciclopédia encyclopedia
Holocausto (em grego: ὁλόκαυστος, holókaustos: ὅλος, "todo" e καυστον, "queimado"),[1] também conhecido como Shoá (em hebraico: השואה, HaShoá, "a catástrofe"; em iídiche: חורבן, Churben ou Hurban, do hebraico para "destruição"), foi o genocídio ou assassinato em massa de cerca de seis milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial, no maior genocídio do século XX, através de um programa sistemático de extermínio étnico patrocinado pelo Estado nazista, liderado por Adolf Hitler e pelo Partido Nazista e que ocorreu em todo o Terceiro Reich e nos territórios ocupados pelos alemães durante a guerra.[2] Dos nove milhões de judeus que residiam na Europa antes do Holocausto, cerca de dois terços foram mortos; mais de um milhão de crianças, dois milhões de mulheres e três milhões de homens judeus morreram durante o período.[3][4]
Holocausto | |
---|---|
Judeus húngaros após desembarcarem dos trens em Auschwitz II, na Polônia ocupada, maio de 1944. Os que eram enviados para a direita (rechts) iam para os campos de trabalho forçado; os que iam para a esquerda (links) eram assassinados nas câmaras de gás. Os prisioneiros do campo são visíveis em seus uniformes listrados. | |
Local: | Alemanha Nazista e Europa ocupada |
Contexto: | Segunda Guerra Mundial |
Período: | 1941–1945 |
Vítimas: | Judeus |
Tipo de agressão: | Assassinato em massa, genocídio e limpeza étnica |
Número de vítimas: | Cerca de 6 milhões de pessoas |
Motivo: | Antissemitismo, racismo |
Julgamentos: | Processos de guerra de Nuremberg, entre outros |
Responsáveis: | Nazistas alemães, junto com seus colaboradores |
Apesar de ainda haver discussão sobre o uso e abrangência do termo "Holocausto" (ver abaixo), o genocídio nazista contra os judeus foi parte de um conjunto mais amplo de atos de opressão e de assassinatos em massa agregados cometidos pelo governo nazista contra vários grupos étnicos, políticos e sociais na Europa.[5] Entre as principais vítimas não judias do genocídio estão ciganos, poloneses, comunistas, homossexuais, prisioneiros de guerra soviéticos, Testemunhas de Jeová e deficientes físicos e mentais.[6][7][8] Segundo estimativas recentes baseadas em números obtidos desde a queda da União Soviética em 1991, um total de cerca de onze milhões de civis (principalmente eslavos) e prisioneiros de guerra foram intencionalmente mortos pelo regime nazista.[9][10]
Uma rede de mais de quarenta mil instalações na Alemanha e nos territórios ocupados pelos nazistas foi utilizada para concentrar, manter, explorar e matar judeus e outras vítimas.[11] A perseguição e o genocídio foram realizados em etapas. Várias leis para excluir os judeus da sociedade civil — com maior destaque para as Leis de Nuremberg de 1935 — foram decretadas na Alemanha antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial na Europa. Campos de concentração foram criados e os presos enviados para lá eram submetidos a trabalho escravo até morrerem de exaustão ou por alguma doença. Quando a Alemanha ocupou novos territórios na Europa Oriental, unidades paramilitares especializadas chamadas Einsatzgruppen assassinaram mais de um milhão de judeus e adversários políticos por meio de fuzilamentos em massa. Os alemães confinaram judeus e ciganos em guetos superlotados, até serem transportados, através de trens de carga, para campos de extermínio, onde, se sobrevivessem à viagem, a maioria era sistematicamente morta em câmaras de gás. Cada ramo da burocracia alemã estava envolvido na logística que levou ao extermínio, o que faz com que alguns classifiquem o Terceiro Reich como um "um Estado genocida".[12]
Em 2007, entrou em vigor uma lei sancionada pela União Europeia (UE) que pune com prisão quem negar o Holocausto.[13] Em 2010, a UE também criou a base de dados europeia EHRI (em inglês: European Holocaust Research Infrastructure) para pesquisar e unificar arquivos sobre o genocídio.[14] A Organização das Nações Unidas (ONU) homenageia as vítimas do Holocausto desde 2005, ao tornar 27 de janeiro o Dia Internacional da Lembrança do Holocausto, por ser o dia em que os prisioneiros do campo de concentração de Auschwitz foram libertos.[15]
Holocausto, Shoah e Solução Final
A palavra "holocausto" deriva da palavra grega "ὁλόκαυστον" [holokauston] grego, significando "oferta de sacrifício completamente (ὅλος) queimada (καυστον)" ou "algo queimado oferecido a um deus". Em ritos pagãos gregos e romanos, deuses da terra e do submundo recebiam animais queimados, que eram oferecidos à noite. A palavra "holocausto" foi adotada mais tarde na tradução grega da Torá para se referir ao Olah,[16] que são ofertas de sacrifícios queimados individuais e comunais que os judeus eram obrigados[17] a fazer nos tempos do Beit Hamicdash (Templo de Jerusalém). Na sua forma latina, holocaustum, o termo foi usado pela primeira vez com referência específica a um massacre de judeus pelos cronistas Roger de Howden[18] e Richard de Devizes na Inglaterra do ano 1190.[19]
Escrita em latim, Richard de Devizes, um monge do século XII, foi o primeiro cronista a registrar o uso o termo "holocaustum" na Grã-Bretanha.[20] Durante séculos, a palavra "holocausto" foi usada para designar grandes massacres. Desde os anos 1960, o termo passou a ser usado por estudiosos e escritores para se referir especificamente ao genocídio nazista contra o povo judeu.[21] A minissérie de televisão Holocausto ajudou a popularizar o termo na linguagem comum após 1978.[22]
A palavra bíblica shoah (שואה; também transliterado sho'ah and shoa), que significa "calamidade", tornou-se o termo hebraico padrão para o Holocausto já em 1940, especialmente na Europa e em Israel.[23]
Os nazistas usaram uma frase eufemística, a "Solução Final para a Questão Judaica" (em alemão: Endlösung der Judenfrage) e a expressão Solução Final tem sido amplamente utilizada como um termo para o genocídio dos judeus. Os nazistas usaram a frase lebensunwertes Leben (indignos da vida), em referência a suas vítimas, na tentativa de justificar os assassinatos.[24]
Designação para vítimas não judias
Embora os termos "Shoah" e "Solução Final" sempre se refiram ao destino dos judeus durante o regime nazista, o termo "Holocausto" é usado às vezes em um sentido mais amplo para descrever outros genocídios do nazismo e outros regimes. A Columbia Encyclopedia define "Holocausto" como o "nome dado ao período de perseguição e extermínio de judeus europeus pela Alemanha nazista".[25] A Microsoft Encarta fornece uma definição semelhante.[26] A Encyclopædia Britannica define "Holocausto" como "o assassinato sistemático patrocinado pelo Estado de seis milhões de judeus homens, mulheres e crianças, e milhões de outros pela Alemanha nazista e seus colaboradores durante a Segunda Guerra Mundial",[27] embora o artigo faça uma extensão: "os nazistas também perseguiram os ciganos. Eles foram o único outro grupo que os nazistas mataram sistematicamente em câmaras de gás, juntamente com os judeus".[27]
Os estudiosos estão divididos sobre se o termo Holocausto deve ser aplicado a todas as vítimas do assassinato em massa nazista, como um sinônimo de Shoah ou "Solução Final da Questão Judaica", ou se o termo deve abranger a matança de povos ciganos, poloneses, as mortes de prisioneiros de guerra soviéticos, eslavos, homossexuais, testemunhas de Jeová, os deficientes e adversários políticos.[28]
A inclusão de vítimas não judias dos nazistas no termo "Holocausto" é contestada por muitas pessoas, como Elie Wiesel e por organizações como a Yad Vashem, criada para homenagear as vítimas do Holocausto. Elas dizem que a palavra foi originalmente concebida para descrever o extermínio dos judeus e que o Holocausto judeu foi um crime em uma escala tal, e de tal totalidade e especificidade, como a culminação da longa história do antissemitismo europeu, que não deve ser incluído em uma categoria geral com todos os outros crimes cometidos pelos nazistas.[29]
Origem
Yehuda Bauer, Raul Hilberg e Lucy Dawidowicz sustentam que a partir da Idade Média, a sociedade e a cultura alemã tornaram-se repletas de aspectos antissemitas e que havia uma ligação ideológica direta entre os pogroms medievais e os campos de extermínio nazistas.[30]
A segunda metade do século XIX viu o surgimento na Alemanha e na Áustria-Hungria do movimento völkisch, desenvolvido por pensadores como Houston Stewart Chamberlain e Paul de Lagarde. O movimento apresentava um racismo com uma base biológica pseudocientífica, onde os judeus eram vistos como uma raça em um combate mortal com a raça ariana pela dominação do mundo.[31] O antissemitismo völkisch inspirou-se em estereótipos do antissemitismo cristão, mas difere dele porque os judeus eram considerados uma raça, não uma religião.[32]
Em um discurso perante o Reichstag em 1895, o líder völkisch Hermann Ahlwardt chamou os judeus de "predadores" e de "bacilos da cólera", que deviam ser "exterminados" para o bem do povo alemão.[33] Em seu livro best-seller Wenn ich der Kaiser wär (Se eu fosse o Kaiser), de 1912, Heinrich Class, o líder do grupo völkisch Alldeutscher Verband, pediu que todos os judeus alemães fossem destituídos de sua cidadania e fossem reduzidos à Fremdenrecht (estrangeiro).[34] Class também pediu que os judeus fossem excluídos de todos os aspectos da vida alemã, proibidos de possuir terras, ocupar cargos públicos ou de participar do jornalismo, de bancos e de profissões liberais.[34] Class definia como judeu alguém que era membro da religião judaica no dia em que o Império Alemão foi proclamado em 1871 ou qualquer pessoa com pelo menos um avô judeu.[34]
Durante o Império Alemão, o movimento völkisch e o racismo pseudocientífico tornaram-se comuns e aceitos por toda a Alemanha,[35] sendo que as classes profissionais educadas do país, em particular, adotaram uma ideologia de desigualdade humana.[36] Embora os partidos völkisch tenham sido derrotados em eleições para o Reichstag em 1912, sendo quase dizimados, o antissemitismo foi incorporado nas plataformas dos principais partidos políticos do país.[35] O Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (Partido Nazista; NSDAP) foi fundado em 1920 como um desdobramento do movimento völkisch e adotou a ideologia antissemita.[37]
Grandes mudanças científicas e tecnológicas na Alemanha durante o século XIX e início do século XX, juntamente com o crescimento do Estado de bem-estar social, criaram esperanças generalizadas de que a utopia estava próxima e que em breve todos os problemas sociais poderiam ser resolvidos.[38] Ao mesmo tempo, era comum a visão de mundo racista, darwinista social e eugenista que classificava algumas pessoas como biologicamente superiores a outras.[39]
O historiador Detlev Peukert afirma que o Holocausto não foi resultado apenas do antissemitismo, mas foi um produto da "radicalização cumulativa", em que "numerosas correntes menores" alimentavam a "corrente principal", o que levou ao genocídio.[40] Após a Primeira Guerra Mundial, o clima otimista pré-guerra deu lugar à desilusão conforme os burocratas alemães perceberam que os problemas sociais eram mais insolúveis do que pensavam, o que os levou a colocar uma ênfase maior em salvar os biologicamente "aptos", enquanto os biologicamente "inaptos" deviam ser eliminados.[41]
Cerca de 100 mil soldados judeus alemães, lutaram pelo império alemão durante a I Guerra Mundial.[42] Em 1919, foi criada a Reichsbund jüdischer Frontsoldaten[43] (associação de soldados judeus alemães veteranos de guerra). Seu objetivo era combater a Dolchstoßlegende ("Lenda da Punhalada pelas Costas") que acusava os judeus, entre outros, de serem traidores da pátria e culpados pela derrota alemã. Em torno de 12 mil soldados judeus morreram durante a guerra, servindo no Exército Imperial Alemão.[44]
As tensões econômicas da Grande Depressão levaram muitos na comunidade médica alemã a defender a ideia de eutanásia de deficientes físicos e mentais "incuráveis", como medida de economia de custos para liberar dinheiro para outros pacientes.[45] Até os nazistas chegarem ao poder em 1933, já existia uma tendência na política social alemã para salvar os racialmente "valiosos", enquanto buscava livrar a sociedade dos "indesejáveis".[46]
A propaganda nazista esforçava-se para apresentar o judeu como o grande inimigo do Reich e do povo alemão.[47] Em 1935, num destes esforços, o ministro da propaganda do III Reich, Joseph Goebbels, escolheu Hessy Levinsons Taft como o modelo de "bebê ariano ideal".[48] Entretanto, ele não sabia que ela na realidade, era uma criança judia.[49]
Hitler deixava seu ódio aos judeus explícito. Em seu livro Mein Kampf, ele avisou sobre sua intenção de expulsá-los da vida política, intelectual e cultural da Alemanha. Ele não escreveu que iria tentar exterminá-los, mas acredita-se que ele tenha sido mais explícito em privado. Já em 1922, ele teria dito ao major Joseph Hell, na época um jornalista:
Assim que eu realmente estiver no poder, minha primeira e mais importante tarefa será a aniquilação dos judeus. Tão logo eu tenha o poder de fazer isso, eu terei forcas construídas em fileiras - na Marienplatz em Munique, por exemplo, tantas quantas o tráfego permitir. Então os judeus serão enforcados indiscriminadamente, e eles continuarão pendurados até federem; eles ficarão pendurados lá tanto tempo quanto os princípios da higiene permitirem. Assim que eles tiverem sido desamarrados, o próximo lote será enforcado, e assim por diante da mesma maneira, até que o último judeu em Munique tiver sido exterminado. Outras cidades farão o mesmo, precisamente dessa maneira, até que toda a Alemanha tenha sido completamente limpa de judeus.[50]
Reassentamento e deportação
Antes da guerra, os nazistas consideravam a deportação em massa de judeus alemães (e, posteriormente, de judeus de toda a Europa) para fora do continente europeu. A aprovação do Plano Schacht (1938-9) por Hitler e a fuga contínua de milhares de judeus dos domínios nazistas durante um longo período, quando então tal plano mostrou-se ineficaz, indicam que a escolha de promover um genocídio sistemático surgiu apenas mais tarde entre os líderes nazistas.[51]
Planos para recuperar antigas colônias alemãs — como Tanganyika e Sudoeste Africano — através do reassentamento judaico foram interrompidos por Hitler, que argumentou que não existe lugar onde "tanto sangue dos heroicos alemães havia sido derramado" que deva ser disponibilizado como residência para os "piores inimigos dos alemães".[52] Esforços diplomáticos foram realizados para convencer as outras ex-potências coloniais, principalmente o Reino Unido e a França, a aceitarem os judeus expulsos em suas colônias.[53] As áreas consideradas para o possível reassentamento de judeus incluíam o Mandato Britânico na Palestina,[54] a Abissínia italiana,[54] a Rodésia britânica,[55] o Madagascar francês[54] e a Austrália.[56]
Dessas áreas, Madagascar foi o mais seriamente discutido. Heydrich chamou de "Plano Madagáscar" uma "solução final territorial"; era um local remoto e as condições desfavoráveis da ilha iriam acelerar as mortes.[57] Aprovado por Hitler em 1938, o planejamento do reassentamento foi realizado pelo escritório de Adolf Eichmann, só sendo abandonado quando o extermínio em massa de judeus começou em 1941. Embora fantástico em retrospectiva, este plano constituiu um passo psicológico importante no caminho para o Holocausto.[58] O fim do Plano Madagáscar foi anunciado em 10 de fevereiro de 1942. O Ministério do Exterior alemão deu a explicação oficial de que, devido à guerra com a União Soviética, os judeus estavam sendo "enviados para o leste".[59]
Os burocratas nazistas também desenvolveram planos para deportar os judeus da Europa para a Sibéria.[60] A Palestina foi o único local onde qualquer plano de reassentamento nazista conseguiu produzir resultados significativos, por meio de um acordo iniciado em 1933 entre a Federação Sionista da Alemanha (die Zionistische Vereinigung für Deutschland) e o governo nazista, o Acordo Haavara. Este acordo resultou na transferência de cerca de sessenta mil judeus alemães e de cem milhões de dólares da Alemanha para a Palestina, até a eclosão da Segunda Guerra Mundial.[61]
Campos de concentração e trabalho forçado (1933–1945)
Desde o início do Terceiro Reich campos de concentração foram criados, inicialmente como locais de encarceramento. Embora a taxa de mortalidade nos campos de concentração fosse elevada (de 50%), eles não eram projetados para serem centros de matança. (Em 1942, seis grandes campos de extermínio foram estabelecidos pelos nazistas na Polônia ocupada, que foram construídos exclusivamente para extermínios em massa). Depois de 1939, os campos tornaram-se cada vez mais lugares onde os judeus e prisioneiros de guerra eram mortos ou obrigados a trabalhar como escravos, ficavam desnutridos e eram torturados.[62] Estima-se que os alemães tenham estabelecido cerca de quinze mil campos e subcampos nos países ocupados, a maioria no leste da Europa.[63][64] Novos campos foram fundados em áreas com grande populações de judeus, poloneses intelligentsia, comunistas ou ciganos, incluindo dentro da Alemanha.[65] O transporte dos presos era muitas vezes realizado em condições horríveis, usando vagões ferroviários de carga, onde muitos morriam antes de chegar ao destino.[66]
A morte através do trabalho era uma política de extermínio sistemático - os presos tinham que, literalmente, trabalhar até a morte, ou trabalhar até a exaustão física, quando seriam então levados para as câmaras de gás, aos gaswagen (caminhões de gás) ou fuzilados. O trabalho escravo foi utilizado na indústria da guerra, por exemplo, na produção dos foguetes V-2.[67]
No momento da admissão, alguns campos de concentração tatuavam os prisioneiros com uma identificação.[68] Aqueles que estavam aptos para o trabalho eram despachados para turnos de doze a catorze horas. Antes e depois havia revistas que às vezes podiam durar horas, com os presos regularmente morrendo por exposição.[69]
Guetos (1940–1945)
Após a invasão da Polônia, os nazistas estabeleceram guetos em que judeus e alguns ciganos foram confinados até serem finalmente enviados para campos de extermínio. A primeira ordem para a criação dos guetos veio em uma carta datada de 29 de setembro de 1939 a partir de Heydrich para os líderes dos Einsatzgruppen.[70] Cada gueto era administrado por um Judenrat (Conselho Judaico) composto por líderes da comunidade judaica alemã, que eram responsáveis pelo dia a dia do gueto, como a distribuição de alimentos, água, remédios e abrigo. A estratégia básica adotada pelos conselhos era de uma tentativa de minimizar as perdas, em grande parte, cooperando com as autoridades nazistas (ou seus substitutos), aceitando o tratamento cada vez mais terrível e pedindo por melhores condições e clemência.[71]
Os conselhos também eram responsáveis por fazer os arranjos para as deportações dos judeus para campos de extermínio,[72] portanto, o momento definidor que testou a coragem e o caráter de cada Judenrat veio quando eles foram convidados a fornecer uma lista de nomes do próximo grupo a ser deportado para os campos. Os membros do Judenrat tentavam métodos como suborno, obstrução, súplica e argumentação, até que, finalmente, uma decisão tinha de ser tomada. Alguns, como Chaim Rumkowski, argumentam que a sua responsabilidade era salvar os judeus que poderiam ser salvos, e que, portanto, outros tinham que ser sacrificados, enquanto outros afirmam que, seguindo Maimônides, nenhum indivíduo que não tenha cometido um crime capital deveria ser entregue. Líderes dos Judenrat, como o Dr. Joseph Parnas em Lviv, que se recusaram a compilar uma lista foram baleados. Em 14 de outubro de 1942, todo o Judenrat de Byaroza cometeu suicídio em vez de cooperar com as deportações.[73]
A importância dos conselhos no sentido de facilitar a perseguição e o assassinato de habitantes dos guetos não se perdia nos alemães: um oficial foi enfático ao dizer que "a autoridade do conselho judaico deve ser mantida e reforçada em todas as circunstâncias"[74] e que "os judeus que desobedecem as instruções do Conselho Judaico devem ser tratados como sabotadores".[72] Quando essa cooperação se desintegrou, como aconteceu no gueto de Varsóvia após a Organização Judia de Combate tomar a autoridade do conselho, os alemães perderam o controle.[75] No gueto de Varsóvia, houve uma enfermeira, chamada Irena Sendler, que lutou ao lado dos judeus, salvando mais de 2 500 crianças durante esse período.[76]
O gueto de Varsóvia era o maior, com 380 mil pessoas, o gueto de Lodz era o segundo maior, com 160 mil presos. Eles eram, na verdade, imensas prisões superlotadas, descritas por Michael Berenbaum como instrumentos de um "assassinato lento e passivo".[77] Embora o gueto de Varsóvia fosse ocupado por 30% da população da capital polaca, ele ocupava apenas 2,4% da área da cidade, com uma média de 9,2 pessoas por quarto.[78] Entre 1940 e 1942, fome e doenças, especialmente a febre tifoide, mataram centenas de milhares de pessoas. Mais de 43 mil moradores do gueto de Varsóvia morreram ali em 1941,[78] mais de um em dez; em Theresienstadt, mais da metade dos moradores morreu em 1942.[77]
Os alemães chegaram, a polícia e eles começaram a bater nas casas: "Raus, raus, raus, Juden raus."... Um bebê começou a chorar... O outro bebê começou a chorar. Então, uma mãe urinou na mão e deu ao bebê como bebida para ele ficar quieto... [Quando a polícia foi embora] Eu disse para a mãe sair. E um bebê estava morto... de medo, a mãe sufocou seu próprio bebê.
Himmler ordenou o início das deportações em 19 de julho de 1942 e, três dias depois, em 22 de julho, as deportações do gueto de Varsóvia começaram e se estenderam ao longo dos seguintes 52 dias, até 12 de setembro, quando trezentas mil pessoas, apenas de Varsóvia, foram deportadas em trens de carga para o campo de extermínio de Treblinka. Muitos outros guetos foram completamente esvaziados.[80]
A primeira revolta em um gueto ocorreu em setembro de 1942, na pequena cidade de Łachwa, no sudeste da Polônia. Embora tentativas de resistência armada tenham surgido nos guetos maiores em 1943, como o Levante do Gueto de Varsóvia e do Gueto de Bialystok, em todos os casos elas não conseguiram lutar contra a esmagadora força militar nazista e os judeus rebeldes foram mortos ou deportados para os campos de extermínio.[81]
Conferência de Wannsee e Solução Final (1942–1945)
A Conferência de Wannsee foi convocada por Reinhard Heydrich em 20 de janeiro de 1942, no subúrbio de Wannsee, em Berlim, e reuniu cerca de 15 líderes nazistas que incluíam uma série de secretários de Estado, altos funcionários, líderes do partido, oficiais da SS e outros líderes de departamentos governamentais que eram responsáveis pelas políticas que estavam ligadas às "questões judaicas". O objetivo inicial da reunião era discutir planos para uma solução abrangente para a "questão judaica na Europa". Heydrich pretendia "delinear os assassinatos em massa nos vários territórios ocupados... como parte de uma solução para a questão judaica europeia ordenada por Hitler... para garantir que eles e, especialmente, a burocracia ministerial, iriam compartilhar conhecimento e responsabilidade por esta política".[82]
A cópia da ata que foi elaborada por Eichmann sobreviveu, mas, por instruções de Heydrich, foram escritas em "linguagem eufemística". Assim, as palavras exatas usadas na reunião não são conhecidas.[83] No entanto, Heydrich liderou a reunião, indicando que a política de emigração tinha sido substituída por uma política de evacuação de judeus para o leste. Isto foi visto como sendo apenas uma solução temporária que levaria a uma solução final que envolveria os cerca de onze milhões de judeus que viviam não só em territórios controlados pelos alemães, mas pelos principais países do resto do mundo, como Reino Unido e Estados Unidos.[84] Há pouca dúvida sobre o que a Solução Final foi: "Heydrich também deixou claro o que foi entendido pela expressão "Solução Final": os judeus deviam ser aniquilados através de uma combinação de trabalho forçado e assassinato em massa.".[85]
Os oficiais foram informados de que havia 2,3 milhões de judeus no Governo Geral, 850 mil na Hungria, 1,1 milhão nos outros países ocupados e de até cinco milhões na União Soviética, apesar de dois milhões destes estarem em áreas ainda sob controle soviético — um total de cerca de 6,5 milhões. Estes seriam todos transportados de trem para os campos de extermínio (Vernichtungslager) na Polônia, onde quase todos eles seriam imediatamente enviados para as câmaras de gás. Em alguns campos, como Auschwitz, aqueles que estavam aptos para trabalhar eram mantidos vivos por um tempo, mas todos acabavam mortos em algum momento.[86]
Tentativas de ocultação
Evidências indicam que, quando a derrota tornou-se evidente e que os líderes nazistas, provavelmente, seriam capturados e levados a julgamento, um grande esforço coordenado foi feito para destruir todas as provas do extermínio em massa. Tal esforço foi denominado, "Kommando 1005 - Sonderaktion 1005".[87]
Em novembro de 1942, no escritório de Eichmann em Berlim, conheci o Standartenführer Paul Blobel, que era líder do Kommando 1005, que foi especialmente designado para remover todos os vestígios da solução final (extermínio) do problema judaico pelos Einsatzgruppen e todas as outras execuções. O Kommando 1005 operou pelo menos desde o outono de 1942 até setembro de 1944 e foi todo esse período subordinado a Eichmann. A missão foi constituída depois que se tornou evidente que a Alemanha não seria capaz de manter todo o território ocupado no Leste e foi considerado necessário remover todos os vestígios das execuções criminosas que haviam sido cometidas. Enquanto estava em Berlim em novembro de 1942, Plobel deu uma palestra para a equipe de especialistas de Eichmann sobre a questão judaica dos territórios ocupados. Ele falou sobre os incineradores especiais que construiu pessoalmente para uso no trabalho do Kommando 1005. Era sua tarefa particular abrir as sepulturas, remover e cremar os corpos de pessoas que haviam sido executadas anteriormente. O Kommando 1005 operou na Rússia, Polônia e na região do Báltico. Eu vi Plobel novamente na Hungria em 1944 e ele declarou a Eichmann na minha presença que a missão do Kommando 1005 havia sido completada.
Libertação
O primeiro grande campo, Majdanek, foi descoberto pelos soviéticos em 23 de julho de 1944. Chełmno foi libertado pelos soviéticos em 20 de janeiro de 1945. Auschwitz foi libertado, também pelos soviéticos, em 27 de janeiro de 1945;[89] Buchenwald pelos estadunidenses em 11 de abril;[90] Bergen-Belsen pelos britânicos em 15 de abril;[91] Dachau pelos estadunidenses em 29 de abril;[92] Ravensbrück pelos soviéticos no mesmo dia; Mauthausen pelos estadunidenses em 5 de maio[93] e Theresienstadt pelos soviéticos em 8 de maio.[94] Treblinka, Sobibor e Bełżec nunca foram libertados, mas foram destruídos pelos nazistas. Em 1943, o Coronel William W. Quinn do 7º Exército dos Estados Unidos disse sobre Dachau: "Lá nossas tropas encontraram visões, sons e fedores horríveis além da imaginação, crueldades tão grandes a ponto de serem incompreensíveis para a mente normal".[95]
Na maioria dos campos descobertos pelos soviéticos, quase todos os presos já tinham sido removidos, deixando apenas alguns milhares de pessoas vivas — 7 600 detentos foram encontrados em Auschwitz,[96] incluindo 180 crianças que haviam passado por experimentos médicos. Cerca de sessenta mil prisioneiros foram descobertos em Bergen-Belsen pela 11ª Divisão Blindada britânica,[97] treze mil cadáveres jaziam insepultos e outros dez mil morreram de tifo ou desnutrição nas semanas seguintes.[98] Os britânicos forçaram os guardas restantes da SS a recolher os cadáveres e colocá-los em valas comuns.[99]
Richard Dimbleby, um correspondente da BBC, descreveu as cenas que o saudaram em Bergen-Belsen:
Aqui mais de um acre de terra coberto por leigos mortos e moribundos. Você não podia ver quem era quem... Um anônimo vivo deitado com a cabeça contra os cadáveres moveu a terrível e fantasmagórica procissão de pessoas magras, sem rumo, sem nada para fazer e sem nenhuma esperança de vida, incapazes de se moverem para fora do seu caminho, incapazes de olhar para os locais terríveis ao redor delas... Bebês nasceram aqui, pequenas coisas enrugadas que não poderiam viver... A mãe, enlouquecida, gritou para um sentinela britânico dar leite ao seu filho e empurrou o pequeno em seus braços... Ele abriu o pacote e encontrou o bebê que já estava morto há dias. Este dia em Belsen foi o mais horrível da minha vida.[100]
Apoio institucional
O historiador norte-americano Michael Berenbaum afirma que a Alemanha tornou-se um "Estado genocida".[12]
Cada braço da sofisticada burocracia do país estava envolvido no processo de matança. Igrejas paroquiais e o Ministério do Interior forneciam registros de nascimento mostrando quem era judeu; os Correios entregaram ordens de deportação e de desnaturalização; o Ministério das Finanças confiscou propriedades judaicas; empresas alemãs demitiram trabalhadores judeus e acionistas judeus foram marginalizados.
As universidades se recusavam a aceitar judeus, negavam diploma para aqueles que já estavam estudando e demitiam acadêmicos judeus; companhias de transportes públicos organizaram trens de carga para deportar as vítimas para os campos; as empresas farmacêuticas alemãs testaram drogas nos prisioneiros dos campos; empresas participaram das licitações para a construção dos crematórios; listas detalhadas de vítimas foram elaboradas utilizando máquinas de cartões perfurados da empresa Dehomag (IBM Alemanha), produzindo registros meticulosos dos assassinatos. Quando os prisioneiros entravam nos campos de extermínio, eles eram forçados a entregar toda a sua propriedade pessoal, que era catalogada e etiquetada antes de ser enviada para a Alemanha para ser reutilizada ou reciclada. Berenbaum escreve que a Solução Final para a "questão judaica" foi "aos olhos dos autores... a maior conquista da Alemanha".[101] Através de uma conta oculta, o banco nacional alemão ajudou a lavar objetos de valor roubados das vítimas.[102]
O historiador israelense Saul Friedländer escreve que: "Nem um grupo social, nenhuma comunidade religiosa, instituição acadêmica ou associação profissional na Alemanha e em toda a Europa declarou a sua solidariedade para com os judeus".[103] Ele afirma que algumas igrejas cristãs declararam que os judeus convertidos deviam ser considerados como parte dos seus fiéis, mas, mesmo assim, só até certo ponto. Friedländer argumenta que isso torna o Holocausto diferente, porque as políticas antissemitas eram capazes de se desenvolver sem a interferência de outras forças de compensação do tipo que são normalmente encontradas em sociedades avançadas, como a indústria, as pequenas empresas e grupos de lobby.[103]
Ideologia e escala
Em outros extermínios étnicos, considerações pragmáticas, como o controle do território e de recursos, eram fundamentais para a política de genocídio. O historiador e estudioso israelense Yehuda Bauer afirma que:
A motivação básica [do Holocausto] foi puramente ideológica, enraizada em um mundo ilusório da imaginação nazista, onde uma conspiração judaica internacional para controlar o mundo se opunha aos objetivos arianos. Até então nenhum genocídio tinha sido feito tão completamente baseado em mitos, em alucinações, no abstrato, em ideologias não pragmáticas — e que depois foi executado por meio de maneiras muito racionais e pragmáticas.[104]
O historiador alemão Eberhard Jäckel escreveu em 1986 que uma característica distintiva do Holocausto era que:
Nunca antes um Estado com a autoridade de seu líder responsável decidiu e anunciou que um grupo humano específico, designadamente idosos, suas mulheres e seus filhos e crianças, seriam mortos o mais rápido possível e, em seguida, realizou esta resolução usando todos os meios de poder possíveis do Estado.[105]
Os assassinatos eram sistematicamente realizados em praticamente todas as áreas do território ocupado pelos alemães onde agora estão 35 países europeus diferentes.[106] O extermínio foi mais grave na Europa Central e Oriental, que tinha mais de sete milhões de judeus em 1939. Cerca de cinco milhões de judeus foram mortos, incluindo três milhões na Polônia ocupada e mais de um milhão na União Soviética. Centenas de milhares de pessoas também morreram nos Países Baixos, França, Bélgica, Iugoslávia e Grécia. A Conferência de Wannsee deixa claro que os nazistas tinham a intenção de levar a "solução final da questão judaica" ao Reino Unido e aos Estados neutros na Europa, como Irlanda, Suíça, Turquia, Suécia, Portugal e Espanha.[107]
Qualquer pessoa com três ou quatro avós judeus era exterminada, sem exceção. Em outros genocídios, as pessoas podiam escapar da morte ao se converter a outra religião ou através de alguma outra forma de assimilação cultural. Esta opção não estava disponível para os judeus da Europa ocupada,[108] a menos que seus avós tivessem se convertido antes de 18 de janeiro de 1871. Todas as pessoas com ascendência judaica recente deveriam ser exterminadas em terras controladas pela Alemanha nazista.[109]
Experimentos médicos
Uma característica distinta do genocídio nazista foi o uso extensivo de seres humanos em experimentos "médicos". De acordo com Raul Hilberg, "os médicos alemães eram altamente nazificados em comparação com outros profissionais, em termos de filiação partidária".[110] Alguns realizaram experimentos nos campos de concentração de Auschwitz, Dachau, Buchenwald, Ravensbrück, Sachsenhausen e Natzweiler.[111]
O mais notório desses médicos foi o Dr. Josef Mengele, que trabalhou no campo de Auschwitz. Seus experimentos incluíam colocar os "objetos" de pesquisa em câmaras de pressão, testar drogas neles, congelá-los e, na tentativa de mudar a cor dos olhos, injetar substâncias químicas nos olhos de crianças, além de várias amputações e outros tipos de cirurgias.[111] A extensão total do seu trabalho nunca será conhecida, porque os registros que ele enviou ao Dr. Otmar von Verschuer na Sociedade Kaiser Wilhelm foram destruídos por von Verschuer.[112] Os indivíduos que sobreviveram aos experimentos de Mengele eram quase sempre mortos e dissecados logo depois.
Ele realizou muitos experimentos com crianças ciganas. Ele trazia doces e brinquedos para elas e pessoalmente levava-as para a câmara de gás. Elas o chamavam de "Onkel (tio) Mengele".[113] Vera Alexander foi uma prisioneira judia em Auschwitz que cuidou de 50 pares de gêmeos ciganos:
Lembro-me de um par de gêmeos em especial: Guido e Ina, com cerca de quatro anos. Um dia, Mengele levou-os. Quando eles voltaram, estavam em um estado terrível: eles haviam sido costurados, entre as costas, como gêmeos siameses. Suas feridas ficaram infectadas e escorriam pus. Eles gritavam dia e noite. Então seus pais — eu lembro que Stella era o nome da mãe — conseguiram um pouco de morfina e mataram as crianças, para acabar com o seu sofrimento.[113]
Identificação de prisioneiros
Face a enorme migração somada às grandes distâncias que separavam os campos de concentração das indústrias bélicas alemãs, para efeito de identificação fora dos campos em vez de números, os administradores tiveram que elaborar uma solução geométrica de identificação que pudesse ser visualizada rapidamente. Os prisioneiros foram requeridos a usar triângulos coloridos nas suas vestes, cujas cores respondiam por seus endereços em campos que geralmente atendiam a sua nacionalidade e preferência política etc.; essa solução tinha por objetivo facilitar as equipes de transportes (por caminhão) identificá-los mais rapidamente no retorno diário, evidentemente após cumprirem suas missões dos centros industriais aos campos.[114]
Apesar de as cores variarem de campo para campo, as cores mais comuns eram:[115][116]
- Triângulo amarelo: judeus — dois triângulos sobrepostos, para formar a Estrela de Davi, com a palavra Jude (judeu) inscrita; mischlings i.e., aqueles que eram considerados apenas parcialmente judeus, muitas vezes usavam apenas um triângulo amarelo.
- Triângulo vermelho: dissidentes políticos, incluindo comunistas
- Triângulo verde: criminoso comum. Criminosos de ascendência ariana recebiam frequentemente privilégios especiais nos campos e poder sobre outros prisioneiros (kapos e sonderkommandos).
- Triângulo púrpura (roxo): basicamente aplicava-se às Testemunhas de Jeová, que por objeção de consciência negavam-se a participar dos empenhos militares da Alemanha nazista e a renegar sua fé ao assinar uma declaração.
- Triângulo azul: imigrantes.
- Triângulo castanho: ciganos roma e sinti
- Triângulo negro: lésbicas e antissociais (alcoólatras e indolentes).
- Triângulo rosa: homossexuais.
Campos de extermínio
Durante 1942, além de Auschwitz, outros cinco campos foram designados como campos de extermínio (Vernichtungslager) para a realização do plano de Reinhard.[117][118] Dois deles — Chełmno[119] e Majdanek — já funcionavam como campos de trabalho forçado e agora iriam funcionar como instalações de extermínio. Três novos campos foram construídos com o único propósito de matar um grande número de judeus, tão rapidamente quanto possível, em Belzec, Sobibor e Treblinka. Um sétimo do campo de Trostinets Maly, na Bielorrússia, também foi usado para este objetivo. Jasenovac era um campo de extermínio, onde foram mortos principalmente sérvios.[120]
Campos de extermínio são frequentemente confundidos com campos de concentração, como Dachau e Belsen, que eram localizados em sua maioria na Alemanha e eram lugares de prisão e trabalho forçados para uma variedade de inimigos do regime nazista (tais como comunistas e homossexuais). Eles também devem ser distinguidos dos campos de trabalho escravo, que foram criados em todos os países ocupados pelos alemães para explorar o trabalho de prisioneiros de vários tipos, incluindo prisioneiros de guerra. Em todos os campos nazistas eram muito altas as taxas de mortalidade por fome, doença e exaustão, mas apenas os campos de extermínio eram projetados especificamente para assassinatos em massa.[121]
Havia um lugar chamado "a rampa" de onde os trens com os judeus vinham. Eles chegavam dia e noite, às vezes um por dia ou cinco vezes por dia... Constantemente, as pessoas da Europa Central foram desaparecendo e elas estavam chegando no mesmo lugar com a mesma ignorância do destino que tinham os ocupantes do transporte anterior. E as pessoas nessa massa... Eu sabia que dentro de poucas horas... noventa por cento iriam para as câmaras de gás.
Os campos de extermínio eram comandados por oficiais da SS, mas a maioria dos guardas eram auxiliares ucranianos ou do Báltico.[121]