Movimentos de praças no Brasil na década de 1960
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Praças — militares abaixo das patentes de oficiais — das Forças Armadas do Brasil protagonizaram as revoltas dos sargentos, em 1963, e dos marinheiros, em 1964, como parte de movimentos de caráter corporativo e político organizados no início dos anos 60, com participação também de policiais militares e bombeiros. Eram parte importante da esquerda militar e estavam próximos da base de apoio do presidente João Goulart. A reação entre os oficiais foi forte e negativa, sendo um dos fatores por trás do golpe de Estado de 1964, após o qual foram reprimidos.
As praças, como sargentos e marinheiros, vêm principalmente das classes baixas e formam a maior parte do efetivo militar. Sua organização era por associações de classe, e suas demandas, tanto internas quanto externas à instituição. Queriam ganhar mais oportunidades de carreira, alterar os regulamentos disciplinares e às restrições à vida privada, como ao casamento, trabalhar em melhores condições e poder participar da política. Em todos esses quesitos, tinham menos direitos que os oficiais. Externamente, defendiam as reformas de base do presidente e associavam-se a políticos como Leonel Brizola e aos movimentos sindical, agrário e estudantil. Junto ao dispositivo militar governista entre os oficiais, deveriam proteger o presidente. Numa crise política, tinham relevância potencial se lançassem mão de seu “instrumento de trabalho”, o fuzil, mas as ideias não evoluíram para a organização concreta de uma força militar.
Os subalternos militares aderiram à Campanha da Legalidade, em 1961, tendo importante papel em manter unidades militares a favor da posse de Goulart. Seus movimentos lançaram diversos candidatos ao Legislativo nas eleições gerais de 1962, mas a lei restringia a elegibilidade. A recusa do Supremo Tribunal Federal em aceitar a elegibilidade dos sargentos motivou uma revolta armada em Brasília em 1963. Participaram sargentos da Marinha e Aeronáutica, mas não aderiram os do Exército, que derrotou o levante; os movimentos eram mais fracos nos sargentos do Exército, que em sua maioria permaneceram leais aos comandantes no período. Alguns oficiais tinham simpatia, mas o oficialato em geral foi ofendido pela indisciplina, e as autoridades militares agiram contra a mobilização. A revolta dos marinheiros no Rio de Janeiro e a reunião de praças com Goulart no Automóvel Clube, em março de 1964, figuraram entre os fatores imediatos para o golpe militar contra o presidente. Entre praças houve alguns esboços de reação, mas sem impedir seu sucesso. Na ditadura militar os movimentos foram desmobilizados e um pequeno número de seus participantes ingressou na luta armada contra o regime, mas a condição das praças teve mudanças.
A mobilização das praças apareceu em meio a uma grande atividade de movimentos sociais na primeira metade dos anos 60, e teve precedentes como a Revolta da Chibata, em 1910, e inúmeras revoltas na Era Vargas, acrescentando um capítulo à relevância das baixas patentes nos movimentos militares ao longo da história brasileira.