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explorador português e capitão do donatário na ilha Terceira. Da Wikipédia, a enciclopédia livre
João Vaz Corte-Real (Tavira, c. 1420 — Vila de Angra, 2 de julho de 1496) foi um navegador e explorador, capitão do donatário na ilha Terceira da parte de Angra. Homem ligado às navegações portuguesas do século XV, liderou o grupo de colonos que fundaram a vila de Angra, hoje a cidade de Angra do Heroísmo.[2] Dois dos seus filhos, Miguel Corte Real e Gaspar Corte Real, realizaram viagens de exploração do noroeste do Atlântico que os levaram às costas da América do Norte, sendo-lhes atribuído o reconhecimento da Terra Nova.[3][4][5][6]
João Vaz Corte Real | |
---|---|
Nascimento | 1420 Faro |
Morte | 2 de julho de 1496 Angra do Heroísmo |
Cidadania | Reino de Portugal |
Filho(a)(s) | Gaspar Corte Real, Miguel Corte Real, Vasco Anes Corte-Real |
Ocupação | explorador |
João Vaz Corte-Real foi filho ilegítimo de Vasco Anes Corte-Real, cavaleiro da Casa Real, fronteiro-mor do Algarve, alcaide-mor de Tavira e Silves e armador-mor (oficial encarregue das armas pessoais do rei) do rei D. Afonso V, e de mãe desconhecida (embora alguns autores a apontem como sendo Mor Afonso Escudeira[7]). O pai estivera na tomada de Ceuta, em 21 de agosto de 1415, e recebera, por serviços ao rei, diversos bens em Tavira.[8][9]
Apesar de filho de um nobre abastado, João Vaz Corte Real era bastardo e secundogénito, sendo por isso remota a possibilidade de suceder na casa paterna, circunstâncias em que a aventura ultramarina surgia como oportunidade obter o património de que carecia e para afirmar a respectiva linhagem.[2] Reconhecido por seu pai, era morador em Tavira e porteiro-mor do infante D. Fernando, duque de Viseu e pai do futuro rei D. Manuel, quando casou com Maria Abarca, filha de Pedro Abarca, um fidalgo galego.
Não se conhece o percurso pessoal de João Vaz Corte-Real até receber a capitania de Angra, a qual lhe foi doada por carta de 2 de abril de 1474.[10] A doação foi feita na sequência da divisão da ilha Terceira em duas capitanias, a de Angra e a da Praia, na sequência da morte do primeiro capitão da ilha Terceira, Jácome de Bruges, e dos conflitos entre os seus herdeiros e os de Diogo de Teive. A doação da capitania foi feita em recompensa de serviços prestados, sendo que as fontes mais antigas consideram que os mesmos foram realizados em viagens de exploração no Atlântico.[2]
Entre os «serviços prestados» algumas fontes consideram que João Vaz Corte-Real terá sido enviado por D. Afonso V à Dinamarca, antes de 1473, para participar numa expedição, encabeçada pelo navegador alemão Didrik Pining, destinada a estabelecer e renovar as antigas ligações da Dinamarca com a Gronelândia.[11] Corte-Real teria ainda organizado anteriormente outras viagens que o teriam levado até às costas da América do Norte, explorando desde as margens do Rio Hudson e São Lourenço até ao Canadá e Península do Labrador.[12] Contudo, estas viagens permanecem duvidosas.[13] Nessa viagem terá sido acompanhado por Álvaro Martins Homem, que ao tempo já residia na ilha Terceira.
Pouco depois de ser nomeado capitão-donatário de Angra, partiu para os Açores, acompanhado de sua mulher e filhos e de pelo menos dois dos seus cunhados, Pedro Abarca e Isabel Abarca, pois ambos casaram em Angra.[3] Fixou-se no então incipiente povoado de Angra, que fez sede da sua capitania. Com a sua chega a Angra, que terá ocorrido em finais de 1474 ou princípios de 1475, teve lugar o início da segunda fase do povoamento da ilha Terceira.[2] A carta de doação da capitania de Angra, data de Évora a 2 de abril de 1474, diz o seguinte:[14]
A carta de doação da capitania, assinada pela infanta D. Beatriz, foi confirmada esta carta de seu filho D. Diogo, a 3 de maio de 1483, e pelo duque D. Manuel, a 6 de abril de 1488.
Para além de capitão do donatário em Angra desde 1474, por carta régia de 4 de maio de 1483 foi-lhe também concedida a capitania da ilha de São Jorge, cujo povoamente ficou sob sua responsabilidade.[15] Por carta régia de 14 de maio de 1495 foi feito alcaide-mor do Castelo de Angra e da ilha de São Jorge.[3][16]
Em Angra instalou-se na base da colina designada pelo Outeiro, sobre a qual se estabeleceu a primeira fortificação do povoado, o Castelo de São Luís (ou Castelo dos Moinhos), hoje a Memória.[17] Na sua Fenix Angrense, Manuel Luís Maldonado descreve assim a sua ação em Angra:[18]
Embora a sua acção seja pouco conhecida, por falta de documentação, sabemos que distribuiu terras em regime de sesmaria, uma das suas principais atribuições enquanto capitão-do-donatário. Também se sabe que mandou edificar, à sua custa, a capela-mor do Convento de São Francisco de Angra e que, juntamente com outros povoadores, instituiu o Hospital do Santo Espírito de Angra, por compromisso de 15 de março de 1492.[2]
Sabe-se que João Vaz Corte-Real esteve algumas vezes ausente da ilha Terceira, sendo nessas ocasiões substituído nas funções de capitão do donatário por um dos seus filhos Gaspar e Miguel, que se destacariam anos depois como navegadores.
João Vaz fez seu testamento em Angra, a 3 de fevereiro de 1496, e várias fontes apontam que o seu falecimento ocorreu a 2 de julho desse mesmo ano de 1496, sendo sepultado na capela-mor do primitivo Convento de São Francisco de Angra.[3] Na capitania de Angra, sucedeu-lhe o filho primogénito, Vasco Anes Corte-Real, vedor da Fazenda Real e cavaleiro do Conselho de El-Rei.
Os seus três filhos, todos navegadores audaciosos, Gaspar Corte-Real, Miguel Corte-Real e Vasco Anes Corte-Real, realizaram várias viagens de exploração para oeste dos Açores, tendo os dois primeiros desaparecido depois de expedições marítimas em 1501 e 1502, respectivamente. Vasco Anes quis ir em busca de seus irmãos mas o rei não lhe concedeu autorização, tendo sucedido a seu pai como capitão do donatário.[3]
O seu filho mais novo, Gaspar Corte-Real, terá feito em 1501 a sua primeira viagem à Terra Nova (Newfoundland) então chamada "Terra dos Corte-Reais". Partiu em 1501 numa segunda expedição ao continente americano e nunca mais voltou. O outro filho, Miguel Corte-Real, partiu em 1502 em busca de seu irmão e também nunca mais foi visto.[3]
Em 1918 Edmund Delabarre, professor de psicologia da Brown University, escreveu (em inglês): "Eu vi, clara e indubitavelmente, a data 1511. Ninguém até à data a viu, ou detectou, na pedra ou em fotografia, mas uma vez vista, a sua presença genuína não pode ser negada".[carece de fontes]
Um médico luso-americano, Manuel Luciano da Silva, que como historiador e pesquisador amador, viu e reconheceu em Fall River, Massachusetts, prova vastamente ignorada[carece de fontes] de que Miguel Corte-Real ali esteve em 1511. Essa prova é constituída por uma grande pedra, conhecida pela Dighton Rock, em que se podem ver vários escudos em V com cruzes idênticas às usadas nas velas das naus e caravelas portuguesas:
Depois de gravada, a pedra de Dighton esteve 500 anos ao "sabor dos ventos e das marés". A erosão é tremenda, estando a pedra muito maltratada.[carece de fontes] Esta pedra ganhou grande relevo aquando das celebrações do V Centenário do Descobrimento dos Açores, em 1932, quando, a par das comemorações açorianas, realizaram-se em Lisboa várias cerimónias. O «Dia dos Corte Reais» foi assinalado no mês de julho de 1932, por iniciativa da Sociedade de Geografia de Lisboa[19] O cônsul português em Providence (Rhode Island) foi um dos que acarinhou a ideia de chamar a atenção para as navegações dos Corte Reais. Gilberto Marques tinha conhecido o professor Edmund Delabarre no exercício das suas funções diplomáticas e era um defensor da tese da prioridade portuguesa na descoberta da América, baseada na interpretação feita pelo professor americano das inscrições da Pedra de Dighton. O professor da Brown University, interessou-se por decifrar as inscrições encontradas num rochedo das margens do rio Taunton, entre as cidades de Fall River e de Taunton (Massachusetts)). Estas suscitaram ao longo do tempo as mais variadas e contraditórias interpretações. O investigador americano escreveu vários artigos sobre o assunto e, em 1928, saiu uma obra onde expunha a sua controversa interpretação das inscrições.[20] O coronel Roma Machado, António Cabreira e o próprio Gilberto Marques foram os oradores da sessão realizada na Sociedade de Geografia de Lisboa. Na Avenida da Liberdade (Lisboa), inaugurou-se então uma placa alusiva aos feitos atribuídos a João Vaz Corte Real e a seus filhos, Gaspar e Miguel, que contou com a presença do Presidente da República e uma guarda de honra composta por uma companhia da Marinha e a banda do Regimento de Caçadores n.º 7.[21] A Casa do Algarve em Lisboa e o Grémio dos Açores também promoveram sessões solenes, seguidas de bailes de gala, em honra dos Corte Reais. O Algarve orgulhava-se dos Corte Reais serem dali oriundos e os Açores não esqueciam a sua ligação às capitanias de Angra e de São Jorge, bem como o papel que tinham desempenhado nas navegações para o Ocidente atlântico.[22]
Foi filho de Vasco Anes Corte-Real e de Mor Afonso Escudeiro. Casou com Maria Abarca de quem teve os seguintes filhos:[3]
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