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Moda de viola

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Moda de viola
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A moda de viola é uma expressão da música caipira brasileira caracterizada por canções narrativas, geralmente acompanhadas apenas pela viola (viola caipira), sendo formado a partir de diferentes ritmos, desde toadas, cantigas, viras, canas-verdes, valsinhas e modinhas, união de influências europeias, ameríndias e africanas. No Brasil tomou a significação de um tipo de canção rural, com vocais em intervalos de terça e acompanhamento instrumental centrado na viola.[1]

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O Violeiro, de Almeida Júnior (1899).
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História e origem no Brasil

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A viola foi trazida ao Brasil pelos colonizadores europeus e difundida por diversos veículos de sociabilidade rural, tornando-se instrumento central nas práticas musicais do interior.[2] A moda de viola como gênero reconhecível só foi registrada e difundida a partir do início do século XX, tendo Cornélio Pires um papel de destaque na divulgação e sistematização das modas e do caipira como categoria cultural[3][4]. As primeiras gravações de modas de viola datam de 1929, resultado da atividade de difusão de Cornélio Pires e de duplas pioneiras do gênero.

A moda de viola, comercialmente e culturalmente, foi incorporada ao mercado musical e ao rádio nas décadas seguintes[5], mantendo suas raízes em práticas orais e comunitárias no campo. Estudos documentam tanto a historicidade da viola quanto seu papel como mediador de identidades rurais e processos de escolarização musical da viola.[1] As primeiras modas de viola foram gravadas a partir de 1929 ("Jorginho do Sertão", adaptação do folclore paulista), após o pioneiro trabalho de Cornélio Pires.[6]

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Estrutura musical

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Perspectiva

As modas de viola é tipicamente uma canção de caráter lírico-narrativo, com entoação que remete à fala (melodia “solta”).[7] A temática dominante nas modas de viola estão ligadas a três aspectos básicos: 1. a saga dos boiadeiros e lavradores, 2. o anedotário caipira e 3. as histórias trágicas de amor e morte. A moda de viola é uma narração feita em ritmo recitativo, onde o cantador tem que contar uma história. A melodia é solta, como se fosse uma poesia falada com acompanhamento musical.[8] É caracterizada pela viola solada acompanhando a melodia das vozes.[1][5] A canção O Rei do Gado, de Teddy Vieira, é um bom exemplo. Há descrição de costumes caipiras, sátiras de costumes e histórias de bichos e mais raramente uma narrativa meio surrealista chamada de moda-de-patacoada, sem qualquer ligação com a inteligibilidade lógica.[7][8]

Normalmente, as modas de viola são cantadas em dupla, sendo uma voz principal e voz de segunda, com um intervalo musical de terça e acompanhamento de viola. A métrica geralmente é de sete sílabas (redondilha maior), aparecendo por vezes a de cinco sílabas (redondilha menor). As formas estróficas mais utilizadas são a sextilha, a oitava e a quadra e, de forma mais rara, a décima.[1]

Variações regionais

No Nordeste, os cantadores lançam mão de sextilhas, moirão, martelo, quadrão e galope. Com grande capacidade de improvisação, os cantadores nordestinos utilizam-se da redondilha maior e de sete sílabas, onde cantadores apresentam-se em pares, realizando desafios que terminam quando um dos cantadores consegue derrotar o adversário.[2][9][8] Os cantadores do Centro-oeste e Sudeste, entretanto, limitam-se a apresentar suas modas sem que haja um aspecto de desafio entre os músicos.[10]

Em São Paulo, os modistas, como também são conhecidos os cantadores nesse estado, chamam, segundo nos diz o pesquisador Cornélio Pires, a quadra de "verso-de-dois-pés"; a sextilha é chamada de verso-de-três-pés e a oitava é conhecida como versos dobrados ou moda-dobrada. A palavra pé, muito utilizada no Brasil para designar verso, recebe portanto em São Paulo a designação de dístico ou número de rimas.[4][7] As rimas são em geral fixas, com as modas cantadas em carreira. O cantador, para chamar a atenção para si, canta uma quadra qualquer, o que se chama levante ou encabeçar a moda. Ao final canta-se o "arto" ou alto ou baixão, que também recebe o nome de suspender a moda.[11] Com a chegada da música rural ao mundo das gravações, as modas de viola foram incorporando novas temáticas, retratando mais o cotidiano das grandes cidades.[4][10]

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Influências culturais

A moda de viola deriva de uma mistura de elementos das tradições poético-musicais ibéricas (romances e modas)[2], misturados a matrizes indígenas e africanas presentes no Brasil rural. Tematicamente prioriza relatos de boiadeiros e lavradores, anedotário caipira e histórias de amor e morte, às vezes com tom satírico ou moralista. Pesquisas em etnomusicologia e folclore situam a moda de viola como forma de transmissão de normas e memórias comunitárias.[12][13]

Principais artistas

Duplas e violeiros que marcaram o gênero incluem Mandi e Sorocabinha, Zico Dias e Ferrinho, Caçula e Marinheiro, Laureano e Soares, Tonico e Tinoco, Torres e Florêncio, entre dezenas de outras.

Muitos desses nomes participaram das primeiras gravações e da difusão do gênero. Cornélio Pires, além de pesquisador e divulgador, gravou e publicou modas, contribuindo para a construção do repertório canônico.[14]

Referências

  1. Miranda, Fabio de Souza (2016). «Roda de viola: Jogos musicais no ensino coletivo de viola caipira» (PDF). Teses Usp. Consultado em 12 de novembro de 2025
  2. Martins, Daniel (13 de janeiro de 2025). «Cornélio Pires e a primeira moda de viola gravada». R7 Entretenimento. Consultado em 12 de novembro de 2025
  3. dos Santos, Diego Tavares; Guerra, Luiz Antonio (2023). «Cornélio Pires: música caipira e modernismo paulista». Blucher Open Access - Sociedade e cultura: estudos de sociologia dos processos simbólicos. Consultado em 12 de novembro de 2025
  4. Vilela, Ivan (2015). «Cantando a Própria História: Música Caipira e Enraizamento». EdUsp. Consultado em 12 de novembro de 2025
  5. «Biografia». Instituto Cornélio Pires. Consultado em 12 de novembro de 2025
  6. Sant'Anna, Romildo (2000). A moda é viola: Ensaio do cantar caipira. São Paulo: Arte & Ciência - UNIMAR. ISBN 85-7473-004-1
  7. Garcia, Rafael Marin da Silva (agosto de 2017). «Um paradoxo entre o existir e o resistir: a moda de viola através dos tempos». Música Caipira - Estudos Avançados. Consultado em 12 de novembro de 2025
  8. Barroso, Maria Helenice (2006). «Os cordelistas no D.F.: Dedilhando a viola, contando a história» (PDF). Repositório UnB. Consultado em 12 de novembro de 2025
  9. Malaquias, Denis Rilk (2019). «Música caipira de concerto: Territorialidades e trajetórias da viola e violeiros no âmbito caipira». Repositório UFG. Consultado em 12 de novembro de 2025
  10. «Moda de Viola». Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Consultado em 12 de novembro de 2025
  11. Ferreira, Cristiane da Silva (2015). «Ethos discursivo na constituência lítero-musical da moda de viola» (PDF). Sapientia Puc SP. Consultado em 12 de novembro de 2025
  12. de Lima, Matheus Leite Siqueira (2019). «As redes da viola caipira artesanal de um Luthier do sul de Minas Gerais» (PDF). Repositório Unifei. Consultado em 12 de novembro de 2025
  13. «Discografia». Instituto Cornélio Pires. Consultado em 12 de novembro de 2025
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