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Besta (arma)
arma com um arco de flechas adaptado a uma das extremidades de uma haste e acionado por um gatilho Da Wikipédia, a enciclopédia livre
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A besta[1] (pronuncia-se /ˈbɛs.tɐ/[2], como em festa), balestra[3] ou balesta (derivações do latim tardio ballista) é uma arma com um arco de flechas adaptado a uma das extremidades de uma haste e acionado por um gatilho, o qual projeta virotes - dardos similares a flechas, porém mais curtos.
O conceito de um arco de flechas com haste de disparo horizontal deu origem a duas armas de guerra, a besta[4] e a balista, sendo esta fixa no solo, muito maior e mais pesada. Besteiro é o nome dado a um soldado armado com uma besta.
Foi bastante usada no século XVI (ver Peonagem) e chegou a coexistir com arcabuzes e mosquetes (as primeiras armas de fogo), sendo depois abandonada. Hoje, continua a ser fabricada para uso na caça esportiva. Alguns modelos sofisticados também são usados por forças especiais.
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A besta consiste num arco (de madeira, corno de animal ou aço), montado sobre uma haste ou coronha (a que se dá o nome de tiller ou stock em inglês), que é um suporte de madeira sobre o qual assenta o projéctil, regra geral, o virote.
As extremidades do arco são unidas por uma corda, que está segura por uma lingueta ou trava a que se dá o nome de noz (e em inglês dá pelas designações nut ou catch).[5]

Na extremidade superior da haste, ao pé do arco, há um estribo ou uma argola ou, nas bestas mais rudimentares, um laço de metal, que o besteiro pisa, para segurar a besta, enquanto a está a armar. O gatilho, que nas bestas medievais consiste numa alavanca de metal, acciona-se para disparar os projécteis, que podem ser flechas, virotes (flechas curtas usadas nas bestas) ou pelouros (balas esféricas de metal).[6]
As bestas mais pesadas e potentes valiam-se de mecanismos mais sofisticados para ser armadas, sendo que depois recebiam o nome em função do tipo de mecanismo.
Assim, as bestas de garrucha, usavam o mecanismo de garrucha, que era um mecanismo que se servia de engrenagens metálicas e de uma roldana para esticar a corda para trás, armando a besta.[7] Também havia bestas de gancho, que se serviam de um mecanismo com ganchos, a que se chamava gafa,[8] para armar a besta.[9]
As bestas de polé serviam-se, naturalmente, da polé, que era o nome medieval português que se dava às roldanas com manivela.[10]
As bestas de armatoste valiam-se do armatoste, que era um engenho que fazia deslizar a noz ao longo de uma cremalheira, através de uma manivela.[7] A palavra armatoste[11][12] resulta da aglutinação dos termos «arma» + «toste», que em português medieval significa «rápido»,[13] pelo que significa literalmente «arma-rápida». Em inglês e francês, este engenho dá pelo nome de cranequin.[14]
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Período Clássico
China

Acredita-se que as primeiras bestas de assédio foram criadas pelos chineses, no século VI a.C., sendo que as bestas portáteis só terão surgido por torno do século IV a.C.[15] Porém, só ulteriormente, após o século III a.C., é que a besta chinesa (nǔ, 弩) se tornou perfectiva o suficiente para que o uso viesse a ser amplamente difundido pela China.[16] Encontraram-se em Xi'an bestas entre os soldados do exército de terracota no túmulo do imperador Qin Shi Huangdi (260 a.C.-210 a.C.).[17] Há achados arqueológicos recentes de bestas chinesas, no túmulo 138 em Saobatang, na província de Hunan, que datam de meados do século IV. d.C.[18][19] É provável que estas bestas sejam os protótipos mais antigos conhecidos de bestas de bodoque, posto que usavam pelotas de barro cozido como munições. Jing Fang, matemático e músico da dinastia Han,(78–37 d.C.), comparou a Lua à forma de uma pelota de barro de um bodoque.[20] O Zhuangzi também menciona bodoques.[21]
Grécia

Por seu turno, no mundo ocidental, os gregos antigos já tinham bestas de assédio, a que chamavam «gastrafetas» (γαστραφέτης, lit. 'a que lança da barriga'), desde o século III a.C.[22] A primeira descrição conhecida é-nos dada, no século I d.C. por Héron de Alexandria, na sua obra Belopoeica, na qual cita os trabalhos do seu antecessor, o engenheiro grego Ctesibius (fl. 285–222 a.C.).[22] Heron descreve a gastrafeta como a precursora da catapulta, o que situa temporalmente esta invenção por torno de 420 a.C.[23]
A gastrafeta consistia num arco compósito de grandes dimensões, montado sobre uma haste. Na extremidade da haste havia um apoio côncavo no qual o guerreiro apoiava a barriga, para armar a gastrafeta.[24] Ao contrário da besta romana e medieval, armava-se fazendo deslizar a noz ao longo de duas cremalheiras, em vez de puxar pela corda do arco.[6]
Os gregos também tiveram bestas portáteis as chamadas quiroballistas (lit. balista de mão), mencionadas por autores romanos, que lhes chamavam arcuballistas (lit. balista de arco; «arcobalista»[25]) e manuballistas (lit. balista de mão; «manubalista»[26]), desde o século II d.C.[6]
Romanos

A quirobalista (cheirobalista) era um engenho que disparava setas a longas distâncias. Há autores, como Campbell e Schellenberg, que especulam que seria posterior à época de Heron, por torno de 100 d.C., Apolodoro de Damasco engenheiro grego, terá trabalhado para os romanos, munciando-os com manubalistas. Neste engenho, as molas eram esticadas em duas valvas metálicas, adjacentes à haste. A balista de Heron era o engenho de torção de dois braços, mais sofisticado ao dispor dos romanos.[27]
Os Romanos serviam-se das bestas tanto para fins militares, como para finalidades venatórias (caça).
No final do século IV d.C., o autor Vegécio, na sua obra De Re Militaris faz menção de arcubalistarii (arcobalisteiros) a colaborar com arqueiros e artilheiros, no campo de batalha.[28]
Todavia, é controverso se esses arcobalistas seriam, efectivamente, besteiros, na acepção moderna do termo. Depreende-se que a arcuballista seja uma besta, porque Vegécio também a designa de manuballista, que por seu turno, era a tradução romana da cheiroballista grega. A significação exacta não é clara, porque o termo era tão comum na época, que Vegécio não sentiu necessidade de descrever em que consistia o arcobalista.[29]
Por sua vez, Arriano, na sua obra Ars Tactica, escrita em circa de 136 d.C., menciona o disparo de "mísseis, feito não por um arco, mas por um engenho" e que quem estava a operar este engenho estava montado a cavalo em galope. Presume-se que se tratará, também aqui, de uma alusão a uma besta romana.[28]
A única representação pictórica romana de arcobalistas resulta de relevos escultóricos de cenas de caça, na Gália Romana. Esteticamente, estas bestas romanas aparentam-se com as suas homologas gregas e chinesas. Sendo, todavia, incerto que mecanismo de gatilho usariam, há indícios arqueológicos que apontam para que usassem o mesmo mecanismo de noz rolante, usado pelas bestas da Alta Idade Média. [28]
Idade Média
Na Europa, também há vários registos, inclusive na Guerra dos Cem Anos onde os besteiros genoveses[30] deram apoio à França contra a invasão da Inglaterra. Porém foi mal-sucedida, pela fraca estratégia usada pelos franceses e pelo baixo número de guerreiros que utilizavam a arma. Nesta época, entre os séculos XIV e XVI, as bestas tinham um alcance considerável, cerca de 100 passos[4] (entre 230 e 250 metros de distância), e pesavam entre cinco a sete quilogramas enquanto o arco longo inglês tinha um alcance entre 180 e 200 metros, o que dava vantagem à besta. Porém, ela tinha um intervalo muito grande entre os disparos: o besteiro tinha de colocar um novo quadrelo na haste, enrolar então a corda com uma alavanca que se encontrava na parte anterior da arma, até ao ponto certo para o novo tiro, o que, além de requerer muita força física, demorava cerca de dois a cinco minutos, tempo que não se tinha na guerra contra os arqueiros ingleses, apelidados de Arlequim, que significa demónio. Eles conseguiam atirar facilmente cerca de cinco flechas no curto espaço de vinte segundos; além disto, o besteiro estava sempre acompanhado de um segundo homem que carregava um pavês - escudo comprido feito de carvalho e salgueiro que era usado para defender o besteiro dos ataques de flechas inimigas nos momentos em que ele carregava a sua besta, o que era sempre feito atrás deste escudo. A besta tinha força suficiente para atravessar a maioria das armaduras da época, como cotas de malha e algumas armaduras leves de placas, a uma boa distância. Porém havia outras bestas chamadas leves, que não tinham o mesmo alcance e potência, sendo usadas principalmente na caça.
Leonardo da Vinci chegou a desenhar a besta, porém não a fabricou.
A besta é utilizada na guerra na Europa sobretudo desde a Batalha de Hastings, em 1066, e até por volta dos anos 1525, substituindo quase completamente os arcos curtos e longos de madeira em muitos exércitos europeus no século XII. Embora um arco longo alcance uma precisão comparável e um ritmo de tiro mais rápido do que um tiro médio de um besta de arco de madeira, ou de arco composto (um arco laminado construído de madeira, osso ou chifre, e tendões de animais), as bestas libertam mais energia cinética e pode ser utilizada de forma eficaz após uma semana de treino, enquanto a habilidade de um tiro comparável com um arco longo leva anos de treinamento de força, para superar o empate e a força do arco, bem como anos de prática necessária para o utilizar com habilidade.
A besta é citada num documento estipulando a aliança entre Génova e Alexandria, datado de 21 de fevereiro de 1181.
Durante o Segundo Concílio de Latrão, em 1139, foi emanada uma disposição, mediante a qual foi severamente proibido o uso da besta de arco de aço, entre adversários cristãos, sob pena de anátema. Esta proibição foi ignorada por Ricardo Coração de Leão, que dotou os seus exércitos de infantaria, em 1198, infringindo, também, o breve (ato pontifício) de Inocêncio III, que apoiava as precedentes providências, definindo como micidial (mortífera) a arma em questão. O próprio Ricardo Coração de Leão morreu em 1199 após um ferimento recebido no braço direito, causado por um besteiro, quando explorava as muralhas do Castelo de Limoges, que estava sitiado.
Renascimento
Nos exércitos europeus, os besteiros montados e desmontados, misturados com os fundibulários, os lançadores de dardos e os arqueiros, ocupavam uma posição central em formações de batalha. Normalmente, atacavam antes dos cavaleiros. Os besteiros também eram importantes em contra-ataques para proteger a infantaria. Junto com as armas de haste feitas a partir de equipamentos agrícolas, a besta também era usada por camponeses rebeldes, como se mostrou na revolta dos Taboritas no século XV, uma comunidade religiosa na região da Boêmia, considerada herética pela Igreja Católica.
Os cavaleiros equipados com lanças provaram-se ineficazes contra formações de lanceiros, alabardeiros e piqueiros combinados com besteiros, cujas armas podiam penetrar a armadura da maioria dos cavaleiros. O desenvolvimento de mecanismos para rearmar permitiu o uso de bestas sobre o cavalo, levando ao surgimento de novas táticas de cavalaria.
Em 1630, o papa Urbano VIII proibiu o uso de bestas.
O uso da balestra ou besta pelos nativos do Novo Mundo foi atestado pelo padre João Daniel, que viajou pelo Maranhão e Grão-Pará, Brasil, entre 1741 e 1757:
Purus é uma nação que habita sobre os lagos do rio Purus, que dele tomou o nome. Também não usam de arcos-e-frechas, como os mais índios, mas todas as suas armas são a balesta, em que são destríssimos, e mais que insignes frecheiros.[31]
Admitindo-se a veracidade da informação, é razoável supor que a arma tenha sido copiada das usadas pelos europeus. Mesmo assim ficam dúvidas porque esta arma apresenta um complicado mecanismo de gatilho, de fixação do arco no corpo da estrutura e de retenção da flecha quando o equipamento está armado.[32]
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A mais significativa desvantagem da besta era a cadência de disparo. Ao passo que um arqueiro escanado era capaz de lançar 12 flechas por minuto, um besteiro com igual traquejo conseguiria apenas 6 com as bestas mais simples ou 1 ou 2 com as mais pesadas e potentes.[14]
As bestas são, portanto, armas lentas de recarregar, o que limita o seu uso em batalhas de campo aberto. Em cercos, este factor não é uma desvantagem tão significativa, já que os besteiros se podem esconder ao recarregar a arma.[33] Com efeito, vale recordar que além das bestas portáteis, também havia as bestas de assédio, que eram especializadas, como o nome indica, para as situações de cerco e que se encontravam posicionadas por de trás de seteiras, balestreiros[34] e buitreiras[35] na muralha, oferecendo ao besteiro um reduto seguro de onde podia disparar e recarregar, correndo pouco risco de ser alvejado pelo inimigo.[36]
Por outro lado, as bestas aplicam mais energia aos projécteis, pelo que as desembestadas eram capazes de perfurar armaduras.Em testes modernos, um desembesto directo de um virote de ponta de agulha perfurou uma armadura de cota de malha, do século XV, fabricada em Damasco.[37]
Outra vantagem oferecida pelas bestas, era que se prestavam a uma aprendizagem mais rápida, com poucas semanas de treino, até que o besteiro ficasse devidamente destro no manejo da besta, coisa que em muito destoa dos arqueiros, cujo treino militar, por sinal acarretava anos.[38]
Além disso, podiam ser usados por um cavaleiro sem grande dificuldade, o mesmo não se pode dizer do arco e flecha, que embora tenha sido usado por tropas montadas, ao longo da história, por vários povos, nunca foi verdadeiramente dominado pelos povos ocidentais.[39][40]

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