Suíça
país na Europa Central / De Wikipedia, a enciclopédia encyclopedia
Suíça (em alemão: [die] Schweiz [ˈʃvaɪts]; em suíço-alemão: Schwyz ou Schwiiz [ˈʃʋit͡s]; em francês: Suisse [sɥis(ə)]; em italiano: Svizzera [ˈzvittsera]; em romanche: Svizra [ˈʒviːtsrɐ] ou [ˈʒviːtsʁːɐ]), oficialmente Confederação Suíça (em alemão: Schweizerische Eidgenossenschaft; em francês: Confédération suisse; em italiano: Confederazione Svizzera; em romanche: Confederaziun svizra), é uma república federal composta por 26 estados, chamados de cantões, com a cidade de Berna como a sede das autoridades federais. O país está situado na Europa Central, fazendo fronteira com a Alemanha a norte, com a França a oeste, com Itália a sul e com a Áustria e o principado de Liechtenstein a leste.
Confederação Suíça Schweizerische Eidgenossenschaft (alemão) Confédération Suisse (francês) Confederazione Svizzera (italiano) Confederaziun Svizra (romanche) | |||||
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Lema: Unus pro omnibus, omnes pro uno "Um por todos, todos por um" (Latim) | |||||
Hino nacional: Salmo suíço | |||||
Gentílico: suíço; suíça | |||||
Localização da Suíça (em verde) | |||||
Capital | Nenhuma (de jure) Berna (de facto) 46°57′N 7°27′E | ||||
Cidade mais populosa | Zurique | ||||
Língua oficial | Alemão, francês, italiano e romanche[1] | ||||
Governo | República federal parlamentarista | ||||
• Conselho Federal [nota 1] | |||||
• Chanceler Federal | Viktor Rossi | ||||
Independência | |||||
• Data de fundação | 1 de agosto de 1291 | ||||
• de-facto | 22 de setembro de 1499 | ||||
• Reconhecida | 24 de outubro de 1648 | ||||
• Restaurada | 7 de agosto de 1815 | ||||
• Estado Federal | 12 de setembro de 1848 | ||||
Área | |||||
• Total | 41 285[2] km² (144.º) | ||||
• Água (%) | 4,2% | ||||
Fronteira | Alemanha, Áustria, Liechtenstein, Itália e França | ||||
População | |||||
• Estimativa para 2018 | 8 508 898[3] hab. (100.º) | ||||
• Censo 2015 | 8 327 126 hab. | ||||
• Densidade | 186 hab./km² (68.º) | ||||
PIB (base PPC) | Estimativa de 2017 | ||||
• Total | US$ 516 bilhões*[4] (39.º) | ||||
• Per capita | US$ 61 360[4] (9.º) | ||||
PIB (nominal) | Estimativa de 2017 | ||||
• Total | US$ 680 bilhões*[4] (19.º) | ||||
• Per capita | US$ 80 837[4] (2.º) | ||||
IDH (2021) | 0,962 (1.º) – muito alto[5] | ||||
Gini (2018) | 29,7[6] | ||||
Moeda | Franco suíço (CHF ) | ||||
Fuso horário | CET (UTC+1) | ||||
• Verão (DST) | CEST (UTC+2) | ||||
Cód. ISO | CHE | ||||
Cód. Internet | .ch | ||||
Cód. telef. | +41 | ||||
Website governamental | (em alemão) |
A Suíça é um país sem costa marítima cujo território é dividido geograficamente entre o Jura, o Planalto Suíço e os Alpes, somando uma área de 41 285 km². A população suíça é de aproximadamente 8,5 milhões de habitantes e concentra-se principalmente no planalto, onde estão localizadas as maiores cidades do país. Entre elas estão as duas cidades globais e centros económicos de Zurique e Genebra. A Suíça é um dos países mais ricos do mundo relativamente ao PIB per capita calculado em 75 835 dólares americanos em 2011.[4] Zurique e Genebra foram classificadas como as cidades com melhor qualidade de vida no mundo, estando em segundo e terceiro lugar respectivamente[7] e a Suíça como o melhor país para nascer em 2013.[8]
A Confederação Suíça tem uma longa história de neutralidade, não estando em estado de guerra internacionalmente desde 1815. O país é sede de muitas organizações internacionais como o Fórum Económico Mundial, a Cruz Vermelha, a Organização Mundial do Comércio, a União Postal Universal, a Organização Internacional para Padronização e do segundo maior Escritório das Nações Unidas. Em nível europeu, foi um dos fundadores da Associação Europeia de Comércio Livre e é parte integrante do Acordo de Schengen. Em termos desportivos, o COI, a FIFA, a UEFA, a FIBA e a FIVB possuem as suas sedes localizadas no território suíço.
A Suíça é constituída por quatro principais regiões linguísticas e culturais: alemão, francês, italiano e romanche. Por conseguinte, os suíços não formam uma nação no sentido de uma identidade comum étnica ou linguística. O forte sentimento de pertencer ao país é fundado sobre o histórico comum, valores compartilhados (federalismo, democracia directa e neutralidade)[9] e pelo simbolismo Alpino.[10] A criação da Confederação Suíça é tradicionalmente datada em 1 de agosto de 1291.
Confœderatio Helvetica (CH) é a designação oficial em latim do país. O termo Helvética vem da palavra latina Helvetier que por sua vez provém do nome da antiga tribo celta dos Helvécios. A Revolução Suíça de 1798 foi a primeira contra a supremacia dos fundadores da Antiga Confederação Suíça: Uri, Schwyz, Unterwalden e as cidades de Lucerna, Zurique e Berna. As diferentes línguas faladas obrigaram a criar um nome único em latim, língua maioritariamente falada na Europa naquela época.[11] Nos tempos atuais, o termo Helvetia não é utilizado para caracterizar oficialmente a Suíça. Contudo, este nome pode ser encontrado em selos e moedas suíços. "C.H." (Confœderatio Helvetica) são as iniciais encontradas nos autocolantes para os carros e no domínio da Internet (.ch) desde 1995.[11]
O nome Confederação Suíça tornou-se conhecido apenas durante o século XVIII, quando não era nem oficial nem único, dado que designações como Corpo helvético, Magna Liga, Ligas e Helvetia eram também usadas para denominar a Suíça.[12] Atualmente, e segundo a carta das denominações de países da Suíça, o país é nomeado oficialmente como Confederação Suíça e explicita que deve ser evitado o uso de todas as palavras com prefixo helveto-.[12] Esta designação é utilizada pela primeira vez em alemão num documento datando da guerra dos Trinta Anos (1618-1648).[12] Porém, em latim a tradução continua sendo Confœderatio Helvetica.[13]
Antiguidade
A história da Suíça começa antes do Império Romano: em 500 a.C. Nessa altura, muitas tribos celtas estavam localizadas nos territórios do Centro-Norte da Europa. A mais importante delas era a dos Helvécios, nome que iria originar a designação actual da Suíça.[14] Ao contrário do que era dito pelos Romanos e pelos Gregos, os Helvécios não eram selvagens mas sim avançados na técnica de joias e outras peças pequenas, corroborando as escavações feitas no Lago Neuchâtel. Em 58 a.C., os Helvécios tinham planeado descer para Sul, mas foram parados na batalha de Bibracte pelo Exército Romano sob o comando do general Júlio César e obrigados a recuar.[14][15]
Os Romanos controlaram o território suíço até cerca do ano 400. Foram criadas fronteiras e fortalezas a norte do Reno para conter as invasões bárbaras provenientes do norte da Europa.[17] Com o imperador Augusto (r. 27 a.C.–14 d.C.), os romanos conquistaram a parte Oeste da Alemanha e a Áustria. Muitas cidades suíças da atualidade foram fundadas durante esta era: Genibra (Genebra), Lausana, Octoduro (Martigny), Saloduro (Soleura), Turico (Zurique), Seduno (Sião), Basília (Basileia), Bilício (Bellinzona), entre outras.[17][18]
Depois da queda do Império Romano, o território foi invadido por tribos germânicas como os Burgúndios, Alamanos e Lombardos.[19] O período da Idade Média da Suíça foi um pouco confuso até à formação da antiga Suíça. No século VIII, os Burgúndios e os Alamanos entraram na coalizão dos Francos de Carlos Magno, que permitiu aos missionários católicos entrar nos territórios controlados pelos Alamanos. Com o Tratado de Verdun, o território suíço passou para as mãos de Lotário I, que incluía um assentamento burgúndio a oeste do rio Aar que depois formou um reino independente até 1033, quando integrou de novo o Sacro Império Romano-Germânico.[19][20]
Antiga Confederação
1 de Agosto de 1291 é a data da formação da Confederação Helvética.[21] Esta data foi encontrada num documento que já foi autenticado através de uma análise radionuclear de Carbono-14.[22] Tudo começou com uma estrada chamada São Gotardo e três pequenos vales no centro do território suíço – Waldstätte – que ficaram esquecidos pelos duques e reis. Do século XI ao século XIII, muitas cidades foram fundadas, incluindo Berna, Lucerna e Friburgo.[23]
A partir de 1332, a confederação começou a crescer, acolhendo novos membros. Nesse ano, o cantão de Lucerna adere à união, enquanto os cantões de Zurique, Zug e Berna e Glarona entram em 1353, 1352 e 1353,[24] respectivamente criando a confederação de oito Estados-Membros. Mais tarde entrou a cidade, e não o cantão, de Appenzell em 1411 e depois São Galo em 1412.[25][26]
Passado algum tempo, tendo os suíços se envolvido em pequenas guerras contra os Borguinhões e em conquistas de outros pequenos territórios como Zurique, Schwyz e Glarona (resultados da Antiga Guerra de Zurique), surgiu a necessidade de aumentar a confederação. Porém, em 1477, Uri, Schwyz, Unterwalden, Zug e Glarona não concordavam com mais uma expansão. Um acordo levado por Niklaus von Flüe acalmou os ânimos dando assim entrada aos cantões de Friburgo e Soleura. De seguida, os cantões fizeram mais um acordo com o Cantão de Grisões, porém, sem Berna criando a confederação dos 13 Estados-membro.[27]
Através da Guerra dos Suabos, a Suíça juntou mais membros. Em 1501, as cidades de Basileia e Schaffhausen foram integradas na confederação, e em 1513 o Apenzell (antes de se dividir) integrou a confederação, dando assim treze cantões, que constituíam a antiga Confederação de 1291 durante muito tempo. Porém a independência formal só aconteceu em 1648.[27]
Depois da criação da Confederação em 1291, a Suíça atravessa um longo período de revoluções, guerra e invasões contra o Antigo Regime que viria a culminar com a revolução de 1782. Entre 1650 e 1790, vários são os conflitos que vão acontecendo na Suíça contra famílias ricas e que não tiveram sucesso. Muitos cantões entraram em guerra e conflitos para reclamar igualdade nos direitos. Apenas o Cantão de Genebra e a cidade de Togemburgo conseguiram restaurar algumas regras antigas. Porém, em 1782, as tropas napoleónicas e de Berna conseguiram instaurar a aristocracia em Genebra. Contudo, durante o século XVIII, cada vez mais as pessoas insistiam na unidade da Suíça, criando regras equivalentes entre os cidadãos. Em 1761, foi criada a Sociedade Helvética em Zurique. Juntavam-se todos os anos em Schinznach-Bad (Cantão de Argóvia) e discutiam a história e o futuro da Confederação.[28]
República Helvética
As revoltas que ocorriam entre o século XVII e o século XVIII mostraram que a revolução de 1798 não correu da mesma maneira que a Revolução Francesa. Enquanto que em França a revolução deveu-se ao abuso do poder da monarquia, na Suíça, a revolução de 1798 deveu-se mais à corrupção das casas ricas. De todas as maneiras, a Revolução Francesa de 1789 provou aos suíços que era possível uma revolução na confederação.[29]
Após a Tomada da Bastilha, muitos suíços em todo o país começaram a pôr em causa o sistema político em vigor através de petições como, por exemplo, em Unter-Hallau, Aarau e no cantão de Vaud. Outros acontecimentos são as celebrações da Revolução Francesa em Lausanne (1790), de onde inicia-se a Revolução de 1798. Em 1792, ocorre a Revolução de Genebra. Um ano depois são realizadas eleições que viriam a culminar com a celebração de uma nova Constituição em 1794. Nesse mesmo ano ocorre também a Revolução dos Grisons.[29]
A Revolução de Vaud em 1797 representou um papel fundamental para a criação da República Helvética. Frederico César de La Harpe perguntou à população se concordaria com uma intervenção francesa contra Berna. Quando Napoleão caminhava a caminho da Alemanha atravessando Genebra, em Vaud, foi acolhido em festa e as populações aproveitaram esta ocasião para lhe mostrar as suas convicções em Lyon. Apesar de tudo, Berna não queria negociar e enviou 5 mil soldados de expressão alemã à região. Os soldados de expressão francesa proclamaram a República de Léman, em que Léman significa o Lago de Genebra. O general francês Ménard aproveitou a vitória do conflito para declarar guerra a Berna. Os vaudeses marcharam para Berna e tomaram a cidade a 5 de Março de 1798.[29]
Cerca de 121 representantes dos cantões de Argóvia, Basileia, Berna, Friburgo, a República de Léman (Cantão de Vaud), Lucerna, Schaffhausen, Solothurn e Zurique juntaram-se em Argóvia a 12 de Abril de 1798 para proclamar a República Helvética e confirmar uma nova constituição.[29]
A França anexou os cantões de Genebra, Neuchâtel, Bienna e o território do Bispo de Basileia, actual Jura. A nova constituição promulgada era muito semelhante à francesa, com um parlamento (duas câmaras), um governo legislador e um tribunal supremo de justiça. A tradição federalista da Antiga Confederação de 1291 fora eliminada.[30]
Apesar da criação de uma nova república, a República Helvética viria a cair devido a diversos factores. De um lado, os representantes do antigo sistema não falharam em atacar as novas ordens, criticando e ridicularizando-as. Por outro lado, as guerras sucessivas foram esgotando as reservas da confederação. O sistema político de centro não foi bem recebido pela população e os camponeses, apesar de favoráveis à República, queriam estatutos iguais.[29]
A França tornara-se uma ditadura sob o comando de Napoleão e a República Helvética teve quatro tentativas de golpe de estado. Em razão da grande confusão e da instabilidade, alguns cantões restauraram o estatuto cantonal (Schwyz, Nidwalden, Obwalden, Appenzell, Glarona e Grisões). A cidade de Zurique criava uma forte oposição sobre a República dificultando as tarefas desta. A República viria a cair em 1802 com uma guerra civil entre os republicanos e apoiantes do antigo regime.[29]
Napoleão, ao ver o estado na República Helvética, ordenou aos seus soldados para invadir e desarmar os rebeldes e aí, percebeu que o sistema de República nunca seria viável. Foi aí que se criou um acto de mediação entre várias partes a ser respeitado pelos cidadãos, que durou de 1803 a 1815. A Suíça ganhou seis novos cantões: São Galo, Grisões, Argóvia, Turgóvia, Tessino e Vaud.[29]
Federação
Após a derrota de Napoleão na Batalha de Waterloo, a Suíça regressou ao sistema federal. Os seis cantões que tinham entrado durante o acto de mediação receberam o estatuto de estados livres (cantão) em vez de membros associados. Valais, Neuchâtel e Genebra voltaram a entrar para a confederação após terem sido anexados pela França. A Suíça passava a ter 22 cantões com as fronteiras iguais às da actualidade.[31]
Durante o século XIX, a Confederação Helvética vai progredindo para se tornar numa democracia moderna. Quando em 1815 o Antigo Regime foi restaurado, nem todos os republicanos desistiram. Muitos ainda reivindicavam a liberdade de circulação e direitos iguais entre classes sociais, entre outras exigências. Dadas essas, o cantão de Basileia dividiu-se em dois: Basileia-Cidade e Basileia-Campo. Outros políticos defendiam a criação de uma federação semelhante à dos Estados Unidos, com um parlamento federal. Depois de uma breve guerra civil em 1847, criou-se a Constituição Federal de 1848. À semelhança do sistema norte-americano, a Suíça adoptou a Declaração dos Direitos Humanos, duas câmaras parlamentares – o senado e a câmara federal –, o governo federal e um tribunal de Justiça Suprema. A nova constituição foi aceite por 15 cantões e meio (dado que apenas Basileia-Campo tinha aceite). Berna foi designada a capital federal. Porém, só em 1874 é que a constituição foi totalmente revista.[32] O país também se desenvolve no sector da indústria. A Suíça foi um dos primeiros países a implementar este ramo na sua economia e viria a crescer sobretudo depois da Revolução Industrial de 1850.[29]
A indústria têxtil foi um dos primeiros sectores do país a ser desenvolvido. Em 1801, a Suíça começa a produzir têxteis nas máquinas de terceira geração importadas do Reino Unido em São Galo. Mas, diferente dos outros países que usavam energia a vapor (a partir do carvão), os suíços usavam sobretudo as potencialidades da energia hidroeléctrica. Em 1818, as máquinas substituíram praticamente todo o trabalho manual em todo o território. Porém, com o Bloqueio Continental provocado por Napoleão, os suíços viram a possibilidade de importar máquinas proibidas. Por isso, muitas empresas começaram a construir elas próprias as suas máquinas.[29]
O sector industrial é uma das marcas mais importantes dos séculos XVIII e XIX pois serviu de impulso para a economia helvética. Mas a grande expansão de empresas criara um efeito de capitalismo sem ordem pelo que foi necessário criar regras para conter esses problemas. Também no século XIX a Suíça faz-se de exemplo ao Mundo ao criar regras laborais tais como em 1815 em Zurique que defendia que as horas diárias não excederiam as 12, nunca começando antes das cinco da manhã. As crianças com menos de dez não deviam trabalhar. Em 1815 o cantão de Turgau afirma que nenhuma criança pode trabalhar. Em 1877 uma lei federal nasce afirmando que as horas diárias passariam a ser 11 e não haveria período laboral à noite e aos Domingos. As crianças com menos de 14 anos estavam proibidas de trabalhar.[34]
Período contemporâneo
Apesar do país ter sido rodeado por várias potências em guerra (a França, a Alemanha, o Império Austro-Húngaro - até 1918 - e a Itália), a Suíça nunca foi invadida em nenhuma das duas Grandes Guerras. A sua neutralidade foi posta em causa com o Escândalo Grimm-Hoffmann,[35] em 1917, ao qual não foi dada muita relevância. O Estado adere à Liga das Nações em 1920 e ao Conselho Europeu, em 1963.[36] A invasão da Suíça foi várias vezes planeada pelos alemães, mas nunca foi atacada.[37] Conseguiu manter a paz com a Alemanha através de concessões económicas e militares. A imprensa suíça e o Governo Federal opuseram-se às políticas do Terceiro Reich que criou, com a Itália Fascista, um plano (nunca executado) de invasão denominado Operação Tannenbaum. O general Henri Guisan foi incumbido de organizar as defesas do país, que possuía um plano defensivo conhecido como Reduto nacional. Dada a sua localização geográfica, a Suíça era um local de espionagem constante por parte das duas facções (os Aliados e o Eixo). Durante a Segunda Guerra Mundial, a Suíça recebeu 300 mil refugiados dos quais 104 mil eram militares estrangeiros. 60 mil eram civis que fugiam das políticas nazis. Daqueles, entre 26 mil a 27 mil eram judeus. No entanto, as políticas imigratórias e de asilo eram restritas o que causou muitas controvérsias.[38]
Apesar de tudo, a Suíça foi uma voz de liberdade para a Europa Ocidental. A defesa "espiritual" fez com que a Suíça fosse uma marca de referência para os direitos do Homem e assegurou, fortalecendo a sua independência.[39]
Em 1958, a Suíça garante o direito ao voto às mulheres, primeiro em nível cantonal (no Valais), e depois em nível federal em 1971.[40] O último cantão a reconhecer o direito às mulheres de votar foi Appenzell Interior em 1990. Esse reconhecimento permitiu um grande crescimento de participações das mulheres na vida política. Em 1978 ocorre a criação do último cantão helvético, o Jura, após a separação de vários territórios ao longo do cantão de Berna. O Jura integrou oficialmente a Confederação Helvética em 1979.[41] A 18 de Abril de 1999, um referendo nacional propôs a revisão total da Constituição Helvética.[29]
Em 2002, a Suíça integra totalmente as Nações Unidas,[42] deixando o Vaticano como o único Estado sem integração completa no organismo. A Confederação Helvética é um Estado-membro da Associação Europeia de Livre Comércio mas não é membro do Espaço Económico Europeu.[43]
Em 1992, a Suíça pediu a adesão à União Europeia, mas fora banida pela EEE em Dezembro de 1992, dado que um referendo interno era necessário para obter aprovação por parte da população helvética.[44] Vários referendos foram-se realizando e devidas às opiniões da população, as negociações com a União Europeia foram congeladas. No entanto, as leis suíças estão gradualmente a adaptar-se às normas da UE e o Governo Federal assinou vários acordos bilaterais com o bloco económico. O país, juntamente com o Liechtenstein, tem vindo a estar rodeada pelos países-membros da UE até 1995, com a adesão da Áustria. Em 5 de Junho de 2005, a população suíça aprovou a integração ao Espaço Schengen.[45]
A Suíça é um país localizado no centro da Europa de coordenadas 47,00 N e 8,00 E. A sua área total é de 41 285 km² em que 1 520 km² são cobertos de água. Faz fronteira com a França a Oeste, a Alemanha a Norte, a Áustria e o Liechtenstein a Leste e com a Itália a Sul. De uma maneira geral, pode-se dividir a Suíça em três regiões geográficas: os Alpes, o planalto e o Jura.[29]
O planalto suíço, denominado como plateau, ocupa um terço da área do país e aí mora cerca de dois terços da população naquela área geográfica. A densidade populacional é de cerca de 450 pessoas por quilómetro quadrado. Vai desde o Lago Leman na fronteira francesa, atravessando o centro da Suíça e terminando no Lago de Constança, nas fronteiras com a Alemanha e a Áustria. Tem uma altitude média de 580 metros.[46] O plateau suíço é atravessado por três grandes rios: o Ródano, o Reno e o Aar. O Sul e o centro-Sul da Suíça são dominados pela cadeia montanhosa alpina enquanto que o restante é uma zona plana exceptuando-se um faixa ao longo da região Noroeste que é dominada pelo Jura.[29]
Os Alpes Suíços fazem parte de uma cadeia montanhosa que atravessa desde o Sul da Europa até à Europa Central. Algumas das mais importantes passagens estão localizadas nos Alpes suíço. Têm uma altitude média de 1 700 metros e cobre dois terços da totalidade da área da Suíça. Entre os alpes suíços estão 48 montanhas que têm pelo menos 4 mil metros de altitude.[47]
O Jura é uma linha de rocha calcárica que se estende desde o Lago Leman até o rio Reno no Norte, ocupando cerca de uma décima parte da área da Suíça, 12%. Estão presentes naquelas rochas abundantes fósseis de origem jurássica.[48] A densidade populacional da Suíça é elevada: 170 habitantes por quilómetro quadrado. Porém, é na zona central que se concentra a maior parte da população cuja densidade chega aos 500 habitantes por quilómetro quadrado.[49]
Flora e fauna
Dada a grande diferença de altitudes, que variam dos 195 metros até mais de 4 mil metros, a Suíça apresenta uma grande diversidade de climas e dos respectivos animais e plantas. Na zona Sul, nomeadamente no cantão de Ticino, pode-se verificar um clima mediterrânico, enquanto que no topo das montanhas está sempre presente uma camada de neve. A grande discrepância de altitudes também permite constatar uma diversidade nos minerais.[29]
Nos cantões mais a Sul (Valais e Ticino) podem-se encontrar eucaliptos e pinheiros. O tempo temperado permite a evolução de muitas plantas e também de zonas vinhateiras, entre outras espécies. À medida que aumenta a altitude, a densidade vegetacional diminui, pois o ar torna-se mais frio, dificultando a evolução de espécies. Os glaciares formam a paisagem a altas altitudes. A Suíça é um dos países com mais glaciares por área.[29] Em relação à fauna, os ursos e os lobos estiveram extintos durante um século. Porém, o lobo reapareceu no território nas últimas décadas provindo da Itália. O íbex, o chamois e a marmota são espécies muito frequentes nos Alpes, bem como uma grande quantidade de espécies voadoras em todo o território, como pombos, corvos e gaivotas.[50]
Clima
O clima na Suíça é temperado apresentando uma grande amplitude entre Verões amenos e Invernos rigorosos. Abaixo da cordilheira dos Alpes, o tempo é mais quente do que no Norte. Em termos climáticos pode-se dividir a Suíça em quatro regiões: extremo Sul, os Alpes, o maciço central e o Jura.[51][52] As temperaturas variam entre temperaturas negativas nas zonas montanhosas e no Inverno e temperaturas amenas durante o Verão pois na época do Estio, o país é enfrentado por um anticiclone enquanto que no Inverno, existe uma frente fria proveniente da Sibéria causando abruptas quedas na temperatura, sobretudo durante a noite.[29]
O tempo na Suíça varia bastante de lugar para lugar. O local com maior precipitação é Rochers de Nave, perto de Montreux com cerca de 260 cm por ano. A precipitação é geralmente mais elevada na parte Oeste do país onde se formam nuvens de origem atlântica. A parte Sul tem também altas precipitações devido aos efeitos de barramento das nuvens nos Alpes: em Lugano a precipitação chega aos 175 cm. Uma das características mais vincadas no clima suíço é o vento forte e quente que se forma no Sul, designado Vento Föhn. A insolação na Suíça é de aproximadamente 1 700 horas por ano, havendo picos em lugares no Valais onde o Sol pode durar cerca de 2 300 horas por ano.[53]
Efeitos do aquecimento global
O aquecimento global é particularmente difícil para a Suíça. Isto é devido ao clima continental e à localização nas latitudes médias.[55] Entre o início dos registros meteorológicos em 1864 e 2019, tornou-se uma média de 1,9 °C mais quente na Suíça.[55] Como resultado, as temperaturas na Suíça subiram duas vezes mais rápido que a média global.[55] O aquecimento acelerou nos últimos 30 anos.[55] Todos os anos entre 1991 e 2019 eram mais quentes que a média dos anos de 1961 a 1990.[55] Das dez temperaturas médias mais quentes de junho desde o início dos registros climáticos, sete foram medidas após 2002.[55] Em 1890, Davos ainda tinha 231 dias de geada (= número de dias abaixo de 0 °C); em 2018, havia apenas 161 dias de geada em Davos.[55] A área das geleiras suíças quase caiu pela metade entre 1850 (1 621 quilômetros quadrados) e 2019 (944 quilômetros quadrados).[56] Estudos científicos concluem que, por volta de 2050, os esportes de inverno não serão mais possíveis na Suíça se a meta de dois graus do Acordo de Paris não for cumprida.[57]
Urbanização
Em 2018, o número de habitantes da Suíça era estimado em mais de 8,5 milhões de pessoas, sendo que 23% destes são estrangeiros (dos quais, dentro deste percentual, 64% nasceram em nações da União Europeia).[3] Entre dois terços e três quartos da população vivem em áreas urbanas.[58][59] A Suíça passou de um país predominantemente rural para um urbano em apenas 70 anos. Desde 1935 o desenvolvimento urbano tem reivindicado grande parte da paisagem suíça, como o fez durante os 2000 anos anteriores. Esta expansão urbana não afeta apenas o planalto, mas também a região de Jura e o sopé dos Alpes[60] e há preocupações crescentes sobre o uso da terra.[61] No entanto, desde o início do século XXI, o crescimento da população em áreas urbanas é maior do que no campo.[59]
Cerca de 40% dos suíços provêm, direta ou indiretamente, da imigração.[62]
A Suíça tem uma densa rede urbana, onde grandes, médias e pequenas cidades são complementares.[59] O planalto é muito densamente povoado, com cerca de 450 pessoas por quilômetro quadrado e a paisagem mostra continuamente sinais da presença do homem.[63] O peso da maiores áreas metropolitanas, que são Zurique, Genebra-Lausanne, Basileia e Berna tende a aumentar.[59] Em comparação internacional, a importância dessas áreas urbanas é mais forte do que o seu número de habitantes sugere.[59] Além disso, os dois principais centros do país, Zurique e Genebra, são reconhecidos por sua qualidade de vida particularmente alta.[64]
Idiomas
A Suíça tem oficialmente quatro línguas: o alemão, o francês, o italiano e o romanche falados, respectivamente, em 63,7%, 20,4%, 6,5% e 0,5% do território. Esta diversidade linguística deve-se à vizinhança da Suíça: a Itália, de expressão italiana, a Alemanha, o Liechtenstein e a Áustria, de expressão alemã e, por fim, a França, de expressão francesa.[66] Esta divisão por línguas dá na realidade uma divisão de facto em Suíça alemã, Suíça romanda, Suíça italiana e Romanche.
As pessoas nas áreas fronteiriças entre duas línguas vão crescendo a aprender ambas as línguas, tornando-se bilíngues. Este fenómeno pode ser internacional, entre a Suíça e outro país ou interno, entre duas áreas de línguas diferentes que podem ser entre dois cantões ou mesmo dentro de um cantão. No caso do Cantão do Valais, os habitantes de Sierre são bilíngues onde o alemão e o francês se encontram. A fronteira ideológica entre a população de expressão francesa e de expressão alemã é coloquialmente conhecida como Röstigraben. A separação não fica somente pela língua mas também pelas ideologias e culturas, onde os falantes franceses são mais abertos e liberais e os falantes alemãs são mais conservadores. Embora o alemão seja língua oficial de-jure, na realidade o mais falado nesta área é o alemão-suíço (Schweizerdeutsch). Trata-se de uma variação bastante diferente do alemão quer na pronúncia, quer na escrita. O alemão-suíço é um dialeto, portanto falado somente por certas comunidades, há diversos dialetos espalhados em toda a Suíça, havendo por vezes mais de um dialeto por cantão. O romanche é falado por cerca de 50 mil pessoas, das quais 35 mil o utilizam como língua materna. A maior parte de seus falantes vive no leste do país, e o idioma se divide em três variações, cada qual com sua própria gramática, literatura e dicionários; tentativas de se padronizar o romanche não foram bem sucedidas até o momento.[67]
O inglês é usado como língua franca pela população ao redor do país.[68][69] O governo suíço publica muitos comunicados e documentos na língua inglesa, apesar do idioma não ser um dos oficiais.[68][69] Por conta das diferenças entre o alemão padrão, aprendido nas escolas e usado por parte dos suíços francófonos e italófonos, e o alemão-suíço usados por parte dos suíços germanófonos, os suíços preferem usar o inglês entre si quando não se sentem confortáveis em manter uma conversa em algum dos idiomas suíços dos quais não estão habituados a usar em suas regiões.[68][69] Os que mais fazem uso da língua inglesa são os suíços de fala alemã.[68][69] A televisão suíça faz uso da língua inglesa entre suíços em algumas ocasiões específicas.[68][69]
A imigração de grandes grupos estrangeiros, sobretudo portugueses, espanhóis, italianos, sérvios e albaneses permitiram a penetração de várias línguas estrangeiras como o português (3,5%), o albanês (3,3%), o espanhol (2,3%), o sérvio e, recentemente o turco, entre outras.[70][71]
Religião
A Suíça não tem religião oficial, embora a maioria dos cantões (exceto Genebra e Neuchâtel) reconheça igrejas oficiais, que são a Igreja Católica Romana ou a Igreja Reformada Suíça. Essas igrejas, e em alguns cantões também a Velha Igreja Católica e as congregações judaicas, são financiadas por impostos oficiais dos adeptos.[72]
O cristianismo é a religião predominante na Suíça (cerca de 68% da população residente em 2016[73] e 75% dos cidadãos suíços[74]), dividida entre a Igreja Católica Romana (37,2% da população), a Igreja Reformada Suíça (25,0%), outras igrejas protestantes (2,2%), a Ortodoxia Oriental (cerca de 2%) e outras denominações cristãs (1,3%).[73] A imigração estabeleceu o Islã (5,1%) como uma religião minoritária considerável.[73] 24% dos residentes permanentes suíços não são afiliados a nenhuma igreja (ateísmo, agnosticismo e outros).[73]
No censo de 2000, outras comunidades minoritárias cristãs incluíam o neo-pietismo (0,44%), o pentecostalismo (0,28%, incorporado principalmente na missão Schweizer Pfingstmission), o metodismo (0,13%), a Igreja Nova Apostólica (0,45%), as Testemunhas de Jeová (0,28%), outras denominações protestantes (0,20%), a Velha Igreja Católica (0,18%), outras denominações cristãs (0,20%). As religiões não-cristãs são hinduísmo (0,38%), budismo (0,29%), judaísmo (0,25%) e outras (0,11%); 4,3% não fizeram uma declaração.[75]
O país era historicamente equilibrado entre católicos e protestantes, com uma complexa colcha de retalhos de maiorias na maior parte do país. A Suíça desempenhou um papel excepcional durante a Reforma Protestante, pois se tornou o lar de muitos reformadores. Genebra se converteu ao protestantismo em 1536, pouco antes de João Calvino chegar lá. Em 1541, ele fundou a República de Genebra em seus próprios ideais. Tornou-se conhecida internacionalmente como a "Roma protestante" e abrigou reformadores como Theodore Beza, William Farel ou Pierre Viret. Zurique se tornou outra fortaleza na mesma época, com Huldrych Zwingli e Heinrich Bullinger na liderança. Os anabatistas Felix Manz e Conrad Grebel também operavam lá. Mais tarde, eles se juntaram aos fugitivos Pietro Martire Vermigli e Hans Denck. Outros centros incluem Basileia (Andreas Karlstadt e Johannes Oecolampadius), Berna (Berchtold Haller e Niklaus Manuel) e São Galo (Joachim Vadian). Um cantão, Appenzell, foi oficialmente dividido em seções católicas e protestantes em 1597. As cidades maiores e seus cantões (Berna, Genebra, Lausana, Zurique e Basileia) costumavam ser predominantemente protestantes. A Suíça Central, o Valais, o Ticino, o Appenzell Innerrhodes, o Jura e o Fribourg são tradicionalmente católicos. A Constituição Federal da Suíça de 1848, sob a recente impressão dos confrontos dos cantões católicos x protestantes que culminaram no Sonderbundskrieg, que define conscientemente um estado com o social, permitindo a coexistência pacífica de católicos e protestantes. Uma iniciativa de 1980 que pedia a separação completa da igreja e do estado foi rejeitada por 78,9% dos eleitores.[76] Atualmente, alguns cantões e cidades tradicionalmente protestantes têm uma pequena maioria católica, não porque eles cresceram em quantidade de membros, pelo contrário, mas apenas porque desde 1970 uma minoria em constante crescimento não se tornou afiliada a nenhuma igreja ou outro órgão religioso (21,4% na Suíça, 2012) especialmente em regiões tradicionalmente protestantes, como Basileia (42%), cantão de Neuchâtel (38%), cantão de Genebra (35%), cantão de Vaud (26%) ou cidade de Zurique (cidade: 25%; cantão: 23%).[77]