Josef Stalin
secretário geral do Partido Comunista da União Soviética (1878-1953) / De Wikipedia, a enciclopédia encyclopedia
Josef Stalin (ou Estaline;[1][nota 1] Gori, 18 de dezembro de 1878 – Moscou, 5 de março de 1953) foi um revolucionário comunista e político soviético de origem georgiana. Governou a União Soviética (URSS) de meados da década de 1920 até sua morte, servindo como Secretário Geral do Partido Comunista de 1922 a 1952, e como primeiro-ministro de seu país de 1941 a 1953. Inicialmente presidindo um estado unipartidário que governava por um sistema de liderança coletiva, consolidou o poder tornando-se o ditador ou autocrata da União Soviética em 1927. Ideologicamente ligado à interpretação leninista do marxismo, ajudou a formalizar essas ideias como marxismo-leninismo, enquanto suas próprias políticas ficaram conhecidas como stalinismo.
Josef Stalin | |
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Josef Estaline • Иосиф Виссарионович Сталин (em russo) • იოსებ სტალინი (em georgiano) | |
Stalin em 1943 | |
Secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética | |
Período | 3 de abril de 1922 a 5 de março de 1953 |
Antecessor(a) | Vyacheslav Molotov (como Secretário Responsável) |
Sucessor(a) | Geórgiy Malenkov (de facto) |
Presidente do Conselho de Ministros da União Soviética | |
Período | 6 de maio de 1941 a 5 de março de 1953 |
Primeiro vice-ministro da União Soviética | Nikolai Voznesensky Viatcheslav Molotov Nikolai Bulganin |
Antecessor(a) | Vyacheslav Molotov |
Sucessor(a) | Geórgiy Malenkov |
Comissário do Povo para Defesa | |
Período | 19 de julho de 1941 a 3 de março de 1947 |
Primeiro-ministro | Ele mesmo |
Antecessor(a) | Semyon Timoshenko |
Sucessor(a) | Nikolai Bulganin |
Dados pessoais | |
Nome completo | Josef Vissariónovitch Stalin |
Alcunha(s) | Koba |
Nascimento | 18 de dezembro de 1878 Gori, Tíflis, Império Russo |
Morte | 5 de março de 1953 (74 anos) Moscou, Rússia, União Soviética |
Prêmio(s) | Pessoa do Ano (1939 e 1942) |
Cônjuge | Ekaterina Svanidze (1903 a 1907) Nadezhda Alliluyeva (1919 a 1932) |
Filhos(as) | Yakov Dzhugashvili Konstantin Kuzakov Vasily Dzhugashvili Svetlana Alliluyeva |
Partido | Partido Comunista da União Soviética |
Religião | Ateísmo (anteriormente Ortodoxo Georgiano) |
Profissão | Ativista e político |
Assinatura | |
Serviço militar | |
Lealdade | União Soviética |
Serviço/ramo | Forças Armadas Soviéticas |
Anos de serviço | 1943–1953 |
Graduação | Marechal (1943–1945) Generalíssimo (1945–1953) |
Comandos | Todas as forças armadas soviéticas (comandante-supremo) |
Conflitos | Segunda Guerra Mundial |
Nascido em uma família pobre de etnia georgiana em Gori, Império Russo, iniciou sua carreira revolucionária após juntar-se ao Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR) quando jovem. Lá, editou o jornal do partido, o Pravda, e levantou fundos para a facção bolchevique de Vladimir Lenin por meio de roubos, sequestros e redes de proteção. Repetidamente preso, sofreu vários exílios internos na Sibéria. Depois que os bolcheviques tomaram o poder na Rússia durante a Revolução de Outubro de 1917, juntou-se ao comitê Politburo do partido. Serviu na Guerra Civil Russa antes de supervisionar a criação da União Soviética em 1922. Quando Lenin adoeceu e morreu em 1924, Stalin gradualmente assumiu a liderança do país. Durante seu governo, o "Socialismo em um Único País" tornou-se um princípio central dos dogmas do partido, e a Nova Política Econômica de seu antecessor foi substituída por uma economia centralizada. Sob o sistema do plano quinquenal, o país passou por uma coletivização e rápida industrialização, mas sofreu interrupções significativas na produção de alimentos que contribuíram para a fome entre 1932 e 1933. Para erradicar aqueles considerados "inimigos da classe trabalhadora", instituiu o "Grande Expurgo", no qual mais de um milhão de pessoas foram presas e pelo menos 700 mil executadas entre 1934 e 1939.
Seu governo promoveu o marxismo-leninismo no exterior através da Internacional Comunista e apoiou movimentos antifascistas por toda a Europa durante a década de 1930, particularmente na Guerra Civil Espanhola. Em 1939, assinou um pacto de não agressão com a Alemanha Nazista, resultando em uma invasão da Polônia. A Alemanha encerrou o pacto invadindo a União Soviética em 1941. Apesar dos contratempos iniciais, o Exército Vermelho repeliu a incursão alemã e capturou Berlim em 1945, pondo fim à Segunda Guerra Mundial na Europa. Os soviéticos anexaram os estados bálticos e ajudaram a estabelecer governos alinhados em toda a Europa Central e Oriental, China e Coreia do Norte. A União Soviética e os Estados Unidos emergiram da guerra como as duas superpotências mundiais. Tensões surgiram entre o Bloco Oriental apoiado pelos soviéticos e o Bloco Ocidental apoiado pelos americanos, dando origem à Guerra Fria. Stalin conduziu seu país através da reconstrução no período pós-guerra, durante a qual desenvolveu uma arma nuclear em 1949. Nestes anos, o país experimentou outra grande fome e uma campanha antissemita que atingiu o auge no complô dos médicos. Stalin morreu em 1953 e acabou sendo sucedido por Nikita Khrushchov, que denunciou seu antecessor e iniciou um processo de desestalinização em toda a sociedade soviética.
Amplamente considerado uma das figuras mais significativas do século XX, sua imagem foi tema de um culto à personalidade generalizado dentro do movimento marxista-leninista internacional, onde foi considerado um defensor do socialismo e da classe trabalhadora. Desde a dissolução da União Soviética em 1991, manteve popularidade na Rússia e na Geórgia como um líder vitorioso em tempos de guerra que estabeleceu a União Soviética como uma grande potência mundial. Por outro lado, seu regime foi amplamente descrito como totalitarismo e condenado por supervisionar repressões em massa, limpeza étnica, deportações, centenas de milhares de execuções e duas fomes que causaram a morte de milhões de pessoas.
Infância e educação: 1878–1899
Josef Stalin[nota 2] nasceu na cidade de Gori,[2] na província russa de Tíflis (atual Geórgia), em 18 de dezembro de 1878.[nota 3][4] Era filho de Besarion Jughashvili e Ekaterine "Keke" Geladze,[5] que casaram-se em maio de 1872[6] e perderam dois filhos na infância antes dele nascer.[7] Eles eram da etnia georgiana e Stalin cresceu falando a língua georgiana.[8] Gori era parte do Império Russo e o lar de uma mistura de comunidades georgianas, armênias, russas e judias.[9] Stalin foi batizado em 29 de dezembro.[10] Foi apelidado de "Soso", um diminutivo de "Ioseb".[11]
Besarion era um sapateiro que trabalhava na oficina de outro homem;[12] inicialmente teve sucesso financeiro, mas depois entrou em declínio[13] e a família se viu vivendo na pobreza.[14] O pai tornou-se um alcoólatra[15] e batia no filho e na esposa; está por sua vez "desancava-o sem piedade".[16] Ekaterine e Stalin deixaram a casa em 1883, e começaram uma vida errante, passando por nove diferentes quartos alugados em dez anos.[17] Ambos mudaram-se em 1886 para a casa de um amigo da família, o padre Christopher Charkviani.[18] Ela trabalhava como faxineira e lavadora de roupas para famílias locais;[19] estava determinada a mandar o filho para a escola, algo que ninguém da família havia conseguido antes.[20] No final de 1888, com 10 anos, Stalin foi matriculado na Escola da Igreja de Gori. Isso normalmente era reservado aos filhos do clero, embora Charkviani garantiu que o menino recebesse uma vaga.[21] Stalin se destacou academicamente, exibindo talentos em aulas de pintura e teatro,[22] escrevendo sua própria poesia[23] e cantando como um menino de coro.[24] Entrou em muitas lutas,[25] e um amigo de infância notou que ele "era o melhor, mas também o mais mal comportado aluno" da turma.[26] Enfrentou vários problemas graves de saúde; em 1884 contraiu varíola e ficou com cicatrizes na face.[27] Aos 12 anos foi gravemente ferido após ser atingido por uma fáeton, o que foi a provável causa de uma incapacidade no braço esquerdo ao longo da vida.[28]
Por recomendação de seus professores, matriculou-se em agosto de 1894 no Seminário Espiritual em Tíflis, habilitado por uma bolsa de estudos que lhe permitiu estudar a uma taxa reduzida.[29] Aqui juntou-se a 600 padres estagiários que ingressaram no seminário.[30] Foi novamente bem sucedido academicamente e ganhou notas altas.[31] Continuou escrevendo poesia; cinco de seus poemas foram publicados sob o pseudônimo de "Soselo" no jornal de Ilia Chavchavadze, Iveria ('Geórgia').[32] Tematicamente, eles tratavam de temas como natureza, terra e patriotismo.[33] De acordo com o historiador Simon Sebag Montefiore, tornaram-se "clássicos georgianos menores",[34] e foram incluídos em várias antologias da poesia do país nos anos vindouros.[34] Quando ficou mais velho, perdeu o interesse em seus estudos; suas notas caíram[35] e ele foi repetidamente confinado a uma cela por comportamento rebelde.[36] Os professores reclamavam que ele se declarava ateu, conversava na sala de aula e se recusava a tirar o chapéu para os monges.[37]
Juntou-se a um clube de livros proibidos ativo na escola;[38] foi particularmente influenciado pelo romance pró-revolucionário Que Fazer? (1863), de Nikolai Tchernichevski.[39] Outra obra que o influenciou foi O Parricida, de Alexander Kazbegi, do qual adotou o apelido "Koba" do protagonista bandido.[40] Também leu O Capital (1867), do teórico alemão Karl Marx.[41] Dedicou-se à teoria social e política do marxismo,[42] que estava em ascensão na Geórgia, uma das várias formas de socialismo que se opunham às autoridades czaristas do império.[43] À noite assistia reuniões secretas de trabalhadores[44] e foi apresentado a Silibistro "Silva" Jibladze, o fundador marxista do Mesame Dasi ('Terceiro Grupo'), um grupo socialista georgiano.[45] Em abril de 1899, Stalin deixou o seminário e nunca mais voltou,[46] embora a escola o encorajasse.[47]
Partido Operário Social-Democrata Russo: 1899–1904
Em outubro de 1899, Stalin começou a trabalhar como meteorologista em um observatório de Tíflis.[48] Atraiu um grupo de apoiadores através de suas aulas de teoria socialista[49] e coorganizou uma reunião secreta de operários para o Dia do Trabalhador de 1900,[50] na qual encorajou com sucesso muitos dos homens a entrar em greve.[51] A essa altura, a polícia secreta do império — a Okhrana — estava ciente de suas atividades no meio revolucionário da cidade.[51] Tentaram prendê-lo em março de 1901, mas ele escapou e se escondeu,[52] vivendo das doações de amigos e simpatizantes.[53] Permanecendo oculto, ajudou a planejar uma manifestação para o primeiro de maio de 1901, na qual 3 mil manifestantes entraram em confronto com as autoridades.[54] Continuou evitando a prisão usando pseudônimos e dormindo em diferentes apartamentos.[55] Em novembro daquele ano, foi eleito para o Comitê de Tíflis do Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR), um partido marxista fundado em 1898.[56]
Naquele mês viajou para a cidade portuária de Batumi.[57] Sua retórica militante provou ser divisora entre os marxistas da cidade, alguns dos quais suspeitavam que ele poderia ser um "agente provocador" trabalhando para o governo.[58] Encontrou emprego no armazém da refinaria Rothschild, onde coorganizou duas greves de trabalhadores.[59] Depois que vários líderes de greve serem presos, ajudou a organizar uma manifestação pública em massa que levou à tomada da prisão; tropas atiraram contra os manifestantes, 13 dos quais foram mortos.[60] Organizou uma segunda manifestação em massa no dia do funeral,[61] antes de ser preso em abril de 1902.[62] Inicialmente foi detido na prisão de Batumi,[63] e mais tarde foi transferido para a de Kutaisi, mais segura.[64] Em meados de 1903 foi condenado a três anos de exílio no leste da Sibéria.[65]
Stalin deixou Batumi em outubro, chegando à pequena cidade siberiana de Novaya Uda no final de novembro.[66] Lá, ele viveu em uma casa de camponês de dois quartos, dormindo na despensa do prédio.[67] Stalin fez duas tentativas de fuga; no primeiro chegou a Balagansk antes de retornar devido à úlcera de frio.[68] Sua segunda tentativa foi bem sucedida e ele chegou em Tíflis em janeiro de 1904.[69] Lá, coeditou um jornal marxista local, o Proletariatis Brdzola ('Luta Proletária'), com Filipp Makharadze.[70] Ele pediu que o movimento marxista georgiano se separasse de seu homólogo russo, resultando em vários membros do POSDR acusando-o de manter opiniões contrárias ao etos do internacionalismo marxista e pedindo sua expulsão do partido; logo ele retratou suas opiniões.[71] Durante seu exílio, o POSDR foi dividido entre os bolcheviques de Vladimir Lenin e os mencheviques de Julius Martov.[72] Stalin detestou muitos dos mencheviques da Geórgia e alinhou-se aos bolcheviques.[73] Embora tenha estabelecido uma fortaleza bolchevique na cidade mineira de Chiatura,[74] o movimento continuou a ser uma força minoritária na cena revolucionária georgiana dominada pelos mencheviques.[75]
Revolução de 1905 e suas consequências: 1905–1912
Em janeiro de 1905, tropas do governo massacraram manifestantes em São Petersburgo. A agitação logo se espalhou pelo Império Russo no que veio a ser conhecido como a Revolução de 1905.[76] A Geórgia foi uma das regiões particularmente afetadas.[77] Stalin estava em Baku em fevereiro, quando eclodiu a violência étnica entre armênios e azeris; pelo menos 2 mil foram mortos.[78] Criticou publicamente os "pogroms contra judeus e armênios" como parte das tentativas do czar Nicolau II de "fortalecer seu desprezível trono".[79] Formou um pelotão de batalha bolchevique que usou para tentar manter separadas as facções étnicas de Baku em guerra; também usou o desassossego como um disfarce para roubar equipamentos de impressão.[79] Em meio à crescente violência em toda a Geórgia, formou outros Esquadrões de Batalha, com os mencheviques fazendo o mesmo.[80] Os Esquadrões de Stalin desarmaram a polícia e as tropas locais,[81] invadiram arsenais do governo[82] e captaram recursos por meio de esquemas de proteção em grandes empresas e minas locais.[83] Eles lançaram ataques contra as tropas cossacas do governo e os czaristas Centenas Negras,[84] coordenando algumas operações com a milícia menchevique.[85]
Em novembro, os bolcheviques georgianos elegeram Stalin como um de seus delegados em uma conferência do grupo em São Petersburgo.[87] Na chegada conheceu a esposa de Lenin, Nadejda Krupskaia, que o informou que o local havia sido transferido para Tampere, no Grão-Ducado da Finlândia.[88] Na conferência, Stalin conheceu Vladimir Lenin.[89] Embora considerasse este com profundo respeito, Stalin manifestou seu desacordo com a visão de que os bolcheviques deveriam apresentar candidatos para a próxima eleição à Duma de Estado; ele via o processo parlamentar como uma perda de tempo.[90] Em abril de 1906, participou do IV Congresso do POSDR em Estocolmo; esta foi sua primeira viagem fora do Império Russo.[91] Na conferência, o POSDR — então liderado por sua maioria menchevique — concordou que não levantaria fundos usando assaltos à mão armada.[92] Lenin e Stalin discordaram dessa decisão[93] e depois discutiram em particular como poderiam continuar os roubos à causa bolchevique.[94]
Stalin casou-se com Ekaterina Svanidze em uma cerimônia na igreja em Senaki em julho de 1906.[95] Em março de 1907 ela deu à luz um filho, Yakov.[96] Naquele ano — segundo o historiador Robert Service — o revolucionário se estabeleceu como "o principal bolchevique da Geórgia".[97] Participou do V Congresso do POSDR, realizado em Londres entre maio e junho de 1907.[98] Depois de voltar a Tíflis, organizou em junho o roubo de uma grande quantidade em dinheiro do Banco Imperial. Sua gangue emboscou o comboio armado na Praça de Erevan com armas de fogo e bombas caseiras. Cerca de 40 pessoas foram mortas, mas toda a sua gangue escapou viva.[99] Após o assalto, estabeleceu-se em Baku com sua esposa e filho.[100] Lá, mencheviques o confrontaram sobre o roubo e votaram em expulsá-lo do partido, mas ele não tomou conhecimento deles.[101]
Em Baku garantiu a dominação bolchevique da filial local do POSDR,[102] e editou dois jornais do partido, o Bakinsky Proletary e o Gudok ("Apito").[103] Em agosto de 1907 participou do VII Congresso da Segunda Internacional — uma organização socialista internacional — em Stuttgart, na Alemanha.[104] Em novembro sua esposa morreu de tifo[105] e ele deixou seu filho com a família em Tíflis.[106] Na capital, ele havia reagrupado sua gangue, o Enxoval,[107] que continuava a atacar os Centenas Negras e aumentava as finanças, executando esquemas de proteção, falsificando moeda e realizando roubos.[108] Eles também sequestraram filhos de várias figuras ricas para extrair dinheiro do resgate.[109] No início de 1908, viajou para a cidade suíça de Genebra para se reunir com Lenin e o proeminente marxista russo Gueorgui Plekhanov, embora este o exasperasse.[110]
Em março de 1908 foi detido e internado na prisão de Bailov.[111] Lá, ele liderou os bolcheviques presos, organizou grupos de discussão e ordenou o assassinato de informantes suspeitos.[112] Foi condenado a dois anos de exílio na aldeia de Solvychegodsk, Oblast de Vologda, chegando lá em fevereiro do ano seguinte.[113] Em junho, ele escapou da aldeia e chegou a Kotlas disfarçado de mulher; de lá foi para São Petersburgo.[114] Em março de 1910, ele foi preso novamente e enviado de volta a Solvychegodsk.[115] Lá ele teve casos com pelo menos duas mulheres; uma proprietária, Maria Kuzakova, mais tarde deu à luz seu segundo filho, Konstantin.[116] Em junho de 1911, Stalin recebeu permissão para se mudar para Vologda, onde permaneceu por dois meses,[117] tendo um relacionamento com Pelageya Onufrieva.[118] Fugiu para São Petersburgo,[119] onde foi preso em setembro de 1911 e condenado a mais três anos de exílio em Vologda.[120]
No Comitê Central e na redação do Pravda: 1912–1917
Enquanto Stalin estava no exílio, o primeiro Comitê Central Bolchevique foi eleito na Conferência de Praga.[121] Logo após, Lenin e Grigori Zinoviev decidiram cooptá-lo para o grupo.[121] Ainda em Vologda, ele concordou, permanecendo membro do Comitê Central pelo resto de sua vida.[122] Lenin acreditava que Stalin, como georgiano, ajudaria a garantir apoio aos bolcheviques das minorias étnicas do Império.[123] Em fevereiro de 1912, voltou a fugir para São Petersburgo,[124] encarregado de converter o semanário bolchevique Zvezda ("Estrela") em um diário, o Pravda ("A Verdade").[125] O novo jornal foi lançado em abril de 1912,[126] embora o papel de Stalin como editor fosse mantido em segredo.[126]
Em maio de 1912, ele foi preso novamente e encarcerado na Prisão Shpalerhy, antes de ser sentenciado a três anos de exílio na Sibéria.[127] Em julho chegou à aldeia siberiana de Narym,[128] onde dividiu um quarto com o bolchevique Iákov Sverdlov.[129] Depois de dois meses, ambos escaparam de volta para São Petersburgo.[130] Durante um breve período em Tiflis, Stalin e o Enxoval planejaram a emboscada de um carteiro, durante a qual a maioria do grupo — embora não o próprio — foi detida pelas autoridades.[131] Stalin retornou a São Petersburgo, onde continuou editando e escrevendo artigos para o Pravda.[132]
Depois das eleições da Duma em outubro de 1912, seis bolcheviques e seis mencheviques foram eleitos, Stalin escreveu artigos pedindo a reconciliação entre as duas facções marxistas, pelas quais ele foi criticado por Lenin.[133] No final do ano, ele cruzou duas vezes o Império Austro-Húngaro para visitar Lenin em Cracóvia,[134] eventualmente cedendo à oposição do líder bolchevique à reunificação com os mencheviques.[135] Em janeiro de 1913 viajou para Viena,[136] concentrando-se na "questão nacional" de como os bolcheviques deveriam lidar com as minorias nacionais e étnicas do Império Russo.[137] Lenin, que incentivou Stalin a escrever um artigo sobre o assunto,[138] queria atrair esses grupos para a causa bolchevique, oferecendo-lhes o direito de secessão do Estado russo, mas, ao mesmo tempo, esperava que continuassem a fazer parte de uma futura Rússia governada por bolcheviques.[139] Seu artigo final foi intitulado O Marxismo e Problema Nacional e Colonial, publicado pela primeira vez nas edições de março, abril e maio de 1913 da revista bolchevique Prosveshcheniye;[140] Lenin ficou muito satisfeito com a obra.[141] De acordo com Montefiore, esse foi o "trabalho mais famoso de Stalin".[139] O artigo foi publicado sob o pseudônimo de "K. Stalin",[141] um nome que ele vinha usando desde 1912.[142] Derivado da palavra russa para aço (stal),[143] isso foi traduzido como "Homem de Aço";[144] Stalin pode ter pretendido imitar o pseudônimo de Lenin.[145] Stalin reteve esse nome pelo resto de sua vida, possivelmente porque foi usado no artigo que estabeleceu sua reputação entre os bolcheviques.[146]
Em fevereiro de 1913 foi preso em São Petersburgo.[147] Foi condenado a quatro anos de exílio em Turukhansk, uma parte remota da Sibéria da qual a fuga era particularmente difícil.[148] Em agosto chegou à aldeia de Monastyrskoe, embora depois de quatro semanas tenha sido transferido para a aldeia de Kostino.[149] Em março de 1914, preocupados com uma possível tentativa de fuga, as autoridades o transferiram para o povoado de Kureika, na periferia do Círculo Polar Ártico.[150] Na aldeia, Stalin teve um relacionamento com Lidia Pereprygia, que tinha treze anos na época e, portanto, um ano a menos que a idade legal de consentimento na Rússia czarista.[151] Por volta de dezembro de 1914, Pereprygia deu à luz o filho de Stálin, embora a criança tenha morrido em breve.[152] Ela deu à luz a outro de seus filhos, Alexander, por volta de abril de 1917.[153] Em Kureika, viveu em estreita colaboração com os indígenas evenques e ostíacos[154] e passou a maior parte do tempo pescando.[155]
Revolução Russa: 1917
Enquanto estava no exílio, a Rússia entrou na Primeira Guerra Mundial e, em outubro de 1916, Stalin e outros bolcheviques exilados foram recrutados para o exército russo, partindo para Monastyrskoe.[156] Chegaram a Krasnoiarsk em fevereiro de 1917,[157] onde um legista o julgou inadequado para o serviço militar devido a seu braço aleijado.[158] Foi obrigado a servir mais quatro meses em seu exílio, e solicitou com sucesso que servisse na cidade vizinha de Achinsk.[159] Estava na cidade quando a Revolução de Fevereiro aconteceu; revoltas eclodiram em Petrogrado — já que São Petersburgo tinha sido renomeada — e o czar Nicolau II abdicou para escapar de ser violentamente derrubado. O Império Russo tornou-se uma república de facto, liderada por um Governo Provisório dominado por liberais.[160] Em clima de comemoração, viajou de trem para Petrogrado em março.[161] Lá, ele e o bolchevique Lev Kamenev assumiram o controle do Pravda,[162] e Stalin foi nomeado representante bolchevique no Comitê Executivo do Soviete de Petrogrado, um influente conselho dos trabalhadores da cidade.[163] Em abril, Stalin ficou em terceiro lugar nas eleições bolcheviques para o Comitê Central do partido; Lenin ficou em primeiro e Zinoviev em segundo.[164] Isso refletia sua elevada posição dentro do partido na época.[165]
O governo existente de latifundiários e capitalistas deve ser substituído por um novo governo, um de trabalhadores e camponeses. O pseudo-governo existente que não foi eleito pelo povo e que não é responsável perante o povo deve ser substituído por um governo reconhecido pelo povo, eleito pelos representantes dos trabalhadores, soldados e camponeses e responsabilizado perante os seus representantes.
—Editorial de Stalin no Pravda, outubro de 1917[166]
Stalin ajudou a organizar a insurreição das Jornadas de Julho, uma demonstração armada de força pelos partidários bolcheviques.[167] Depois que a manifestação foi suprimida, o Governo Provisório iniciou uma repressão aos membros do partido, atacando o Pravda.[19] Durante esse ataque, Stalin tirou Lenin do escritório do jornal e assumiu a segurança do líder bolchevique, movendo-o entre as casas seguras de Petrogrado antes de contrabandeá-lo para Razliv.[168] Na ausência de Lenin, Stalin continuou editando o Pravda e serviu como líder interino dos bolcheviques, supervisionando o VI Congresso do partido, que era secretamente realizado.[169] Lenin começou a pedir aos bolcheviques que tomassem o poder derrubando o governo provisório num golpe de Estado. Stalin e seu colega bolchevique Leon Trótski endossaram o plano de ação de Lenin, mas foi inicialmente contestado por Kamenev e outros membros do partido.[170] Lenin retornou a Petrogrado e obteve maioria em favor de um golpe numa reunião do Comitê Central em 10 de outubro.[171]
Em 24 de outubro, a polícia invadiu os escritórios do jornal bolchevique, destruindo máquinas e prensas; Stalin recuperou parte desse equipamento para continuar suas atividades.[172] Na madrugada de 25 de outubro, juntou-se a Lenin em uma reunião do Comitê Central no Instituto Smolny, de onde foi dirigido o golpe bolchevique — a Revolução de Outubro.[173] A milícia bolchevique apoderou-se da central elétrica de Petrogrado, dos principais correios, do banco estatal, da central telefônica e de várias pontes.[174] Um navio controlado pelos bolcheviques, o Aurora, abriu fogo ao Palácio de Inverno; os delegados reunidos do Governo Provisório renderam-se e foram presos pelos bolcheviques.[175] Embora tivesse sido encarregado de informar os delegados bolcheviques do II Congresso dos Sovietes sobre a situação em desenvolvimento, o papel de Stalin no golpe não foi publicamente visível.[176] Trótski e outros bolcheviques opositores de Stalin usaram isso como evidência de que seu papel no golpe fora insignificante, embora mais tarde os historiadores rejeitassem isso.[177] Segundo o historiador Oleg Khlevniuk, Stalin "desempenhou um papel importante [na Revolução de Outubro]… como um importante bolchevique, membro do Comitê Central do partido e editor de seu principal jornal";[178] o historiador Stephen Kotkin notou, de maneira semelhante, que ele estivera "no meio dos acontecimentos" na construção do golpe.[179]
Consolidação do poder: 1917–1918
Em 26 de outubro, Lenin declarou-se presidente de um novo governo, o Conselho do Comissariado do Povo ("Sovnarkom").[180] Stalin apoiou a decisão do presidente de não formar uma coalizão com os mencheviques e o Partido Socialista Revolucionário, apesar de formarem um governo de coalizão com os Socialistas Revolucionários de Esquerda.[181] Stalin tornou-se parte de um quarteto informal que liderava o governo, ao lado de Lenin, Trótski e Sverdlov;[182] destes, Sverdlov esteve regularmente ausente e morreu em março de 1919.[183] O escritório de Stalin ficava próximo ao de Lenin, no Instituto Smolny,[184] e ele e Trótski eram os únicos indivíduos autorizados a acessar o escritório do presidente sem autorização.[185] Embora não tão bem conhecido como Lenin ou Trótski,[186] a importância de Stalin entre os bolcheviques cresceu.[187] Coassinou os decretos do líder soviético encerrando jornais hostis[188] e, com Sverdlov, presidiu as sessões do comitê que redigia uma constituição para a nova República Socialista Federativa Soviética da Rússia.[189] Apoiou fortemente a formação do serviço de segurança da Cheka e o subsequente Terror Vermelho que teve início; notando que a violência estatal havia se mostrado uma ferramenta eficaz para as potências capitalistas, acreditava que isso seria o mesmo para o governo soviético.[190] Ao contrário dos bolcheviques mais antigos como Kamenev e Nikolai Bukharin, Stalin nunca expressou preocupação com o rápido crescimento e expansão da Cheka e do Terror.[190]
Tendo abandonado o cargo de editor do Pravda,[191] foi nomeado Comissário do Povo para as Nacionalidades.[192] Escolheu Nadejda Alliluyeva como sua secretária,[193] e em algum momento se casou com ela, embora a data seja desconhecida.[194] Em novembro de 1917, assinou o Decreto sobre Nacionalidade, que proclamou o direito de secessão e autodeterminação às minorias étnicas e nacionais que viviam na Rússia.[195] O propósito do decreto era principalmente estratégico; os bolcheviques queriam ganhar o favor entre as minorias étnicas, mas não esperavam que elas realmente desejassem a independência.[196] Naquele mês, ele viajou para Helsinque para conversar com os social-democratas finlandeses, concedendo o pedido de independência da Finlândia em dezembro.[196] Seu departamento alocou fundos para o estabelecimento de prensas e escolas nas línguas de várias minorias étnicas.[197] Os revolucionários socialistas acusaram o discurso de Stalin de federalismo e autodeterminação nacional como uma fachada para as políticas centralizadoras e imperialistas do Sovnarkom.[189]
Devido à contínua Primeira Guerra Mundial, na qual a Rússia estava lutando contra as Potências Centrais da Alemanha e da Áustria-Hungria, o governo de Lenin mudou-se de Petrogrado para Moscou em março de 1918. Lá, eles se basearam no Kremlin; foi aqui que Stalin, Trótski, Sverdlov e Lenin viveram.[198] Apoiou o desejo de Lenin de assinar um armistício com os Poderes Centrais, independentemente do custo em território.[199] Stalin julgou necessário porque — ao contrário do presidente — não estava convencido de que a Europa estivesse à beira da revolução proletária.[200] Lenin acabou convencendo os outros alto-bolcheviques de seu ponto de vista, resultando na assinatura do Tratado de Brest-Litovski em março de 1918.[201] O tratado deu vastas áreas de terra e recursos para as Potências Centrais e enfureceu muitos na Rússia; os revolucionários socialistas de esquerda se retiraram do governo de coalizão sobre o assunto.[202] O partido governante da Rússia Soviética logo foi renomeado, tornando-se o Partido Comunista Russo.[203]
Comando militar: 1918–1921
Depois que os bolcheviques tomaram o poder, exércitos da direita e da esquerda política se uniram contra eles, gerando a Guerra Civil Russa.[204] Para garantir o acesso ao suprimento cada vez menor de alimentos, em maio de 1918, o Sovnarkom enviou Stalin a Tsarítsin para se encarregar da aquisição de alimentos no sul da Rússia.[205] Ansioso para se mostrar como comandante,[206] uma vez lá assumiu o controle das operações militares regionais.[207] Fez amizade com duas figuras militares, Kliment Vorochilov e Semion Budionny, que formariam o núcleo de sua base de apoio militar e político.[208] Acreditando que a vitória era assegurada pela superioridade numérica, enviou um grande número de tropas do Exército Vermelho para a batalha contra os exércitos Brancos antibolcheviques na região, resultando em grandes perdas; Lenin estava preocupado com essa tática cara.[209] Em Tsarítsin, comandou a filial local da Cheka para executar supostos contrarrevolucionários, às vezes sem julgamento,[210] e — em contravenção às ordens do governo — expurgou agências militares e de coleta de alimentos de especialistas de classe média, alguns dos quais também executou.[211] Seu uso da violência e do terror de Estado foi em maior escala do que a maioria dos líderes bolcheviques aprovou;[212] por exemplo, ordenou que várias aldeias fossem incendiadas para garantir o cumprimento de seu programa de aquisição de alimentos.[213]
Em dezembro de 1918, Stalin foi enviado a Perm para liderar uma investigação sobre como as forças brancas de Aleksandr Kolchak haviam conseguido dizimar as tropas vermelhas que ali se encontravam.[214] Retornou a Moscou entre janeiro e março de 1919,[215] antes de ser designado para a Frente Ocidental em Petrogrado.[216] Quando o Terceiro Regimento Vermelho desertou, ele ordenou a execução pública dos que foram capturados.[215] Em setembro foi devolvido à Frente Sul.[215] Durante a guerra, provou seu valor para o Comitê Central, demonstrando decisão, determinação e disposição para assumir responsabilidades em situações de conflito.[206] Ao mesmo tempo, desconsiderou ordens e repetidamente ameaçou renunciar quando afrontado.[217] Em novembro de 1919, o governo concedeu-lhe a Ordem do Estandarte Vermelho por seu serviço de guerra.[218]
Os bolcheviques venceram a guerra civil no final de 1919.[219] O Sovnarkom voltou sua atenção para a disseminação da revolução proletária no exterior, para esse fim formando a Internacional Comunista em março de 1919; Stalin assistiu à sua cerimônia inaugural.[220] Embora não compartilhasse da crença de Lenin de que o proletariado europeu estava à beira da revolução, reconheceu que, enquanto permanecesse sozinha, a Rússia Soviética continuaria vulnerável.[221] Em dezembro de 1918, redigiu decretos que reconheciam as repúblicas soviéticas de governo marxista na Estônia, Lituânia e Letônia;[222] durante a guerra civil, esses governos marxistas foram derrubados e os países bálticos tornaram-se totalmente independentes da Rússia, um ato que Stalin considerou ilegítimo.[223] Em fevereiro de 1920, foi nomeado chefe da Inspetoria dos Operários e Camponeses;[224] nesse mesmo mês, ele também foi transferido para a Frente Caucasiana.[225]
Após os confrontos anteriores entre as tropas polonesas e russas, a Guerra Polonesa-Soviética eclodiu no início de 1920, com os poloneses invadindo a Ucrânia e tomando Kiev.[226] Stalin foi transferido para a Ucrânia, na Frente Sudoeste.[227] O Exército Vermelho forçou as tropas polonesas de volta ao seu país.[228] Lenin acreditava que o proletariado polonês se levantaria para apoiar os russos contra o governo local de Józef Piłsudski. Stalin havia advertido contra isso; ele acreditava que o nacionalismo levaria as classes trabalhadoras polonesas a apoiar o esforço de guerra de seu governo. Também acreditava que o Exército Vermelho estava mal preparado para conduzir uma guerra ofensiva e que isso daria aos Exércitos Brancos uma chance de ressurgir na Crimeia, potencialmente reacendendo a guerra civil.[229] Stalin perdeu o argumento, depois do qual aceitou a decisão de Lenin e a apoiou.[225] Ao longo da Frente Sudoeste, tornou-se determinado a conquistar Lwów; ao concentrar-se nesse objetivo, desobedeceu as ordens de transferir suas tropas para ajudar as forças de Mikhail Tukhachevsky.[230] Em agosto, os poloneses repeliram o avanço russo e Stalin retornou a Moscou.[231] Um tratado de paz polonês-soviético foi assinado; ele viu isso como um fracasso pelo qual culpou Trótski.[232] Trótski, por sua vez, acusou Stalin de "erros estratégicos" ao lidar com a guerra na Nona Conferência Bolchevique.[233] Stalin sentiu-se ressentido e subestimado; em setembro exigiu a demissão dos militares, o que foi concedido.[234]
Últimos anos de Lenin: 1921–1923
O governo soviético procurou trazer os estados vizinhos para seu domínio; em fevereiro de 1921, invadiram a Geórgia governada por mencheviques,[235] enquanto em abril, Stalin ordenou que o Exército Vermelho no Turquestão reafirmasse o controle estatal russo.[236] Como Comissário do Povo para as Nacionalidades, acreditava que cada grupo nacional e étnico deveria ter o direito de se expressar,[237] facilitado por meio de "repúblicas autônomas" dentro do Estado russo, nas quais poderiam supervisionar vários assuntos regionais.[238] Ao adotar essa visão, alguns marxistas o acusaram de se dobrar demais ao nacionalismo burguês, enquanto outros o acusavam de permanecer muito russocêntrico ao tentar manter essas nações dentro do Estado russo.[237]
O Cáucaso nativo de Stalin representava um problema particular devido à sua mistura altamente multiétnica.[239] Opôs-se à ideia de repúblicas autônomas georgianas, armênias e azerbaijanis separadas, argumentando que estas provavelmente oprimiriam as minorias étnicas dentro de seus respectivos territórios; em vez disso, convocou uma República Socialista Federativa Transcaucasiana.[240] O Partido Comunista da Geórgia opôs-se à ideia, resultando no caso georgiano.[241] Em meados de 1921, Stalin retornou ao sul do Cáucaso, pedindo aos comunistas georgianos que evitassem o nacionalismo georgiano chauvinista que marginalizava as minorias da Abecásia, Ossétia e Adjara na Geórgia.[242] Nessa viagem, encontrou-se com seu filho Yakov e o levou de volta a Moscou;[243] Nadya dera à luz outro dos filhos de Stalin, Vasily, em março daquele ano.[243]
Após a guerra civil, as greves de trabalhadores e revoltas camponesas irromperam em toda a Rússia, em grande parte em oposição ao projeto de requisição de alimentos do Sovnarkom; como antídoto, Lenin introduziu reformas orientadas para o mercado: a Nova Política Econômica (NEP).[244] Também houve turbulência interna no Partido Comunista, quando Trótski liderou uma facção pedindo a abolição dos sindicatos; Lenin se opunha a isso e Stalin ajudou a unir a oposição à ação de Trótski.[245] Também concordou em supervisionar o Departamento de Agitação e Propaganda na Secretaria do Comitê Central.[246] No XI Congresso do Partido em 1922, Lenin o nomeou como novo Secretário Geral do Partido Comunista. Embora tenham sido expressas preocupações de que a adoção desse novo posto além dos demais sobrecarregasse sua carga de trabalho e lhe desse muito poder, Stalin foi indicado.[247] Para Lenin, era vantajoso ter um aliado-chave nesse posto crucial.[248]
Stalin é brusco demais, e este defeito, plenamente tolerável em nosso meio e entre nós, os comunistas, se coloca intolerável no cargo de Secretário Geral. Por isso proponho aos camaradas que pensem a forma de passar Stalin a outro posto e nomear a este cargo outro homem que se diferencie do camarada Stalin em todos os demais aspectos apenas por uma vantagem a saber: que seja mais tolerante, mais leal, mais correto e mais atento com os camaradas, menos caprichoso etc.
—Testamento de Lenin, 4 de janeiro de 1923;[249] foi possivelmente escrito por Krupskaya em vez do próprio[250]
Em maio de 1922, um derrame deixou Lenin parcialmente paralisado.[251] Residindo em sua dacha de Gorki, sua principal conexão com o Sovnarkom foi através de Stalin, que era um visitante regular.[252] Lenin pediu duas vezes para obter veneno, para que pudesse cometer suicídio, mas Stalin nunca o entregou.[253] Apesar dessa camaradagem, o líder dos bolcheviques não gostava do que chamava de astúcia "asiática" do georgiano e disse a sua irmã Maria que ele "não era inteligente".[254] Ambos discutiram sobre a questão do comércio exterior; Lenin acreditava que o Estado soviético deveria ter o monopólio do comércio exterior, mas Stalin apoiou a opinião de Grigori Sokolnikov de que fazer isso era impraticável nesse estágio.[255] Outro desentendimento veio sobre o caso georgiano, com o líder dos bolcheviques apoiando o desejo do Comitê Central da Geórgia de uma República Soviética da Geórgia sobre a ideia do Secretário Geral de uma República Transcaucasiana.[256]
Também discordaram sobre a natureza do estado soviético. Lenin pediu que o país fosse renomeado para "União das Repúblicas Soviéticas da Europa e da Ásia", refletindo seu desejo de expansão nos dois continentes. Stalin acreditava que isso encorajaria o sentimento de independência entre os não russos, em vez de argumentar que as minorias étnicas estariam contentes como repúblicas autônomas dentro da República Socialista Federativa Soviética da Rússia.[257] Lenin acusou Stalin de "Grande Chauvinismo Russo"; Stalin o acusou de "liberalismo nacional".[258] Um compromisso foi alcançado, em que o país seria renomeado a "União das Repúblicas Socialistas Soviéticas" (URSS).[259] A formação da URSS foi ratificada em dezembro de 1922; embora oficialmente um sistema federal, todas as decisões importantes foram tomadas pelo Politburo governante do Partido Comunista da União Soviética em Moscou.[260]
Suas diferenças também se tornaram pessoais; Lenin ficou particularmente irritado quando Stalin foi rude com sua esposa Krupskaya durante uma conversa telefônica.[261] Nos últimos anos de sua vida, Krupskaya forneceu às figuras do governo o Testamento de Lenin, uma série de notas cada vez mais depreciativas sobre Stalin. Estas criticaram suas maneiras rudes e o poder excessivo, sugerindo que deveria ser removido da posição de Secretário Geral.[262] Alguns historiadores questionaram se Lenin os produziu, sugerindo que talvez tenham sido escritos por sua mulher, que tinha diferenças pessoais dele;[250] Stalin, no entanto, nunca manifestou publicamente preocupações sobre sua autenticidade.[263]