Operação Chumbo Fundido
conflito armado entre Israel e grupos militantes palestinos na Faixa de Gaza entre dezembro de 2008 e janeiro de 2009 / De Wikipedia, a enciclopédia encyclopedia
A Operação Chumbo Fundido (em hebraico: מבצע עופרת יצוקה; trans.: Mivtza Oferet Yetsuká, "chumbo fundido",[1] também chamada, incorretamente, de "Operação Chumbo Grosso") é uma grande ofensiva militar das Forças de Defesa de Israel, realizada na Faixa de Gaza, partir do dia 27 de dezembro de 2008, sexto dia da festa judaica de Hanucá.[2] Todavia, na maior parte do mundo árabe, a ação israelense é referida como Massacre de Gaza (em árabe: مجزرة غزة).[3][4][5][6][7][8][9][10][11][12]
Operação Chumbo Fundido | |||
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história do Conflito israelo-palestino | |||
Área do conflito | |||
Data | 27 de dezembro de 2008–18 de janeiro de 2009 | ||
Local | Mapa da Faixa de Gaza indicando área urbana, campos de refugiados e pontos de passagem. | ||
Desfecho | Vitória militar israelense
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Beligerantes | |||
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Comandantes | |||
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Forças | |||
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Baixas | |||
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O ataque israelense ocorreu dias após o fim de um cessar-fogo, que vigorou por seis meses,[13][13][14][15] conforme havia sido acordado entre o governo de Israel e representantes do Hamas, partido majoritário no Conselho Legislativo da Palestina e que controla a Faixa de Gaza.[16][17] Como Israel não suspendeu o bloqueio à Faixa de Gaza e não cessou os ataques ao território palestino,[18][19][20][21] militantes do Hamas anunciaram o encerramento oficial da trégua[22][23][24] e passaram a lançar foguetes caseiros, tipo Qassam, em direção ao sul do território israelense.[25][26][27] Dias depois do anúncio do fim do cessar-fogo, o próprio grupo palestino ofereceu uma proposta para renovar a trégua, condicionando-a ao fim do bloqueio israelense ao território palestino.[28][29][30] Todavia, já em 27 de dezembro de 2008, as Forças de Defesa de Israel iniciaram a sua mais intensa operação militar contra um território palestino desde a Guerra dos Seis Dias (1967). Oficialmente, o objetivo da operação era interromper os ataques de foguetes do Hamas contra o território israelense.[31][32][33][34]
No primeiro dia da ofensiva militar, a força aérea israelense lançou, em um intervalo de quatro minutos, mais de cem bombas contra bases, escritórios e campos de treinamento do Hamas[35][36] nas principais cidades da Faixa de Gaza, entre as quais Cidade de Gaza, Beit Hanoun, Khan Younis e Rafah.[37][38][39][40][41][42][43][44] Também foram alvos de ataques a infraestrutura civil, incluindo casas, escolas e mesquitas; Israel disse que destes locais são disparados muitos dos foguetes palestinos ou servem para esconder munição, e portanto não seriam alvos civis.[45][46][47][48][49][50][51] A marinha israelense também reforçou o bloqueio e bombardeou alvos na Faixa de Gaza, o que resultou em um incidente com o barco de uma organização pacifista, que trazia ajuda médica para a população de Gaza.[52][53][54][55][56][57] Militantes do Hamas intensificaram os ataques de foguetes e morteiros em direção ao sul de Israel,[58] atingindo cidades como Bersebá e Asdode.[58][59][60]
Na noite de 3 de janeiro de 2009, começou a ofensiva por terra, com tropas e tanques israelenses entrando no território palestino.[61] Em 17 de janeiro, o primeiro-ministro israelense Ehud Olmert anunciou uma trégua unilateral, a vigorar a partir da madrugada do dia seguinte.[62] O Hamas também anunciou um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza. O representante do grupo, Ayman Taha, afirmou que a trégua valeria por uma semana, para que os israelenses pudessem retirar suas tropas da região.[63] O Exército de Israel declarou que retiraria suas tropas da Faixa de Gaza até a posse de Barack Obama na presidência dos Estados Unidos, no dia 20 de janeiro.[64]
Em 21 de janeiro, Israel completou a retirada de suas tropas da Faixa de Gaza.[65] Em 1.º de junho uma comissão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, chefiada pelo juiz sul-africano Richard Goldstone, chegou à Faixa de Gaza, para investigar possíveis violações dos direitos humanos durante a ofensiva israelense. Em 15 de setembro de 2009, a comissão apresentou seu relatório, concluindo que Israel "cometeu crimes de guerra e, possivelmente, contra a humanidade", e que "o plano visava, pelo menos em parte, a população de Gaza como um todo".[66] O mesmo relatório reconheceu que o lançamento de foguetes pelos insurgentes palestinos também configura crime de guerra. Segundo a ONG israelense de direitos humanos B'Tselem, a Operação Chumbo Fundido resultou na morte de 1 387 palestinos, mais da metade deles civis. 773 deles não participaram nos combates, incluindo 320 jovens ou crianças (252 com menos de 16 anos) e 111 mulheres.[67] Do lado de Israel, houve 13 mortos, sendo três deles por "fogo amigo".[68]
Israel e Hamas mantêm entre si relações tensas, principalmente desde que o Hamas venceu o Fatah nas eleições da Palestina. O governo israelense - assim como os dos Estados Unidos,[69] da União Europeia, do Canadá e do Japão - considera o Hamas um grupo terrorista.[70] Já para muitos palestinos, entretanto, trata-se de uma organização beneficente que presta ajuda e assistência.[70] Abreviatura de Movimento de Resistência Islâmica, o Hamas participou nas eleições para o Parlamento Palestino, em 2006. A legislação eleitoral palestina, elaborada por Israel, exige dos partidos políticos, participantes do pleito, o reconhecimento de todos os acordos entre a Autoridade Nacional Palestina e Israel. O Hamas ofereceu uma trégua de dez anos em troca da retirada de Israel para as fronteiras anteriores à Guerra dos Seis Dias ocorrida em 1967,[71] o que Israel refutou. Em abril de 2008, o ex-presidente norte-americano Jimmy Carter chegou a declarar que o Hamas estaria disposto a aceitar a existência do Estado de Israel desde que dentro das fronteiras existentes antes da Guerra dos Seis Dias, quando os israelenses anexaram Jerusalém Oriental, Faixa de Gaza, Cisjordânia e Colinas do Golã, e que um acordo nesse sentido fosse aprovado pelos palestinos.[72] Mas o líder político do Hamas, Khaled Meshaal, desmentiu Carter.[73]
A Trégua de 2008
Em junho de 2008, representantes do Hamas e do governo israelense chegaram a um acordo de cessar-fogo na região, mediado pelo Egito,[15] com duração de seis meses, e que expirou no dia 19 de dezembro. O grupo palestino decidiu não renová-lo, por entender que Israel não havia cumprido o compromisso de suspender o bloqueio imposto à Faixa de Gaza.[16][24]
Mesmo depois de 2005, quando realizou a remoção dos 8 mil colonos dos assentamentos judaicos da Faixa de Gaza, Israel continuava a controlar o espaço aéreo da Faixa, seu mar territorial e todos as passagens de fronteira.[74][75] Era o início do bloqueio israelense (com apoio egípcio) ao território palestino, que tem impedido a entrada de alimentos, combustíveis, água e medicamentos, além de dificultar enormemente o comércio em Gaza além das fronteiras, bem como o acesso dos palestinos aos seus locais de trabalho. Da mesma forma, o boicote econômico do Ocidente está sufocando a economia local. Segundo dados oficiais palestinos, mais da metade dos habitantes da Faixa de Gaza vive abaixo da linha da pobreza, e pelo menos 45% da população ativa está desempregada. Cerca de 1,5 milhão de pessoas moram em Gaza. Mais da metade dessa população constitui-se de refugiados das guerras com Israel. A maioria dos moradores vive com menos de US$ 2 ao dia. O território tem uma das maiores densidades populacionais e das mais altas taxas de crescimento demográfico do mundo.[14][76]
Em 4 de novembro de 2008, Israel violou a trégua com o Hamas, ao realizar, na Faixa de Gaza, uma incursão contra militantes do grupo palestino, matando seis milicianos e deixando outros três feridos.[18] No dia seguinte, os militantes do Hamas responderam, lançando mais de 20 foguetes contra o sul de Israel. No dia 14 de novembro, as forças israelenses realizaram novos disparos contra alvos do Hamas.[19][20]
Fim do cessar-fogo
O jornal israelense Haaretz afirmou que, de acordo com fontes do Ministério da Defesa de Israel, a Operação Chumbo Fundido foi planejada por Israel antes mesmo de começarem as negociações para a assinatura do cessar-fogo com o Hamas, em junho de 2008, e que o ataque surpresa tinha o objetivo de causar o maior número possível de vítimas.[77] Ainda segundo o mesmo artigo do diário israelense, o ataque aéreo aconteceu com o conhecimento prévio do Egito, o maior país do mundo árabe, durante a visita de ministra das relações exteriores israelense, Tzipi Livni, nas primeiras semanas de dezembro de 2008.[77][78]
Com o final do cessar-fogo, segundo o jornal El País, mais de 200 foguetes caseiros do tipo Qassam foram lançados por militantes palestinos contra o sul do território israelense, sem causar mortes,[39] o que serviu de pretexto para os líderes israelenses darem o sinal verde para o início da ofensiva, segundo o jornal Haaretz.[77]
No dia 23 de dezembro, o Hamas havia dito estar aberto à trégua, desde que o bloqueio à Faixa de Gaza fosse suspenso.[28] Em 26 de dezembro, o governo de Israel autorizou temporariamente a entrada de suprimentos em Gaza, que vive uma grave crise humanitária pois Israel vinha bloqueando o acesso ao território palestino há 18 meses.[79]
Planejamento da Operação
Um artigo do jornal israelense Haaretz, de 31 de dezembro, revela que, embora a Operação Chumbo Fundido tenha pegado o Hamas de surpresa - o que aumentou em muito o número de vítimas -, a inciativa já estava sendo planejada seis meses antes, enquanto ainda se falava em renovar o acordo de cessar-fogo. O Estado-Maior israelense também já preparava uma campanha de desinformação, visando conquistar o apoio da opinião pública.[80]
Esses seis meses foram usados pelos serviços de inteligência de Israel para mapear toda a infraestrutura de segurança do Hamas (bases permanentes, arsenais, campos de treinamento, residências dos líderes etc.) e de outras organizações de militantes que atuam na Faixa. O plano de ação ficou no papel até novembro, quando as forças israelenses realizaram uma incursão em Gaza, ainda durante a Tahdiyeh ("calma"), para destruir um túnel que, segundo o exército, serviria para facilitar um ataque palestino às tropas de Israel. Em 19 de novembro, foguetes Qassam e morteiros explodiram no solo de Israel. A tensão cresceu. Nesse momento, o plano foi submetido à aprovação final de Ehud Barak. Em 18 de dezembro, o Primeiro-Ministro Ehud Olmert e o ministro da Defesa se reuniram no quartel-general do Tzahal, em Telavive e aprovaram a operação.
Oficialmente, a operação teria como objetivo responder aos ataques do Hamas contra cidades do sul de Israel.[81] Em 2008, os militantes do Hamas lançaram mais de 1.700 foguetes e morteiros contra Israel - o dobro em relação aos anos anteriores. São, na maioria, foguetes Qassam, projéteis artesanais, fabricados em casas de Gaza e de pequeno alcance - cerca de 16 km em média.[82] Esses foguetes podem ser destrutivos e letais quando encontram alguma coisa ou alguém à sua frente. Todavia, dada a precariedade do artefato - de pouca precisão e curto alcance - boa parte deles tem explodido no solo, causando sobretudo danos psicológicos à população israelense.[83] Muitos acabam caindo sobre os próprios palestinos, depois de bater contra o muro de concreto que cerca a Faixa de Gaza. Segundo o Ministério de Relações Exteriores de Israel, desde a sua invenção em 2001 até fevereiro de 2008, os foguetes Qassam mataram 14 israelenses.[84][85] Desde o fim do cessar-fogo entre Israel e Hamas, militantes palestinos também dispararam alguns foguetes iranianos e chineses de maior alcance.[82]
Independentemente dos motivos alegados por Israel para o ataque, vários integrantes do governo israelense já vinham reafirmando o objetivo de enfraquecer o Hamas,[81][86] que venceu as eleições legislativas palestinas de 2006[87] e controla a Faixa de Gaza desde 2007, quando expulsou o Fatah - grupo do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, que controla a Cisjordânia - em meio a intensos conflitos entre as duas facções.[88][89][90]
A proximidade das eleições israelenses - marcadas para 10 de fevereiro de 2009 - também não pode ser subestimada, como um dos fatores que influenciaram a decisão de lançar um ataque devastador contra os palestinos. A atual coalizão de governo, liderada pelo partido Kadima (da ministra de Relações Exteriores, Tzipi Livni), e pelo Partido Trabalhista (do ministro da Defesa Ehud Barak), vinha sendo ameaçada pela ascensão nas pesquisas do ex-premiê Benyamin Netanyahu, do Likud. Netanyahu e seus potenciais aliados da extrema direita pregavam uma reação dura contra os lançamentos de foguetes de Gaza.[91] Livni afirmou que derrubaria o Hamas caso fosse eleita para o cargo de premiê, o mesmo discurso de Netanyahu, que desde o fim do cessar-fogo, pedia para que Israel reagisse com dureza frente aos ataques do Hamas.[92] Finalmente, no terceiro dia da ofensiva contra o território palestino, o vice-primeiro-ministro israelense, Haim Ramon, também declarou que o objetivo da ação seria destituir o Hamas do poder.[93]
Na decisão de atacar Gaza, também pesou, segundo os analistas, a necessidade de Israel buscar restabelecer seu poder de dissuasão, depois do fracasso israelense no conflito de 2006, com o grupo xiita libanês Hizbollah - apoiado pelo Irã, suposto inimigo de Israel. E, por fim, segundo os observadores, é preciso considerar a proximidade da posse de Barack Obama como novo presidente dos Estados Unidos. Obama vinha sendo instado a pressionar Israel a um acordo para a criação de um Estado Palestino em Gaza e na Cisjordânia. Ao atacar o Hamas, Israel pretenderia continuar impondo seu ritmo às negociações - que já se arrastam há 15 anos.[94]
Quatro dias depois de anunciar o cessar-fogo unilateral e três semanas após o início da ofensiva contra o Hamas, Israel completou a retirada de suas tropas da Faixa de Gaza, no dia 21 de janeiro. O confronto deixou 1.314 mortos, mais da metade civis, e cerca de 5 mil feridos e mutilados no território palestino. No mesmo período, 13 israelenses morreram - quatro atingidos por foguetes lançados por militantes do Hamas contra o sul de Israel, sendo três civis e dez soldados mortos em ação.[95] Israel afirmou ter matado mais de 500 ativistas do Hamas durante a ofensiva, enquanto o grupo palestino anunciou 48 baixas de militantes.[95][96]
Na Operação Chumbo Fundido, Israel mobilizou mais de 620 mil soldados contra cerca de 20 mil combatentes do Hamas. A Força Aérea lançou bombas indiscriminadamente contra 1,5 milhão de habitantes de Gaza. Do total de baixas, organizações de direitos humanos estimam a morte de pelo menos 700 civis palestinos - a maioria mulheres e crianças. Além disso, 53 instalações das Nações Unidas e de organismos internacionais foram alvejadas pelo Tzahal, incluindo escolas e hospitais. Pelo menos um dos casos de ataque a escolas foi retificado posteriormente pela ONU.[97]
No dia seguinte à retirada, o primeiro-ministro Ehud Olmert declarou ao jornal israelense Jerusalem Post: "Neste confronto, todos nós perdemos". Em tom menos conciliatório, o líder do Comitê de Relações Exteriores e Defesa da Knesset, Tzachi Hanegbi, falando à Rádio do Exército durante o retorno das tropas, ameaçou: "Se os disparos forem retomados, vamos responder com tanta força e superioridade que eles vão sentir saudade do dia em que a ofensiva da Força Aérea de Israel começou".
Mas, segundo vários analistas israelenses, a operação foi descrita como um completo fracasso. Gideon Levy, que foi porta-voz do ex-premier Shimon Peres e que hoje escreve para o jornal Haaretz, avalia que Israel não conseguiu cumprir nenhuma das metas da guerra. Os foguetes palestinos não pararam de ser lançados até o último dia de combate e as forças de segurança israelenses estimam a existência de mais de mil deles no arsenal do Hamas. O Exército também não foi capaz de acabar com o contrabando de armas, nem conseguiu enfraquecer o Hamas. "A grande maioria dos seus combatentes não foi abatida e o apoio popular à organização, na realidade, aumentou", afirma Levy. "Não há dúvidas sobre quem era David e quem era Golias nesta guerra."
O ataque contra áreas densamente povoadas e a desproporcional reação aos foguetes do Hamas – que provocaram a morte de quinze civis israelenses entre 2001 e 2008 – isolaram ainda mais o governo de Tel-Aviv. Mesmo países com boas relações com Israel condenaram os ataques. Até os Estados Unidos, tradicionais aliados, abstiveram-se do poder de veto à Resolução nº 1.860, do Conselho de Segurança da ONU, que, em 9 de janeiro, exigia o cessar-fogo imediato. A União Europeia pressiona o governo israelense para que o país estabeleça um cessar-fogo acordado com os palestinos e propõe a retirada do bloqueio sobre Gaza, bem como a abertura das fronteiras.[98]
Em 15 de setembro de 2009, em Nova York, o juiz Richard Goldstone apresentou o relatório da comissão do Conselho de Direitos Humanos da ONU. O documento de 575 páginas afirma que Israel "cometeu crimes de guerra e, possivelmente, contra a humanidade", mas pondera que o lançamento de foguetes pelos insurgentes palestinos também configura crime de guerra. Segundo as autoridades palestinas e grupos de defesa dos direitos humanos, mais de 1 400 pessoas morreram durante os conflitos. Segundo o governo israelense, no entanto, houve 1 166 mortos.[99]
Cronologia da Operação
Reação Internacional
Vítimas
Os bombardeios sobre a Faixa de Gaza, iniciados na manhã do dia 27 de dezembro de 2008, mais de 1 300 pessoas - mais da metade civis - e deixaram mais de 5 000 feridos, segundo fontes médicas palestinas.[100] No mesmo período, 13 israelenses morreram, quatro atingidos por foguetes lançados por militantes do Hamas contra o sul de Israel, sendo três civis e dez soldados mortos em ação.[95] Israel afirmou ter matado mais de 500 ativistas do Hamas durante a ofensiva, enquanto que o grupo palestino anunciou 48 baixas de militantes.[95]
De acordo com a ONG Save the Children, em "uma estimativa conservadora", pelo menos 100 dos mortos são crianças.[101] Já um relatório da ONU acusou a morte de 257 crianças e de 60 mulheres.[102]
Livni disse que as mortes de civis na Faixa de Gaza "foram fruto das circunstâncias".[96]
No 14º dia da operação, um bombardeio israelense contra a cidade de Gaza, vitimou uma ucraniana e seu filho de dois anos. Foi a primeira vítima estrangeira da grande ofensiva israelense.[103]
Date | Balanço de mortos palestinos | Balanço de mortos israelenses |
---|---|---|
27 de dezembro 2008 | 230 | 1 |
28 de dezembro 2008 | 115 | 0 |
29 de dezembro 2008 | 22 | 3 |
30 de dezembro 2008 | 20 | 0 |
31 de dezembro 2008 | 27 | 0 |
1 de de janeiro 2009 | 26 | 0 |
2 de janeiro 2009 | 22 | 0 |
3 de janeiro 2009 | 30 | 0 |
4 de janeiro 2009 | 42 | 1 |
5 de janeiro 2009 | 52 | 3 |
6 de janeiro 2009 | 81 | 2 |
7 de janeiro 2009 | 60 | 0 |
8 de janeiro 2009 | 66 | 1 |
9 de janeiro 2009 | 49 | 0 |
10 de janeiro 2009 | 33 | 2 |
11 de janeiro 2009 | 50 | 0 |
12 de janeiro 2009 | 47 | 0 |
13 de janeiro 2009 | 45 | 0 |
14 de janeiro 2009 | 43 | 0 |
15 de janeiro 2009 | 90 | 0 |
16 de janeiro 2009 | 60 | 0 |
17 de janeiro 2009 | 58 | 0 |
18 de janeiro 2009 | 42 | 0 |
19 de janeiro 2009 | 5 | 0 |
Total[104] | 1 315 | 13 |
Um relatório do Exército de Israel informou que a Força de Defesa do país admitiu ter matado 309 civis palestinos inocentes, entre eles 189 crianças e jovens com menos de 15 anos, durante a recente ofensiva militar. Os militares israelenses dizem ter matado 600 militantes palestinos do Hamas durante a operação e ainda outros 320 mortos descritos como "não filiados" - o que significa que Israel não sabe dizer se eles são ou não militantes. Segundo o Centro Palestino de Direitos Humanos, 1 434 palestinos foram mortos, incluindo 960 civis, 239 policiais e 235 militantes.[105]
Situação humanitária em Gaza
Desde que o Fatah foi expulso de Gaza pelo Hamas, em junho de 2007, o governo de Israel impôs um bloqueio - com apoio do governo do Egito - ao território, visando sufocar o Hamas. Desde então, a fronteira com Israel permaneceu fechada e o território palestino, isolado, com graves consequências sobre a economia e as condições de vida da população palestina, que sofre com a escassez de água, energia, alimentos, combustíveis e remédios.[106][107] O boicote econômico internacional tem aval dos Estados Unidos - principal aliado de Israel - e da União Europeia, sob a alegação de que o Hamas não reconhece o Estado de Israel, não renuncia à violência e desconsidera os acordos firmados anteriormente por Israel e pela ANP.[14][108]
Inteiramente isolada, tanto da Cisjordânia como do resto do mundo, a Faixa de Gaza tornou-se uma zona de desastre econômico de proporções assustadoras. O bloqueio à Faixa de Gaza tem tido um enorme impacto nas condições de vida dos cerca de 1,5 milhão de moradores do território e o boicote econômico do Ocidente está sufocando a economia local. Segundo dados oficiais palestinos, mais da metade dos habitantes de Gaza vive abaixo da linha da pobreza, e pelo menos 45% da população ativa está desempregada. Mais da metade dessa população constitui-se de refugiados das guerras com Israel.
A maioria dos habitantes vive com menos de dois dólares ao dia. A parte da população vivendo na pobreza absoluta - isto é, com renda familiar inferior a US$ 460 por mês, considerando uma família de dois adultos e quatro crianças - correspondia a 21,6%, em 1998, e passou a aproximadamente 35% em 2006, segundo o Banco Mundial - e este era considerado um cálculo otimista. Sem ajuda financeira e humanitária, em 2007, estimava-se que o índice de pobreza absoluta estivesse perto de 67%, com tendência a piorar, a partir de setembro, quando o governo de Israel declarou Gaza "território hostil" e passou a impor medidas punitivas ao território, incluindo pesadas restrições à liberdade de circulação de civis na fronteira - dificultando também o acesso aos locais de trabalho -, além de cortes no suprimento de combustíveis e energia.[109]
O território tem uma das maiores densidades populacionais e das mais altas taxas de crescimento demográfico do mundo.[14][76]
Entre os isralenses, também há vozes dissonantes e contrárias ao bloqueio, como é o caso do historiador Ilan Pappé, do escritor e militante pacifista Michel Warschawski, da acadêmica e ganhadora do Prémio Sakharov, Nurit Peled-Elhanan, e dos jornalistas Amira Hass e Uri Avnery.[110][111][112][113]
No início de 2008, a chefe de operações do Comitê Internacional da Cruz Vermelha para o Oriente Médio, Béatrice Megevand-Roggo, afirmava que a situação humanitária em Gaza era crítica. A população local procurava desesperadamente estocar alimentos, combustível e remédios devido à escassez de suprimentos básicos causados pelo bloqueio israelense.[114] Segundo Megevand-Roggo a infraestrutura estava perto de um colapso e os esforços humanitários eram prejudicados, tendo sido eventualmente interrompidos devido às severas regras e procedimentos de entrada, impostos pelas autoridades israelenses, nos poucos pontos de entrada no território, como os postos fronteiriços nas cidades de Erez e Rafah.[114]
Em março de 2008, um relatório elaborado por uma coalizão de organizações de defesa dos direitos humanos - formada por Anistia Internacional, Care International, Cafod, Christian Aid, Médecins du Monde, Oxfam, Save the Children e Trócaire- advertia que o bloqueio da Faixa de Gaza era um castigo coletivo a toda a população civil do território e que a situação humanitária era a pior, desde o começo da ocupação israelense em 1967.[115]
O desemprego disparou e mesmo antes da invasão terrestre pelo Tzahal, a ONU já denunciava que 80% da população em Gaza estava completamente dependente de ajuda humanitária, situação bem pior que a de 2006 quando 63% dependiam de ajuda para obter alimentos. Segundo a organização, o governo israelense permitiu a entrada diária de 60 caminhões carregados com produtos de primeira necessidade, número muito inferior aos 475 veículos que chegavam a Gaza com ajuda humanitária, antes de junho de 2007, quando o Hamas assumiu o controle do território.[116]
As agências da ONU relatam que cerca de 250 mil pessoas estão sem eletricidade e a única central elétrica da faixa de Gaza foi fechada no quarto dia de ataques - pela sexta vez, desde o início de novembro - por falta de combustível. Os dutos do terminal de Nahal Oz, por onde chegava todo o combustível importado, estão fechados desde sábado passado. A água corrente é disponibilizada uma vez a cada cinco ou sete dias e apenas durante algumas horas e, em alguns locais, o esgoto se acumula nas ruas depois que o sistema de saneamento foi danificado pelos bombardeios. Os moradores já não encontram gás de cozinha e para calefação no mercado, em pleno inverno israelense. O sistema de saúde, já debilitado desde o início do bloqueio israelense há 18 meses, entrou em colapso e faltam medicamentes, equipes, material e sangue para tratar os cerca de 2 200 feridos.[116]
A Organização das Nações Unidas divulgou a estimativa de que cerca de 50,8 mil pessoas ficaram sem casa na Faixa de Gaza devido à ofensiva israelenses.[117]
No dia 20 de janeiro, Israel reabriu três passagens de fronteira para permitir a entrada de artigos de primeira necessidade no território. Os palestinos começaram a sair de seus esconderijos e abrigos, chocados com o alto número de mortes.[100] O Hamas disse que 5 000 casas, 16 prédios do governo e 20 mesquitas foram destruídas. Outras 20 mil casas também foram danificadas.[100]
Apesar dos envios de mantimentos com ajuda humanitária, a empresa pública britânica BBC e a privada SkyNews, recusaram-se a divulgar pedidos de ajuda às vítimas da Faixa de Gaza, alegando a BBC que "defendem com paixão a imparcialidade", o que o gerou protestos de organizações humanitárias, líderes políticos e religiosos, além de estrelas do próprio canal.[119]
Seis meses depois do fim da Operação Chumbo Fundido, a Faixa de Gaza continuava a ter problemas de desabastecimento, de fornecimento de combustível e de eletricidade, sem mercadorias. Os escombros produzidos pelos ataques israelenses incorporaram-se à paisagem. Em 23 dias, a ofensiva de Israel a Gaza deixou 47 000 casas danificadas. Em junho de 2009, dezenas de milhares de pessoas ainda viviam em tendas. Israel continuava a bloquear a entrada de material de construção.[120]
Em 25 de junho de 2009, o papa Bento XVI pediu a reconstrução de Gaza. No Vaticano, ao receber os participantes da 2ª Assembleia Anual da Reunião das Obras de Ajuda às Igrejas Orientais (ROACO), o Papa falou sobre sua viagem à Palestina, no mês anterior. Desejo garantir-vos que a Igreja universal permanece ao lado de todos os nossos irmãos e irmãs que estão na Terra Santa. O Papa pediu às organizações católicas de ajuda que enfrentem a situação dos refugiados e dos migrantes, que afetam particularmente as igrejas orientais e pediu a reconstrução da Faixa de Gaza, que continua sendo abandonada, ao mesmo tempo levando em consideração a legítima preocupação de Israel sobre sua segurança.[121]
Força Bélica
Considerado uma potência militar, Israel conta com o exército mais preparado e melhor equipado do Oriente Médio. O serviço militar é obrigatório para homens e mulheres, o que garante às Forças Armadas israelenses um contingente potencial de três milhões de soldados. De acordo com vários especialistas, o país também é o único detentor de armas atômicas na região, com cerca de 200 ogivas nucleares.[82]
A Força Aérea Israelense é uma das mais experientes em combates no mundo e conta com uma avançada indústria aeronáutica. Além de caças fabricados em Israel, adaptando modelos franceses e norte-americanos, a Força Aérea conta ainda com 250 caças F-16, 80 caças F-15 e 50 helicópteros de combate Apache norte-americanos,[122] num total de 700 aparelhos. Israel possui ainda um sofisticado sistema de defesa naval com os mísseis Gabriel. As forças terrestres estão armadas com 500 tanques Merkava, também produzidos no país.[82]
Esses armamentos estão entre os mais avançados tecnologicamente e Israel é um dos maiores exportadores de armas do mundo.[82]
Israel juntou-se em 1988 ao seleto e restrito clube de países lançadores de satélites de espionagem.[123] Em 11 de junho de 2007, foi lançado da base aérea israelense de Palmachim na costa mediterrânea de Israel um veículo espacial shavit carregando o satélite Ofek 7, capaz de detectar objetos de 70 cm sobre a face da terra.[124]
Alvos atingidos pelas forças israelenses durante a Operação Chumbo Fundido
Além de 47 000 casas arruinadas,[120] os alvos abaixo foram destruídos em parte ou totalmente por forças israelenses:[125]
- Todos os postos policiais, inclusive de autoridades de trânsito
- Todas as bases da ala militar do Hamas
- 15 campos de treinamento do Hamas
- Estrutura portuária[126]
- Universidade Islâmica de Gaza[127]
- Ministério do Interior[128]
- Ministério das Relações Exteriores
- Ministério das Finanças
- Ministério dos Serviços Públicos
- Ministério da Justiça
- Ministério da Educação
- Ministério do Trabalho
- Ministério da Cultura
- Complexo presidencial[129]
- Gabinete do premiê [130]
- Parlamento[131]
- Mesquitas[132]
- Residências[133]
- Comboio humanitário da ONU[134]
- Sede da ONU em Gaza.[135]
- Hospital.[136]
- Complexo Jornalístico Internacional.[137]