Língua portuguesa
língua românica ocidental / De Wikipedia, a enciclopédia encyclopedia
A língua portuguesa, também designada português, é uma língua indo-europeia românica flexiva ocidental originada no galego-português falado no Reino da Galiza e no norte de Portugal. Com a criação do Reino de Portugal em 1139 e a expansão para o sul na sequência da Reconquista, deu-se a difusão da língua pelas terras conquistadas e mais tarde, com as descobertas portuguesas, para o Brasil, África e outras partes do mundo.[8] O português foi usado, naquela época, não somente nas cidades conquistadas pelos portugueses, mas também por muitos governantes locais nos seus contatos com outros estrangeiros poderosos. Especialmente nessa altura a língua portuguesa também influenciou várias línguas.[9]
Durante a Era dos Descobrimentos, marinheiros portugueses levaram o seu idioma para lugares distantes. A exploração foi seguida por tentativas de colonizar novas terras para o Império Português e, como resultado, o português dispersou-se pelo mundo. Brasil e Portugal são os dois únicos países cuja língua primária é o português. É língua oficial em antigas colônias portuguesas, nomeadamente, Moçambique, Angola, Cabo Verde, Guiné Equatorial,[10][11][12] Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe, todas na África.[13] Além disso, por razões históricas, falantes do português, ou de crioulos portugueses, são encontrados também em Macau (China), Timor-Leste, em Damão e Diu e no estado de Goa (Índia), Malaca (na Malásia, que conta com utilizadores do crioulo kristáng, ou Língua cristã), em enclaves na ilha das Flores (Indonésia), Baticaloa no (Sri Lanka) e nas ilhas ABC no Caribe.[14][15]
É uma das línguas oficiais da União Europeia, do Mercosul, da União de Nações Sul-Americanas, da Organização dos Estados Americanos, da União Africana e dos Países Lusófonos. Com aproximadamente 280 milhões de falantes, o português é a 5.ª língua mais falada no mundo, a 3.ª mais falada no hemisfério ocidental e a mais falada no hemisfério sul do planeta.[16] O português também é conhecido como "a língua de Camões"[17] (em homenagem a uma das mais conhecidas figuras literárias de Portugal, Luís Vaz de Camões, autor de Os Lusíadas) e "a última flor do Lácio" (expressão usada no soneto Língua Portuguesa, do escritor brasileiro Olavo Bilac).[18][19][20][21][22] Miguel de Cervantes, o célebre autor espanhol, considerava o idioma "doce e agradável".[23] Em março de 2006, o Museu da Língua Portuguesa, um museu interativo sobre o idioma, foi fundado em São Paulo, Brasil, a cidade com o maior número de falantes do português em todo o mundo.[24]
O Dia Internacional da Língua Portuguesa é comemorado em 5 de maio.[25] A data foi instituída em 2009, no âmbito da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), com o propósito de promover o sentido de comunidade e de pluralismo dos falantes do português. A comemoração propicia também a discussão de questões idiomáticas e culturais da lusofonia, promovendo a integração entre os povos desses nove países.[26]
Origens e período romano
O português teve origem no que é hoje a Galiza e o norte de Portugal, derivada do latim vulgar que foi introduzido no oeste da Península Ibérica há cerca de dois mil anos. Tem um substrato céltico-lusitano,[27] resultante da língua nativa dos povos ibéricos pré-romanos que habitavam a parte ocidental da Península (Galaicos, Lusitanos, Célticos e Cónios). Surgiu no noroeste da Península Ibérica e desenvolveu-se na sua faixa ocidental, incluindo parte da antiga Lusitânia e da Bética romana. O romance galaico-português nasce do latim falado, trazido pelos soldados romanos, colonos e magistrados. O contato com o latim vulgar fez com que, após um período de bilinguismo, as línguas locais desaparecessem, levando ao aparecimento de novos dialetos. Assume-se que a língua iniciou o seu processo de diferenciação das outras línguas ibéricas através do contato das diferentes línguas nativas locais com o latim vulgar, o que levou ao possível desenvolvimento de diversos traços individuais ainda no período romano.[28][29][30]
A língua iniciou a segunda fase do seu processo de diferenciação das outras línguas românicas depois da queda do Império Romano, durante a época das invasões bárbaras no século V quando surgiram as primeiras alterações fonéticas documentadas que se reflectiram no léxico. Começou a ser usada em documentos escritos pelo século IX, e no século XV tornara-se numa língua amadurecida, com uma literatura bastante rica. Chegando à Península Ibérica em 218 a.C., os romanos trouxeram com eles o latim vulgar, de que todas as línguas românicas (também conhecidas como "línguas novilatinas" ou "neolatinas") descendem. Só no fim do século I a.C. os povos que viviam a sul da Lusitânia pré-romana, os cónios e os celtas, começam o seu processo de romanização. As línguas paleo-ibéricas, como a língua lusitana ou a sul-lusitana são substituídas pelo latim.[31]
A partir de 409 d.C., enquanto o Império Romano entrava em colapso, a Península Ibérica era invadida por povos de origem germânica e iraniana ou eslava[32] (suevos, vândalos, búrios, alanos, visigodos), conhecidos pelos romanos como bárbaros que receberam terras como federados. Os bárbaros (principalmente os suevos e os visigodos) absorveram em grande escala a cultura e a língua da Península; contudo, desde que as escolas e a administração romana fecharam, a Europa entrou na Idade Média e as comunidades ficaram isoladas, o latim popular continuou a evoluir de forma diferenciada levando à formação de um proto-ibero-romance "lusitano" (ou proto-galego-português).[33]
Influência árabe, Reconquista e Império Português
Desde 711, com a invasão islâmica da Península, que também introduziu um pequeno contingente de saqalibas, o árabe tornou-se a língua de administração das áreas conquistadas. Contudo, a população continuou a usar as suas falas românicas, o moçárabe nas áreas sob o domínio mouro, de tal forma que, quando os mouros foram expulsos, a influência que exerceram na língua foi relativamente pequena. O seu efeito principal foi no léxico, com a introdução de cerca de oitocentas palavras através do moçárabe-lusitano.[34]
Em 1297, com a conclusão da reconquista, o rei D. Dinis I prossegue políticas em matéria de legislação e centralização do poder, adoptando o português como língua oficial em Portugal. O idioma se espalhou pelo mundo nos séculos XV e XVI quando Portugal estabeleceu um império colonial e comercial (1415-1999) que se estendeu do Brasil, na América, a Goa, na Ásia (Índia, Macau na China e Timor-Leste). Foi utilizada como língua franca exclusiva na ilha do Sri Lanka por quase 350 anos. Durante esse tempo, muitas línguas crioulas baseadas no português também apareceram em todo o mundo, especialmente na África, na Ásia e no Caribe.[35][36]
Idioma oficial
O português é a língua da maioria da população de Portugal,[38] Brasil,[39] São Tomé e Príncipe (98,4%)[40] e, de acordo com o censo de 2014, é a língua habitual de 71,15% da população de Angola,[41] entretanto, cerca de 85% dos angolanos são capazes de falar português, segundo o Instituto Nacional de Estatística.[42] Apesar de apenas 10,7% da população de Moçambique ser de falantes nativos do português, o idioma é falado por cerca de 50,4% dos moçambicanos, de acordo com o censo de 2007.[43] A língua também é falada por cerca de 15% da população da Guiné-Bissau,[44][45] e por cerca de 25% da população de Timor-Leste.[46] Não existem dados disponíveis relativos a Cabo Verde, mas quase toda a população é bilíngue, sendo os cabo-verdianos monolíngues falantes do crioulo cabo-verdiano. Em Macau, apenas 0,7% da população usa o português como língua nativa e cerca de 4% dos macaenses falam esse idioma.[47][48]
A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (sigla CPLP) consiste em nove países independentes que têm o português como língua oficial: Angola, Brasil, Cabo Verde, Timor-Leste, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe.[13] A Guiné Equatorial fez um pedido formal de adesão plena à CPLP em junho de 2010, o que somente é concedido a países que têm o português como idioma oficial.[49] Em 2011, o português foi incluído como sua terceira língua oficial (ao lado do espanhol e do francês) e, em julho de 2014, o país foi aceito como membro da CPLP.[50][51]
O português é também uma das línguas oficiais da região administrativa especial chinesa de Macau (ao lado do chinês) e de várias organizações internacionais como o Mercosul,[52] a Organização dos Estados Ibero-Americanos,[53] a União de Nações Sul-Americanas,[54] a Organização dos Estados Americanos,[55] a União Africana[56] e da União Europeia.[57]
Poderá acrescentar-se a esse número a imensa diáspora de cidadãos de nações lusófonas espalhada pelo mundo, estimando-se que ascenda aos 10 milhões (4,5 milhões de portugueses, 3 milhões de brasileiros, meio milhão de cabo-verdianos, etc.) mas sobre a qual é difícil obter números reais oficiais, incluindo-se nisso a obtenção de dados porcentuais dessa diáspora que fala efetivamente a língua de Camões, uma vez que uma porção significativa será de cidadãos de países lusófonos nascidos fora de território lusófono descendentes de imigrantes, os quais não necessariamente falam o português. É necessário ter-se igualmente em conta que boa parte das diásporas nacionais já se encontra contabilizada nas populações dos países lusófonos, como por exemplo o grande número de cidadãos emigrantes dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOPs) e brasileiros em Portugal, ou o grande número de cidadãos emigrantes portugueses no Brasil e nos PALOPs.[58]
A língua portuguesa, segundo dados de 2021, está no cotidiano de quase 293 milhões de pessoas, distribuídos por nove países e uma região administrativa especial. Os países de língua oficial portuguesa com maior população são o Brasil (212,56 milhões), Angola (32,87 milhões), Moçambique (31,26 milhões) e Portugal (10,2 milhões).[59]
País | População[60][61][62] | Mais informações | Língua nativa majoritária | Falado por |
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Brasil | 203.080.756 | Português brasileiro | 95% da população usa como língua nativa[63] | |
Angola | 36.684.202 | Português angolano | 40% da população usa como lígua nativa, 60% usa no total[63] | |
Moçambique | 33.897.354 | Português moçambicano | 17% da população usa como língua nativa, 44% usa no total[63] | |
Portugal | 10.467.366 | Português europeu | 95% da população usa como língua nativa[63] | |
Guiné-Bissau | 2.150.842 | Português guineense | 0,3% da população usa como língua nativa, 20% usa no total[63] | |
Guiné Equatorial2 | 1.714.671 | Português guinéu-equatoriano | Pequena minoria usa como segunda língua | |
Timor-Leste Timor-Leste | 1.360.596 | Português timorense | 0,1% da população usa como língua nativa; 5% no total[63] | |
Macau1 | 704.149 | Português macaense | 0,5% da população usa como língua nativa, 3% no total[63] | |
Cabo Verde | 598.682 | Português cabo-verdiano | 2% da população usa como língua nativa, 48% no total[63] | |
São Tomé e Príncipe | 231.856 | Português são-tomense | 65% da população usa como língua nativa, 99% total[63] | |
Total | 290.890.474 | Comunidade dos Países de Língua Portuguesa |
- Macau é uma das duas Regiões Administrativas Especiais autônomas da República Popular da China (sendo a outra anglófona Hong Kong, uma antiga colônia britânica).
- Guiné Equatorial adotou o português como uma das suas línguas oficiais em 2007, sendo admitida na CPLP em 2014. O uso da língua portuguesa neste país é limitado.
Visibilidade
Existe um número crescente de pessoas que falam português, nos média e na Internet, que estão apresentando tal situação à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e outras organizações para a realização de um debate na comunidade lusófona, com o objetivo de apresentar uma petição para tornar o português uma das línguas oficiais da Organização das Nações Unidas (ONU). Em outubro de 2005, durante a convenção internacional do Elos Clube Internacional da Comunidade Lusíada, realizada em Tavira (Portugal), uma petição cujo texto pode ser encontrado na Internet com o título "Petição para tornar o idioma português oficial na ONU" foi redigida e aprovada por unanimidade.[64] Rômulo Alexandre Soares, presidente da Câmara Brasil - Portugal, destaca que o posicionamento do Brasil no cenário internacional como uma das potências emergentes do século XXI, pelo tamanho de sua população, e a presença da sua variante do português em todo o mundo, fornece uma justificação legítima para a petição enviada à ONU, e assim tornar o português uma das línguas oficiais da organização.[65] Esta é actualmente uma das causas do Movimento Internacional Lusófono.[66]
Em África, o português é língua oficial em Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Moçambique e Angola.[67] Finalmente, na Ásia, encontra-se Timor-Leste uma nação lusófona.[13]
Em março de 1994 foi fundado o Bosque de Portugal, na cidade sul-brasileira de Curitiba; o parque abriga o Memorial da Língua Portuguesa, que homenageia os imigrantes portugueses e os países que adotam a língua portuguesa; originalmente eram sete as nações que estavam representadas em pilares, mas com a independência de Timor-Leste, este também foi homenageado com um pilar construído em 2007.[68] Em março de 2006, fundou-se em São Paulo o Museu da Língua Portuguesa.[69]
Língua estrangeira
O ensino obrigatório do português nos currículos escolares é observado no Uruguai[71] e na Argentina.[72] Outros países onde o português é ensinado em escolas, ou onde seu ensino está sendo introduzido agora, incluem Venezuela,[73] Zâmbia,[74] República do Congo,[75] Senegal,[75] Namíbia,[75] Essuatíni,[75] Costa do Marfim[75] e África do Sul.[75]
Há também significativas comunidades de imigrantes falantes do português em muitos países como África do Sul,[76] Andorra (18,6%),[77] Austrália,[78] Bermudas,[79][80] Canadá (0,87% ou 274 670 pessoas segundo o censo de 2006,[81] mas entre 400 mil e 500 mil de acordo com Nancy Gomes),[82] Curaçau, França,[nota 2] Guernsey (2%),[84][85] Japão,[86] Jersey (4,6%),[87] Luxemburgo (15,7%),[88] Namíbia (5%),[89][90] Paraguai (10,7% ou 636 mil pessoas),[91] Suíça (3,7%),[92] Venezuela (1 a 2% ou 254 mil a 480 mil pessoas),[93] Uruguai (15%)[94] e nos Estados Unidos (0,24% da população ou 687 126 falantes de acordo com o American Community Survey de 2007),[95] principalmente em Nova Jersey,[96] Nova York[97] e Rhode Island.[98]
Em algumas partes do que era a Índia Portuguesa, como Goa[99] e Damão e Diu,[100] o português ainda é falado, embora esteja em vias de desaparecimento. Segundo estimativas da UNESCO, o português é um dos idiomas que mais crescem entre as línguas europeias após o inglês e o espanhol. O português é o idioma que tem o maior potencial de crescimento como língua internacional na África Austral e na América do Sul.[101] Espera-se que os países africanos falantes da língua portuguesa tenham uma população combinada de 83 milhões de pessoas até 2050. No total, os países de língua portuguesa terão por volta de 400 milhões de pessoas no mesmo ano.[101][102]
Desde 1991, quando o Brasil assinou no mercado econômico do Mercosul com outros países sul-americanos, como Argentina, Uruguai e Paraguai, tem havido um aumento no interesse pelo estudo do português nas nações da América do Sul. O peso demográfico do Brasil no continente continuará a reforçar a presença do idioma na região.[103][104]
Embora no início do século XXI, depois de Macau ter sido cedida à China, o uso de português estivesse em declínio na Ásia, está novamente se tornando uma língua relativamente popular por lá, principalmente por causa do aumento dos laços diplomáticos e financeiros chineses com os países de língua portuguesa.[105]
País | População[106] (est. de julho de 2017) |
Mais informações | Ensino obrigatório | Falado por |
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Uruguai | 3 444 006 | Português no Uruguai | Minoria significativa como língua nativa | |
Argentina | 43 847 430 | Português na Argentina | Minoria como segunda língua | |
Paraguai | 7 052 984 | Português no Paraguai | Minoria significativa como língua nativa | |
Venezuela | 31 568 179 | Português na Venezuela | Minoria como segunda língua | |
África do Sul | 57 725 600 | Português na África do Sul | Pequena minoria como segunda língua | |
Namíbia | 2 606 971 | Português na Namíbia | Pequena minoria como segunda língua | |
República do Congo | 5 125 821 | Português no Congo | Pequena minoria como segunda língua | |
Zâmbia | 16 591 390 | Português na Zâmbia | Pequena minoria como segunda língua | |
Senegal | 15 411 614 | Português no Senegal | Pequena minoria como segunda língua | |
Essuatíni | 1 343 098 | Português em Essuatíni | Pequena minoria como segunda língua |