Irmãos Davenport
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Os chamados irmãos Davenport - Ira Erastus Davenport (Buffalo, Nova Iorque, 17 de Setembro de 1839) e William Henry Davenport (Buffalo, Nova Iorque, 1 de Fevereiro de 1842) - foram uma dupla de médiuns estadunidenses de efeitos físicos. Destacaram-se por terem criado o chamado "Gabinete Mediúnico", cuja representação ilustrava os cartazes de suas apresentações públicas.
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O The Times, o Daily Telegraph e outros jornais publicaram relatórios longos e honestos, que deixaremos de citar, haja vista o importante testemunho do Sr. Boucicault, publicado não só pelo Daily News como por muitos outros jornais londrinos, abrangendo todos os fatos. Este jornal descreve uma sessão posterior realizada na casa do Sr. Boucicault, em 11 de outubro de 1864. Estavam presentes, entre outros, o visconde Bury (deputado), Sir Charles Wyke, Sir Charles Nicholson (chanceler da Universidade de Sydney), o Sr. Robert Chambers, o Sr. Charles Reade (romancista) e o capitão Inglefield (explorador do Ártico). Diz o Sr. Boucicault:
Realizou-se ontem, em minha casa, uma sessão com os irmãos Davenport e o Sr. W. Fay, estando presentes as seguintes pessoas (aqui ele menciona vinte e quatro nomes, inclusive os acima citados). Às quinze horas nosso grupo estava reunido. Mandamos buscar, em uma casa de música próxima, seis violões e dois tamborins. Nossa intenção era que a experiência fosse realizada com material desconhecido dos operadores. Os irmãos Davenport e o Sr. Fay, ao chegarem às 15h30, verificaram ter havido alteração de seus planos, pois tínhamos trocado a sala previamente escolhida para a sessão. A experiência começou por um exame pessoal dos Davenports, bem como de suas vestimentas, tendo sido verificado que não escondiam com eles, ou nas proximidades, qualquer espécie de dispositivo ou artifício. Entraram ambos na cabine e sentaram-se frente a frente. Em seguida, o capitão Inglefield, com uma corda nova por nós fornecida, amarrou o Sr. W. Davenport, pés e mãos, com as mãos nas costas, atando-o firmemente ao assento onde se sentara. Lorde Bury fez o mesmo com o Sr. I. Davenport. Os nós dessas ligaduras foram lacrados e selados. Após terem sido colocados, no piso da cabine, um violão, um violino, um tamborim, duas campainhas e uma trombeta, foram fechadas as portas desse compartimento, ficando a sala com luz suficiente para a observação das possíveis manifestações. Não farei a descrição minuciosa da babel de sons ouvidos na cabine nem da violência com que as portas eram repetidamente abertas e os instrumentos jogados para fora, ou ainda das mãos, que geralmente apareciam por um orifício em forma de losango, na parte central das referidas portas. Todavia, vale a pena mencionar os seguintes incidentes. As portas da cabine encontravam-se abertas. Viam-se, dentro dela, lorde Bury, em posição inclinada, e os dois médiuns, estes lacrados e amarrados. Observou-se, então, de forma clara, a mão que descia sobre ele até tocá-lo, fazendo-o recuar. De outra feita, durante um intervalo na sessão, em plena luz do candelabro de gás, estando as portas da cabine abertas, uma branca e delgada mão feminina, prolongando-se até o punho, tremeu por alguns segundos no espaço, no momento em que as ligaduras que prendiam os irmãos Davenport eram examinadas. A aparição provocou exclamação geral. Em seguida, Sir Charles Wyke entrou na cabine, sentou-se entre os dois jovens e colocou as mãos sobre eles - uma em cada um -, segurando-os. As portas foram fechadas e a babel de sons recomeçou. Várias mãos apareceram no orifício, entre elas a de uma criança. Passado algum tempo, Sir Charles, retornando para junto de nós, declarou que, enquanto segurava os dois médiuns, diversas mãos lhe roçaram o rosto e puxaram o cabelo, os instrumentos rastejaram a seus pés e tocaram, movimentando-se em volta de seu corpo e em cima da cabeça, um deles apoiou-se-lhe ocasionalmente no ombro. No decorrer da sessão, apareceram mãos, que o capitão Inglefield apalpou e segurou. Segundo ele, pareciam humanas, embora se extinguissem quando as apertava. Deixarei de mencionar os fenômenos já descritos em outra parte. A fase seguinte da sessão foi realizada no escuro. Um dos Srs. Davenport e o Sr. Fay sentaram-se entre nós. Duas cordas foram jogadas aos pés de ambos e, em dois minutos e meio, tinham pés e mãos amarrados, com as mãos para trás, fortemente atadas às cadeiras onde se sentavam, sendo estas cadeiras amarradas à mesa próxima. Durante esse procedimento, o violão ergueu-se da mesa, balançou e flutuou em redor desta, acima da cabeça de todos, tocando de leve um e outro assistente. Em seguida, uma luz fosforescente projetou-se, de um lado para outro, sobre nossas cabeças, o colo, as mãos e os ombros de várias pessoas foram simultaneamente tocados, golpeados e arranhados por mãos, enquanto algumas criaturas tiveram a má sorte de terem a cabeça e os ombros escoriados pelo violão, que, após planar em torno da sala e depois próximo do teto, as atingiu. As campainhas flutuavam aqui e ali, e o violino vibrava levemente. Os dois tamborins pareciam rolar no chão, para lá e para cá, ora sacudindo-se violentamente, ora visitando os joelhos e as mãos dos circunstantes, sendo todas essas ações ouvidas e sentidas simultaneamente. O Sr. Rideout, segurando um tamborim, após perguntar se lhe poderia ser arrancado, teve-o quase instantaneamente arrebatado de si. Ao mesmo tempo, lorde Bury fez pedido semelhante, resistindo à enérgica tentativa feita no sentido de se lhe tomar o instrumento. O Sr. Fay perguntou, então, se o seu casaco também poderia ser retirado. Ouvimos instantaneamente um violento puxão e aí ocorreu o fato mais notável de todos: uma luz foi acesa antes antes de o casaco ser removido. Vimo-lo, então, ser tirado pela cabeça do Sr. Fay. O casaco voou em direção ao candelabro, onde ficou dependurado por algum tempo antes de cair no chão. Enquanto isso se dava, o Sr. Fay era visto de mãos e pés atados, como antes. Em sequência, um dos integrantes do grupo despiu o próprio casaco, colocando-o sobre a mesa. Apagou-se a luz, e o casaco transportou-se rapidamente para as costas do Sr. Fay. Durante esses acontecimentos, verificados no escuro, colocamos uma folha de papel sob os pés dos dois operadores, fazendo seu contorno com um lápis, a fim de descobrir se eles os moviam. Por iniciativa própria, ofereceram-se para que suas mãos ficassem cheias de farinha, ou outra substância, com o intuito de provar que não se utilizavam delas, mas esta precaução foi considerada desnecessária. Solicitamos-lhes, entretanto, que contassem de um a doze, sem interrupção, para que, ouvindo suas vozes constantemente, nos certificássemos de que permaneciam nos locais onde foram amarrados. Cada pessoa do grupo segurou firmemente o vizinho, de modo a não permitir movimentos sem que as duas pessoas mais próximas o notassem. Ao término da experiência, passamos a conversar abertamente a respeito de tudo que vimos e ouvimos. Lorde Bury propôs ao grupo a seguinte conclusão: assegurar aos irmãos Davenport e ao Sr. Fay que, depois de rigoroso processo e do exame minucioso dos procedimentos adotados, as pessoas ali presentes só poderiam chegar à conclusão de que não havia indícios de truques nem, certamente, cúmplices ou uso de maquinismos. Assim, as testemunhas declarariam livremente nos meios sociais por elas frequentado que, até onde suas investigações lhes permitiam opinar, os fenômenos ocorridos em sua presença não eram produto de prestidigitação. Todos aceitaram a proposição de lorde Bury.
No último parágrafo, o Sr. Boucicault declara não ser espiritualista. Ao firmar o relatório, além do nome, coloca sua data de nascimento. Transcrevemos sem supressões essa admirável descrição, tão lúcida quanto completa, porque fornece resposta para muitas objeções, além de ser reconhecida a idoneidade do narrador e das testemunhas. Certamente, deve ser aceita como conclusiva, no que respeita à honestidade. Toda objeção posteriormente levantada a respeito dessa sessão é fruto da ignorância dos fatos.
(A história do Espiritualismo - Arthur Conan Doyle)