Países Baixos
país no noroeste da Europa com territórios no Caribe / De Wikipedia, a enciclopédia encyclopedia
Os Países Baixos (em neerlandês: Nederland AFI: [ˈneːdərˌlɑnt] (escutarⓘ), literalmente "país baixo"), conhecidos informalmente como Holanda,[8] é uma nação constituinte do Reino dos Países Baixos (ou Reino de Neerlândia; do neerlandês nederland) localizada na Europa ocidental. O país é uma monarquia constitucional parlamentar democrática banhada pelo mar do Norte a norte e a oeste, que faz fronteira com a Bélgica a sul e com a Alemanha a leste. A capital é Amesterdãopt ou Amsterdãbr e a sede do governo é na cidade de Haia.
Países Baixos Nederland | |||||
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Lema: Ik zal handhaven (neerlandês) Je maintiendrai (francês) "Eu manterei" | |||||
Hino nacional: Het Wilhelmus "O Guilherme" | |||||
Gentílico: neerlandês ou holandês[1] | |||||
Localização dos Países Baixos (em verde escuro) na União Europeia (em verde claro) no continente europeu (em cinza escuro) Localização do Caribe Neerlandês, parte do Reino dos Países Baixos. | |||||
Capital | Amesterdão [a] PT Amsterdã BR 51° 55’ N 5° 34’ E | ||||
Cidade mais populosa | Amesterdão | ||||
Língua oficial | neerlandês [b] | ||||
Governo | Monarquia constitucional parlamentarista unitária | ||||
• Monarca | Guilherme Alexandre[2] | ||||
• Primeiro-ministro | Mark Rutte | ||||
• Vice-primeiro-ministro | Hugo de Jonge Kajsa Ollongren Carola Schouten | ||||
Legislatura | Estados Gerais | ||||
• Câmara alta | Primeira Câmara | ||||
• Câmara baixa | Segunda Câmara | ||||
Independência | da Espanha | ||||
• Declarada | 26 de julho de 1581 (442 anos) | ||||
• Reconhecida | 30 de janeiro de 1648 (376 anos) | ||||
Entrada na UE | 25 de março de 1957 (membro cofundador) | ||||
Área | |||||
• Total | 41 528 km² (131.º) | ||||
• Água (%) | 18,41 | ||||
Fronteira | Alemanha e Bélgica | ||||
População | |||||
• Estimativa para 2023 | 17 958 700[3] hab. (66.º) | ||||
• Densidade | 405,6 hab./km² (23.º) | ||||
PIB (base PPC) | Estimativa de 2014 | ||||
• Total | US$ 798 106 bilhões *[4] (21.º) | ||||
• Per capita | US$ 47 365[4] (8.º) | ||||
PIB (nominal) | Estimativa de 2014 | ||||
• Total | US$ 880 394 bilhões *[4] (16.º) | ||||
• Per capita | US$ 52 248[4] (9.º) | ||||
IDH (2019) | 0,944 (8.º) – muito alto[5] | ||||
Gini (2009) | 30,9 | ||||
Moeda | Euro [c] (EUR ) | ||||
Fuso horário | CET (UTC+1) | ||||
• Verão (DST) | CEST (UTC+2) | ||||
Cód. ISO | NLD | ||||
Cód. Internet | .nl [d] | ||||
Cód. telef. | +31 | ||||
Website governamental | www | ||||
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Geograficamente, os Países Baixos são um país de baixa altitude, com cerca de 27% de sua área e 60% de sua população situados abaixo do nível do mar.[9][10] Uma significativa parte de seu território foi obtida através da recuperação e preservação de terras através de um elaborado sistema de pôlderes e diques. Grande parte dos Países Baixos é formada por um grande delta, o delta do Reno e Mosa.
Os Países Baixos são um país densamente povoado que é conhecido por seus moinhos de vento, tulipas, tamancos, cerâmica de Delft, queijo gouda, artistas visuais, bicicletas e, além disso, pelos valores tradicionais e virtudes civis, tais como a sua tolerância social, tendo se tornado conhecido por sua política liberal em relação as drogas, prostituição, eutanásia e aborto. É um dos países com melhor qualidade de vida do mundo, fator pelo qual possui um dos melhores Índices de Desenvolvimento Humano da Europa e do mundo, segmentado em sua forte política de assistência social e direitos considerados essenciais, como educação, saúde e segurança de qualidade, garantidos em nível máximo a seus habitantes. O país possui uma das economias capitalistas mais livres do mundo — 13ª posição entre 180 países de acordo com o Índice de Liberdade Econômica em 2019.[11]
Entre outras afiliações, o país é membro fundador da União Europeia (UE), da OTAN, da OCDE, da OMC e assinou o Protocolo de Quioto. Junto com a Bélgica e com Luxemburgo, o país constitui a União Económica do Benelux. O país é palco de cinco tribunais internacionais: a Corte Permanente de Arbitragem, o Tribunal Internacional de Justiça, o Tribunal Penal Internacional para a antiga Jugoslávia, o Tribunal Penal Internacional e o Tribunal Especial para o Líbano. Os quatro primeiros estão situados na Haia assim como a sede da agência da UE de informação criminal, a Europol. Isto levou a cidade a ser apelidada de "capital judiciária do mundo".[12]
A região denominada Países Baixos (incluindo Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo) e o País onde se situa a Holanda têm a mesma toponímia. Os nomes de lugares com Neder (ou lage), Nieder, Nether (ou baixo) e Nedre (em idiomas germânicos) e Bas ou inferior (em idiomas romances) estão sendo usados em locais em toda a Europa. Às vezes, eles são usados em uma relação lítica com um terreno mais alto que é consecutivamente indicado como superior, Boven, Oben ou Haut. No caso dos Países Baixos, a localização geográfica da região inferior foi mais ou menos a jusante do nome. A localização geográfica da região superior, no entanto, mudou tremendamente ao longo do tempo, dependendo da localização do poder econômico e militar que rege a área dos Países Baixos. Os romanos fizeram uma distinção entre as províncias romanas da Germania Inferior a jusante (atualmente parte da Bélgica e da Holanda) e da Germania Superior a montante (atualmente parte da Alemanha). A designação 'Baixo' para se referir à região retorna novamente ao ducado do século X do Baixo Lorena, que abrangeu grande parte dos Países Baixos. Mas, desta vez, a região superior correspondente é a Alta Lorena, atualmente no norte da França.[13][14]
Os Duques da Borgonha, que governaram os Países Baixos no século XV, usaram o termo les pays de par deçà ("as terras daqui") para os Países Baixos, em oposição a les pays de par delà ("as terras de lá") para sua terra natal original: Borgonha, na atual região centro-leste da França. Sob o domínio dos Habsburgos, Les pays de par deçà se desenvolveu em pays d'embas ("terras aqui em baixo"), uma expressão deítica em relação a outras possessões dos Habsburgos como Hungria e Áustria. Isso foi traduzido como Neder-landen nos documentos oficiais holandeses contemporâneos. Do ponto de vista regional, Niderlant era também a área entre o Mosa e o baixo Reno no final da Idade Média. A área conhecida como Oberland (país alto) estava neste contexto, considerada como a região da atual Colônia.[15][16][17]
A partir de meados do século XVI, o termo "Países Baixos" perdeu o seu significado lítico original. Ele era provavelmente o nome mais usado, além de Flandres, para designar a região do atual Países Baixos, especialmente na Europa, em língua românica. A Guerra dos Oitenta Anos (1568–1648) dividiu os Países Baixos em uma República Holandesa do norte independente (o país precursor da Holanda) e uma Holanda meridional controlada pela Espanha (o estado precursor da Bélgica). Hoje, os Países Baixos é uma designação que inclui os países da Holanda, Bélgica e Luxemburgo, embora na maioria dos idiomas romances, o termo "Países Baixos" seja usado como o nome especificamente dos Países Baixos. É usado como sinônimo do termo mais neutro e geopolítico Benelux.[15]
Em sentido estrito, o nome Holanda designa a região formada pelas províncias de Holanda do Norte e Holanda do Sul. Existem ainda as alternativas "Neerlândia",[18] e "Nederlândia",[19] pouco utilizadas.
Em 2019, o governo dos Países Baixos lançou uma campanha para que a nação seja mundialmente conhecida pelo seu nome correto e que o topônimo "Holanda" seja evitado para fazer menção a todo país.[20][21]
Em 1 de Janeiro de 2020, a Holanda passou a ter um novo logotipo e a designar-se oficialmente por Netherlands, i.e., Países Baixos.[22]
Pré-História, Roma e Idade Média
Os Países Baixos têm sido habitados desde a última glaciação; os vestígios mais antigos encontrados têm uma antiguidade de 100 000 anos, quando o país possuía um clima de tundra com uma vegetação muito escassa. Seus primeiros povoadores eram caçadores-coletores.[23] Ao final da Era do Gelo a área passou a ser habitada por vários grupos paleolíticos. Um destes grupos fabricava inclusive canoas (6 500 a.C.)[24] A agricultura chegou por volta do ano de 5 000 a.C. porém somente foi praticada nas planícies do extremo sul do país (Limburgo do Sul). Os coletores-caçadores da cultura Swifterbant estiveram presentes a partir de 5 600 a.C.[25] Eles desenvolveram uma sociedade agrícola entre 4 300−4 000 a.C.[26][27] Os primeiros restos notáveis da Pré-História foram os dólmens que foram encontrados na província de Drente, e foram provavelmente construídos pelas pessoas pertencentes à cultura de Funnelbeaker entre 4 100 e 3 200 a.C.[28]
A primeira evidência do uso de rodas está datada em torno de 2 400 a.C., e provavelmente está relacionada com a cultura do vaso campaniforme.[29] Esta cultura também demonstrou algumas experiências com o uso do cobre. A Idade do Bronze provavelmente começou ao redor de 2 000 a.C. como é o caso da tumba do "Ferreiro de Wageningen".[30] Depois desta descoberta, mais objetos da Idade do Bronze apareceram, como em Epe, Drouwen e principalmente em Drente, que devido a grande quantidade de objetos encontrados como contas de estanho, colares etc. indica-nos que era um centro comercial na época. A riqueza dos Países Baixos na Idade do Ferro pode ser vista na "Tumba do rei de Oss" (datada de 500 a.C.), ali um verdadeiro rei foi enterrado com alguns de seus objetos, como uma espada de ferro com inscritos em ouro, no que é a maior tumba da Europa Ocidental, com 53 metros de largura.[31] Na época da chegada dos romanos, os Países Baixos se encontravam habitados por várias tribos germânicas que haviam se assentado provavelmente em 600 a.C., tal como os frísios. Tribos celtas assentaram-se ao sul.
No século I a.C., os romanos conquistaram a parte sul do país, onde criaram a província da Germânia Inferior. Os romanos foram os primeiros a construir cidades no país, como Utreque, Nimega e Mastrique. Na época da ocupação romana, que se mantém até ao século IV, a região dos Países Baixos era povoada por tribos célticas e germânicas. Os Saxões estabelecem-se a leste dos futuros Países Baixos e os Francos ocuparam os territórios meridionais. A cristianização só se completa no final do século VIII, com a submissão destes povos a Carlos Magno. A administração carolíngia permite o desenvolvimento da atividade económica, enquanto nasce uma indústria têxtil.
Habsburgos, república, dominação francesa e reino
No reinado de Carlos V imperador do Sacro Império e rei da Espanha, a região era parte das Dezessete Províncias dos Países Baixos, abrangendo a maior parte do que hoje é a Bélgica. À proclamação da independência (União de Utreque, 1579; abjuração da soberania espanhola, 1581), no reinado de Filipe II, seguiu-se a guerra de independência. A assinatura, sob Filipe IV, do Tratado de Münster pôs fim à Guerra dos Oitenta Anos. O império espanhol reconheceu a República Holandesa dos Países Baixos Unidos, governados pela casa de Orange-Nassau e os Estados Generais, que anteriormente foram uma província do império espanhol. Os Países Baixos tornaram-se assim a primeira nação europeia a assumir uma forma de governo republicana.[32]
Ainda que o novo Estado exercesse autonomia apenas sobre as províncias do norte, a República das Sete Províncias Unidas dos Países Baixos desenvolveu-se e tornou-se uma das mais importantes potências navais e econômicas do século XVII. Neste período, conhecido como o Século de Ouro, os Países Baixos estenderam suas redes comerciais por todo o planeta, estabelecendo colônias em lugares tão distantes quanto Java e o nordeste brasileiro (Brasil neerlandês).[32]
Eclipsada pela ascensão britânica durante o século XVIII, a região foi mais tarde incorporada ao império francês sob Napoleão Bonaparte. Após o Congresso de Viena (1815), o Reino Unido dos Países Baixos foi criado, incluindo os atuais Bélgica e Luxemburgo. A Bélgica conseguiu sua independência em 1830; o Luxemburgo, que seguia regras sucessórias distintas, seguiu seu próprio caminho após a morte do rei Guilherme III.[32]
Reino dos Países Baixos
Guilherme I dos Países Baixos, filho do último rei, Guilherme V, Príncipe de Orange, voltou para os Países Baixos em 1813 e tornou-se príncipe soberano da nação. Em 16 de março de 1815, o príncipe soberano tornou-se rei do país. Em 1815, o Congresso de Viena formou o Reino Unido dos Países Baixos, unindo os Países Baixos com a Bélgica com o objetivo de criar um país forte na fronteira norte da França. Além disso, Guilherme V tornou-se herdeiro do Grão-Duque do Luxemburgo. O Congresso de Viena deu Luxemburgo a Guilherme como propriedade particular, em troca de suas possessões alemãs: Ducado de Nassau, Siegen, Hadamar e Diez. A Bélgica rebelou-se e conquistou a independência em 1830, enquanto a união pessoal entre Luxemburgo e os Países Baixos foi rompida em 1890, quando o rei Guilherme III dos Países Baixos morreu sem herdeiros masculinos vivos. As leis de ascendência impediram que a sua filha, a rainha Guilhermina, se tornasse a Grã-Duquesa seguinte. Portanto, o trono de Luxemburgo passou da Casa de Orange-Nassau para a Casa de Nassau-Weilburg, um ramo da Casa de Nassau.[32]
A maior colônia neerlandesa no exterior foi a Colônia do Cabo. Criada por Jan van Riebeeck em nome da Companhia Holandesa das Índias Orientais na Cidade do Cabo em 1652. O Príncipe de Orange concordou com a ocupação e controle da Colônia do Cabo pelos britânicos, em 1788.[32]
Os Países Baixos também possuíam várias outras colônias, mas a colonização neerlandesa nessas terras foi limitada. As mais notáveis foram as Índias Orientais Neerlandesas (atuais Indonésia) e Suriname). Essas colônias foram primeiramente administradas pela Companhia Holandesa das Índias Orientais e pela Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, ambas empresas coletivas privadas. Três séculos mais tarde essas empresas começaram a ter problemas financeiros e os territórios em que operavam foram assumidos pelo governo holandês (em 1815 e 1791, respectivamente). Só então essas áreas se tornaram colônias oficiais.[32]
Durante o período colonial, os Países Baixos envolveram-se fortemente no comércio de escravos. Os plantadores neerlandeses dependiam muito de escravos africanos para cultivar café, cacau, cana-de-açúcar e plantações de algodão ao longo dos rios. O tratamento dado aos escravos por seus proprietários era notoriamente ruim e muitos deles fugiam das plantações. A escravidão foi abolida pelos Países Baixos na Guiana Neerlandesa e Curaçau e Dependências em 1863, mas os escravos não foram totalmente libertos até 1873, depois de um período obrigatório de transição de dez anos, durante os quais eles eram obrigados a trabalhar nas plantações por um salário mínimo e sem tortura sancionada pelo governo. Assim que se tornaram verdadeiramente livres, a maioria dos escravos abandonou as plantações onde eles tinham sofrido por várias gerações em favor da cidade de Paramaribo. Durante o século XIX, os Países Baixos demoraram para industrializar-se em comparação aos países vizinhos, principalmente por causa da grande complexidade envolvida na modernização da sua infraestrutura, composta em grande parte por cursos d'água e a grande resistência da sua indústria em relação à energia eólica.[32]
Guerras mundiais
Embora tenham se mantido neutros durante a Primeira Guerra Mundial, os Países Baixos foram fortemente envolvidos na guerra.[33] Alfred von Schlieffen tinha originalmente planejado invadir os Países Baixos, enquanto avançava pela França, no Plano Schlieffen original. Isso foi alterado por Helmuth von Moltke, o Jovem, a fim de manter a neutralidade neerlandesa. Mais tarde, durante a guerra, a neutralidade neerlandesa provou ser essencial para a sobrevivência alemã, até o bloqueio integrado pelos Estados Unidos e Grã-Bretanha em 1916, quando a importação de mercadorias através dos Países Baixos já não era possível. No entanto, os neerlandeses foram capazes de manterem-se neutros durante a guerra usando a sua diplomacia e sua capacidade de negociar.[33]
O país pretendia permanecer neutro durante a Segunda Guerra Mundial, embora planos de contingência, envolvendo os exércitos da Bélgica, França e Reino Unido, tenham sido elaborados em caso de agressão alemã. Apesar desta neutralidade, a Alemanha nazista invadiu a Holanda em 10 de maio de 1940 como parte de sua campanha contra as forças aliadas. Forças francesas no sul e navios britânicos a oeste vieram ajudar, mas recuaram rapidamente, evacuando muitos civis e vários milhares de prisioneiros de guerra alemães. O país foi invadido em apenas cinco dias. Apenas após (mas não por conta disso) do Bombardeio de Roterdã, o exército holandês se rendeu em 14 de maio de 1940, apesar de uma força holandesa e francesa controlar a parte ocidental da Zelândia algum tempo após a rendição. O reino continuou na guerra através do Império Colonial Holandês; o governo no exílio residia em Londres.[32]
Durante a ocupação, mais de 100 000 judeus holandeses[34] foram presos e levados para campos de concentração nazistas na Alemanha, na Polônia ocupada e na Tchecoslováquia ocupada pelos alemães. No momento em que estes campos foram libertados, apenas 876 judeus holandeses estavam vivos. Os trabalhadores holandeses eram recrutados para o trabalho forçado em fábricas alemãs, os civis eram mortos em represália por ataques a soldados alemães e a área rural foi saqueada por comida para os soldados alemães na Holanda e para o embarque para a Alemanha. Embora milhares de holandeses tenham arriscado suas vidas por esconder os judeus dos alemães, como contado em O Refúgio Secreto por Corrie ten Boom e em The Heart Has Reasons de Mark Klempner,[35] houve também holandeses que colaboraram com as forças de ocupação na caça aos judeus escondidos.[36]
Período contemporâneo
Depois da guerra, a economia holandesa prosperou deixando para trás uma era de neutralidade política e estreitou laços como países vizinhos. A Holanda foi um dos membros fundadores do grupo Benelux (Bélgica, Holanda e Luxemburgo), um dos 12 membros fundadores da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e estava entre os seis países membros fundadores da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, que mais tarde iria evoluir para a Comunidade Econômica Europeia (CEE) até a União Europeia (UE).[32]
Os anos de 1960 e 1970 foram um momento de mudança social e cultural tão grande, como um rápido ontzuiling (literalmente: despilarização), termo que descreve a decadência das velhas divisões ao longo de classes e linhas religiosas. Jovens e estudantes em particular, rejeitaram os costumes tradicionais e impulsionaram uma forte mudança em temas como os direitos das mulheres, a sexualidade, o desarmamento e as questões ambientais. Atualmente, os Países Baixos são classificados como um país liberal, considerando a sua política de drogas e a legalização da eutanásia. Em 1 de abril de 2001, o país se tornou o primeiro do mundo a reconhecer o casamento homossexual.[37]
Em 10 de outubro de 2010, as Antilhas Holandesas, um antigo país do Reino dos Países Baixos no Caribe, foi dissolvida. Referendos foram realizadas em cada ilha das Antilhas entre junho de 2000 e abril de 2005, para determinar o seu estatuto futuro. Como resultado, as ilhas de Bonaire, Santo Eustáquio e Saba alcançaram laços mais estreitos com os Países Baixos. Isto levou à incorporação destas três ilhas ao país como municípios especiais sobre a dissolução das Antilhas Holandesas. Os municípios especiais são conhecidos coletivamente como Países Baixos Caribenhos.[38]
Um aspecto notável do país é o fato de ser extremamente plano. Aproximadamente metade do território fica a menos de 1 metro acima do nível do mar, e boa parte das terras estão de fato abaixo do nível do mar. O ponto mais baixo, Nieuwerkerk aan den IJssel, perto de Roterdão, localiza-se a um nível de 6,76 m abaixo do nível do mar. O ponto mais alto, Vaalserberg, na fronteira sudeste, localiza-se a uma altitude de 321 m. Muitas áreas baixas estão protegidas por diques e barragens. Partes dos Países Baixos, inclusive quase toda a moderna província da Flevolândia, foram conquistadas ao mar – estas áreas são conhecidas como pôlderes.[39]
O país é cheio de canais e o transporte fluvial torna-se um dos principais meios de exportação e importação. A localização geográfica dos Países Baixos é bastante favorável em relação à Europa. Do aeroporto de Schiphol, em Amesterdã, é possível chegar a Berlim, Londres ou Paris em apenas uma hora de voo. O país é dividido em duas partes principais pelos rios Reno (Rijn), Waal e Mosa (Maas). Há muitos dialetos falados a norte e sul desses grandes rios. Os ventos predominantes no país são de sudoeste, o que causa um clima marítimo moderado, com verões agradáveis e invernos suaves.[40]
Inundações
Ao longo dos séculos, o litoral holandês mudou consideravelmente como resultado da intervenção humana e de desastres naturais. O mais notável em termos de perda de terra foi a tempestade 1134, que criou o arquipélago da Zelândia, no sudoeste. Em 14 de dezembro de 1287, a inundação de Santa Lúcia afetou os Países Baixos e a Alemanha, matando mais de 50 mil pessoas em uma das inundações mais destrutivas já registradas na história.[41] A última enchente importante nos Países Baixos ocorreu no início de fevereiro de 1953, quando uma grande tempestade causou o colapso de vários diques no sudoeste do país. Mais de 1 800 pessoas morreram afogadas nas inundações que se seguiram. O governo neerlandês decidiu posteriormente em um programa de larga escala de obras públicas (o "Projeto Delta") para proteger o país contra futuras enchentes catastróficas. O projeto levou mais de 30 anos para ser concluído e considerado pela Sociedade Americana de Engenheiros Civis uma das sete maravilhas do mundo moderno.[42]
A gravidade dos desastres foi parcialmente impulsionada através da influência humana. As pessoas tinham drenado o relativamente alto pântano para usá-lo como fazendas. A drenagem fez com que a fértil turfa fosse comprimida e o nível do solo diminuiu, quando tentaram reduzir o nível de água para compensar a queda no nível do solo, fazendo com que a turfa subjacente fosse ainda mais comprimida. Devido ao alagamento, a agricultura tornou-se uma atividade difícil, o que incentivou o comércio exterior, a consequência disso foi um maior envolvimento dos holandeses nos temas mundiais desde o início do século XIV/XV. O problema permanece insolúvel até hoje. Além disso, até ao século XIX, a turfa seca era extraída e utilizada como combustível, aumentando ainda mais o problema.[43]
Em 1932, o Afsluitdijk (em português: dique de fechamento) foi concluído, bloqueando o Zuiderzee (mar do Sul) do mar do Norte, criando assim o IJsselmeer (Rio Issel). Essas construções tornaram-se parte das Obras Zuiderzee, uma grande obra em que quatro pôlders, totalizando 2 500 quilômetros quadrados, foram subtraídos do mar.[44][45] Além disso, os Países Baixos são um dos países que podem mais sofrer com as mudanças climáticas. Não só pelo aumento do nível do mar, mas também porque os padrões climáticos irregulares podem causar o transbordamento de rios.[46][47][48]
Hidrografia
Os rios Escalda, Reno e Mosa são os três principais que atravessam os Países Baixos. Os rios adotam um caminho sinuoso, com uma infinidade de braços, que diferenciam a paisagem holandesa e traz ao país a alcunha de "terra da água".[49] Com sua nascente em Gouy e atravessando a Bélgica antes de chegar aos Países Baixos, o rio Escalda possui um comprimento de 430 quilômetros. Grande parte do rio é navegável e sua rota é canalizada, fazendo com que seus numerosos canais entrem em contato com outros rios. Scarpe, Lys e Sensée são seus principais afluentes. Antes de desembocar no mar, o Escalda se firma com um amplo estuário com vários quilômetros de largura, sendo que esta é a parte do rio pertencente à Holanda. Com cerca de 950 quilômetros de extensão, o rio Mosa também tem sua nascente na França. Sua característica principal é de um rio lento e sinuoso, que permite a navegação de barcaças de até 2 000 toneladas. Flui para o Mar do Norte, formando um delta comum com o Reno. É canalizada durante a maior parte do seu percurso e daí deriva canais de irrigação para todo o sudeste dos Países Baixos. Seus principais afluentes são o Samson, Ourthe, Rur e Sambre.[49]
O Reno é o rio com o maior comprimento nos Países Baixos. Sua extensão total de 1 320 quilômetros flui para o Mar do Norte em um amplo estuário, junto com o rio Mosa. Apesar de sua ampla extensão, é navegável apenas para Basileia, na Suíça. A parte do rio que corresponde ao domínio dos Países Baixos é bastante canalizado e dividido em vários braços. Seus mais importantes afluentes são o antigo Reno, o Waal e o Lek.[49]
Natureza e meio ambiente
Os Países Baixos abrigam estimadas 35 583 espécies de animais e plantas, consistindo 23% das espécies europeias e 2% das mundiais. 814 espécies avaliadas pela Lista Vermelha Europeia da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) estão presentes no país, sendo 2% ameaçadas, 5% quase ameaçadas e uma extinta. As maiores ameaças à biodiversidade neerlandesa consistem, respectivamente, de: mudanças naturais de ecosistemas, poluição, agricultura e aquacultura, uso de recursos biológicos, desenvolvimento comercial e residencial, espécies invasivas ou problemáticas, mudanças climáticas e padrões climáticos severos, intrusão e perturbação humana, transportação e corredores de serviço, mineração, entre outros.[50]
Áreas naturais, animais selvagens e plantas são protegidos pelo Ato de Conservação da Natureza, que entrou em efeito em 1 de janeiro de 2017, e substitui 3 leis anteriores: o Ato de Conservação da Natureza de 1998, o Ato da Fauna e Flora e o Ato Florestal. Existem 391 áreas protegidas no país, cobrindo 26,15% da área terrestre e 25,34% da área marinha. Dessas áreas protegidas, 197 são parte da Rede Natura 2000 (77 áreas de proteção especial e 52 sítios de importância comunitária) e 194 são sítios designados por leis nacionais. 46% dos sítios terrestres e 42% dos sítios marinhos tem áreas entre dez e cem quilômetros quadrados.[51][52]
Os Países Baixos têm uma população estimada em 17,9 milhões (em 2023).[3] É o 11º país mais populoso da Europa e o 61º país mais populoso do mundo. Entre 1900 e 1950, a população do país quase dobrou, de 5,1 para 10,0 milhões de pessoas. De 1950 a 2000, a população aumentou de 10,0 para 15,9 milhões de pessoas, mas a taxa de crescimento da população foi menor do que a dos 50 anos anteriores.[53]
A taxa de fertilidade nos Países Baixos é de 1,82 filhos por mulher (em 2011), que é alta em comparação com muitos outros países europeus, mas abaixo da taxa de 2,1 filhos por mulher necessária para a reposição natural da população. A expectativa de vida no país é alta, de 83,08 anos para as meninas recém-nascidas e de 78,84 para os meninos (2012). O país tem uma taxa de migração anual de 2,55 migrantes por mil habitantes.
Os Países Baixos são o 30.º país mais densamente povoado do mundo, com 395 hab./km, ou 484 habitantes por quilômetro quadrado se apenas a área terrestre for contada. É o oitavo país mais densamente povoado da Europa, com uma densidade populacional de 393 hab./km². A maior aglomeração urbana do país designa-se Randstad e localiza-se no oeste, englobando as quatro maiores cidades: Amesterdã, na província da Holanda do Norte, Roterdã e a Haia, na província da Holanda do Sul, e Utreque, na província de Utreque. A Randstad tem uma população de 7 milhões de habitantes e é a sexta maior área metropolitana da Europa.
Composição étnica e migração
A maioria da população dos Países Baixos é etnicamente holandesa (ou neerlandesa). Uma estimativa de 2005 mostrou que 80,9% da população se considera holandesa, 2,4% indonésia, 2,4% alemã, 2,2% turca, 2,0% surinamesa, 1,9% marroquina, 0,8% das Antilhas e de Aruba, e 7,4% de outras etnias.[54] Os holandeses são as pessoas mais altas do mundo, com uma altura média de 1,81 metros para adultos do sexo masculino e de 1,67 metros para mulheres adultas, em 2009.[55] As pessoas do sul são, em média, cerca de 2 cm mais baixas que as do norte.
Os holandeses ou descendentes de holandeses também são encontrados em comunidades de imigrantes ao redor do mundo, principalmente no Canadá, Austrália, África do Sul e Estados Unidos. De acordo com o censo de 2006 dos Estados Unidos, mais de 5 milhões de americanos declararam ascendência holandesa total ou parcial.[56] Há cerca de 3 milhões de descendentes de holandeses chamados africâneres vivendo na África do Sul.[57] Em 1940, havia 290 000 europeus e eurasiáticos na Indonésia,[58] mas a maioria já deixou o país.[59] De acordo com o Eurostat, em 2010, havia 1,8 milhão de residentes estrangeiros nos Países Baixos, o que corresponde a 11,1% da população total. Destes, 1,4 milhões (8,5%) nasceram fora da União Europeia (UE) e 0,428 milhões (2,6%) nasceram em outro Estado-membro da UE.[60]
Religiões
Os Países Baixos são um dos países mais secularizados do Oeste europeu, com 39% de sua população filiada a alguma religião. Ainda assim, menos de vinte por cento frequenta regularmente suas respectivas igrejas.[63] A minoria praticante de alguma religião se divide principalmente entre o catolicismo (18%), mais forte ao sul dos grandes rios e o protestantismo, ao norte (15%). A maior parte destes protestantes pertence à Igreja Reformada Neerlandesa.
A religião nos Países Baixos é geralmente considerada uma questão de foro íntimo, que não deve ser propagada em público.[64][64][65] Historicamente, havia uma nítida divisão entre o norte protestante e o sul católico; porém o desinteresse pela religião cresceu gradualmente durante o século XX, em ambas as regiões, e a tendência continua atualmente.[66] Devido à falta de público, algumas igrejas têm sido transformadas em livrarias, cafés e casas de show.[67]
De acordo com a pesquisa da Eurobarômetro de 2010, 28% dos cidadãos neerlandeses responderam que acreditam existir algum deus; 39% respondeu que acreditam que exista algum tipo de força e 30% que não acreditam que exista nenhum tipo de força superior, deus ou nada espiritual.[68]
Línguas
Há duas línguas oficiais, ambas germânicas, o neerlandês, usada pela maioria da população, e o frísio; esta só se usa na província setentrional da Frísia, chamada de Fryslân na língua local. Além destas, vários dialetos do baixo-saxão são usados em boa parte do norte e leste, sem reconhecimento oficial. Nas fronteiras meridionais, os idiomas têm variedades baixo-frâncicas e alemãs, sendo possível que sua melhor classificação seja, em vez de holandês, flamengo ocidental ou alemão. Os Países Baixos têm uma tradição de aprender línguas estrangeiras, formalizadas nas leis de educação holandesas. Cerca de 90% da população total indicam que podem conversar em inglês, 70% em alemão e 29% em francês.[69] O Inglês é um curso obrigatório em todas as escolas secundárias.[70]