Só sei que nada sei
famosa frase de Sócrates / De Wikipedia, a enciclopédia encyclopedia
A popular frase só sei que nada sei ou sei uma coisa: que eu nada sei, por vezes compreendida como um paradoxo socrático, é um dizer muito conhecido, derivado da narrativa de Platão sobre o filósofo Sócrates. No entanto, a frase não é mencionada em nenhum texto grego antigo que nos tenha sido legado[1].
Acredita-se que tenha surgido originalmente em textos escritos em latim, como em "ipse se nihil scire id unum sciat" de Cícero[2], ou em Nicolau de Cusa com "scio me nihil scire" e "scio me nescire"[3]. É possível que seja, então, uma paráfrase de um texto grego antigo, encontrada apenas em latim e vertida na contemporaneidade para o grego catarévussa como "[ἓν οἶδα ὅτι] οὐδὲν οἶδα", (lê-se: [hèn oîda hóti] oudèn oîda)[4]. Logo, esse problema teria surgido já na época da tradução latina, muito provavelmente por utilizarem apenas o verbo scire (saber, entender) para traduzir palavras distintas do grego, como (syn)eidénai, epístamai, gignṓskein, sophía e sophós[5].
O dizer está relacionado com o relato de Querefonte sobre a resposta da sacerdotisa (pítia), no Oráculo de Delfos, em relação à questão "quem é o homem mais sábio da Grécia?". Essa consulta foi narrada por Platão em sua Apologia (21a) e por outro discípulo de Sócrates, Xenofonte, em um outro texto também chamado Apologia (14). No entanto, nesse último relato é dito apenas que ninguém seria mais justo, livre e sensato que Sócrates, não aparecendo a palavra 'sábio'[6].
No contexto da Apologia de Platão, em 20d, essa questão se relaciona, portanto, à condição humana, detentora de uma sabedoria limitada e ignorante de muitas coisas. Logo a anthrōpínē sophía (sabedoria humana) seria a consciência da sua própria limitação quanto ao saber[7].