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Ráfia
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Ráfia, também chamada de libongo, lubongo,[1][2] e pano-zimbo[3][4] (por alusão aos "zimbos"[5] que eram búzios ou conchas que serviam de moeda, na costa do reino do Congo),[2] é um tipo tecido fabricado com cânhamo ou fibras de palmeira-bordão, que foi usado historicamente, durante os séculos XVI e XVII, como numisma legal (isto é, moeda de troca) em várias regiões da África Central, dentro do reino do Congo e na Capitania Geral do Reino de Angola, em territórios que hoje em dia pertencem a Angola, ao Congo e ao Gabão, antes da introdução e generalização da moeda metálica nas suas respectivas economias, por mercê da influência portuguesa.[6] Também era usada para fabricação de cestos para transporte de frutas ou pequenas cargas.[7]

Existe também um composto sintético de polipropileno que imita a fibra da ráfia e é também assim denominado. Esse tipo de fibra de polipropileno foi inventado em 1960 pela empresa Covema, fundada pelos irmãos Marco Terragni e Dino Terragni.[8]
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Descrição

O libongo era um pedaço de pano quadrangular o qual - sendo certo que as suas dimensões variaram ao longo da história[9]- media três quartos de vara (cerca de 82,5 centímetros) em todos os lados, no séc. XVII.[3][9]
Este têxtil era amiúde tecido no Loango[9] com linho de cânhamo, ou fibras de palmeira-bordão ou fibras da casca de outra planta, a que se chamava "matomba"[3][4] (não confundir com a espécie Guazuma ulmifolia, que também dá por este nome comum, mas que não é nativa do continente africano).[10]
Estes panos vinham cunhados com os símbolos das autoridades vigentes no território, com efeito, chegou a haver libongos com o cunho das armas de Portugal, durante a primeira metade do séc. XVII.[3]
No final do séc. XVII, quatro libongos cosidos juntos, valiam aproximadamente 1 vintém.[2][9][3]
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História
Resumir
Perspectiva

Portugal e Angola
As primeiras tentativas de substituir o libongo como moeda de troca, por moeda metálica, surgiram no contexto português em 1645, ainda durante a ocupação holandesa de Luanda.[9]
O governador, Francisco de Souto-Maior, uma vez estabelecido no Quicombo, em 1645, propôs a substituição do libongo por moeda de cobre cunhada, dando conta de que a região tinha muitas minas de cobre o que facilitaria, quer o pagamento dos soldos das tropas, como também a regularização do comércio em Angola.[9]
Posteriormente, durante a governação de Salvador Correia de Sá e Benevides houve um tentâme concertado, com vista a substituir os libongos.[9] Dessarte, a Câmara de Luanda apresentou um requerimento onde se fazia a proposta de cunhagem de duas variedades de moeda de cobre: uma com o peso de duas oitavas e dois terços (aproximadamente 11 gramas e meia), a que se daria o nome "meio-pano" (por alusão ao nome "pano-zimbo") e com um valor esmado em 25 reis; e outra, a que chamaria “libongo” (por alusão ao libongo original), com um peso de uma oitava e um terço (aproximadamente 5,75 gramas), com um valor esmado de 12 reis e meio.[9]
Porém, em Agosto de 1649, o Conselho Ultramarino rejeitou este pedido por entender que poderia deitar a perder o comércio na região do Libolo, onde se andavam a tentar estabelecer feitorias e entrepostos comerciais portugueses, uma vez que ainda não teriam poder suficiente para tentar introduzir as novas moedas naquele território.[9] Ademais, o Conselho também advertiu que a extinção dos panos-zimbos como moeda de troca não era oportuna, naquele momento, uma vez que poderia dificultar a reconciliação das relações portuguesas com o reino do Congo, uma vez que aquele também usava este tipo de panos como moeda e, além disso, ainda estava obrigado pelo tratado de 1649 a pagar um tributo anual ao Reino de Portugal em pano-zimbo.[9]
Só mais tarde, na segunda metade do séc. XVII, em finais de 1663, aproveitando o declínio do libongo, cuja qualidade e valor tinha vindo a depreciar consideravelmente, ameaçando os rendimentos da coroa em cerca de 10.000 cruzados por ano, por causa da desvalorização, é que o Conselho Ultramarino se abalançou a peticionar a substituição do libongo por moeda de cobre.[9] Assim, já no ano seguinte - 1664 - a Coroa aprova a cunhagem da moeda de cobre em Angola.[9] Deste modo, surge a macuta,[2] moeda cujo nome provém do étimo mukuta, usado no Loango para aludir ao tecido urdido com a fibra da palmeira-bordão, assim escolhido em homenagem à moeda pano anterior.[9]
Reino do Congo
Quando o rei Garcia II, capitulou ante os portugueses, cedendo-lhes a ilha de Luanda e a sua pesca no tratado de 1649[11] (posteriormente emendado e ratificado em 1651), tendo-se comprometido a pagar ao Reino de Portugal um tributo anual,[11] aproveitou o ensejo e trocou a moeda do reino pelo libongo de ráfia.[12] O pano era "do tamanho de um guardanapo" e chamado mpusu ou libongo.[12][13]
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Referências
- Infopédia. «libongo | Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Dicionários infopédia da Porto Editora. Consultado em 24 de julho de 2025
- Gyllenbok, Jan (2018). Encyclopaedia of historical metrology, weights, and measures. Col: Science networks historical studies. Lomma, Sweden: Birkhäuser. p. 701. 977 páginas. ISBN 978-3-319-66690-7
- Bluteau, Rafael (1783). VOCABULARIO PORTUGUEZ - AUTORIZADO COM EXEMPLOS DOS MELHORES ESCRITORES PORTUGUEZES, E LATINOS, E OFFERECIDO A EL-REY DE PORTUGAL, D. João V. - Vol. V. Lisboa: No Collegio das Artes da Companhia de Jesu. p. 118. 817 páginas.
Libongos, & pannos-zimbos são pedaços de panno de três quartos de vara por todas as bandas; tecem-se em Lovango com linho cânhamo de Matomba; têm as armas de Portugal; quatro deles, cozidos juntamente, valem pouco mais, ou menos de hum vintem
- Bluteau, Rafael (1783). VOCABULARIO PORTUGUEZ - AUTORIZADO COM EXEMPLOS DOS MELHORES ESCRITORES PORTUGUEZES, E LATINOS, E OFFERECIDO A EL-REY DE PORTUGAL, D. João V. - Vol. VI. Lisboa: No Collegio das Artes da Companhia de Jesu. p. 225. 855 páginas.
Panos-zimbos chamão os Portugueses a huns panos de tres quartas de vara, que se fazem com os fios da casca da planta, a que chamão Matomba
- Infopédia. «zimbo | Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Dicionários infopédia da Porto Editora. Consultado em 24 de julho de 2025
- Pedro, Carla (21 de julho de 2025). «Buck, kiwi, zimbo, padrão-ouro e loonie. O glossário do dinheiro». Medialivre. Jornal de Negócios: 19
- Porto Editora. «Palmeira-bordão [em linha]». Porto: Infopédia. Consultado em 25 de janeiro de 2023
- «C'era una volta...l'estrusione». Polimerica. Consultado em 22 de fevereiro de 2013
- Nascimento de Souza, Leandro (2019). «ENTRE LIBONGOS E MOEDAS DE COBRE: A BATALHA DE AMBUÍLA E AS MINAS PRECIOSAS NO CONGO, 1665» (PDF). ANPUH Brasil. Simpósio Nacional de História (30): 1-5. Consultado em 24 de julho de 2025
- Brandão, Maria das Graças Lins (junho de 2010). «Plantas úteis nativas do Brasil na obra dos naturalistas». Horticultura Brasileira (2): 81. ISSN 0102-0536. doi:10.1590/s0102-05362010000200020. Consultado em 24 de julho de 2025
- Nascimento de Souza, Leandro (2019). «ENTRE LIBONGOS E MOEDAS DE COBRE: A BATALHA DE AMBUÍLA E AS MINAS PRECIOSAS NO CONGO, 1665» (PDF). ANPUH Brasil. Simpósio Nacional de História (30): 1-5. Consultado em 24 de julho de 2025
- Martin, Phyllis M. (1986). «Power, Cloth and Currency on the Loango Coast». African Economic History (15). 1 páginas. ISSN 0145-2258. doi:10.2307/3601537. Consultado em 28 de abril de 2021
- Edoumba, Pierre (2001). «Aperçu sur les monnaies d'Afrique». Revue numismatique (157): 105–119. ISSN 0484-8942. doi:10.3406/numi.2001.2321. Consultado em 28 de abril de 2021
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Referências
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