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Jesus carregando a cruz

Episódio bíblico da Paixão de Cristo em que Cristo é forçado a carregar a cruz em que será crucificado desde Jerusalém até ao Gólgota/Calvário. Da Wikipédia, a enciclopédia livre

Jesus carregando a cruz
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Jesus carregando a cruz a caminho da sua crucificação é um episódio da vida de Jesus relatado nos quatro evangelhos canônicos e um tema muito comum na arte cristã, especialmente nas catorze estações da cruz, conjuntos que atualmente se encontram em praticamente todas as igrejas católicas. Porém, o tema aparece também em outros contextos, incluindo obras singulares e ciclos da Vida de Cristo ou da Paixão de Cristo.[1] Outros nomes são Procissão ao Calvário e Caminho do Calvário, sendo que Calvário ou Gólgota se referem ao local da crucificação, fora de Jerusalém. A verdadeira rota seguida é comumente chamada de Via Dolorosa em Jerusalém, embora o caminho específico tenha variado ao longo dos séculos e continue sendo tema de debates.

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Cristo carregando a cruz.
1565. Por Ticiano, atualmente no Museu do Prado.
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Narrativa bíblica

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Jesus carregando a cruz.
1737-38. Por Tiepolo, atualmente na Igreja de Sant'Alvise, em Veneza.

O episódio é mencionado, sem muitos detalhes, nos quatro evangelhos canônicos: Mateus 27:31–33, Marcos 15:20–22, Lucas 23:26–32 e João 19:16–18. Com exceção de João, todos incluem Simão Cireneu, que foi recrutado pelos soldados romanos para ajudar a carregar a cruz. Acadêmicos modernos, baseando-se em descrições de criminosos carregando a trave horizontal da cruz feitas por Plauto e Plutarco, geralmente interpretam a descrição evangélico como relatando que Jesus - e depois Simão - carregou apenas o pesado patíbulo, a trave horizontal, até um poste (stipes), que ficava permanentemente fincado na terra no Gólgota.[2] Porém, na iconografia cristã de Jesus e Simão, eles aparecem geralmente carregando a cruz completa.

Apenas Lucas menciona as "mulheres de Jerusalém", cujo número foi depois, nas obras patrísticas e na arte cristã, expandido para incluir as Três Marias e a Virgem Maria. Este encontro é geralmente localizado nos portões da cidade, como na maioria das pinturas, que também as mostram seguindo Jesus e este virando para falar com elas. Outros episódios foram elaborados posteriormente, com o véu de Verônica aparecendo a partir do século XIII, e as quedas de Cristo, eventualmente três, aparecendo primeiro no final da Idade Média.[3] Lucas menciona que os dois ladrões estavam também no grupo seguindo para o Gólgota, mas não diz se eles tiveram também que carregar suas cruzes e, embora seja fácil identificá-los nas representações artísticas, suas cruzes são muito raramente representadas[4]. Algumas obras, como Il Spasimo de Rafael,[5] a Procissão ao Calvário, de Pieter Bruegel, o Velho (em Viena), e a obra de Jacopo Bassano em Londres, mostram as duas cruzes dos ladrões já montadas no local da execução ao fundo distante.[6]

É também importante o verso Mateus 16:24, no qual São Francisco de Assis baseou a sua primeira regra monástica, de 1221: "Então disse Jesus a seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me." São Francisco também costumava ser levado com uma corda à volta do pescoço como um exercício de penitência, a corda sendo um detalhe adicionado a muitas representações de duas passagens do Antigo Testamento: «Ele foi oprimido, contudo humilhou-se a si mesmo, e não abriu a boca. Como o cordeiro que é levado ao matadouro, e como a ovelha que é muda diante dos que a tosquiam; assim não abriu ele a boca» (Isaías 53:7) e «Mas eu era como um manso cordeiro que é levado ao matadouro...» (Jeremias 11:19), ambos muito citados nos comentários medievais.[7] Na tipologia medieval, Isaac carregando a madeira para o seu sacrifício é o paralelo mais comum para o episódio, geralmente mostrado como uma cena complementar.[8]

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Referências devocionais

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Caminho para o Calvário.
Séc. XIX. Por Aleijadinho, no Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, no estado de Minas Gerais.

A mais elaborada e tradicional referência ao episódio aparece nas chamadas "Estações da cruz", onde o evento está dividido em diversos incidentes que dão conta da maior parte das representações esculturais:[9]

  1. Pilatos condena Jesus
  2. Jesus recebe a cruz
  3. Primeira queda de Jesus
  4. Jesus encontra Sua Mãe
  5. Simão Cireneu carrega a cruz
  6. Santa Verônica enxuga o rosto de Jesus
  7. Segunda queda de Jesus
  8. Jesus se encontra com as filhas de Jerusalém
  9. Terceira queda

As cenas seguintes (10-14) tratam da Paixão de Cristo.

O episódio de Jesus levando a cruz é um dos Mistérios Dolorosos do Santo Rosário e o encontro com Maria é uma das Sete Dores da Virgem. O Caminho do Calvário ainda é reapresentado em diversas procissões anuais na Sexta-feira Santa em países católicos, algumas das quais incluem atores representando os principais personagens e uma cruz.[10] Na Via Dolorosa propriamente dita, este tipo de evento ocorre o ano inteiro.

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História

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Tríptico com Jesus carregando a cruz à esquerda, a crucificação no meio e a deposição à direita.
.1495. Pelo Mestre da Virgo inter Virgines, atualmente no Bowes Museum, na Inglaterra.

Até por volta de 1100, Simão aparecia mais carregando a cruz do que Jesus e, a partir desta época, diversas outras figuras começaram a aparecer na cena. Nas representações bizantinas, provavelmente influenciadas por peças da Paixão, uma grande multidão de personagens cerca Jesus, mostrando uma grande variedade de sentimentos, de desprezo a alegria.[11] Este desenvolvimento culminou na grande paisagem de Pieter Bruegel, o Velho, "Procissão ao Calvário" (Viena).[12] Embora nas primeiras representações (e nas orientais) a cruz não seja mostrada como sendo algo muito pesado e apareça por vezes nem tocando no chão, no final da Idade Média a cruz aparece sempre como algo muito difícil de carregar, com a base arrastando no chão, em linha com a tendência do período em enfatizar os sofrimentos da Paixão.[13] É a partir desta época também que Jesus começa a aparecer com a coroa de espinhos, algo que não acontecia antes.

Um exemplo primitivo de um tupo de imagem devocional mostrando Jesus sozinho é um pequeno painel de Barna da Siena de 1330-50 atualmente na Coleção Frick[14]. Obras como essa continuaram por toda a Renascença e o Barroco, com versões de meia-altura ("close-ups") aparecendo primeiro no norte da Itália por volta de 1490. De forma algo contraditória à maioria dos andachtsbilder, os sofrimentos de Jesus são geralmente retratados com menos realismo nessas obras do que nas grandes cenas, onde ele é atormentado pela multidão hostil.[15] Conforme o tríptico foi se tornando popular, a cena geralmente aparece no painel da esquerda, com a crucificação no painel principal e o sepultamento ou a ressurreição na direita.

A partir de aproximadamente 1500, o tema passou a ser utilizado para compor peças de altar na Itália, geralmente mostrando ou o encontro com Santa Verônica ou o desmaio da Virgem (spasimo), quando a Virgem desfalece, desmaia ou, ao menos, se ajoelha, ambas novidades recentes e algo controversas, sem autoridade escritural.[16]

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Obras

Obras individuais com artigos incluem as seguintes:

Galeria

Referências

  1. Schiller, 78-82
  2. Andreas J. Köstenberger John 2004 Page 598 "... the patibulum (see commentary at 19:17) and compelled to carry his cross to the place of execution.13 Hence, ... Dionysius of Halicarnassus, Antiquitates romanae 7.69; Tertullian, De pudicitia 22 (cited in Köstenberger 2002c: 194).
  3. Schiller, 78-81
  4. Zuffi,283; See Schiller 81 for later exceptions, including one by Tintoretto
  5. Penny, 8
  6. Sawyer, 89; Israels, 423
  7. Schiller, 80, 82
  8. Schiller, 82
  9. Blackwell, Amy Hackney, Lent, Yom Kippur, and Other Atonement Days, 44-48, 2009, Infobase Publishing, ISBN 1604131004, 9781604131000, google books
  10. Schiller, 81
  11. Schiller, 80-81
  12. Brown etc, 102-103, 110-111
  13. Penny, 8-10
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Bibliografia

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