Trajanópolis (Trácia)
antiga cidade romano-bizantina na Grécia Da Wikipédia, a enciclopédia livre
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Trajanópolis (em grego: Τραϊανούπολης; romaniz.: Trajanoúpolis; em latim: Trajanopolis; em búlgaro: Orichovo)[1] foi uma antiga cidade romano-bizantina da unidade municipal homônima, na unidade regional de Evros, na periferia da Macedônia Oriental e Trácia, na Grécia. Foi fundada por ou em nome do imperador romano Trajano (r. 98–117) provavelmente sobre o sítio duma antiga colônia grega chamada Dorisco. Dada sua localização em meio ao importante sistema de estradas do Império Romano, prosperou e tornou-se uma grande cidade.
Trajanópolis Τραϊανούπολης | |
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Ruínas de quatro edifícios termais romano-otomanos | |
Localização atual | |
Localização de Trajanópolis na Grécia | |
Coordenadas | |
País | Grécia |
Unidade regional | Evros |
Município | Alexandrópolis |
Unidade municipal | Trajanópolis |
Dados históricos | |
Fundação | Entre 98-117 |
Abandono | século XV-XVI |
Início da ocupação | Antiguidade Clássica |
Fundação | de Trajano |
Notas | |
Acesso público |
Pelo séculos III-IV, foi transformada na capital da província de Ródope e tornou-se uma metrópole eclesiástica. Permaneceu proeminente até o período bizantino tardio quando foi concedida pelos cruzados como um apanágio para Anselmo de Courcelles e foi saqueada por Joanitzes da Bulgária (r. 1197–1207). Durante o século XIV, foi repetidamente saqueada por invasores, vindo a ser completamente abandonada pelo período ou, no mais tardar, durante o século XV. Suas ruínas estão localizadas próximo a moderna vila de Lutrá Trajanópolis.
Trajanópolis foi fundada por ou em nome do imperador romano Trajano (r. 98–117), à época da fundação de Plotinópolis, fundada e nomeada em nome da imperatriz Plotina, como parte da politica provincial e distrital que visava a urbanização da Trácia. Como o historiador D. R. Samsaris supõe, o critério para a escolha de seu sítio foi, além de seus recursos termais, sua excelente posição no sistema de estradas dos Bálcãs e do Império Romano em geral.[2] Ela localizava-se equidistantemente entre Tempira e Cípsela,[3] provavelmente sobre o sítio da antiga cidade trácia de Dorisco,[4] seguindo o modelo grego de pólis e o helenístico de sinecismo, implicando que incorporou todas as vilas circundantes.[5] Como toda povoação grega, tinha sua própria zona rural (cora) que provavelmente se estendeu, no sentido leste-oeste, do sopé da cordilheira do Ródope ao rio Evros, e no sentido norte-sul, da moderna Sufli à "cora santa" da Samotrácia. A respeito da organização de sua cora há um marco miliário danificado, datado de 202, no qual são listadas todas as vilas que compunham sua periferia. Nele pode-se ler os nomes: Celerva ou Celevai, Rúptulo, Pilémolo, Corsanto e Estrime.[6]
Em pouco tempo, Trajanópolis tornou-se um florescente centro urbano, em parte graças a seu pertencimento ao circuito de cidades que compunham a Via Egnácia, a estrada romana que por séculos ligou Dirráquio e Apolônia à Bizâncio/Constantinopla.[7] No final de século III, durante as reformas de Diocleciano (r. 284–305), converteu-se na capital da província de Ródope. Apesar disso, é omitida na descrição do século IV da Trácia feita por Amiano Marcelino, na qual ele afirma que as principais cidades do Ródope eram Maximianópolis, Maroneia e Eno.[8] Segundo a "Carta para o Solitário" (em latim: Epistola ad Solitarios) de Atanásio do século IV, um bispado foi estabelecido na cidade e,[9] desde pelo menos o século V, Trajanópolis era uma metrópole da província eclesiástica do Ródope.[10] Michel Le Quien cita em sua obra o nome de vários bispos trajanopolitanos: Teódulo, perseguido pelos arianos no século IV; Sinclécio, um amigo do arcebispo constantinopolitano João Crisóstomo; Pedro, que esteve presente no Primeiro Concílio do Éfeso de 431 e assinou a carta dos bispos orientais pró-Nestório; Basílio, que esteve no Concílio da Calcedônia de 451;[a] Abundâncio e Elêusio, bispos respectivamente em 521 e 553.[11]
Sob o imperador bizantino Justiniano (r. 527–565), Trajanópolis foi reparada.[12] Em torno de 640, tinha duas sés sufragâneas sob sua jurisdição, enquanto que, pelo começo do século X, havia sete.[11] No século X, sob o imperador Constantino VII Porfirogênito (r. 913–959), a cidade ainda era importante.[13] Em 1077, durante a revolta contra o imperador Miguel VII Ducas (r. 1071–1078) e seu primeiro-ministro Niceforitzes, foi o ponto de encontro das tropas rebeldes lideradas pelos irmãos João e Nicéforo Briênio[14] e durante o reinado de Aleixo I Comneno (r. 1081–1118) pertenceu às propriedades de seu filho Isaac Comneno.[15] Em 1204, com a conquista de Constantinopla pela Quarta Cruzada, ela, Macri e Vira (atual Feres) foram concedidas como apanágio para Anselmo de Courcelles, sobrinho do cronista cruzado Godofredo de Vilearduin.[16] Dois anos depois, em 1206, o czar Joanitzes da Bulgária (r. 1197–1207) começou a saquear e destruir as cidades da Trácia, incluindo Trajanópolis. Na obra de Le Quien há o registro dum bispo trajanopolitano, chamado Cudumenes, para cerca de 1270.[11]
Em 1329, um frota turca de 70 navios proveniente de Esmirna desembarcou no delta do Evros e saqueou Trajanópolis e Vira. O imperador bizantino Andrônico III Paleólogo (r. 1328–1341), que estava em Didimoteico, enviou o grande doméstico João Cantacuzeno para impedi-los, tendo ele conseguido dispersá-los sem, porém, garantir com isso a permanência da população na cidade, que à época estava quase deserta. Este evento foi seguido pela Guerra civil bizantina de 1341-1347, um conflito travado entre Ana de Saboia (r. 1326–1341), a imperatriz-viúva de Andrônico III, e João Cantacuzeno (com aliados turcos) pelo controle do império. Durante o conflito, talvez em 1343 segundo Stilpon Kyriakides, Trajanópolis foi destruída, tendo permanecido deserta desde então;[17] apesar disso, há a referência ao nome dum bispo, chamado Germano, para o ano 1352.[11] Segundo Konrad Mannert, teria sido destruída pelos turcos no século XV.[13] Em 1564, há uma menção dum bispo residente de Maroneia, chamado Gabriel, que proclamava-se "metropolita de Trajanópolis", indicando que, com a destruição da cidade, o título de metropolita foi transferido para a vizinha Maroneia. Atualmente Trajanópolis é listada dentre as sés titulares da Igreja Católica.[11]
Segundo Konrad Mannert, após a destruição da cidade pelos turcos, suas ruínas permaneceram sem qualquer exame. No século XVIII, Paul Lucas, durante uma de suas viagens exploratórias, descobriu resquícios dum aqueduto pertencente a Trajanópolis.[13] Apesar disso, a cidade só foi de fato descoberta e identificada no século XIX por Auguste Viquesnel e A. Dumont;[11][18][19] a identificação foi possível somente devido a descoberta duma inscrição bizantina nas termas na qual se pode ler "Trajanopó[lis] ... Macedônia" (em grego: Τραϊανουπό[λει] ... Μακεδονίας; romaniz.: Traianoupó[les] ... Makedonías).[20] Pouco foi escavado desde sua descoberta, sendo a temporada mais importante a de agosto de 1995, que revelou 13 túmulos; ela foi motivada por reformas agendadas numa rodovia que vinha de Salonica.[21] Dentre os achados encontrados nas escavações estão inscrições, moedas, muitas delas com efígies do rio Evros personificado, o pedestal duma estátua de Marco Aurélio (r. 161–180),[22] um relógio solar[b][23] e abundante material de construção.[21] Grande parte destes objetos está atualmente abrigado no Museu Arqueológico de Comotini.
A área murada do sítio localiza-se próximo às termas da vila moderna de Lutrá Trajanópolis, descendo a Colina de São Jorge ao lado das fontes termais. O cemitério de Trajanópolis está localizado a leste da muralha e ocupa uma grande área, que estende-se do sopé da Colina de São Jorge até além da rodovia nacional que liga Alexandrópolis com Feres.[21] Do período bizantino ainda existem algumas ruínas de duas igrejas e dois ícones em mármore com relevos, ambos datáveis entre os séculos XI-XII.[12] No centro do sítio está o edifício retangular conhecido como Hana, que teria sido construído entre 1370-1390 pelo paxá otomano Gazi Evrenos e funcionou como albergue para os transeuntes, e atrás dele há um complexo de termas abobadadas do século XVI. Outro edifício otomano atualmente em ruínas é um tekke localizado sobre a Colina de São Jorge, descrito em 1668 pelo viajante Evliya Çelebi, porém provavelmente construído cerca de 1361. Segundo a descrição de Evliya, ele atuou como convento da ordem dos dervixes bectachis, com 40 ou 50 membros, e abrigou viajantes e pobres. Tinha um moinho, que era uma atração famosa, e uma fonte, cujas águas ainda hoje são consideradas sagradas pelos muçulmanos. Atualmente há sobre as ruínas do tekke uma capela de pedra dedicada a São Jorge.[24]
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