Metalepse
De Wikipedia, a enciclopédia encyclopedia
A metalepse é uma figura de estilo (do gênero metalepsis, que significa “transposição”) que toma o antecendente pelo consequente, e vice-versa; ou seja, quando queremos dar a entender uma coisa por outra que a precede no discurso. Trata-se de uma figura quase dispensável na sua aplicação estilística, pois o efeito desejado é, a rigor, o mesmo que se obtém com um eufemismo, uma alusão e, sobretudo, uma metonímia, embora esta esteja dependente de uma relação entre proposições únicas e não entre orações completas como pode acontecer com a metalepse.[1] Se retratamos: “choramos o nosso pai” por “o nosso pai morreu”, é dada uma forma de metalepse (damos a entender a causa pela sua consequência) que comporta, a nível da significação, uma atitude eufemística mais relevante. O movimento oposto também pode ocorrer, Por exemplo, o ensinamento de Abraão é uma antimetalepse ou metalepse por antimetábole: “O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado.” (Marcos: 2, 27), porque se toma o consequente (“sábado”) pelo antecedente (“homem”). Em qualquer caso, as propriedades da metalepse são idênticas às do discurso figurado, aproximando-se ainda da natureza da metáfora por querer significar uma coisa por outra que com ela se relaciona semanticamente.
Este artigo ou parte de seu texto pode não ser de natureza enciclopédica. (Janeiro de 2022) |
Em narratologia, toda a transposição de um nível narrativo para outro nível narrativo pode ser classificada como metalepse, pois envolve a participação extraordinária de elementos estranhos a uma narrativa principal, que nela entram activamente, como narratários ou como personagens marginais. A situação mais comum é a interpelação ao leitor ou a construção de um diálogo imaginário constante com o leitor, como se este fosse testemunha do acto de criação literária. É descrito isso, por exemplo, em A Morgadinha do Canaviais, de Júlio Dinis: “O leitor não me perdoaria, se me visse passar estouvadamente por diante da prima Madalena, sem um olhar de homenagem à sua juventude e ao seu tipo feminino. Reparemos, pois.”[2]