Escravidão nos Estados Unidos
Forma de trabalho escravo que existia como instituição legal desde os primeiros anos dos Estados Unidos / De Wikipedia, a enciclopédia encyclopedia
A Escravidão nos Estados Unidos foi uma instituição legal de escravização, principalmente de africanos e afro-americanos, chegando ao seu auge nos séculos XVIII e XIX. A escravidão praticada na América do Norte existia desde o período colonial, com os primeiros escravos africanos chegando aos Estados Unidos continentais em 1526 (quase três décadas após a chegada da primeira expedição europeia ao Novo Mundo) trazidos pelos espanhóis. Já nas Treze Colônias, os primeiros escravos da América Britânica chegaram na recém fundada cidade de Jamestown, Virgínia, em 1619. No período da Declaração de Independência dos Estados Unidos, em 1776, a escravidão era legal e presente em todas as Treze Colônias. Em 1865, quando foi abolida pela Décima Terceira Emenda da Constituição, ela estava presente em metade dos estados da União. Como um sistema laboral, foi vital para o sucesso econômico dos Estados Unidos no começo de sua história e quando foi feito ilegal, foi substituída nas fazendas por sharecropping (uma forma de parceria rural) e trabalhos forçados de presos do sistema carcerário, mirando principalmente afro-americanos, que continuaram em um sistema análogo a escravidão por quase um século após a guerra civil de 1861-65.
No período da Revolução Americana (1775–1783), o status de escravo havia sido institucionalizado como uma casta racial, na parte mais baixa da hierarquia social, formada quase que exclusivamente por negros de ascendência africana, amparada por provisões legais dentro Constituição do país.[1] Em 1789, o número de pessoas de cor livres que eram cidadãos e podiam votar era quase nulo.[2] Porém, pouco tempo depois da guerra de independência, as primeiras leis abolicionistas foram passadas nos estados do norte e o movimento para abolir a escravidão cresceu na primeira metade do século XIX. Os estados nortenhos dependiam de mão de obra livre e a maioria tinha abolido a escravidão por volta de 1805 (embora nem todos os escravos tenham sido libertados imediatamente). A expansão rápida da indústria do algodão no extremo sul após a invenção da máquina de tecer, fez com que a demanda por trabalho escravo no sul dos Estados Unidos aumentasse exponencialmente. Os estados escravagistas tentaram expandir a escravidão para os estados novos formados nos territórios do oeste para que assim eles pudessem manter sua influência política pela nação. Os líderes políticos sulistas queriam anexar Cuba como um território escravagista. A questão da escravidão continuaria a polarizar politicamente os Estados Unidos durante toda a primeira metade do século XIX, efetivamente dividindo o país entre os estados escravos e livres, na altura da linha Mason–Dixon.
Durante o governo de Thomas Jefferson, o Congresso dos Estados Unidos passou uma lei proibindo a importação de escravos, em 1808, embora o tráfico ilegal, via Flórida espanhola, continuasse comum.[3][4] O comércio interno de escravos, contudo, permaneceu legal e cresceu consideravelmente já que a demanda das plantações, movida principalmente pelo algodão no sul, aumentava ano a ano. Na primeira metade do século XIX, mais de um milhão de escravos foram vendidos no sul, especialmente próximos a fronteira, e levados para as plantações no extremo sul do país em migrações forçadas. Nesse contexto, embora crianças não pudessem ser separadas de suas mães antes de completarem 12 anos, a prática era comum, assim como estupros a mulheres. Embora passassem por um processo de desumanização e maus tratos, as comunidades afro-americanas no sul foram se desenvolvendo e tentavam preservar sua cultura. Em 1865, havia mais de 4 milhões de afro-americanos em condição de escravidão. No sul dos Estados Unidos, em 1860, eles eram 3,5 milhões (31% da população), com 25% da população branca no sul tendo ao menos um escravo trabalhando para ele de forma permanente (aluguel de escravos também era uma opção comum para aqueles que não podiam pagar para manter um). No país como um todo, antes da guerra civil começar, cerca de 8% das famílias de americanos brancos tinha escravos.[5][6][7]
Com novos estados sendo criados no oeste dos Estados Unidos após anos de expansão dos assentamentos, os governos dos estados do sul começaram a tentar manter o balanço de poder no país entre o número de estados que eram escravagistas e os que eram livres, para assim manter o controle político sobre o Congresso, garantindo a preservação da escravidão como uma instituição legal. Os novos territórios adquiridos dos britânicos, franceses e mexicanos geraram vários compromissos políticos e negociações em Washington. Em 1850, os estados do sul, cada vez mais ricos com o comércio de algodão, começaram a ameaçar o Norte de secessão caso a escravidão fosse abolida e as tensões com os estados abolicionistas continuou. Muitos cristãos sulistas, incluindo ministros de igrejas, tentavam justificar sua posição pró escravidão com passagens bíblicas e uma noção de "paternalismo cristão".[8] As maiores denominações — os batistas, metodistas e os presbiterianos — se dividiam em relação a escravidão, com os nortenhos se opondo e os sulistas em apoio.
Em 1860, Abraham Lincoln venceu as eleições presidenciais com uma plataforma de deter a expansão da escravidão nos Estados Unidos. Temendo que Lincoln implementasse leis antiescravagistas, sete estados romperam com a União antes mesmo do presidente-eleito assumir o cargo. Quando outros quatro estados sulistas se uniram a esses sete, eles formaram os Estados Confederados da América com o intuito declarado de "preservar suas culturas e tradições" e manter a instituição da escravidão. Os estados que optaram pela secessão mais cedo eram aqueles que detinham o maior número de escravos e tinham uma economia completamente dependente de trabalhos forçados. O que se seguiu foi uma guerra civil que durou quatro anos e matou mais de 600 mil pessoas. Durante a guerra, a União passou as chamadas "leis de confisco", capturando e libertando os escravos do sul, até que, em 1863, o presidente Lincoln assinou a Proclamação de Emancipação, que efetivamente libertava todos os escravos do sul e tornou a guerra contra a independência do sul em uma "cruzada moral" contra a escravidão. Em 1865, foi passada a Décima Terceira Emenda à Constituição americana, abolindo a escravidão em todo o território dos Estados Unidos.[9]