México
país na América do Norte / De Wikipedia, a enciclopédia encyclopedia
México (pronunciado em português: [ˈmɛʃiku]; pronunciado em castelhano: [ˈmexiko] (escutarⓘ), oficialmente Estados Unidos Mexicanos,[7] é uma república constitucional federal localizada na América do Norte. O país é limitado a norte pelos Estados Unidos; ao sul e oeste pelo Oceano Pacífico; a sudeste pela Guatemala, Belize e Mar do Caribe; a leste pelo Golfo do México.[8] Com um território que abrange quase 2 milhões de quilômetros quadrados,[9] o México é o quinto maior país das Américas por área total e o 14.º maior país independente do mundo. Com uma população estimada para 2020 de 126 milhões de habitantes,[3] é o 11.º país mais populoso do mundo e o mais populoso país da hispanofonia. O México é uma federação composta por 31 estados e a Cidade do México (capital).[10] O México figura também como o segundo país mais populoso e segundo em PIB da América Latina,[11] em ambos os casos superado apenas pelo Brasil.
Estados Unidos Mexicanos | |||||
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Hino nacional: Hino nacional do México | |||||
Gentílico: mexicano | |||||
Capital | Cidade do México | ||||
Cidade mais populosa | Cidade do México | ||||
Língua oficial | espanhol línguas indígenas[nota 1] | ||||
Governo | República federal presidencialista | ||||
• Presidente | Andrés Manuel López Obrador | ||||
• Ministro do Interior | Luisa María Alcalde Luján[2] | ||||
• Presidente do Supremo Tribunal | Luis María Aguilar Morales | ||||
Independência | da Espanha | ||||
• Declarada | 16 de setembro de 1810 | ||||
• Reconhecida | 27 de setembro de 1821 | ||||
Área | |||||
• Total | 1 958 201 km² (14.º) | ||||
• Água (%) | 2,5 | ||||
População | |||||
• Estimativa para 2020 | 126 014 024[3] hab. (10.º) | ||||
• Densidade | 61 hab./km² (142.º) | ||||
PIB (base PPC) | Estimativa de 2018 | ||||
• Total | US$ 2,498 trilhão*[4] (11.º) | ||||
• Per capita | US$ 20 028[4] (64.º) | ||||
PIB (nominal) | Estimativa de 2018 | ||||
• Total | US$ 1 250 trilhão*[4] (16.º) | ||||
• Per capita | US$ 10 021[4] (69.º) | ||||
IDH (2021) | 0,758 (86.º) – alto[5] | ||||
Gini (2010) | 48,2[6] | ||||
Moeda | Peso mexicano (MXN ) | ||||
Fuso horário | (UTC-5 a -8) | ||||
Cód. ISO | MEX | ||||
Cód. Internet | .mx | ||||
Cód. telef. | +52 | ||||
Website governamental | www |
Na Mesoamérica pré-colombiana muitas culturas amadureceram e se tornaram civilizações avançadas como a dos olmecas, toltecas, teotihuacanos, zapotecas, maias e astecas, antes do primeiro contato com os europeus. Em 1521, a Espanha conquistou e colonizou o território mexicano a partir de sua base em Tenochtitlán e administrou-o como o Vice-Reino da Nova Espanha. Este território viria a ser o México com o reconhecimento da independência da colônia em 1821. O período pós-independência foi marcado pela instabilidade econômica, a Guerra Mexicano-Americana e a consequente cessão territorial para os Estados Unidos, uma guerra civil, dois impérios e uma ditadura nacional. Esta última levou à Revolução Mexicana em 1910, que culminou na promulgação da Constituição de 1917 e a emergência do atual sistema político do país. Eleições realizadas em julho de 2000 marcaram a primeira vez que um partido de oposição conquistou a presidência do Partido Revolucionário Institucional.
O México é uma das maiores economias do mundo e uma potência regional,[12][13] e, desde 1994, o primeiro país latino-americano membro da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), sendo um país de renda média-alta consolidada.[14] O México é considerado um dos países recentemente industrializados[15][16][17][18] e uma potência emergente.[19] A nação tem o 13.º maior PIB nominal e o 11.º maior PIB por paridade de poder de compra. A economia está fortemente ligada à dos seus parceiros do Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (NAFTA), especialmente os Estados Unidos.[20][21] O país ocupa o quinto lugar no mundo e o primeiro das Américas em número de Patrimônios Mundiais da UNESCO, com 31 lugares que receberam esse título,[22][23][24] e em 2007 foi o 10.º país mais visitado do mundo, com 21,4 milhões de turistas internacionais.[25]
Depois de a Nova Espanha conquistar a independência do Império Espanhol, foi decidido que o novo país teria o nome de sua capital, a Cidade do México, que foi fundada em 1524 em cima da antiga capital asteca de Tenochtitlan-México. O nome vem da língua nahuatl, mas seu significado é desconhecido. Mēxihco era o termo em nahuatl usado para se referir ao coração do império asteca, o Vale do México, e ao seu povo, os astecas, no que depois se tornou o futuro estado do México como uma divisão da Nova Espanha antes da independência. O sufixo -co é um locativo em nahuatl, o que torna a palavra o nome de um lugar. Além disso, a etimologia do termo ainda é incerta. Tem sido sugerido que ele é derivado de Mextli ou Mēxihtli, um nome secreto para o deus da guerra e patrono dos astecas, Huitzilopochtli, caso em que Mēxihco significa "Lugar onde Huitzilopochtli vive".[26] Outra hipótese[27] sugere que Mēxihco deriva de um amálgama das palavras nahuatl para "Lua" (Metztli) e centro (xīctli). Este significado ("lugar no centro da Lua") pode referir-se à posição de Tenochtitlán no meio do lago Texcoco. O sistema de lagos interligados, dos quais Texcoco formava o centro, tinha a forma de um coelho, que os mesoamericanos associavam pareidoliamente à Lua. Ainda há outra hipótese que sugere que a palavra é derivada de Mēctli, a deusa do agave.[27]
O nome da cidade-Estado foi transliterado para o espanhol como México com o valor fonético da letra <x> no espanhol medieval, que representava a fricativa pós-alveolar surda [ʃ]. Este som, bem como a fricativa pós-alveolar sonora [ʒ], representado por um <j>, evoluiu para uma fricativa velar surda [x] durante o século XVI. Isso levou ao uso da variante Méjico em muitas publicações em espanhol, sobretudo na Espanha, enquanto no México e na maioria dos outros países de língua espanhola México era a grafia preferida. Nos últimos anos, a Real Academia Espanhola, que regulamenta a língua espanhola, determinou que ambas as variantes são aceitáveis no idioma, mas que a grafia normativa recomendada é México.[28]
O nome oficial do país mudou conforme a forma de governo. Em duas ocasiões (1821–1823 e 1863–1867), o país era conhecido como Imperio Mexicano (Império Mexicano). Todas as três constituições federais (1824, 1857 e 1917, a Constituição atual) usavam o nome Estados Unidos Mexicanos[29] ou Estados-Unidos Mexicanos.[30] O nome República Mexicana foi usado nas Leis Constitucionais de 1836.[31] Em 22 de novembro de 2012, o presidente Felipe Calderón enviou ao congresso mexicano uma legislação para mudar o nome oficial do país para simplesmente México. Para entrar em vigor, o projeto precisa ser aprovado por ambas as casas do congresso, assim como pela maioria das 31 legislaturas estaduais do país. Como esta legislação foi proposta apenas uma semana antes de Calderón passar o governo para Enrique Peña Nieto, os críticos de Calderón interpretaram isso como um gesto simbólico.[32]
Culturas pré-colombianas
Há muito debate acerca do povoamento das Américas. Estudos genéticos comprovam a tese de que os ancestrais dos povos ameríndios eram caçadores-coletores asiáticos do leste da Sibéria.[33][34] A data em que o homem chegou à América vindo da Ásia Setentrional é bastante debatida, pois alguns estudiosos propõem que ocorreu há 30 mil anos ou até 40 mil anos, mas tais datas não são aceitas pela comunidade científica, que afirma que a data de chegada foi em algum momento por volta de 20 mil anos atrás.[33][35] Também é debatida a rota de chegada do homem à América a partir da Sibéria: a mais aceita é a da travessia a pé da Beríngia e uma posterior passagem por um corredor terrestre descongelado no extremo norte do continente, mas também é proposta uma rota alternativa por meio da navegação em pequenos barcos próximo ao litoral.[36]
Fogueiras encontradas no Vale do México foram datadas por radiocarbono de 21 000 a.C. e alguns fragmentos de ferramentas de pedra foram encontrados perto das fogueiras, indicando a presença de humanos naquela época.[37] O fóssil humano mais antigo já achado nas Américas, apelidado de Eva de Naharon, datado de 13,6 mil anos atrás, foi encontrado em 2001 no estado de Quintana Roo.[38]
Com o clima mais seco e a mudança na fauna ocorridos com o fim do Último período glacial, por volta de 9500 a.C., os habitantes da Mesoamérica foram forçados a trocar a caça de animais de grande porte pela caça de pequenos animais e a coleta de frutos silvestres. Gradualmente, nos milênios seguintes foi surgindo uma agricultura nessa região e na Aridoamérica,[35] tendo como principais cultivos o milho, feijão, cucurbita e pimenta chili.[39]
Paulatinamente, vilas neolíticas foram se desenvolvendo, originando os embriões de civilizações, em grande parte na área mesoamericana, mas também no atual estado de Chihuahua.[35]
Por volta de 1500 a.C., em uma disputa por região de terras férteis entre os atuais estados de Veracruz e Tabasco, surgiu a primeira civilização na Mesoamérica, a olmeca, cujos principais centros foram San Lorenzo e La Venta. Os olmecas se destacaram por serem os primeiros a criar centros cerimoniais de pedra e por sua arte, que inclui cabeças colossais, máscaras e estatuetas de jade.[35][39]
Entre 100 a.C. e 300 d.C., houve a disseminação de sociedades complexas e civilizações pela Mesoamérica, com forte influência olmeca. Nessa época, surgiu, na região do Vale do México, Teotihuacan, uma grande cidade, com uma população entre 125 e 200 mil habitantes, e centro de uma civilização e de um império político e comercial. Também apareceu nesse mesmo período, na Península de Iucatã, a civilização maia, que se destacou por seus avançados conhecimentos astronômicos e matemáticos e pela sua arquitetura.[35][39]
Entre os séculos VIII e XIII, ocorreu a decadência das civilizações clássicas da Mesoamérica (maias e teotihuacanos), cuja causa ainda é debate entre arqueólogos. Ao mesmo tempo, os toltecas, vindos do norte do México e falantes de uma língua da família uto-asteca, ocuparam o Vale do México e ali criaram a sua civilização, que era o poder religioso, político e comercial da região.[35][39]
Por volta do século XIII, os astecas, um povo falante de língua uto-asteca oriundo do noroeste do México, ocuparam o Vale do México e destruíram a civilização tolteca, estabelecendo em seu lugar a civilização asteca. Em 1325, fundaram, em uma ilha do Lago de Texcoco, a sua capital, Tenochtitlán. Essa civilização subjugou os povos vizinhos e se tornou a força dominante na região da Mesoamérica.[35][39]
Estimativas populacionais apontam para uma população de 6 a 25 milhões de habitantes na região do atual México na época da conquista espanhola.[40][41]
Colonização espanhola (1519–1821)
As primeiras expedições espanholas no México partiram de Cuba a mando do governador Diego Velázquez de Cuéllar e exploraram a região da Península de Iucatã e a costa do Golfo do México, sendo elas as de Francisco Hernández de Córdoba (1517) e Juan de Grijalva (1518).[35]
Em março de 1519, Hernán Cortés desembarcou no litoral de Tabasco. Pouco tempo depois, fundou a cidade de Veracruz, base para a conquista do Império Asteca, de onde partiu em direção a Tenochtitlán, chegando ali em novembro, tendo contatos amistosos com os astecas. No entanto, os espanhóis sequestraram o imperador asteca Montezuma II em seguida, assim iniciando conflitos. Cortés foi forçado a voltar para Veracruz, para lutar contra as tropas do governador de Cuba, de quem havia se tornado inimigo, e deixou seus homens em Tenochtitlán. Em junho de 1520, Montezuma foi substituído por Cuitláhuac, que ordenou uma guerra total contra os conquistadores, o que resultou no episódio conhecido como Noite Triste, no qual metade dos espanhóis morreu. Após uma epidemia de varíola, doença introduzida pelos europeus, que dizimou milhões de indígenas, e a formação de alianças com tribos inimigas dos astecas, em abril de 1521 as tropas de Cortés iniciaram o Cerco de Tenochtitlan, que finalizou-se em agosto, com a rendição do último imperador asteca, Cuauhtémoc. Nos anos seguintes, os europeus conquistaram o restante do Império Asteca, anexando-o ao Império Espanhol.[35][42]
A conquista militar foi acompanhada pela cristianização e aculturação dos povos indígenas.[43][44][45]
Depois da conquista do Império Asteca, os conquistadores rapidamente subjugaram a maioria das outras tribos do sul do México ao seu domínio e o estenderam até o sul da Guatemala e Honduras. Iniciou-se, em 1526, a conquista da Península de Iucatã, aonde ainda existiam povos maias, com sua civilização em decadência, mas houve forte resistência indígena e os espanhóis só conseguiram conquistar toda a região vinte anos depois. Entre 1530 e 1536, o atual estado de Jalisco e outras regiões da costa mexicana do Pacífico foram conquistados por Nuño de Guzmán. A conseguinte descoberta de jazidas de metais preciosos nos estados de Zacatecas, Guanajuato e San Luis Potosí iniciou a colonização do centro-norte do México.[35] A colonização do norte do México pelo espanhóis ocorreu apenas a partir do final do século XVI, devido à resistência indígena local e ao fato de a região ser predominantemente desértica, e o que atraiu primeiro os colonizadores para essa área foi a procura por pedras preciosas, mas acabaram colonizando-a por meio da agropecuária.[35][46]
Em 1535, foi criado o Vice-Reino da Nova Espanha, o primeiro da América Hispânica,[47] que floresceu graças à mineração de prata.[48]
Na segunda metade do século XVIII, surgiram as primeiras ideias separatistas no México, causadas pelas reformas do rei espanhol Carlos III, que reforçaram e centralizaram o poder da Espanha sobre as colônias e o mercantilismo, e o Iluminismo, movimento que levava ao questionamento do absolutismo. Além disso, as revoluções Americana e Francesa também estimularam o separatismo não apenas na Nova Espanha, mas também em outras colônias espanholas.[35][49]
Independência (1810–1821)
Em 1808, Napoleão Bonaparte invadiu a Espanha, tirou do trono Fernando VII e nomeou como rei o seu irmão José Bonaparte. Este foi o estopim para a independência do México.[35]
Em 16 de setembro de 1810, o Padre Miguel Hidalgo emitiu na cidade de Dolores Hidalgo, Guanajuato, o Grito de Dolores, clamando a população para lutar pelo fim do domínio espanhol e pela igualdade de todos.[35][50] O primeiro grupo insurgente era formado por Hidalgo, o capitão do exército vice-reinal espanhol Ignacio Allende, o capitão de milícias Juan Aldama e "La Corregidora" Josefa Ortiz de Domínguez. Hidalgo e alguns de seus soldados foram capturados pelas tropas realistas e executados por um pelotão de fuzilamento em Chihuahua em 31 de julho de 1811. Após sua morte, a liderança foi assumida pelo padre José María Morelos, que ocupou as principais cidades do sul.[51]
Em 1813, foi convocado o Congresso de Chilpancingo e, em 6 de novembro, foi assinada a Ata solene da declaração de independência da América Setentrional.[52] Morelos foi executado por tropas metropolitanas em 22 de dezembro de 1815. Grupos guerrilheiros, cada vez menores, continuaram a luta pela independência, com o legado de Hidalgo e Morelos.[35]
Nos anos seguintes, a revolta esteve perto do colapso, mas em 1820 o vice-rei Juan Ruiz de Apodaca enviou um exército sob o comando do general crioulo Agustín de Iturbide contra as tropas de Vicente Guerrero. Em vez de lutar, Iturbide aproximou-se de Guerrero para juntar forças.[52] Iturbide foi apoiado pelos conservadores, temerosos de que a constituição espanhola liberal restaurada em 1820 tirasse os direitos e privilégios do clero.[35]
Em 1821, foi criado o Exército Trigarante, com as três garantias do Plano de Iguala (independência, união e preservação do Catolicismo), que conquistou a maior parte do território mexicano. O chefe das tropas espanholas, pressionado, foi forçado a assinar o Tratado de Córdoba em 24 de agosto daquele ano, por meio do qual a Espanha reconheceu a independência Nova Espanha, passando a ser o México, e assegurava que um imperador seria eleito caso um príncipe europeu adequado ao trono não fosse escolhido. Enquanto isso, uma regência interina governava o novo país.[35]
Primeiro Império e Primeira República (1821–1846)
Em maio de 1822, Iturbide foi aclamado Imperador, com o título de Agostín I. No entanto, a relação com o Congresso foi se deteriorando e o monarca mandou fechá-lo no final de outubro daquele ano, passando a governar por meio de uma junta, o que o fez perder popularidade entre a elite e os militares. Em dezembro de 1822, o General Antonio López de Santa Anna proclamou a república e o imperador foi forçado a renunciar e ir para o exílio, mas retornou ao México em 1824, sendo preso e executado logo em seguida.[35]
Até a adoção da primeira Constituição mexicana, em 1824, o país vivia grandes dificuldades econômicas, pois a economia estava se deteriorando, a dívida externa aumentando e muitas revoltas militares ocorriam devido à falta de dinheiro para pagar o Exército.[35]
Em 1824, foi aprovada a primeira Constituição, que estabelecia um sistema federalista e excluía a imensa maioria da população da participação política. Como a escravidão nunca foi predominante no México e já havia diminuído muito, a sua abolição, em 1829, foi algo mais simbólico.[35]
Os primeiros anos da República foram caracterizados pela instabilidade política econômica e pelo embate entre os conservadores, favoráveis a um Estado unitário e ao Catolicismo como religião oficial, e os liberais, adeptos de um Estado federal e secular.[35][53]
Em 1836, o general Antonio López de Santa Anna, um centralista e ditador por duas vezes, aprovou as Siete Leyes, uma alteração radical que institucionalizou a forma centralizada de governo. Quando ele suspendeu a Constituição de 1824, uma guerra civil espalhou-se por todo o país e as repúblicas do Rio Grande e de Yucatán declararam independência.[54] Devido à forte presença de estadunidenses na região do Texas, ela declarou sua independência também em 1836, sendo anexada aos Estados Unidos como um estado em 1845.[35]
Disputas fronteiriças levaram à Guerra Mexicano-Americana (1846–1848), cujo estopim foi um confronto entre tropas de ambos os países em abril de 1846. O conflito foi encerrado por meio do Tratado de Guadalupe Hidalgo (2 de fevereiro de 1848), por meio do qual o México cedeu metade do seu território — Califórnia, Arizona e Novo México — aos Estados Unidos.[35][55] Uma transferência muito menor de território, em partes do sul do Arizona e do Novo México — Compra Gadsden — ocorreu em 1854.[55]
A Guerra das Castas de Yucatán, a revolta maia, que começou em 1847,[56] foi uma das mais bem-sucedidas revoltas modernas de indígenas americanos.[57] Rebeldes maias, ou cruzob, mantiveram enclaves relativamente independentes até a década de 1930.[58]
Segundo Império e Segunda República (1855–1876)
A insatisfação com o retorno de Santa Anna ao poder levou ao surgimento de uma nova geração da oposição liberal, cujo principal nome era o do indígena zapoteca Benito Juárez. Seus membros assinaram o Plano de Ayutla (1854). No ano seguinte, Santa Anna foi deposto por uma revolta liberal e Ignacio Comonfort assumiu a presidência. O novo governo adotou reformas, conhecidas como La Reforma, cujo principal arquiteto foi Juárez: os militares e clero perderam privilégios e a Igreja foi forçada a vender suas terras. Em 1857, foi adotada uma nova Constituição, de caráter liberal e progressista, estabelecendo o México como um país federal e democrático e diminuindo o poder da Igreja. Comonfort renunciou logo em seguida, sendo substituído por Juárez. As medidas laicistas e anticlericais da nova Carta Magna irritaram os conservadores, levando a uma guerra civil, a Guerra da Reforma, entre liberais e conservadores. Em janeiro de 1861, os liberais conquistaram a Cidade do México, vencendo a guerra, e proclamaram Juárez presidente.[35][59][60]
Derrotados, os conservadores mexicanos pediram ajuda para o imperador da França Napoleão III, que viu o país como uma base estratégica para os planos franceses na América Latina. Em dezembro de 1861, navios franceses, espanhóis e britânicos desembarcaram no México e começaram a invadir o país, sob o pretexto de dívidas do governo mexicano com essas potências europeias. Por causa de desacordos com a forma de cobrar as dívidas, Reino Unido e Espanha deixaram a empreitada e a França continuou a invasão, chegando à Cidade do México em 10 de junho de 1863. Napoleão transformou o México em um Império novamente e coroou um aliado, o príncipe austríaco Maximiliano de Habsburgo, como monarca do país.[35]
Maximiliano tentou adotar uma política de conciliação nacional, mas suas intervenções nas Forças Armadas Mexicanas e a manutenção de medidas laicistas e anticlericais o fizeram perder apoio dos conservadores. Enquanto isso, Benito Juárez liderava um governo paralelo.[35]
A presença de tropas no México estava custando caro aos cofres franceses e, após o fim da Guerra Civil Americana, os Estados Unidos pediram a Napoleão III para retirar suas tropas do vizinho e a interrupção da contratação de mercenários austríacos para o Exército Imperial Mexicano, o que foi feito. Sem as tropas francesas, as tropas imperiais foram sendo derrotadas gradativamente pelas forças republicanas. Em 15 de maio de 1867, Maximiliano e seu exército se renderam ante às tropas lideradas por Juárez e o imperador rendido foi fuzilado pouco mais de um mês depois.[35]
Ao retornar à presidência, em 1867, Juárez adotou políticas de reconstrução do México, graças à ajuda financeira dos Estados Unidos, e gradualmente reatou relações com os países europeus, além de continuar com certas reformas. No entanto, muitos liberais começaram a se opor ao presidente, pois estava se tornando um líder autoritário e conseguiu a reeleição inconstitucionalmente em 1871. Juárez faleceu em julho de 1872 e assumiu a presidência Sebastián Lerdo de Tejada, seu aliado, que enfrentou uma oposição conservadora.[35][60]
Porfiriato (1876–1911)
Em 1876, Lerdo foi deposto pelo General Porfirio Díaz.[60]
Díaz governou o México pela primeira vez entre 1876 e 1880. Entre 1880 e 1884, o poder esteve nas mãos de seu aliado Manuel González. Em 1884, Porfirio retornou ao poder, ali permanecendo até 1911, sendo reeleito cinco vezes consecutivas. O período entre 1876 e 1911 ficou conhecido como Porfiriato, caracterizado pela continuidade do projeto modernizante que Juárez e Lerdo elaboraram e implementaram, notáveis realizações econômicas, investimentos nas artes e ciências, mas essas medidas beneficiaram apenas a elite mexicana e houve uma forte desigualdade econômica e repressão política.[35][61] As primeiras indústrias nas grandes cidades surgiram nessa época e os operários eram bastante explorados e ganhavam salários baixos.[35]
Díaz governou com um grupo de confidentes que ficaram conhecidos como os científicos, dos quais o mais influente foi o secretário da Fazenda, José Yves Limantour. O regime porfiriano foi influenciado pelo positivismo.[62]
O Porfiriato levou a desigualdades no desenvolvimento que causaram tensões: as desigualdades setoriais, pois as exportações de produtos mineradores e de matérias-primas estavam crescendo consideravelmente, enquanto os alimentos e os bens de consumo estavam mais escassos, e desigualdades entre regiões. A produção de milho caiu de 2,5 milhões em 1877 para 2 milhões em 1910, enquanto a população aumentou, o que, traduzido em produção per capita, representou uma redução de 50%.[63] A propriedade em grande escala gerou uma forte concentração fundiária. No final da presidência de Díaz, 97% da terra arável pertencia a 1% da população e 95% dos camponeses perderam suas terras, tendo que se tornar trabalhadores agrícolas em latifúndios ou migrar para as cidades e trabalhar nas indústrias, formando um miserável proletariado urbano, cujas revoltas seriam esmagadas uma a uma.[64]
Revolução Mexicana (1910–1920)
Em 1910, Porfirio Díaz venceu as eleições de modo fraudulento. O candidato derrotado da classe média, Francisco I. Madero, não aceitou os resultados. Ao mesmo tempo, grupos camponeses, liderados no norte por Pancho Villa e no sul por Emiliano Zapata, pegaram em armas para exigir a deposição de Díaz e reformas sociais em prol da massa camponesa e indígena, como a reforma agrária. Iniciou-se, assim, a Revolução Mexicana.[48][65]
Em 1911, Díaz foi deposto e Madero assumiu a presidência. No entanto, o novo presidente enfrentou dissidências na elite e entre os camponeses e não fez a reforma agrária e, devido a isso, os revolucionários se recusaram a depor as armas. Em 1913, Madero foi deposto e morto pelo General Victoriano Huerta, que tentou reprimir os camponeses. Com isso, Villa e Zapata se aliaram ao movimento constitucionalista liderado por Venustiano Carranza, liberal.[65]
Em 1914, Huerta foi deposto. Carranza assumiu a presidência e fez reformas sociais, mas a reforma agrária não foi cumprida, o que levou os revolucionários de volta à luta armada em 1915.[65] Em 1917, foi promulgada uma nova Constituição, que persiste até hoje,[48] na qual foi estabelecida a educação gratuita e obrigatória, direitos trabalhistas básicos e o poder do Estado de fazer a reforma agrária.[35]
Os adversários políticos mandaram assassinar Zapata em 1919 e Villa em 1923.[35]
Estima-se que a Revolução Mexicana matou 900 mil pessoas de uma população de 15 milhões de habitantes em 1910.[66]
Governo do PRI (1920–1990)
Assassinado em 1920, Carranza foi sucedido por um outro herói revolucionário, Álvaro Obregón (1920–1924), que por sua vez foi sucedido por Plutarco Elías Calles (1924–1928). Obregón foi eleito para um novo mandato em 1928, mas foi assassinado antes que pudesse assumir o poder. Sob os governos de Obregón, Calles e Emilio Portes Gil (1928–1930), a reforma agrária reconhecida pela Constituição de 1917 começou a ser implementada. As condições de vida melhoraram e a taxa de mortalidade infantil caiu de 224,4‰ para 137,7‰ entre 1923 e 1931. Foi feito um esforço sério em favor da educação: o orçamento da educação ascendeu a 14% das despesas do Estado e o número de escolas rurais triplicou. A taxa de alfabetização para os maiores de 10 anos aumentou de 25% em 1924 para 51% em 1930.[63]
Em 1929, Calles fundou o Partido Nacional Revolucionário (PNR), mais tarde rebatizado de Partido Revolucionário Institucional (PRI), para enfatizar a valorização das instituições do país, e iniciou um período conhecido como Maximato (1929–1934).[67] Em 1934, o militar Lázaro Cárdenas foi eleito presidente e durante o seu governo (1934–1940), de tendência nacionalista e populista, houve uma ampliação da reforma agrária e a implementação de várias reformas econômicas e sociais. O seu mais importante feito foi a nacionalização do petróleo em 18 de março de 1938, o que provocou uma crise diplomática com os países cujos cidadãos tinham perdido negócios pela desapropriação das empresas petrolíferas estrangeiras.[67][68]
O sucessor de Cárdenas, Manuel Ávila Camacho (1940–1946), adotou uma política interna conciliatória e seu governo foi o início de uma fase de desenvolvimento industrial do país. No contexto da Segunda Guerra Mundial, a gestão Ávila firmou um acordo com os Estados Unidos, por meio do qual o México fornecia matéria-prima aos estadunidenses e, em troca, estes davam empréstimos para auxiliar a economia do vizinho hispânico. Em 1942, o México declarou guerra às potências do Eixo, pois dois de seus navios-tanque foram afundados por submarinos alemães. A maior contribuição militar mexicana na Guerra foi o envio de unidades aéreas para lutar junto com os Estados Unidos nas Filipinas.[35]
Nas décadas após a Segunda Guerra Mundial, o México experimentou um substancial crescimento econômico, o que alguns historiadores chamam de "milagre mexicano".[69] Obras de infraestrutura, como usinas hidrelétricas, ferrovias e rodovias, foram construídas e a indústria petroquímica se desenvolveu.[35] Apesar de a economia ter florescido, a desigualdade social continuou sendo um fator de descontentamento. Além disso, durante os governos do PRI, o estado mexicano estava se tornando cada vez mais autoritário e às vezes opressivo,[70] como no Massacre de Tlatelolco em 1968,[71] que custou a vida de cerca de 200 a 1500 manifestantes.[72]
As reformas eleitorais e a crise petrolífera mundial de 1973 marcaram a administração de Luis Echeverría (1970–1976).[73][74] A queda nas exportações e no preço do petróleo e o aumento da taxa dos juros levaram à crise econômica de 1982, quando o governo decretou a moratória da dívida externa. O governo de Miguel de la Madrid (1982–1988) recorreu à desvalorização da moeda, o que, por sua vez, provocou mais inflação.[48][75]
Na década de 1980, as primeiras rachaduras na posição de monopólio político do PRI eram vistas com a eleição de Ernesto Ruffo Appel no estado da Baixa Califórnia e a fraude eleitoral em 1988, o que impediu o candidato de esquerda Cuauhtémoc Cárdenas de ganhar as eleições presidenciais nacionais, perdendo para Carlos Salinas de Gortari e levando a protestos maciços na Cidade do México.[76]
Período contemporâneo (1990–)
O governo de Salinas (1988–1994) embarcou em um programa de reformas neoliberais, que fixou a taxa de câmbio, controlou a inflação e culminou com a assinatura do Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (NAFTA), que entrou em vigor em 1 de janeiro de 1994. No mesmo dia, o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) iniciou uma rebelião armada de duas semanas de duração contra o governo federal e continuou nos anos seguintes como um movimento de oposição não violento contra o neoliberalismo e a globalização.[79]
No início do governo de Ernesto Zedillo (1994–2000), houve uma grave crise econômica no México, provocada pela abertura às importações e o consequente déficit na balança comercial, conhecida como efeito tequila, e a moeda se desvalorizou.[48] Com um rápido pacote de resgate estadunidense autorizado pelo presidente Bill Clinton e as principais reformas macroeconômicas iniciadas por Zedillo, a economia recuperou-se rapidamente e atingiu um crescimento de quase 7% ao ano até o final de 1999.[80]
Nos anos 1990, houve um crescimento na oposição mexicana, cujos principais partidos eram o conservador Partido de Ação Nacional (PAN) e o esquerdista Partido da Revolução Democrática (PRD).[35] Nas eleições legislativas de 1997, pela primeira vez em 68 anos, o PRI perdeu a maioria no Legislativo.[48]
Após reformas eleitorais, o México realizou, em 2000, sua primeira eleição presidencial sem fraudes, vencida pelo candidato Vicente Fox (PAN), quebrando a hegemonia de 71 anos do PRI na presidência.[48] O governo de Fox (2000–2006) continuou com políticas neoliberais e prometia o combate à corrupção e ao narcotráfico. Essa gestão também convocou uma comissão para investigar os abusos aos direitos humanos ocorridos durante a Guerra Suja Mexicana nos anos 1960 a 1980.[35]
As eleições de 2006 foram uma das mais acirradas da história mexicana. O candidato governista, Felipe Calderón (PAN), foi eleito presidente com estreitíssima margem sobre Andrés Manuel López Obrador (PRD), mais conhecido como AMLO. Obrador e seus apoiadores não reconheceram o resultado das urnas e exigiram a recontagem dos votos. Calderón tomou posse em dezembro, enquanto AMLO se autoproclamou presidente paralelo.[48]
Durante o governo Calderón (2006–12), foi aprovada uma legislação que reformou o sistema judiciário, trabalhou-se para fortalecer o sistema energético. No entanto, o que mais se destacou nesse período foi o início da controversa guerra contra os cartéis de drogas,[35] bastante criticada por manter as altas taxas de violência, por gerar milhares de mortos e ter tido poucas soluções.[81][82] A crise econômica mundial de 2008 afetou duramente a economia mexicana, pois a recessão foi iniciada no seu maior parceiro comercial, os Estados Unidos. Os efeitos da crise pioraram por causa do grande número de casos de uma nova modalidade de gripe, a gripe suína, que rapidamente se espalhou pelo mundo. A situação econômica fortaleceu o PRI, que derrotou o governo nas eleições parlamentares de 2009.[48]
As eleições presidenciais de 2012 significaram o retorno do PRI, com a eleição para a presidência de Enrique Peña Nieto, que derrotou López Obrador (PRD) e Josefina Vázquez (PAN). Respondendo às alegações de AMLO de supostas violações à lei eleitoral e fraude nas urnas, o órgão eleitoral recontou os votos da maioria dos locais de votação e confirmou a vitória de Peña Nieto.[35]
Logo no início do governo de Peña Nieto (2012–8), o novo presidente anunciou um plano com uma ampla agenda de reformas, que seria aplicada gradualmente, cuja efetivação se iniciou em fevereiro de 2013, com a reforma educacional e, em seguida, as reformas financeira e energética.[48] Em 2014, houve um aumento da imigração de centro-americanos para os Estados Unidos, fugindo da criminalidade em seus países de origem, e o governo mexicano respondeu adotando medidas mais rígidas contra a imigração ilegal. No mesmo ano, foi aplicada a reforma política e eleitoral.[35]
No final do governo de Peña Nieto, houve uma série de escândalos de corrupção, alguns deles envolvendo sua esposa, e a violência atingiu recordes. Isso favoreceu a vitória de López Obrador nas eleições de 2018, dessa vez pelo partido de esquerda Movimento Regeneração Nacional, por ele fundado em 2014.[35] Obrador ganhou as eleições com mais da metade dos votos e venceu em todos os estados do país (exceto em Guanajuato), inclusive no norte que nunca o apoiara, tomando posse em 1° de dezembro de 2018.[83]
No início de seu governo, Obrador adotou políticas de distribuição de renda às camadas mais pobres, aumentou o salário-mínimo e fez uma reforma trabalhista. O presidente prometeu acabar com o capital privado na estatal petrolífera Pemex. A pandemia de COVID-19 afetou fortemente o México, com a maior queda no PIB em quase 90 anos, e o governo foi criticado por não testar a população contra a doença. Em 2021, a aliança governista manteve a maioria legislativa e, no ano seguinte, com altas taxas de aprovação, um plebiscito, com 40% da participação esperada, apoiou a permanência de AMLO na presidência.[35]