Operações militares no golpe de 1964
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Nas operações militares no golpe de Estado no Brasil em 1964 parte das Forças Armadas e Polícia Militar, associadas a governadores e outros elementos civis, entrou no dia 31 de março de 1964 em rebelião contra o governo de João Goulart, ao qual permaneceram leais os militares legalistas. Legalistas e rebelados moveram-se uns contra os outros, cruzando várias divisas estaduais e em vários momentos chegando à iminência de choque, o que não chegou a ocorrer. Também houve medidas repressivas, como prisões políticas, ocupação de espaços públicos e dispersão de manifestações, e de mobilização, como a requisição de combustíveis e veículos e a convocação de voluntários. O governo caiu e a resistência militar legalista terminou em 2 de abril.
A rebelião iniciou em 31 de março com a 4ª Região Militar/Divisão de Infantaria (RM/DI) em Minas Gerais, avançando na direção do Rio de Janeiro, principal alvo dos rebeldes, como parte de sua Operação Popeye. Ali estava sediado o I Exército, que reagiu. À noite o Destacamento Tiradentes, enviado pela 4ª RM/DI, defrontou o 1º Batalhão de Caçadores (BC) na fronteira; o batalhão acabou recuando. Ao final da noite o II Exército, em São Paulo, aderiu ao golpe e iniciou seu próprio avanço ao Rio pelo Vale do Paraíba. A Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), no meio do caminho, passou para seu lado. Na manhã de 1º de abril os cadetes da AMAN tomaram posições defensivas na estrada, enquanto o 1º Regimento de Infantaria (RI) enviado pelo I Exército contra o Destacamento Tiradentes aderiu a ele. Ao chegar a tarde os legalistas tinham posições contra a AMAN com o Grupamento de Unidades-Escola (GUEs) em Barra Mansa e contra o Destacamento Tiradentes com o 2º RI em Areal. O conflito foi interrompido para negociações, e a resistência legalista no I Exército terminou com sua rendição às 18:00. Enquanto isso, no Rio, onde até então a maior parte da guarnição não estava rebelada, os golpistas assumiram o Ministério da Guerra, responsável pelo Exército.
A partir de Brasília a 4ª Companhia do Batalhão da Guarda Presidencial, em tese legalista, seguiu em 1º de abril de à fronteira Goiás—Minas Gerais. Em resposta o 10º Batalhão da Polícia Militar de Minas Gerais deslocou-se a Paracatu. A companhia acabou recuando. O Comando Militar de Brasília, cuja lealdade estava em questão, deu cobertura à declaração de vacância do mandato de Goulart pelo Congresso. Convergiram à capital o 16º BC, de Mato Grosso, e o Destacamento Caicó de Minas Gerais. No Nordeste o IV Exército aderiu ao golpe em 1º de abril sem resistência militar e depôs Miguel Arraes, governador de Pernambuco. No Sul os legalistas conseguiram controlar o comando do III Exército em Porto Alegre, mas ao longo de 1–2 de abril perderam a 5ª RM/DI (Paraná e Santa Catarina) e a maior parte do interior do Rio Grande do Sul. As divisões rebeladas uniram-se no III Exército Revolucionário, que, reforçado pelo restante do país, planejava uma ofensiva, mas Goulart pôs fim à resistência em 2 de abril. A Operação Brother Sam, montada pelos Estados Unidos para dar apoio logístico ao golpe, resultou em movimentos navais a partir de 1º de abril, mas foi suspensa muito antes de chegar ao Brasil.
Os legalistas a princípio tinham superioridade de forças. A timidez da resposta armada do governo e o descontentamento do oficialato levaram a sucessivas adesões de comandos. A deterioração da situação militar do presidente estava entre os principais motivos de suas saídas do Rio de Janeiro a Brasília, Porto Alegre e o interior gaúcho, de onde foi ao exílio. A guerra civil não chegou a ocorrer, e a violência ocorrida foi na repressão política.