James K. Polk
político estadunidense, 11° presidente dos Estados Unidos da América / De Wikipedia, a enciclopédia encyclopedia
James Knox Polk (Pineville, 2 de novembro de 1795 – Nashville, 15 de junho de 1849) foi um advogado, fazendeiro e político norte-americano que serviu como o 11º Presidente dos Estados Unidos de 1845 a 1849. Anteriormente tinha atuado como membro da Câmara dos Representantes entre 1825 e 1839 e também 9º Governador do Tennessee de 1839 até 1841. Polk era membro do Partido Democrata, discípulo de Andrew Jackson e defensor da Democracia Jacksoniana. Os Estados Unidos expandiram seu território significativamente durante sua presidência através da anexação da República do Texas, do estabelecimento do Território do Oregon e por meio da Cessão Mexicana após a vitória norte-americana na Guerra Mexicano-Americana.
James K. Polk | |
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James K. Polk em 1849, quando inha 54 anos | |
11.º Presidente dos Estados Unidos | |
Período | 4 de março de 1845 a 4 de março de 1849 |
Vice-presidente | George M. Dallas |
Antecessor(a) | John Tyler |
Sucessor(a) | Zachary Taylor |
9.º Governador do Tennessee | |
Período | 14 de outubro de 1839 a 15 de outubro de 1841 |
Antecessor(a) | Newton Cannon |
Sucessor(a) | James C. Jones |
13.º Presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos | |
Período | 7 de dezembro de 1835 a 4 de março de 1839 |
Antecessor(a) | John Bell |
Sucessor(a) | Robert M. T. Hunter |
Membro da Câmara dos Representantes pelo 9.º distrito do Tennessee | |
Período | 4 de março de 1833 a 4 de março de 1839 |
Antecessor(a) | William Fitzgerald |
Sucessor(a) | Harvey Magee Watterson |
Membro da Câmara dos Representantes pelo 6.º distrito do Tennessee | |
Período | 4 de março de 1825 a 4 de março de 1833 |
Antecessor(a) | John Alexander Cocke |
Sucessor(a) | Balie Peyton |
Dados pessoais | |
Nome completo | James Knox Polk |
Nascimento | 2 de novembro de 1795 Pineville, Carolina do Norte |
Morte | 15 de junho de 1849 (53 anos) Nashville, Tennessee, Estados Unidos |
Progenitores | Mãe: Jane Knox Pai: Samuel Polk |
Alma mater | Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill |
Esposa | Sarah Childress (1824–1849) |
Partido | Democrata |
Religião | Presbiterianismo |
Profissão | Advogado Fazendeiro |
Assinatura | |
Serviço militar | |
Serviço/ramo | Milícia Estadual do Tennessee |
Graduação | coronel |
Unidade | 5.º Regimento Brigada de Cavalaria |
Polk construiu uma carreira bem sucedida no direito no Tennessee, foi eleito deputado estadual em 1823 e depois deputado federal em 1825, tornando-se um grande apoiador de Jackson. Ele serviu como presidente do Comitê de Formas e Meios em 1833 e depois Presidente da Câmara em 1835. Polk deixou o Congresso a fim de concorrer a governador, vencendo em 1839 mas perdendo em 1841 e 1843. Ele foi considerado um candidato azarão para a indicação democrata para presidente na eleição de 1844; Polk entrou na convenção de seu partido como um candidato potencial a vice-presidente, porém surgiu como um meio-termo quando nenhum candidato conseguiu alcançar a maioria de dois terços. Na eleição, ele derrotou Henry Clay do Partido Whig.
Polk alcançou em seu mandato todos os seus objetivos de governo, tanto internos quanto externos. Ele foi capaz de fazer um acordo com o Reino Unido sobre o Oregon, com o território sendo dividido em sua maior parte ao longo do Paralelo 49. Polk conseguiu uma grande vitória na Guerra Mexicano-Americana, o que resultou do México cedendo quase todo seu território da Alta Califórnia. Internamente, ele também conseguiu uma redução de impostos em 1846. No mesmo ano, alcançou outro objetivo, o restabelecimento do sistema de um Tesouro independente. Polk deixou a presidência em 1849, sem buscar a reeleição, cumprindo uma promessa de campanha, e retornou para o Tennessee. Ele morreu em Nashville três meses depois de deixar o cargo.
Historiadores lhe avaliaram positivamente por sua habilidade de defender e alcançar todos os principais itens de seus objetivos de governo, sendo considerado como o presidente mais eficiente no período pré-Guerra de Secessão. Entretanto, foi criticado por liderar o país em uma guerra contra o México e por exacerbar divisões secionais entre norte e sul. Polk foi dono de escravos durante a maior parte de sua vida adulta e tinha uma fazenda no Mississippi, chegando até a comprar escravos enquanto era presidente. A maior realização de sua presidência foi a expansão territorial dos Estados Unidos até o oceano Pacífico.
James Knox Polk nasceu em 2 de novembro de 1795 em um chalé de madeira em Pineville, Carolina do Norte, Estados Unidos.[1][2] Ele foi o primeiro de dez filhos nascidos em uma família de fazendeiros.[3] Sua mãe era Jane Knox, que o nomeou em homenagem a seu avô materno, James Knox. Seu pai era Samuel Polk, um fazendeiro dono de escravos e agrimensor de ascendência escocesa e irlandesa. Os Polks tinham imigrado para a América Britânica no final da década de 1600, estabelecendo-se na costa de Maryland antes de mudarem-se para o centro-sul da Pensilvânia até finalmente chegarem nas Carolinas.[2]
Os Polk e Knox eram presbiterianos. Jane permaneceu devota por toda a vida, porém Samuel, cujo pai Ezekiel Polk era deísta, rejeitou o presbiterianismo dogmático. Ele recusou-se a declarar sua crença no cristianismo no batismo do filho, assim o pastor se recusou a batizar Polk.[2][4] Segundo James A. Rawley, Jane mesmo assim "carimbou sua ortodoxia rígida em James, incutindo perpetuamente os traços calvinísticos de autodisciplina, trabalho duro, piedade, individualismo e a crença na imperfeição da natureza humana".[3]
Ezekiel partiu em 1803 com quatro de seus filhos mais as famílias destes para a área do rio Duck no Tennessee; Samuel juntou-se a eles com sua própria família em 1806. Os Polk dominaram a política local no Condado de Maury e na nova cidade de Columbia. Samuel tornou-se um juiz do condado e os convidados que costumavam visitar sua casa incluíam figuras como Andrew Jackson, que nesse momento já tinha servido como juiz e no Congresso.[5] Polk aprendeu com a conversa política que ocorria na mesa de jantar; tanto seu pai quanto avô eram grandes apoiadores do presidente Thomas Jefferson e oponentes do Partido Federalista.[6]
Polk teve uma saúde fraca quando criança, uma grande desvantagem em uma sociedade de fronteira. Seu pai o levou para se encontrar com o doutor Philip Syng Physick, um proeminente médico da Filadélfia, a fim de tratar pedras urinárias. A viagem foi interrompida pelas dores de Polk, com o doutor Ephraim McDowell de Danville, Kentucky, acabando por operá-lo. Nenhum anestésico além de conhaque estava disponível. A operação foi um sucesso, porém talvez tenha deixado Polk estéril ou impotente, já que nunca teve filhos. Ele se recuperou rapidamente e tornou-se mais robusto. Seu pai ofereceu para colocá-lo para trabalhar em um dos negócios da família, porém Polk queria uma educação e matriculou-se em 1813 em uma academia presbiteriana.[7] Tornou-se no mesmo ano membro da Igreja Sionista perto de sua casa e depois matriculou-se na Academia da Igreja Sionista. Em seguida entrou na Academia Bradley em Murfreesboro, Tennessee, onde provou-se um estudante promissor.[8][9]
Polk entrou em janeiro de 1816 na Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill como um segundo anista do segundo semestre. A família Polk tinha conexões com a universidade, então uma pequena escola frequentada por aproximadamente oitenta estudantes; Samuel era o feitor da instituição no Tennessee enquanto seu primo William Polk era um fideicomissário.[10] Seu colega de quarto foi William Dunn Moseley, que tornou-se o primeiro governador da Flórida. Polk juntou-se à Sociedade Dialética, onde participou de debates e aprendeu a arte da oratória, tornando-se seu presidente.[11] Ele avisou em um discurso que alguns dos líderes dos Estados Unidos estavam flertando com ideais monárquicos, destacando Alexander Hamilton, adversário de Jefferson.[12] Formou-se com honras em maio de 1818.[11]
Ele voltou para Nashville, Tennessee, depois de se graduar com o objetivo de estudar direito junto ao renomado advogado criminal Felix Grundy,[13] que acabou tornando-se seu mentor. Polk foi eleito em 20 de setembro de 1819 como o escriturário do Senado Estadual do Tennessee, que na época se reunia em Murfreesboro e para o qual Grundy fora eleito. Foi reeleito escriturário em 1821 sem oposição, continuando no cargo até o ano seguinte. Ele foi admitido à ordem dos advogados do Tennessee em junho de 1820, com seu primeiro caso sendo defender seu próprio pai contra uma acusação de luta em público; Polk conseguiu a soltura de Samuel mediante o pagamento de uma multa no valor de apenas um dólar.[14] Ele abriu um escritório no Condado de Maury[3] e tornou-se um advogado de sucesso, principalmente por lidar com muitos casos que surgiram devido ao Pânico de 1819, uma grande depressão financeira.[15] A prática do direito subsidiava sua carreira política.[16]
Legislador estadual
Polk, na época em que a legislatura estadual entrou em recesso em setembro de 1822, estava determinado em concorrer para a Câmara dos Representantes do Tennessee. A eleição seria em agosto de 1823, lhe permitindo muito tempo para fazer campanha.[17] Ele já era conhecido localmente por ser parte da Maçonaria, sendo comissionado na Milícia do Tennessee como um capitão no regimento de cavalaria da 5ª Brigada. Foi depois nomeado coronel na equipe do governador William Carroll, sendo após isso frequentemente chamado de "Coronel".[18] Polk foi energético em sua campanha, mesmo com muitos dos eleitores sendo membros do seu clã. As pessoas gostavam de sua oratória, o que lhe valeu o apelido de "Napoleão do Toco". Ele disponibilizou bebidas alcoólicas para seus eleitores nos locais de votação e conseguiu derrotar o incumbente William Yancey.[17][18]
A partir do início de 1822, Polk começou a cortejar Sarah Childress; os dois ficaram noivos no ano seguinte[19] e casaram-se em 1 de janeiro de 1824 em Murfreesboro. Sarah recebeu uma educação muito melhor do que outras mulheres da época, especialmente no Tennessee, sendo também oriunda de uma das famílias mais proeminentes no estado.[17] Ela costumava ajudar o marido com seus discursos, lhe dava conselhos sobre questões políticas e desempenhava um papel ativo durante as campanhas eleitorais.[20] Rawley comentou que a graça, inteligência e carisma de Sarah ajudou a compensar os trejeitos muitas vezes austeros de seu marido.[3]
Grundy foi o mentor de Polk no direito, porém o segundo passou a cada vez mais se opor ao primeiro na legislatura em questões como reforma agrária, passando a apoiar as políticas de Andrew Jackson, então um herói militar depois de sua vitória em 1815 na Batalha de Nova Orleães.[21] Jackson era amigo de família tanto dos Polk quanto dos Childress – há evidências que Sarah e seus irmãos o chamavam de "Tio Andrew" – com Polk rapidamente lhe apoiando para suas ambições presidenciais em 1824. O nome de Jackson foi apresentado em 1823 para uma indicação ao Senado dos Estados Unidos, depois da legislatura do Tennessee não ter conseguido chegar a um acordo em quem eleger. Polk quebrou com seus aliados usuais e votou na vitória de Jackson. Isto ampliou as chances presidenciais deste ao lhe dar experiência política recente a fim de igualar seus feitos militares. Assim começou uma aliança[22] que continuaria até a morte de Jackson em 1845.[3] Polk ficou conhecido durante boa parte de sua carreira política como "Nova Nogueira", baseado em um dos apelidos de Jackson que era "Velha Nogueira". Sua carreira política foi extremamente dependente de Jackson como seu apelido implicava.[23]
Jackson conseguiu o maior número de votos eleitorais e de votos populares na eleição presidencial de 1824, porém como não alcançou a maioria no Colégio Eleitoral, a eleição foi passada para a Câmara dos Representantes, que acabou escolhendo John Quincy Adams, que havia ficado em segundo na disputa. Polk, assim como outros apoiadores de Jackson, acreditaram que Henry Clay, o presidente da câmara, trocou seu apoio como quarto lugar na eleição para Adams em uma barganha corrupta para se tornar o novo Secretário de Estado. Polk havia anunciado em agosto sua candidatura para a câmara no ano seguinte, pelo sexto distrito congressional do Tennessee.[24] Foi tão vigoroso em sua campanha que Sarah começou a ficar preocupada pela saúde do marido. Seus oponentes o acusaram de, aos 29 anos de idade, ser muito novo para as responsabilidades de um deputado federal, porém ele mesmo assim venceu a eleição com 3 669 votos de um total de 10 440, tomando posse no congresso em março.[25]
Discípulo de Jackson
Polk chegou em Washington, D.C. em dezembro de 1825 para a sessão regular do congresso, alojando-se na pensão de Benjamin Burch junto com outros deputados do Tennessee, incluindo Sam Houston. Polk fez seu primeiro grande discurso em 13 de março de 1826, declarando que o Colégio Eleitoral deveria ser abolido e que o presidente deveria ser eleito pelo voto popular.[26] Tornou-se um grande crítico do governo por ainda estar ressentido pela barganha feita entre Clay e Adams, frequentemente votando contra as políticas do presidente.[27] Sarah permaneceu em casa em Columbia durante o primeiro ano do marido no congresso, porém juntou-se a ele em Washington a partir de dezembro de 1826; ela o ajudava com suas correspondências e ia ouvir seus discursos.[28]
Ele foi reeleito em 1827 e continuou na oposição.[28] Polk permaneceu em contato próximo com Jackson, atuando como conselheiro quando este concorreu à presidência em 1828. Tornou-se um dos mais proeminentes e leais apoiadores de Jackson na câmara depois do segundo ter vencido a eleição.[29] Ele trabalhou em nome do novo presidente para se opor a "melhoramentos internos" subsidiados federalmente, como uma proposta de estrada entre Buffalo e Nova Orleães, ficando contente em maio de 1830 pelo veto da Rodovia Maysville, quando Jackson bloqueou um projeto que financiaria a extensão de uma estrada dentro de um único estado por considerá-la inconstitucional.[30] Os oponentes do presidente alegaram que a mensagem do veto, que reclamava do congresso por aprovar projetos de cunho eleitoral, fora escrita por Polk, porém ele negou e afirmou que a mensagem era totalmente de autoria de Jackson.[31]
Polk também foi o maior aliado do presidente na câmara durante a "Guerra do Banco", que desenvolveu-se por causa da oposição de Jackson a re-autorização do Segundo Banco dos Estados Unidos.[32] Este guardava dólares federais, além de controlar boa parte do crédito dos Estados Unidos, já que poderia entregar dinheiro emitido por bancos locais para redenção em ouro e prata. Alguns políticos do oeste, como o presidente, eram contra o banco por acharem que era um monopólio agindo nos interesses do leste.[33] Polk, como membro do Comitê de Formas e Meios, realizou investigações sobre o Segundo Banco, e o comitê acabou mesmo assim por votar em um projeto de lei pela renovação do alvará, com ele escrevendo um relatório minoritário condenando o banco. O projeto foi aprovado no congresso em 1832, porém Jackson o vetou e o congresso foi incapaz de reverter a decisão do presidente. A ação de Jackson foi extremamente controversa, porém recebeu considerável apoio público e ele facilmente venceu sua reeleição em 1832.[34]
Como muitos sulistas, Polk era a favor de impostos baixos em bens importados, inicialmente simpatizando com a oposição de John C. Calhoun à Tarifa das Abominações durante a Crise da Nulificação de 1832–33, porém acabou movendo-se para o lado de Jackson assim que Calhoun começou a defender secessão. Ele assim permaneceu leal ao presidente enquanto este procurava afirmar o poder federal. Polk condenou a ideia de secessão e apoiou o Projeto de Lei da Força contra a Carolina do Sul, que tinha reivindicado a autoridade de nulificar impostos federais. A questão foi resolvida com o congresso aprovando uma tarifa de meio-termo.[35]
Proeminência
Polk tornou-se, em dezembro de 1835, o presidente do Comitê de Formas e Meios, uma posição poderosa na câmara, pouco depois de ter sido reeleito para um quinto mandato consecutivo.[36] Nesse cargo, ele apoiou a retirada de Jackson de fundos federais do Segundo Banco. Seu comitê emitiu um relatório questionando as finanças do banco, apoiando as ações do presidente em outro. O comitê havia entregue em abril de 1834 um projeto para regular bancos de depósito estaduais, que permitiram que Jackson depositasse excedentes em outros bancos, com Polk conseguindo aprovar uma legislação que permitia a venda do estoque governamental no Segundo Banco.[3][37]
Andrew Stevenson, Presidente da Câmara dos Representantes, renunciou do congresso em junho de 1834 para se tornar embaixador no Reino Unido.[38] Polk concorreu ao cargo com o apoio do presidente, enfrentando John Bell, Richard Henry Wilde e Joel Barlow Sutherland. Bell, que tinha o apoio de muitos dos oponentes do governo, venceu a eleição depois de dez votações.[39] Jackson fez valer dívidas políticas para tentar fazer Polk ser escolhido presidente da câmara no começo do próximo congresso em dezembro de 1835, prometendo-lhe em uma carta, que deveria ter sido destruída depois, que toda a Nova Inglaterra o apoiaria. Eles foram bem sucedidos e Polk sucedeu Bell no cargo.[40]
Segundo o historiador Thomas M. Leonard, "Polk, por volta de 1836, enquanto servia como Presidente da Câmara dos Representantes, alcançou o pico de sua carreira no congresso. Ele estava no centro da Democracia Jacksoniana no chão da câmara e, com a ajuda de sua esposa, havia se integrado nos círculos sociais de Washington". O prestígio advindo do cargo de presidente da câmara fez com que o casal abandonasse a pensão em Washington onde estavam vivendo em favor de uma residência própria na Avenida Pensilvânia.[41] Martin Van Buren, vice-presidente e sucessor escolhido de Jackson, derrotou vários candidatos do Partido Whig na eleição presidencial de 1836. A força Whig no Tennessee fez o senador Hugh Lawson White vencer o estado, porém o distrito de Polk ficou com Van Buren.[42] Noventa por cento da população do Tennessee tinha votado em Jackson em 1832, porém muitos no estado não gostaram do fim do Segundo Banco ou não estavam dispostos a apoiar Van Buren.[43]
Polk, como presidente do congresso, trabalhou em favor das políticas de Jackson e depois das de Van Buren. Ele nomeou comitês com maioria do Partido Democrata, incluindo o deputado radical Churchill C. Cambreleng de Nova Iorque para a presidência das Formas e Meios, porém mesmo assim tentou manter a aparência tradicionalmente apartidária do presidente. As duas maiores questões que enfrentou no cargo foram a escravidão e, depois do Pânico de 1837, a economia. Polk fez valer a "regra da mordaça", em que a Câmara das Representantes não aceitaria nem debateria petições acerca da escravidão.[44] Isto gerou protestos ferozes vindos de Adams, que na época se tinha tornado um abolicionista e deputado por Massachusetts. Em vez de tentar silenciar o ex-presidente, Polk muitas vezes entrou em discussões verbais com Adams, fazendo Jackson concluir que o presidente da câmara deveria ter exercido uma liderança melhor.[45] Van Buren e Polk também enfrentaram pressão pela rescisão de uma ordem de Jackson de 1836 de que pagamentos por terras governamentais deveriam ser feitos em ouro e prata. Alguns acreditavam que isto tinha levado à crise financeira ao criar falta de confiança no papel-moeda emitido por bancos. Apesar de tais argumentos, Van Buren, com o apoio de Polk e do gabinete, escolheu manter a ordem. Os dois tentaram estabelecer um sistema de tesouro independente que permitiria que o governo supervisionasse seus próprios depósitos, porém o projeto de lei foi derrotado na câmara.[44] Este acabou sendo aprovado em 1840.[46]
Polk tentou, por meio de seu profundo conhecimento das regras da câmara,[47] trazer maior ordem aos procedimentos. Ele nunca desafiou ninguém para um duelo não importando o quanto tenham insultado sua honra, diferentemente de muitos de seus colegas.[48] O declínio financeiro custou aos democratas lugares no congresso, tendo vencido a reeleição para presidente da câmara em dezembro de 1837 por apenas treze votos, prevendo que seria derrotado na eleição geral em 1839. Polk tinha ambições presidenciais, porém estava ciente que nenhum presidente da câmara se tinha tornado presidente (é até hoje a única pessoa a ter ocupado os dois cargos).[49] Ele anunciou que, depois de sete mandatos como deputado, dois deles como presidente da câmara, não iria procurar reeleição, escolhendo em vez disso concorrer em 1839 a Governador do Tennessee.[50]
Governador
Os democratas, pela primeira vez na história, tinham perdido em 1835 o governo do Tennessee, com Polk por fim decidindo voltar para casa a fim de ajudar seu partido.[51] O estado estava agitado por diversas disputas partidárias, tendo mudado muito em suas lealdades políticas desde os dias da ampla dominação Jacksoniana. Polk realizou sua primeira campanha de nível estadual contra Newton Cannon, o incumbente whig, que procurava seu terceiro mandato de dois anos como governador.[52] O fato dele ter sido a pessoa convocada para "redimir" Tennessee dos whigs tacitamente o reconheceu como o líder estadual do Partido Democrata.[3]
Polk fez campanha em questões nacionais, enquanto Cannon salientou questões locais. O governador foi superado por Polk nos debates iniciais, retornando assim para a capital Nashville ao alegar importantes deveres oficiais. Polk realizou discursos por todo o estado, procurando ficar mais bem conhecido do que apenas no centro do Tennessee. Ele foi atrás de Cannon quando este voltou para a campanha nos últimos dias, atravessando todo o estado para poder debater com o governador mais uma vez. Polk derrotou Cannon em 1 de agosto de 1839 por 54 102 votos contra 51 396, com os democratas também recuperando a legislatura estadual e conquistando três lugares no congresso por Tennessee.[53]
O governador do Tennessee tinha poderes limitados: ele não detinha poder de veto e o tamanho pequeno do governo estadual limitava o clientelismo político. Entretanto, Polk enxergava o cargo como um trampolim para suas ambições nacionais, desejando ser nomeado como o vice-presidente de Van Buren na Convenção Nacional Democrata de maio de 1840.[54] Ele esperava ser o substituto caso o vice-presidente Richard Mentor Johnson fosse tirado da chapa; Johnson não era popular entre muitos sulistas por ter tido duas filhas por amantes birraciais e por ter tentado introduzi-las na sociedade branca. O vice-presidente era oriundo do Kentucky, enquanto a origem de Tennessee de Polk traria um equilíbrio por Van Buren ser de Nova Iorque no norte. A convenção escolheu não apoiar nenhum candidato à vice-presidência, afirmando que a escolha seria feita depois do voto popular ter sido dado. Polk retirou seu nome da disputa três semanas depois, reconhecendo que Johnson era muito popular para ser substituído. O general William Henry Harrison, o candidato whig, realizou uma campanha jocosa com o slogan "Tippecanoe and Tyler Too", facilmente vencendo tanto o voto nacional quanto o estado do Tennessee. Polk fez campanha em vão por Van Buren[55] e ficou envergonhado pelo resultado; Jackson, que tinha voltado para sua fazenda perto de Nashville, ficou horrorizado pela perspectiva de um governo whig. Harrison morreu um mês depois de tomar posse e foi sucedido por seu vice-presidente John Tyler, que rapidamente se desentendeu com os whigs.[56]
Os três maiores programas de Polk como governador foram a regulamentação dos bancos estaduais, a implementação de melhorias internas e educação, porém elas não foram capazes de conquistar a aprovação da legislatura. Seu único grande sucesso foi a politicagem que garantiu que os dois senadores whigs de Tennessee fossem substituídos por democratas.[57] Seu mandato foi prejudicado pela crise econômica que se seguiu ao Pânico de 1837 e que havia causado a derrota de Van Buren na eleição de 1840.[58]
Os whigs, encorajados pela campanha bem sucedida de Harrison, colocaram o deputado estadual calouro James C. Jones do Condado de Wilson para concorrer contra Polk em 1841. Jones mostrou-se um incomodo extremamente efetivo contra Polk, com seu tom alegre e despreocupado durante os debates contrastando muito efetivamente com o tom sério do governador. Os dois debateram sobre o comprimento do Tennessee,[59] com o apoio de Jones pela distribuição aos estados do excedente das rendas federais e defesa de um banco nacional chamando a atenção dos eleitores. Polk acabou derrotado em agosto de 1841 por três mil votos, sua primeira derrota eleitoral.[55] Ele voltou para Columbia e para a prática do direito, preparando-se para concorrer novamente contra Jones em 1843, porém ele acabou derrotado novamente, desta vez por 3 833 votos, mesmo com Jones tendo realizado uma campanha bem menos jocosa do que na primeira vez.[60][61][62] Seu futuro político ficou incerto depois de duas derrotas estaduais consecutivas.[63]
Indicação
Polk, apesar das derrotas, estava determinado em tornar-se o próximo Vice-Presidente dos Estados Unidos, vendo o cargo como um caminho para a presidência.[64] Van Buren era o favorito para a indicação democrata e Polk iniciou uma campanha cuidadosa para ser seu parceiro de chapa. O ex-presidente enfrentava a oposição de sulistas que temiam suas visões sobre escravidão, enquanto seu manejo do Pânico de 1837 gerou oposição de alguns no oeste que acreditavam que suas políticas tinham prejudicado essa área do país. Muitos sulistas apoiavam uma candidatura de Calhoun, enquanto muitos do leste ficaram com o senador Lewis Cass de Michigan, com o ex-vice-presidente Johnson ainda mantendo fortes apoiadores dentre os democratas.[65] Jackson garantiu a Van Buren por carta que Polk em suas campanhas para governador tinha "lutado bem a batalha e lutado sozinho".[66] Polk esperava conseguir o apoio de Van Buren, insinuando que uma chapa dos dois poderia vencer no Tennessee, porém o ex-presidente não se convenceu.[67]
A maior questão política nos Estados Unidos da época era a expansão territorial.[3] A República do Texas tinha se revoltado bem sucedidamente em 1836 contra o México. O Texas era populado em sua maior parte por imigrantes norte-americanos, com aqueles em ambos os lados da fronteira do rio Sabine considerando inevitável que o Texas se juntaria aos Estados Unidos, porém isto iria enfurecer o México, que considerava o território como uma província rebelde e estava ameaçando guerra caso fosse anexado pelos norte-americanos. Jackson, quando presidente, reconheceu a independência texana, porém a vontade inicial pela anexação tinha esfriado.[68] O Reino Unido desejava expandir sua influência para o Texas: os britânicos tinham abolido a escravidão e, caso o Texas fizesse o mesmo, criaria um refúgio ocidental para escravos fugitivos, igual ao norte.[69] Um Texas fora dos Estados Unidos também ficaria no caminho daquilo que era visto como o Destino Manifesto norte-americano sobre o continente.[70]
Clay foi indicado a presidente por aclamação durante a Convenção Nacional Whig, realizada em abril de 1844, com Theodore Frelinghuysen de Nova Jérsei escolhido como o parceiro de chapa.[71] Clay, um dono de escravos do Kentucky em uma época que os oponentes à anexação do Texas argumentavam que isto daria mais espaço para a escravidão se espalhar, procurou uma nuance maior sobre a posição. Jackson, que apoiava uma chapa formada por Van Buren e Polk, ficou maravilhado ao saber que Clay tinha publicado uma carta nos jornais opondo-se a anexação, porém ficou devastado ao descobrir que Van Buren tinha feito a mesma coisa.[72] Van Buren o fez porque temia estar perdendo sua base de apoio no nordeste,[73] todavia seus apoiadores no sudoeste ficaram perplexos. Polk, por outro lado, escreveu uma carta pró-anexação que fora publicada quatro dias antes da carta de Van Buren.[3] Jackson tristemente escreveu a seu antigo vice-presidente que nenhum candidato contra a anexação poderia ser eleito, decidindo que Polk era a melhor escolha para liderar a chapa.[74] Jackson encontrou-se com Polk em 13 de maio e explicou que apenas um expansionista do sul ou sudoeste poderia ser eleito, acreditando que Polk era quem tinha as melhores chances.[75] Este inicialmente ficou assustado, dizendo que o plano era "totalmente abortivo", porém acabou aceitando.[76] Polk imediatamente escreveu instruindo seus representantes na convenção a trabalharem para sua nomeação a presidente.[75]
Polk estava cético de que poderia vencer, mesmo com os cuidadosos esforços de Jackson em seu nome.[77] Todavia, devido a oposição contra Van Buren por expansionistas no oeste e sul, Gideon Johnson Pillow, o principal representante de Polk na convenção, acreditava que o ex-governador poderia surgir como um candidato de meio-termo.[78] Polk permaneceu em Columbia durante toda a convenção e publicamente expressou seu total apoio a uma candidatura de Van Buren, com muitos acreditando que procurava a vice-presidência. Ele foi um dos poucos democratas proeminentes que declararam apoio pela anexação do Texas.[79]
A convenção começou em 27 de maio. Uma importante questão era se o candidato necessitaria de dois terços dos votos dos delegados, como havia acontecido nas convenções anteriores, ou uma simples maioria. Um voto por dois terços acabaria com a candidatura de Van Buren.[80] A regra dos dois terços foi aprovada com a ajuda dos estados do sul. Van Buren conseguiu uma maioria na primeira votação presidencial, porém não alcançou os dois terços necessários, com seu apoio diminuindo cada vez mais em votações subsequentes.[81] Cass, Johnson, Calhoun e James Buchanan também receberam votos na primeira votação, com Cass assumindo a liderança na quinta votação.[82] A convenção continuou em um impasse depois da sétima votação: Cass não estava conseguindo atrair o apoio necessário para alcançar os dois terços, enquanto os apoiadores de Van Buren estavam cada vez mais desiludidos sobre suas chances. Os delegados estavam dispostos a considerar um novo candidato que pudesse quebrar o impasse.[83]
A convenção entrou em recesso ao final da sétima votação e Pillow, que estava esperando a melhor oportunidade para apresentar o nome de Polk, foi conversar com George Bancroft de Massachusetts, um político e historiador que era um correspondente de longa data de Polk, que planejava nomeá-lo para vice-presidente. Bancroft tinha apoiado uma candidatura de Van Buren e estava disposto a ver o senador Silas Wright de Nova Iorque na liderança da chapa, porém este não consideraria tomar uma indicação que o ex-presidente desejava. Pillow e Bancroft pensaram que se Polk fosse indicado a presidente, Wright talvez aceitasse ser vice. O ex-procurador geral Benjamin Franklin Butler, chefe da delegação de Nova Iorque, leu antes da oitava votação uma carta pré-escrita por Van Buren a ser usada caso ele não pudesse ser indicado, retirando-se da disputa em favor de Wright. Entretanto, o senador também tinha preparado uma carta em que recusava-se a ser considerado um candidato presidencial e afirmava que concordava com a posição de Van Buren sobre o Texas. Wright provavelmente teria sido indicado caso sua carta nunca tivesse sido lida, porém sem ele, Butler começou a reunir os apoiadores de Van Buren na defesa de que Polk era o melhor candidato possível, com Bancroft apresentando seu nome diante da convenção. Polk recebeu apenas 44 votos na oitava votação, contra 114 de Cass e 104 de Van Buren, porém o impasse parecia estar a ponto de acabar. Butler retirou formalmente o nome do ex-presidente, com muitos delegados declarando seu apoio a Polk, com ele recebendo 233 votos na nona votação contra 29 de Cass, garantindo-lhe a indicação. Em seguida a nomeação foi feita de forma unânime.[3][84]
Isto deixou em aberto a questão sobre quem seria o candidato a vice-presidente. Butler defendeu uma indicação de Wright e a convenção concordou com a ideia, com apenas oito delegados da Geórgia discordando. Notícias da indicação de Wright foram lhe enviadas por telégrafo até Washington, onde ele estava na ocasião, enquanto a convenção esperava. Ele acabou por não aceitar o segundo lugar na chapa, pois já tinha recusado a quase certa indicação a presidente. O senador Robert J. Walker do Mississippi, aliado próximo de Polk, então sugeriu o ex-senador George M. Dallas da Pensilvânia. Este era um candidato aceitável para todas as facções democratas e foi escolhido como a indicação vice-presidencial logo na segunda votação. Os delegados então aprovaram uma plataforma e encerraram a convenção em 30 de maio.[85][86]
Muitos políticos contemporâneos, incluindo Pillow e Bancroft, reivindicaram nos anos seguintes o crédito por terem conseguido a indicação de Polk, entretanto, o historiador Walter R. Borneman achou que as duas pessoas que mais mereciam os créditos eram Polk e Jackson: "os dois que mais fizeram estavam lá no Tennessee, um ícone envelhecido confortável em [sua propriedade] e o outro um astuto político de carreira esperando com expectativa em Columbia".[87] Os whigs ridicularizaram Polk com o canto de "Quem é James K. Polk?", alegando nunca terem ouvido falar dele até então.[88] Apesar de Polk ter experiência como deputado federal, Presidente da Câmara dos Representantes e Governador do Tennessee, todos os presidentes até então tinham sido anteriormente vice-presidentes, secretários de Estado ou generais de alta patente. Polk foi descrito como o primeiro candidato presidencial "azarão" dos Estados Unidos, porém sua indicação foi uma surpresa bem menor do que aquelas dos futuros candidatos Franklin Pierce em 1852 e Warren G. Harding em 1920.[89] Clay, apesar das zombarias de seu partido, reconheceu que seu adversário poderia unir os democratas.[88]
Campanha
Rumores da indicação de Polk chegaram em Nashville em 4 de junho, para o deleite de Jackson; eles foram confirmados no dia seguinte. Despachos foram enviados para Columbia e chegaram no mesmo dia, com cartas e jornais, descrevendo o que havia ocorrido na convenção, chegando nas mãos de Polk no dia 6. Ele aceitou a indicação por carta em 12 de junho, alegando que nunca tinha desejado o cargo e afirmando sua intenção de servir apenas um mandato.[90] Wright ficou amargurado pelo que chamou de "trama suja" contra Van Buren, exigindo garantias de Polk de que não tinha desempenhado papel; Wright apoiou a campanha apenas depois do candidato ter lhe assegurado que permaneceu leal ao ex-presidente.[91] Polk permaneceu em Columbia e não fez discurso algum, seguindo o costume da época dos candidatos presidenciais evitarem fazer campanha e parecerem que queriam o cargo. Ele mesmo assim manteve constante correspondência com oficiais do partido a fim de organizar as ações. Polk fez suas opiniões públicas em sua carta aceitando a indicação e através de respostas a perguntas enviadas por cidadãos que eram publicadas nos jornais, frequentemente em algum arranjo.[92][93]
Um possível ponto negativo para a campanha de Polk era se o imposto deveria ser apenas para se obter renda ou se tinha a intenção de proteger a indústria norte-americana. Ele elaborou a questão em uma carta pública. Polk afirmou que sempre defendeu que impostos deveriam ser suficientes apenas para financiar as operações governamentais, e que mantinha sua opinião, porém escreveu que, dentro dessa limitação, o governo poderia e deveria oferecer "proteção justa e equitativa" aos interesses do país, incluindo manufaturas.[94] Recusou-se a comentar a questão mais do que isso, que era aceitável aos democratas, mesmo com os whigs salientando que ele não se tinha comprometido a nada. Uma delegação whig do vizinho Condado de Giles foi a Columbia em setembro carregando questões específicas sobre as posições de Polk sobre o imposto atual, a Tarifa de 1842 aprovada pelos whigs, afirmando que não iriam embora até conseguirem respostas. Ele demorou vários dias para responder e escolheu manter suas posições anteriores, provocando alardes nos jornais whigs.[95]
Outra preocupação era a candidatura do presidente Tyler por um terceiro partido, algo que poderia dividir o voto democrata. Tyler fora nomeado por um grupo fiel de funcionários públicos. Ele não tinha ilusões de que poderia vencer, porém acreditava que poderia atrair apoiadores dos direitos estaduais e populistas a fim de dominar o equilíbrio de poder da eleição. Jackson era a única pessoa com estatura para resolver a situação, o que fez em duas cartas enviadas a amigos no Gabinete que ele sabia que seriam mostradas ao presidente, dizendo que os apoiadores deste seriam aceitos de volta ao Partido Democrata. O ex-presidente também escreveu que, assim que Tyler se retirasse da corrida, muitos democratas o aceitariam por causa de sua posição pró-anexação. Jackson também usou sua influência para impedir que Francis Preston Blair e seu jornal The Washington Globe, um órgão semioficial do partido, continuasse a atacar o presidente. Isto foi o suficiente e Tyler retirou-se da corrida em agosto.[96][97]
Problemas partidários eram uma terceira questão. Polk e Calhoun fizeram as pazes quando Francis Wilkinson Pickens, ex-deputado federal da Carolina do Sul, visitou Columbia por dois dias e depois foi à propriedade de Jackson para sessões de conversa com o cada vez mais doente ex-presidente. Calhoun queria que o The Washington Globe fosse dissolvido, que Polk agisse contra os impostos aprovados em 1842 e promovesse a anexação. Assim que conseguiu essas promessas, tornou-se um grande apoiador.[98]
Polk teve ajuda na questão do Texas quando Clay, tendo percebido que sua posição anti-anexação tinha lhe custado apoio, tentou clarificar suas opiniões em outras duas cartas. Isto acabou enfurecendo os dois lados, que atacaram o candidato, acusando-o de insinceridade.[99] O Texas também ameaçava dividir os democratas seccionalmente, porém Polk conseguiu acalmar a maioria dos líderes partidários sulistas sem antagonizar os nortenhos. Ficou cada vez mais claro a medida que a eleição se aproximava que a maior parte do país era a favor da anexação, com alguns líderes whigs do sul apoiando a campanha de Polk devido a posição anti-anexação de Clay.[100]
A campanha foi vitriólica; ambos os candidatos acusaram o outro de vários atos maliciosos, com Polk tendo sido acusado de ser um duelista e um covarde. A difamação mais danosa foi a "Falsificação de Roorback": um item apareceu no final de agosto em um jornal abolicionista, parte de um livro detalhando viagens ficcionais pelo sul dos Estados Unidos por um tal Barão von Roorback, um nobre germânico imaginário. O Chronicle de Ithaca o publicou sem marcá-lo como ficção e inseriu uma frase que dizia que o viajante viu Polk vendendo quarenta escravos depois de marcá-los com suas iniciais. O item foi retirado do Chronicle depois de ser desafiado pelos democratas, porém foi amplamente republicado. Borneman acredita que a falsificação na verdade favoreceu Polk, pois serviu como lembrança aos eleitores que Clay também era dono de escravos.[101] O historiador John Eisenhower escreveu que a difamação ocorreu muito tarde para poder ser refutada, provavelmente tendo custado Ohio a Polk. Por outro lado, alguns jornais sulistas defenderam Polk, com um em Nashville alegando que os escravos preferiam a marca do que a liberdade.[102] O próprio Polk disse a correspondentes que seus escravos tinham sido herdados ou comprados de parentes em dificuldades; aliados como Pillow pintaram essa imagem paternalista. Isto não era verdade, porém não se sabia na época: Polk até então já tinha comprado mais de trinta escravos, tanto de parentes como de outros, principalmente para servirem de mão de obra em sua fazenda de algodão no Mississippi.[103]
A eleição em 1844 não ocorreu em um único dia, com os estados na verdade tendo realizado suas votações entre os dias 1 e 12 de novembro.[104] Polk venceu a disputa com 49,5% do voto popular e 170 dos 275 votos eleitorais.[105] Tornou-se o primeiro presidente a ser eleito mesmo tendo perdido em seu estado natal, no caso o Tennessee,[104] também tendo perdido em seu estado de nascimento, a Carolina do Norte. Entretanto, venceu na Pensilvânia e em Nova Iorque, onde Clay perdeu votos para o candidato anti-escravidão James G. Birney do Partido da Liberdade, que conseguiu mais votos em Nova Iorque do que a margem de vitória de Polk. Clay teria sido eleito presidente caso tivesse conseguido vencer em Nova Iorque.[105]