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período da história entre 476 d.c a 1453 Da Wikipédia, a enciclopédia livre
A Idade Média (adj. medieval) é um período da história da Europa entre os séculos V e XV. Inicia-se com a Queda do Império Romano do Ocidente e termina durante a transição para a Idade Moderna. A Idade Média é o período intermédio da divisão clássica da História ocidental em três períodos: a Antiguidade, Idade Média e Idade Moderna, sendo frequentemente dividido em Alta e Baixa Idade Média.
Durante a Alta Idade Média verifica-se a continuidade dos processos de despovoamento, regressão urbana, e invasões bárbaras iniciadas durante a Antiguidade Tardia. Os ocupantes bárbaros formam novos reinos, apoiando-se na estrutura do Império Romano do Ocidente. No século VII, o Norte de África e o Médio Oriente, que tinham sido parte do Império Romano do Oriente tornam-se territórios islâmicos depois da sua conquista pelos sucessores de Maomé. O Império Bizantino sobrevive e torna-se uma grande potência. No Ocidente, embora tenha havido alterações significativas nas estruturas políticas e sociais, a rutura com a Antiguidade não foi completa e a maior parte dos novos reinos incorporaram o maior número possível de instituições romanas preexistentes. O cristianismo disseminou-se pela Europa ocidental e assistiu-se a um surto de edificação de novos espaços monásticos. Durante os séculos VII e VIII, os Francos, governados pela dinastia carolíngia, estabeleceram um império que dominou grande parte da Europa ocidental até ao século IX, quando se desmoronaria perante as investidas de Víquingues do norte, Magiares de leste e Sarracenos do sul.
Durante a Baixa Idade Média, que teve início depois do ano 1000, verifica-se na Europa um crescimento demográfico muito acentuado e um renascimento do comércio, à medida que inovações técnicas e agrícolas permitem uma maior produtividade de solos e colheitas. É durante este período que se iniciam e consolidam as duas estruturas sociais que dominam a Europa até ao Renascimento: o senhorialismo – a organização de camponeses em aldeias que pagam renda e prestam vassalagem a um nobre – e o feudalismo — uma estrutura política em que cavaleiros e outros nobres de estatuto inferior prestam serviço militar aos seus senhores, recebendo como compensação uma propriedade senhorial e o direito a cobrar impostos em determinado território. As Cruzadas, anunciadas pela primeira vez em 1095, representam a tentativa da cristandade em recuperar dos muçulmanos o domínio sobre a Terra Santa, tendo chegado a estabelecer alguns estados cristãos no Médio Oriente. A vida cultural foi dominada pela escolástica, uma filosofia que procurou unir a fé à razão, e pela fundação das primeiras universidades. A obra de Tomás de Aquino, a pintura de Giotto, a poesia de Dante e Chaucer, as viagens de Marco Polo e a edificação das imponentes catedrais góticas estão entre as mais destacadas façanhas deste período.
Os dois últimos séculos da Baixa Idade Média ficaram marcados por várias guerras, adversidades e catástrofes. A população foi dizimada por sucessivas carestias e pestes; só a peste negra foi responsável pela morte de um terço da população europeia entre 1347 e 1350. O Grande Cisma do Ocidente no seio da Igreja teve consequências profundas na sociedade e foi um dos fatores que estiveram na origem de inúmeras guerras entre estados. Assistiu-se também a diversas guerras civis e revoltas populares dentro dos próprios reinos. O progresso cultural e tecnológico transformou por completo a sociedade europeia, concluindo a Idade Média e dando início à Idade Moderna.
Desde o Renascimento a Idade Média tem sido repetidamente condenada como uma era de obscurantismo, tirania, violência, declínio econômico, degeneração moral e confusão política. A partir do Romantismo, no século XIX, o período passou a ser reavaliado e muitos dos seus aspectos têm sido revalorizados, mas nem sempre com um juízo crítico imparcial e objetivo, persistindo muitos dos estereótipos e preconceitos que caracterizaram a historiografia ao longo dos séculos precedentes, e que ainda definem em larga medida a visão sobre a Idade Média na cultura popular. Leituras distorcidas e falseadas de seus valores, costumes e tradições também têm sido usadas para legitimar ideologias messiânicas, pseudocientíficas, reacionárias e extremistas de natureza política, étnica, religiosa, social e cultural. Apesar dessas distorções, os assuntos medievais têm atraído uma legião de simpatizantes entre o público leigo, têm dado inspiração para romances, filmes, documentários e outras produções, o acervo de arte e arquitetura medieval se tornou uma importante atração turística em muitos países, e o tema já produziu uma vasta bibliografia acadêmica, que não cessa de crescer.
A Idade Média é um dos três grandes períodos definidos pelo mais comum quadro de análise de história europeia: a Idade Antiga, ou Antiguidade, a Idade Média e a Era Moderna, que compreende as idades Moderna e Contemporânea.[2]
Os escritores medievais dividiam a História em períodos como as "Seis Épocas", e consideravam a sua a última época antes do fim do mundo,[3] e denominavam-na "moderna".[4] Na década de 1330, o poeta e humanista Petrarca denominava a era anterior ao cristianismo por "antiqua" (ou "antiga") e o período cristão por "nova".[5] O primeiro historiador a definir a periodização tripartida foi Leonardo Bruni na sua História do Povo Florentino em 1442.[6] Bruni, e historiadores posteriores, argumentaram que Itália se tinha desenvolvido significativamente desde o tempo de Petrarca e acrescentaram um terceiro período à sua divisão. O mais antigo registo conhecido do termo Idade Média data de 1469, sendo grafado como media tempestas ou "tempos médios".[7] Durante a sua introdução, foi comum a coexistência de várias variantes, como medium aevum, registada em 1604,[8] ou media scecula, registada em 1625. A periodização tripartida tornar-se-ia padrão após a publicação em 1683 da obra História Universal Dividida nos Períodos Antigo, Medieval e Novo da autoria do historiador alemão Christoph Cellarius.[9]
A data consensual para o início da Idade Média é 476,[6] definida pela primeira vez por Bruni,[6] e que representa o ano em que é deposto o último imperador romano do Ocidente.[10] No contexto europeu, considera-se normalmente o fim da Idade Média no ano 1500,[nt 1] embora não haja um consenso universal alargado sobre a data.[11] Dependendo do contexto, podem ser considerados como eventos de transição a primeira viagem de Cristóvão Colombo às Américas em 1492, a conquista de Constantinopla pelos Turcos em 1453, ou a Reforma Protestante em 1517.[12] Por outro lado, os historiadores ingleses normalmente referem-se à batalha de Bosworth em 1485 como referência para o fim do período.[nt 2] Em Espanha, é comum o recurso ao ano de 1516, aquando a morte do rei Fernando II de Aragão, ou o ano da morte da rainha Isabel I de Castela em 1504, ou ainda a conquista de Granada em 1492.[13]
Os historiadores de línguas românicas tendem a dividir a Idade Média em duas partes: um primeiro período, a Alta Idade Média (do século V até o século X) e um segundo período, a Baixa Idade Média (do século XI até o século XV). Os historiadores anglo-saxónicos dividem normalmente a Idade Média em três segmentos: "Early Middle Ages", ou "idade média arcaica", definido entre 476 e o ano 1000; "High Middle Ages", ou "alta idade média", entre o ano 1000 e 1300; e "Late Middle Ages" ou "Idade média tardia" entre 1300 e 1453.[2] Os termos foram popularizados durante o início do século XX pelo historiador belga Henri Pirenne e pelo holandês Johan Huizinga. Durante todo o século XIX, a Idade Média era frequentemente referida como a "Idade das trevas", mas com a criação de subdivisões o uso do termo ficou restrito ao período arcaico.[14]
O Império Romano atingiu o seu apogeu e máxima extensão territorial durante o século II, mas durante os dois séculos seguintes verificar-se-ia o lento declínio do domínio territorial romano sobre os seus territórios.[15] A crise económica, refletida na inflação, e instabilidade nas fronteiras motivada pela pressão de povos invasores, estiveram na origem da crise do terceiro século, períodos em que um vasto número de imperadores ascendia ao trono apenas para ser rapidamente substituído por novos usurpadores.[16] O orçamento militar aumentou constantemente ao longo de todo o terceiro século, sobretudo na sequência de uma nova guerra contra o Império Sassânida, iniciada em meados do século. A necessidade de receitas levou à aplicação de uma sobretaxa fiscal e ao declínio em massa da classe média, proprietária de terrenos e unidades de produção, extinguindo-se assim o financiamento das estruturas administrativas de cada povoação.[17]
No ano de 286, o imperador Diocleciano divide o império em duas metades, oriental e ocidental, administradas separadamente. No entanto, os próprios cidadãos e administradores públicos não viam o seu império como dividido, e as promulgações legais e administrativas de uma parte eram consideradas válidas na outra. Este sistema, que viria a ter dois coimperadores seniores (augustos) e dois coimperadores juniores (césares), seria conhecido como tetrarquia.[18] Em 330, depois de um período de guerra civil, o imperador Constantino tornar-se-ia imperador único e refundaria a cidade de Bizâncio como Constantinopla, a nova e renovada capital oriental.[19]
As reformas de Diocleciano criaram uma administração pública forte, a reforma da cobrança de impostos, e o fortalecimento do exército, o que permitiu ganhar algum tempo mas não resolveu por completo os problemas que enfrentava: tributação excessiva, queda da taxa de natalidade e pressão fronteiriça.[20] Em meados do século IV, tornou-se constante a deflagração de guerras civis entre imperadores rivais, retirando forças das fronteiras e dando espaço à infiltração de bárbaros.[21] No século IV, a sociedade romana era já bastante diferente da do período clássico, assistindo-se ao aumento das desigualdades sociais e ao declínio de vitalidade das cidades pequenas.[22] O império converte-se também ao cristianismo, um processo gradual que decorreu entre os séculos II e V.[23][24]
Em 376, os Ostrogodos, em debanda dos Hunos, são autorizados pelo imperador romano Valente a estabelecer-se na província romana de Trácia, nos Balcãs. O processo não decorreu de forma pacífica, e quando os administradores romanos perderam o controlo da situação, os Ostrogodos deram início a uma série de pilhagens e vandalismos no território. Valente, numa tentativa de fazer cessar a violência, foi morto em combate na batalha de Adrianópolis em agosto de 378.[25] Para além da ameaça bárbara do norte, constituíram também ameaças à estabilidade as divisões internas dentro do próprio império, sobretudo dentro da Igreja Cristã.[26] No ano 400, os Visigodos sob Alarico invadem o Império do Ocidente e, embora inicialmente repelidos de Itália, em 410 saqueiam a cidade de Roma.[27] A par destes eventos, Alanos, Vândalos e Suevos resolvem atravessar o Reno em 406, dominando o território da Gália até 409, quando atravessam os Pirenéus, instalando-se também na Península Ibérica.[28] Vários outros grupos bárbaros tomam igualmente parte nas intensas migrações deste período. Os Francos, Alamanos e Burgúndios têm como destino o norte da Gália enquanto os Anglos, Saxões e Jutos se estabelecem nas Ilhas Britânicas. Os Hunos, liderados pelo rei Átila, o Huno, organizam invasões aos Balcãs em 442 e 447, à Gália em 451, e a Itália em 452.[29] A ameaça dos Hunos prolongou-se até à morte de Átila em 453, quando a confederação por si liderada se fragmenta.[30] Estes movimentos levados a cabo pelas várias tribos reorganizaram de forma dramática o mapa político e demográfico do que tinha sido o Império Romano do Ocidente.[31]
Por volta do fim do século V, a parte ocidental do império estava já dividida em pequenas unidades políticas, governadas pelas tribos que as haviam ocupado durante o início do século.[32] O último imperador do Ocidente, Rómulo Augusto, foi deposto em 476, evento que leva à adoção consensual desse ano como o fim do Império Romano do Ocidente.[10][nt 3] O Império Romano do Oriente, referido como Império Bizantino depois da queda do seu correspondente ocidental, mostrou pouca eficácia no controlo dos territórios ocidentais perdidos. Embora os imperadores bizantinos tenham mantido pretensões territoriais e afirmado que nenhum rei bárbaro podia ousar tornar-se imperador do Ocidente, não conseguiam de forma alguma sustentar qualquer domínio a Ocidente, excetuando-se a reconquista temporária da península Itálica e da periferia mediterrânea por Justiniano I.[33]
A estrutura política da Europa Ocidental alterou-se significativamente com o fim da união do Império Romano. Embora as atividades dos povos bárbaros sejam frequentemente descritas como "invasões", não se trataram de meras campanhas militares, mas sim migrações de populações inteiras para o território do império. A migração foi facilitada pela recusa das elites romanas em financiar o seu exército.[34] Os imperadores do século V eram na maior parte dos casos controlados por militares influentes como Estilicão, Ricímero, Gundebaldo ou Áspar, quase sempre estrangeiros ou de ascendência estrangeira. Após a interrupção da linha de sucessão, muitos dos reis que os substituíram provinham igualmente de forças militares. Era também comum o casamento entre os novos reis e as elites romanas locais.[35] Isto deu origem a uma incorporação gradual dos hábitos das tribos invasoras na cultura romana, incluindo assembleias populares que permitiram aos líderes tribais ter uma voz ativa em matérias políticas.[36] Os artefactos deixados por Romanos ou pelos invasores são na sua maioria similares, sendo nítida a inspiração dos objetos tribais nos modelos romanos.[37] De igual modo, a maior parte da cultura intelectual dos novos reinos baseava-se directamente nas tradições intelectuais romanas.[38] No entanto, uma diferença substancial foi a perda gradual de rendimento tributário em função das novas políticas. Muitas das novas instituições governativas já não financiavam os seus exércitos com o dinheiro proveniente de impostos, mas com a atribuição de terras ou senhorios. Isto levou ao desaparecimento do sistema de colecta de impostos, uma vez que deixou de haver necessidade para cobranças ou cálculos de grande envergadura.[39] O belicismo era comum entre reinos e dentro dos próprios reinos. A escravatura entrou também em declínio, à medida que a oferta se reduzia e a sociedade se tornava cada vez mais rural.[40]
Entre os séculos V e VIII, uma nova vaga de governantes preenche o vazio político deixado pela administração central romana.[38] Os Ostrogodos estabelecem-se na província romana de Itália no fim do século V, sob o comando de Teodorico, e dão início a um reino notável pela cooperação entre Itálicos e Ostrogodos, pelo menos durante o seu reinado.[41] Os Burgúndios estabelecem-se na Gália, e depois de um primeiro reino dizimado pelos Hunos em 436, formam um novo na década de 440 entre a atual Genebra e Lyon, e que durante o início do século VI se viria a tornar num dos mais influentes reinos da região. No norte da Gália, os Francos e os Bretões formam pequenos reinos. O Reino Franco centra-se no noroeste da Gália e o primeiro reinante do qual se possui informação relevante é Quilderico I, que viria a morrer em 481.[nt 4] Durante o reinado do seu filho, Clóvis I, o reino franco expande-se e converte-se ao cristianismo. Os Bretões, procedentes da Britânia, estabelecem-se no que é hoje a Bretanha.[43] Os Visigodos estabelecem o seu reino em grande parte da Península Ibérica, sendo o noroeste peninsular ocupado pelo Reino Suevo e o norte de África pelo Reino Vândalo.[44] Durante o século VI, os Lombardos estabelecem-se no norte de Itália, substituindo o Reino Ostrogótico por um grupo de ducados responsáveis pela eleição de um rei comum. Por volta do fim do século VI, este sistema foi substituído por uma monarquia permanente.[45]
A migração europeia significou uma alteração profunda do mapa demográfico da Europa, embora o povoamento não tenha sido homogéneo. Algumas regiões, como a Península Ibérica, albergaram um número de colonos muito maior quando comparado com outras regiões. A ocupação da Gália foi também superior e em maior densidade no noroeste do que no sudeste. Os povos Eslavos ocuparam a Europa Central e de Leste até à península Balcânica. Esta migração foi também acompanhada por alterações profundas na língua. O latim, língua oficial do Império Romano do Ocidente, foi gradualmente substituído por várias línguas de raiz latina, embora já bastante distintas, denominadas coletivamente por línguas românicas. No entanto, a evolução do latim para as novas línguas como o francês, português ou romeno foi um processo que ocorreu ao longo de séculos, e atravessou uma série de fases. O grego permaneceu como língua oficial do Império Bizantino, mas as migrações dos Eslavos permitiram a assimilação de línguas eslavas no leste europeu.[46]
À medida que a Europa Ocidental assistia à formação de novos reinos, o Império Romano do Oriente manteve-se intacto, chegando até a verificar-se um renascimento económico que perdurou até ao início do século VII. Na parte oriental houve menos tentativas de invasão, e a maioria centrou-se sobretudo na zona dos Balcãs. Durante todo o século V, a paz foi constante com o Império Sassânida (persa), oponente ancestral de Roma no domínio territorial da região. Assistiu-se também ao estreitamento de relações entre a governação política e a Igreja Cristã, tendo no Oriente as questões doutrinais assumido um relevo sem paralelo na Europa ocidental. A nível jurídico, procedeu-se à codificação do direito romano, tendo sido completado o Código de Teodósio em 438.[47] No reinado de Justiniano procede-se a uma compilação ainda mais detalhada, conhecida como Corpus Juris Civilis.[48] Justiniano impulsionou também a edificação da Santa Sofia em Constantinopla e a reconquista do Norte de África aos Vândalos e de Itália aos Ostrogodos, sob o comando de Belisário. A conquista de Itália sofreu um revés devido à deflagração de uma pandemia em 542, que levou à concentração dos recursos na defesa do território já conquistado.[49]
A progressiva infiltração dos povos Eslavos nos Balcãs trouxe consigo dificuldades acrescidas. Embora tenha começado por pequenas invasões, por volta de 540 as tribos eslavas encontravam-se já na Trácia e na Ilíria, e em 551 viriam a derrotar um dos exércitos imperiais perto de Adrianópolis (atual Edirne). Durante a década de 560, os Ávaros iniciam uma expansão territorial a partir da margem Norte do rio Danúbio, e por volta do fim do século VI até ao fim do século VIII são já a força dominante na Europa Central e capazes de exigir aos imperadores Orientais o pagamento de tributos.[50] Outro dos mais notáveis problemas enfrentados pelo império foi o envolvimento do imperador Maurício (r. 582–602) na política persa, ao intervir numa disputa sucessória. Embora a ascensão de Cosroes II ao trono persa tenha significado um breve período de paz, a sua subsequente deposição levou a uma nova guerra com os Persas, que, durante o reinado de Heráclio, dominavam já grande parte do império a oriente, incluindo as províncias do Egito, da Síria e da Ásia, quando Jerusalém caiu, em 614. Mais tarde, em 628, Heráclio assinaria um tratado de paz que restauraria as anteriores fronteiras imperiais.[51]
Durante os séculos VI e VII é frequente a permeabilidade de credos religiosos entre o Império Sassânida e o Império Bizantino. O judaísmo era uma fé missionária ativa, e a cristandade possuía missões que competiam com o zoroastrismo persa na procura de conversões, sobretudo entre habitantes da península da Arábia. Com a emergência do Islão na Arábia durante a vida de Maomé, assistir-se-ia à unificação religiosa da região.[52] Depois da morte de Maomé em 632, as forças islâmicas conquistaram grande parte do Império Oriental, bem como o Império Sassânida, começando com a conquista da Síria em 634-635 e mais tarde de todo o território até ao Egito em 640-641, a própria Pérsia entre 637 e 642, o Norte de África no fim do século VII e a Península Ibérica em 711.[53] Em 714, as forças islâmicas controlavam já a maior parte da Península, região que denominaram por Alandalus.[54]
A expansão islâmica atingiu o apogeu em meados do século VIII. A derrota das forças muçulmanas na batalha de Poitiers em 732 proporcionou a reconquista do sul de França pelos Francos, embora o principal fator para a interrupção da expansão islâmica na Europa tenha sido a deposição da dinastia omíada e a sua substituição pela dinastia abássida. Os Abássidas transferiram a sua capital para Bagdade e concentraram o seu interesse no Médio Oriente em desfavor da Europa, ao mesmo tempo que perdiam o domínio de uma vasta extensão territorial. Os descendentes dos Omíadas obtiveram o domínio da Península Ibérica, os Aglábidas do norte de África e os Tulúnidas passaram a governar o Egito.[55] Em meados do século VIII, assiste-se ao renascimento e aparecimento de novas rotas comerciais no Mediterrâneo, tendo as antigas rotas romanas sido substituídas pelo comércio entre os reinos dos Francos e dos Árabes. Os francos negociavam madeiras, peles, armamento e escravos para os Árabes, em troca de sedas e vários géneros de tecidos, especiarias e metais preciosos. O primeiro registo de venda de escravos ao mundo muçulmano - pelos venezianos - data a cerca de 748. Durante os dois séculos seguintes, o tráfico de escravos iria tornar-se um negócio lucrativo tanto para europeus como para árabes, apesar da desaprovação da Igreja.[56]
As migrações bárbaras dos séculos IV e V interromperam grande parte das rotas comerciais no Mediterrâneo, o que fez cessar a exportação de mercadorias africanas para a Europa. Por volta do início do século VII, apenas em algumas cidades costeiras como Roma e Nápoles era possível encontrar ainda bens importados, embora ao longo de todo o século as conquistas muçulmanas fizessem cessar em definitivo as trocas comerciais de longo curso, fazendo com que durante a Alta Idade Média aumentasse a procura pela produção local, sobretudo nas áreas afastadas do Mediterrâneo. Os bens importados encontrados nos vestígios arqueológicos são fundamentalmente artigos de luxo. Na Europa do Norte, não só as rotas comerciais eram locais, como os bens transportados eram artigos comuns, com poucos objetos cerâmicos ou produtos transformados. Em redor do Mediterrâneo, contudo, o comércio de cerâmica foi comum e realizado a alguma distância, e não apenas de produção local.[57]
Os vários estados germânicos no Ocidente cunhavam moeda segundo os modelos romano e bizantino. O ouro continuou a ser usado até finais do século VII, até ser substituído por moedas de prata. A unidade elementar da moeda de prata Franca era o dinheiro, enquanto os anglo-saxões usavam o pêni, moedas que se disseminaram pela Europa entre os séculos VII e X. Nem o bronze nem o cobre eram usados na cunhagem, e o ouro só continuou a ser usado na Europa do Sul. Também não eram cunhadas moedas com valores múltiplos.[58]
A cristandade foi o fator determinante de unidade entre a Europa oriental e ocidental antes da conquista árabe; no entanto, a perda do domínio do Mediterrâneo viria a estagnar as rotas comerciais marítimas entre as duas regiões. A própria Igreja Bizantina, que viria a tornar-se na Igreja Ortodoxa, era distinta em termos de práticas, liturgia e língua da sua congénere ocidental, que viria a tornar-se na Igreja Católica. As diferenças teológicas e políticas tornam-se cada vez mais vincadas, e em meados do século VIII a abordagem de matérias como a iconoclastia, o casamento de sacerdotes e a separação de poderes entre a Igreja e o Estado era de tal forma contrastante que as diferenças culturais e religiosas eram já em maior número do que as semelhanças.[59] A separação formal ocorre em 1054, quando o Papado de Roma e o patriarcado de Constantinopla se confrontam abertamente e se excomungam mutuamente, facto que está na origem da cisão da cristandade em duas igrejas – a Igreja Católica Romana e a Igreja Ortodoxa Oriental.[60]
A estrutura eclesiástica do Império Romano no ocidente sobreviveu relativamente intacta às invasões bárbaras, mas o papado pouca autoridade exercia, sendo raros os bispos ocidentais que procuravam no papa liderança religiosa ou política. A maior parte dos papas anteriores a 750 debruçava-se sobretudo sobre questões bizantinas e teológicas orientais. A grande maioria das mais de 850 cartas hoje conservadas do papa Gregório I dizem respeito a assuntos em Itália ou Constantinopla. A única região da Europa Ocidental onde o papado exercia influência era a província romana da Britânia, para onde Gregório envia em 597 a missão gregoriana com o intuito de converter os Anglo-saxões ao cristianismo.[61] Os missionários irlandeses, que entre os séculos V e VII foram os mais ativos na Europa ocidental, foram autores de várias campanhas de cristianização, primeiro nas Ilhas Britânicas e depois no continente. Contando entre si monges como São Columba e São Columbano, não só fundaram um imenso número de mosteiros, mas também foram os responsáveis pela divulgação do latim e do grego e autores profícuos de obras seculares e religiosas.[62]
Durante a Alta Idade Média assiste-se à implementação do monaquismo no Ocidente, inspirado sobretudo pela tradição monástica dos Padres do Deserto Sírios e Egípcios. São Pacómio foi durante o século IV um dos pioneiros do cenobitismo, o monaquismo praticado em redor de uma comunidade espiritual. Os ideais monásticos são rapidamente difundidos do mediterrâneo para a Europa durante os séculos V e VI através da documentos hagiográficos como a A Vida de Antão.[63] São Bento de Núrsia foi o autor da Regra de São Bento, extremamente influente no monaquismo ocidental durante todo o século VI, onde são descritas em detalhe as responsabilidades administrativas e espirituais de uma comunidade de monges, liderada por um abade.[64] Os mosteiros exerceram uma influência profunda na vida religiosa e política da Alta Idade Média, tutelando vastas regiões em nome de famílias poderosas, atuando como centros de propaganda e de apoio monárquico em regiões recentemente conquistadas, e organizando missões de evangelização.[65] Eram também o principal, e por vezes único, centro de educação e literacia em determinada região, copiando também muitos dos manuscritos sobreviventes dos clássicos romanos.[66] Os monges, como São Beda, foram também autores de inúmeras novas obras de história, teologia, botânica e vários outros temas.[67]
Sob o domínio da dinastia merovíngia durante os séculos VI e VII, o reino dos Francos no norte da Gália segmentar-se-ia nos reinos da Austrásia, da Nêustria e Borgonha. O século VII representou um período instável de guerra civil entre a Austrásia e a Nêustria.[68] A situação foi explorada por Pepino de Landen, mordomo do palácio que se tornaria governante de facto nos bastidores da coroa. A sua linhagem herdou sucessivamente o cargo, atuando como conselheiros e regentes. Um dos seus descendentes, Carlos Martel, liderou a vitória na batalha de Poitiers em 732, contendo o avanço muçulmano nos Pirenéus.[69] O exército muçulmano tinha já conquistado por completo o reino Visigótico de Hispânia em 719, depois de derrotar o último monarca visigodo, Rodrigo, durante a batalha de Guadalete em 711.[70] As Ilhas Britânicas encontravam-se divididas em vários estados de pequena dimensão, dominados pelos reinos da Nortúmbria, Mércia, Wessex e Anglia Oriental, descendentes dos ocupantes Anglo-saxões. Alguns reinos de menores dimensões, no que é hoje a Escócia e o País de Gales, encontravam-se ainda sob domínio dos nativos britânicos e dos Pictos.[71] A Irlanda estava dividida em unidades políticas de ainda menor dimensão, controladas por reis locais. Estima-se que tenha havido a determinado ponto cerca de 150 reinos locais apenas na Irlanda, de importância e dimensão variável.[72]
A dinastia carolíngia, como são referidos os sucessores de Carlos Martel, apoderou-se oficialmente dos reinos da Austrásia e da Nêustria em 753 durante um golpe de Estado liderado por Pepino III. Uma crónica contemporânea afirma que Pepino recebeu autorização para o golpe do Papa Estêvão II. O golpe foi apoiado por propaganda que retratava os Merovíngios como governantes cruéis e inaptos, exaltando as virtudes de Carlos Martel e da piedade da sua família. Depois da morte de Pepino, o reino é herdado pelos seus dois filhos, Carlos e Carlomano. Quando Carlomano morreu de causas naturais, Carlos impediu a sucessão do seu filho menor e coroou-se a si próprio como rei da Austrásia e Nêustria unidas. Carlos, que viria a ser conhecido como Carlos, o Grande ou Carlos Magno, iniciou em 774 uma série de expansões sistemáticas que unificariam grande parte da Europa, chegando a dominar toda a extensão territorial no que é atualmente a França, norte de Itália e Saxónia.[74] Ainda em 774, conquista os lombardos, libertando o papado dos receios de uma conquista lombarda e dando início aos Estados Papais.[75][nt 5]
A coroação de Carlos Magno como imperador, no dia de Natal do ano 800, é vista pelos historiadores como um dos grandes momentos de charneira na história medieval, marcando a restauração do Império Romano do Ocidente, uma vez que o novo imperador governava a maior parte do território anteriormente controlado pelos imperadores ocidentais. Marca também uma alteração significativa na relação de poderes entre Carlos Magno e o Império Bizantino, ao tornar claro que a obtenção do título de imperador afirmava a sua equivalência perante a contraparte oriental.[77] No entanto, existiam diferenças significativas entre o novo Império Carolíngio e tanto o Império Bizantino como o antigo Império Romano do Ocidente. Os territórios francos eram essencialmente rurais, existindo muito poucos núcleos urbanos, e os existentes eram de pouca dimensão. As técnicas agrícolas eram rudimentares, e a maior parte dos habitantes eram camponeses em explorações minifundiárias. O comércio era incipiente e na sua maioria virado para as Ilhas Britânicas ou para os territórios escandinavos, ao contrário do antigo Império Romano, que dispunha de uma vastíssima rede de comércio centrada no Mediterrâneo.[78] A administração do império estava centrada numa corte itinerante que acompanhava o imperador, e o poder local estava nas mãos de cerca de 300 oficiais designados por condes, administrando cada um dos condados em que o território fora repartido. Os bispos e o próprio clero podiam exercer funções administrativas, e o poder de supervisão estava também delegado nos missi dominici, homens de confiança da corte que serviam de intermediários entre o poder local e central.[79]
A corte de Carlos Magno em Aquisgrano foi o centro de um movimento de revitalização cultural denominado Renascimento Carolíngio. Durante este período assiste-se a um aumento expressivo da literacia, ao florescimento da arte e da arquitectura, a um elevado número de iniciativas legislativas e a uma maior expressão da produção escrita. Alcuíno de Iorque foi convidado para a corte, trazendo consigo a educação clássica em latim dos mosteiros da Nortúmbria. Foi implementada a minúscula carolíngia,[nt 6] uma nova forma caligráfica unificada que melhorou substancialmente a comunicação escrita em grande parte do território europeu. Carlos Magno impôs também às igrejas a liturgia romana e o canto gregoriano como forma unificada de celebração. A comunidade académica foi autora de muitos trabalhos de cópia, correção e divulgação de obras de referência de temas religiosos e seculares, com o intuito de encorajar a aprendizagem. São também produzidas imensas obras originais, sobretudo livros de ensino e sobre temas religiosas.[81] Os linguistas do período adaptam a língua latina, transformando o latim clássico do Império Romano numa forma mais flexível. Durante o reino de Carlos Magno, a língua era já tão divergente da forma clássica que mais tarde se convencionaria denominar por latim medieval.[82]
Apesar de Carlos Magno ter previsto manter a tradição franca da partilha do reino por todos os herdeiros, apenas um dos seus filhos, Luís I, o Piedoso, se encontrava vivo em 813. No mesmo ano, Carlos Magno coroa Luís como seu sucessor, tendo morrido no ano seguinte. O seu longo reinado de 26 anos seria marcado por várias divisões internas do império entre os seus filhos e, após 829, por várias guerras civis entre grupos de alianças de pais e filhos contra outros herdeiros, em disputa sobre o domínio de várias partes do império. A determinada altura, Luís reconheceu como imperador o seu filho mais velho Lotário I e cedeu-lhe o território de Itália. Luís distribuiu o restante império entre Lotário e Carlos II, o seu filho mais novo. Lotário assumiu o domínio da Frância Oriental, a leste do Reno, deixando a Carlos a Frância Ocidental, o território a oeste da área do Reno e dos Alpes. Ao filho do meio, Luís o Germânico, que havia iniciado disputas constantes, foi-lhe permitida a regência da Baviera, ainda que sob tutela do seu irmão mais velho. Esta divisão viria mais tarde a ser contestada. Pepino II da Aquitânia, neto do imperador, rebelou-se na tentativa de conquistar a Aquitânia, enquanto Luís o Germânico tentou anexar a Frância Oriental. Luís I morreria em 840, com o império em convulsão.[83]
À sua morte seguiu-se uma guerra civil de três anos, que culminaria com a assinatura do Tratado de Verdun em 843. O tratado determinou a criação de um reino entre os rios Reno e o Ródano administrado por Lotário em conjunto com as suas posses de Itália, e o reconhecimento do seu título imperial. Luís o Germânico assumiu o controlo da Baviera e das terras orientais da atual Alemanha. Carlos recebeu o território ocidental franco, no que é hoje grande parte da França.[83] Os netos e bisnetos de Carlos Magno dividiriam por sua vez os seus reinos pelos seus descendentes, o que viria a desagregar toda a coesão interna alcançada neste período.[84]
A desagregação do Império Carolíngio foi acompanhada por invasões, migrações e incursões de forças externas. As costas atlântica e norte foram cobiçadas pelos Víquingues, que já se haviam instalado no norte das Ilhas Britânicas e na ilha da Islândia. Em 911, o líder víquingue Rolão recebeu permissão do rei franco Carlos, o Simples para estabelecer uma colónia no território que viria a ser a Normandia.[85] Os territórios orientais dos reinos francos, sobretudo a Alemanha e a Itália, estiveram sob constante ataque dos povos Magiares até à sua derrota na batalha de Lechfeld em 955.[86] A fragmentação do Califado Abássida trouxe consigo a desagregação do mundo islâmico numa série de pequenos estados políticos, alguns dos quais que viriam a expandir-se para a Itália e Sicília, chegando mesmo a instalar colónias nos Pirenéus e em áreas nas fronteiras a sul dos reinos francos (Fraxineto, por exemplo).[87]
Os esforços dos reinos locais para repelir os invasores levaram à formação de novas entidades políticas. Em Inglaterra, o rei Alfredo obteve no final do século VIII um acordo com os invasores Víquingues, que previa o estabelecimento de colónias dinamarquesas na Nortúmbria, Mércia e partes da Ânglia Oriental.[88] Em meados do século X, os descendentes de Alfredo tinham já reconquistado a Nortúmbria e restabelecido o domínio inglês sobre a maior parte do Sul da ilha.[89] A Norte, Kenneth I uniu os Pictos e os Escoceses no Reino da Escócia.[90] Durante o início do século X, a dinastia otoniana dominava já a Germânia e procurou repelir as invasões magiares. O restabelecimento do território culminou com a coroação de Otão I (r. 936–973) como imperador em 962.[91] Em 972, Otão garantiu o reconhecimento do título pelo Império Bizantino, e legitimou o facto com o casamento do seu filho Otão II (r. 961–983) com Teofânia Escleraina, filha do anterior imperador Bizantino Romano II.[92] Depois de um período de instabilidade, o Reino Itálico seria colocado sob influência otoniana em finais do século X.[93] A Frância ocidental fragmentou-se ainda mais, e embora de jure tenha existido uma corte, grande parte do poder estava entregue a senhores locais.[94]
Ao longo dos séculos IX e X os reinos escandinavos da Suécia, Dinamarca e Noruega foram conquistando território e influência. Alguns dos monarcas converteram-se ao cristianismo, fruto do esforço missionário do mesmo período, embora o processo de cristianização só tenha sido completo por volta do ano 1000. Os reinos escandinavos continuaram também a estabelecer colónias ao longo do território europeu; para além das já existentes na Irlanda, Inglaterra e Normandia, colonizaram também a Islândia e em territórios que viriam a fazer parte da Rússia. Mercadores suecos chegaram a estabelecer-se nos rios das estepes russas e mesmo a tentar cercar Constantinopla em 860 e 907.[95] A Espanha cristã, inicialmente confinada a um pequeno território a norte depois da conquista muçulmana, começou a reconquistar território a sul durante os séculos IX e X, estabelecendo durante o processo os reinos das Astúrias e de Leão.[96]
Na Europa de Leste, o Império Bizantino assistiu a um novo período de apogeu durante o reinado de Basílio I, o Macedônio (r. 867–886) e dos seus descendentes Leão VI, o Sábio (r. 886–912) e Constantino VII (r. 913–959), membros da dinastia macedónica. O comércio intensificou-se e implementou-se uma reforma administrativa uniforme a todas as províncias do império. O exército foi reorganizado, o que permitiu aos imperadores João I (r. 969–976) e Basílio II Bulgaróctono (r. 976–1025) alargar a sua extensão territorial em todas as frentes. A corte imperial foi o centro do revivalismo clássico, momento que viria a ficar conhecido como Renascimento macedónico.[97] Os esforços missionários tanto de clérigos orientais como ocidentais estiveram na origem da conversão dos Morávios, Búlgaros, Boémios, Polacos, Magiares e os povos eslavos do Rússia de Quieve. A cristianização destes povos viria a contribuir para a fundação dos estados políticos no território destes povos – a Grande Morávia, o Império Búlgaro, a Boémia, Polónia, Hungria e a própria Rússia de Quieve.[98]
Aos programas das grandes basílicas do século IV sucede-se um período de súbita diminuição de escala nas edificações que se prolongará até ao século VIII, sendo muito raros os programas de grandes edifícios. Por outro lado, verifica-se um surto construtivo de edifícios de pedra de menor escala durante os séculos VI e VII. Por volta do século VIII, a forma basilical é recuperada para os templos religiosos no Império Carolíngio.[100] A mais significativa inovação formal foi a introdução do transepto,[101] o corpo saliente perpendicular à nave que confere à planta a sua forma de cruz.[102] São também introduzidas as torres de cruzeiro[103] e um pórtico monumental de entrada no templo, normalmente na fachada ocidental do edifício.[104]
A produção de arte carolíngia estava restrita a um pequeno grupo de encomendadores na corte, e aos mosteiros e igrejas dos quais eram mecenas ou patronos. Foi marcada por um esforço em fazer reviver a dignidade e classicismo da Roma imperial e da arte bizantina, e influenciada em simultâneo pela arte insular das Ilhas Britânicas, conjugando os motivos ornamentais celtas e germânicos com formas e suportes mediterrânicos, e definindo já grande parte das formas artísticas que permaneceriam na arte Ocidental até o fim da Idade Média. Até os nossos dias chegaram sobretudo iluminuras e entalhes em marfim, inicialmente adornos de objetos metálicos.[105][106] As peças em metais preciosos estavam entre as mais prestigiadas formas artísticas, mas fruto sobretudo da necessidade de metal que levou à sua fundição, são poucos os exemplos que chegaram até nós, sendo os mais comuns algumas cruzes como a Cruz de Lotário, vários relicários e alguns sítios arqueológicos extremamente ricos em artefactos de metal como Sutton Hoo em Inglaterra, Gourdon em França, Guarrazar em Espanha e Nagyszentmiklós na fronteira do Império Bizantino. Há ainda vários exemplares de broches presentes em fíbulas, peça fundamental de adorno pessoal das elites.[107] Os livros com a maior riqueza decorativa eram sobretudo evangeliários, tendo chegado até nós uma quantidade assinalável de exemplares, como o Livro de Kells ou os Evangelhos de Lindisfarne, ou o Código Áureo de São Emeram, um dos poucos a conservar intacta a sua encadernação de ouro cravejado de pedras preciosas.[108] Foi também durante a corte de Carlos Magno que terá sido admitida a escultura monumental na arte cristã,[109] uma alteração crucial e que se manifestaria já no fim do período na presença comum de estatuária em tamanho real nas igrejas, como a Cruz de Gero.[110]
Ao longo do final do Império Romano, os principais progressos militares consistiram na tentativa de criação de uma força de cavalaria eficiente e no desenvolvimento de grupos altamente especializados no seio das forças militares. A criação de cavaleiros protegidos por armadura, semelhantes aos catafractários persas, teve lugar no século V. As diversas tribos invasoras possuíam exércitos bastante distintos; por exemplo, os exércitos anglo-saxónicos que invadiram as ilhas britânicas eram constituídos fundamentalmente por infantaria, enquanto os Vândalos e Visigodos tinham uma percentagem muito grande de cavalaria.[111] Durante o início das migrações o estribo ainda não tinha sido introduzido no exército, o que limitava a utilidade da cavalaria enquanto tropa de choque por não ser possível aplicar a totalidade da força do cavalo e do cavaleiro.[112] A mais profunda alteração militar durante o período das migrações foi a adoção do arco composto huno em substituição da versão cítia, mais fraca.[113] Outra inovação foi a adoção progressiva do montante,[114] da cota de malha e da armadura lamelar.[115]
A infantaria e a cavalaria ligeira perderam progressivamente importância durante o início do período carolíngio. Inversamente, a cavalaria pesada foi ganhando cada vez mais importância nos exércitos. Durante este período, diminuiu também o recurso a grupos de milícias, recrutados à força entre a população livre.[116] Embora muitos dos exércitos carolíngios fossem montados, pensa-se que uma grande proporção tenha sido apenas infantaria montada, e não verdadeira cavalaria.[117] A nível tecnológico, uma das principais mudanças durante o fim da Alta Idade Média foi o reaparecimento da besta e a introdução do estribo.[118] Outro avanço tecnológico, com implicações muito para além do campo militar, foi a introdução da ferradura, que permitiu usar cavalos em terreno rochoso.[119]
Na Europa ocidental, grande parte das antigas famílias das elites romanas desapareceu, ao mesmo tempo que outras se envolviam cada vez mais com assuntos religiosos e menos com matérias seculares. Os valores ligados à educação e literacia latinas praticamente desapareceram e, embora a literacia continuasse a ser importante, torna-se uma competência prática em vez de um símbolo de estatuto social. No século IV, Jerónimo sonhou que Deus o tinha repreendido por gastar mais tempo a ler Cícero do que a Bíblia. No século VI, Gregório de Tours afirmava que tinha tido um sonho semelhante, sendo castigado por tentar aprender estenografia.[120] Em finais do século VI, os principais meios de instrução religiosa são já a música e a arte, em vez do livro.[121] Grande parte da produção literária reproduzia obras clássicas, embora tenham sido criadas inúmeras obras originais e composições orais, atualmente desaparecidas. Entre as obras proeminentes deste período estão as de Sidónio Apolinário, Cassiodoro e Boécio.[122]
A cultura aristocrática também sofreu alterações. A cultura literária perde significado enquanto estatuto social. Os laços familiares entre as elites eram importantes, assim como os valores de lealdade, coragem e honra. Estes laços estão na origem e prevalência de um grande número de disputas na Europa ocidental, embora muitos terminassem rapidamente contra o pagamento de uma compensação. A nobreza apoiava a formação de grupos de guerreiros (comitato) destinados a ser a elite dos exércitos.[123]
A sociedade camponesa está muito menos documentada do que a nobreza. Grande parte do conhecimento atual deve-se à arqueologia, sendo raros os documentos escritos sobre a vida das classes inferiores anteriores ao século IX. As principais fontes são os códigos de direito ou as crónicas das classes superiores.[124] A distribuição de terras no Ocidente não era uniforme, havendo áreas muito fragmentadas enquanto noutras existiam blocos contíguos de grande dimensão. Estas diferenças permitiram o desenvolvimento de sociedades camponesas muito diferentes entre si, umas controladas pela aristocracia, enquanto outras com elevado nível de autonomia.[125] A distribuição populacional também variava significativamente. Algumas comunidades rurais chegavam a ter 700 habitantes, enquanto outras consistiam apenas num pequeno número de famílias ou quintas isoladas.[126] Diferente do que ocorria no período romano, não havia um vínculo legal relativo ao estatuto social e era possível a uma família camponesa ascender à aristocracia, por exemplo, ao longo de várias gerações de serviço militar dedicado a um senhor influente.[127]
A vida nas cidades e a cultura urbana sofreu um declínio acentuado a partir da queda do Império Romano. Embora as cidades italianas continuassem a ser povoadas, o número de habitantes diminuiu drasticamente. Roma, por exemplo, passou de uma população de centenas de milhar para apenas 30 000 habitantes no final do século VI. Os templos e basílicas foram convertidos em locais de culto cristãos.[128] Na Europa do Norte, as cidades também se contraíram, ao mesmo tempo que monumentos e espaços públicos eram destruídos para obtenção de materiais de construção. No entanto, a instituição de novos reinos muitas vezes proporcionava o crescimento das cidades escolhidas para capital.[129]
Durante toda a Baixa Idade média, e até ao surto epidémico do século XIV, a população Europeia cresceu a um ritmo sem precedentes. As estimativas apontam para um crescimento de 35 para 80 milhões entre os anos 1000 e 1347. Têm sido identificadas como causas prováveis a melhoria nas técnicas agrícolas, a relativa paz e ausência de invasões, o declínio da escravatura e um extenso período de clima moderado e aumento da temperatura média.[130] Apesar deste crescimento, cerca de 90% da população era ainda eminentemente rural embora, de forma progressiva, as quintas isoladas tenham dado lugar a pequenas comunidades como aldeias ou vilas, e tenha sido comum a agregação em volta de propriedades senhoriais.[131] A população urbana, ainda muito escassa durante a Alta Idade Média, cresce assinalavelmente durante os séculos XII e XIII, a par da expansão urbana e da fundação de imensos centros populacionais,[132] embora ao longo de todo o período seja provável que nunca tenha excedido os 10% da população total.[133]
A estrutura social e económica tinha por base as relações feudais. Embora não fosse proprietária, a nobreza detinha os direitos de exploração e tributação de grande parte dos terrenos agrícolas. Os servos obtinham o direito a cultivar e habitar as terras de determinada família nobre mediante o pagamento de uma renda na forma de trabalho, géneros ou moeda. Em troca, recebiam proteção económica e militar.[134] Ao longo dos séculos XI e XII, estas terras, ou feudos, tornam-se hereditárias. Em muitas regiões, ao contrário do que acontecia na Alta Idade Média, a dificuldade em dividi-las pelos herdeiros faz com que passem a ser herdadas apenas pelo primogénito.[135] Dentro da própria nobreza, verifica-se a existência de uma hierarquia de vassalagem através da suserania, onde são concedidas terras ou estruturas de importância económica para exploração a um nobre menor, em troca da sua vassalagem e fidelidade.[135] O domínio da nobreza durante este período deve-se em grande parte ao controlo das terras agrícolas e dos castelos, ao serviço militar na cavalaria pesada e às várias isenções de impostos ou obrigações de que desfrutavam. A introdução da cavalaria pesada na Europa teve origem nos catafractários persas dos séculos V e VI, mas será a introdução do estribo no século VII que virá permitir fazer uso de todo o potencial de combate destas unidades. Em resposta aos vários tumultos dos séculos IX e X, assiste-se a um surto construtivo de castelos, local de refúgio da população em tempos de ataque.[136]
O clero dividia-se entre o secular, parte da comunidade local, e o regular, que vivia numa comunidade fechada segundo uma ordem religiosa e era normalmente constituído por monges.[137] A maior parte dos membros do clero regular, assim como as hierarquias de topo do clero secular, era de origem nobre. Os párocos locais provinham na maior parte das vezes do povo.[138]
Na Flandres e no Norte e Centro de Itália, o crescimento de cidades que eram, até certo ponto, autónomas, proporcionou um significativo desenvolvimento económico e criou uma situação favorável ao aparecimento de novos modelos comerciais. As potências económicas ao longo do Báltico estabeleceram uma série de acordos que deram origem à Liga Hanseática, e as cidades-Estado italianas como Veneza, Génova e Pisa criaram uma imensa rede de rotas comerciais por todo o Mediterrâneo.[139] Para além do desenvolvimento comercial, as inovações agrícolas e tecnológicas deste período vieram permitir o aumento da produtividade das explorações agrícolas, levando à criação de excedentes em abundância para trocas comerciais.[140] Surgem também novos processos financeiros. Procede-se novamente à cunhagem de moeda em ouro, inicialmente em Itália e mais tarde em França e no resto da Europa. Surgem novas formas de contratos comerciais, permitindo a gestão de risco entre os mercadores. São aperfeiçoados os métodos de contabilidade e introduzidas as cartas de crédito que vieram permitir a rápida transação monetária nas redes comerciais.[141]
Ao longo da Idade Média, exigia-se que a mulher assumisse um papel de subordinação a um elemento masculino – o pai, o marido ou outro parente. Embora às viúvas fosse permitida bastante autonomia, existiam ainda algumas restrições legais. O trabalho da mulher era na sua maioria ligado às tarefas domésticas. As camponesas assumiam frequentemente a educação das crianças, a jardinagem e a criação de animais nos arredores da casa, podendo complementar o rendimento familiar com fiação fabrico de cerveja em casa. Durante as colheitas, esperava-se que ajudassem no trabalho de campo.[142] A mulher urbana, tal como a camponesa, era responsável pela gestão doméstica, podendo também exercer algumas das atividades comerciais, dependendo do país e do período.[143] As mulheres nobres tinham permissão para governar as terras na ausência do elemento masculino, embora normalmente lhes fosse vedada a participação em assuntos militares e governativos. Entre o clero, apenas podiam assumir o papel de freiras, uma vez que só os homens se podiam tornar padres.[142]
A Baixa Idade Média representa o período determinante na formação dos estados ocidentais europeus. Os reinos de França, Inglaterra e Espanha consolidam o seu poder e definem centros de poder duradouros.[144] Surgem também novas potências na Europa Central como a Hungria e Polónia, após sua conversão ao cristianismo.[145] O Reino da Hungria teve origem nos Magiares, que se estabeleceram no território por volta do ano 900 durante o reinado de Árpád, depois do período de conquista do século IX.[146] O papado, que até então sempre se manifestara independente dos reis seculares, começa a afirmar a sua autoridade temporal sobre a totalidade do mundo cristão. A monarquia papal atinge o seu apogeu durante o início do século XIII durante o pontificado do Papa Inocêncio III.[147] As Cruzadas do Norte e o avanço dos reinos cristãos e ordens militares para regiões pagãs no Báltico e no norte da Escandinávia levou à assimilação forçada de inúmeros povos autóctones na Europa.[148]
Durante o início da Baixa Idade Média, a Alemanha foi dominada pela dinastia saxónica, que lutava ainda pelo controlo dos poderosos ducados locais formados durante as migrações bárbaras dos séculos anteriores. Em 1024, assume o poder a dinastia saliana, que tinha já entrado em confronto aberto com o papado acerca de nomeações eclesiásticas durante o reinado do imperador Henrique IV. Os seus sucessores continuaram o clima de confronto, estendendo-o a parte da nobreza Germânica.[149] Depois da morte do imperador Henrique V, o qual não havia deixado descendência, seguiu-se um período de instabilidade até ao reinado de Frederico I, que toma posse do trono imperial durante o fim do século XII.[150] Embora o seu reinado tenha sido estável, os seus sucessores enfrentam o mesmo clima de instabilidade ainda durante o século XIII.[151] Um dos fatores de maior instabilidade foi a constante ameaça e invasão dos Mongóis no território europeu em meados do século XIII, desde as primeiras incursões na Rússia de Quieve até às invasões da Europa de Leste em 1241, 1259 e 1287.[152]
Dominada pela dinastia capetiana, a corte francesa aumenta gradualmente a sua influência sobre a nobreza, permitindo-lhe exercer maior controlo nos territórios para além da Ilha de França do que durante os séculos XI e XII.[153] No entanto, encontrariam resistência por parte dos Duques da Normandia, que em 1066 tinham já subjugado grande parte de Inglaterra e criado um império em ambas as margens do canal que duraria até ao fim da Idade Média.[154][155] Durante a dinastia Plantageneta do rei Henrique II e dos seus sucessores, o reino dominaria a totalidade de Inglaterra e grande parte de França.[156] No entanto, viria a perder a Normandia e a maior parte das possessões do Norte de França durante o reinado de João em 1204. Isto esteve na origem de divergências entre a nobreza Inglesa, ao mesmo tempo que as obrigações financeiras decorrentes da tentativa de reconquista da Normandia obrigaram o rei a assinar em 1215 a Magna Carta, um documento que limitaria o poder absoluto do rei e foi o primeiro passo de um longo processo que levaria ao parlamentarismo. Durante o reinado de Henrique III, foram feitas ainda mais concessões de poder à nobreza e diminuído o poder da corte.[157] A monarquia francesa, no entanto, continuaria a fortalecer a sua influência perante a nobreza durante o século XIII, centralizando a administração e aumentando o número de territórios que directamente controlava.[158] Além da sua expansão para Inglaterra, os Normandos chegaram a estabelecer colónias na Sicília e no sul de Itália, depois de Roberto de Altavila ter desembarcado no território em 1509 e estabelecido um ducado que mais tarde se tornaria o Reino da Sicília.[159]
Na Península Ibérica, os estados cristãos confinados à região noroeste do território iniciam o processo de Reconquista dos estados islâmicos no sul.[160] Por volta de 1150, o norte cristão estava dividido em cinco reinos principais – Leão, Castela, Aragão, Navarra e Portugal.[161] O sul da Península continuava dominado pelos estados islâmicos, inicialmente pelo Califado de Córdova, que no entanto se viria a fragmentar em 1031 numa série de pequenos estados voláteis denominados taifas,[160] que continuaram a combater os reinos cristãos até o Califado Almóada restabelecer o governo central no sul durante a década de 1170.[162] As forças cristãs fazem novos avanços durante o início do século XIII, culminando na captura de Sevilha em 1248.[163]
Durante o século XI, os seljúcidas viria a dominar grande parte do Médio Oriente, conquistando os antigos territórios persas na década de 1040, a Arménia na década de 1060, e a cidade de Jerusalém em 1070. Em 1071, o exército turco derrotou o exército bizantino durante a Batalha de Manziquerta, capturando o imperador bizantino Romano IV Diógenes. Isto possibilitou aos Turcos a invasão da Ásia Menor, o que constituiu um golpe severo no Império Bizantino ao retirar-lhe grande parte da população e o seu centro económico. Embora o exército bizantino se tenha reorganizado, nunca chegaria a recuperar a Ásia Menor e só efetuaria ações defensivas. Os próprios Turcos vieram a enfrentar dificuldades na manutenção do território, perdendo o domínio de Jerusalém para o Califado Fatímida do Egito e assistindo ao despoletar de várias guerras civis no seu interior.[165]
As Cruzadas pretendiam libertar Jerusalém do domínio muçulmano. A primeira Cruzada foi promovida pelo Papa Urbano II durante o Concílio de Clermont em 1095 como resposta a um pedido de ajuda do imperador bizantino Aleixo I Comneno para conter o avanço muçulmano na região. O papa prometeu indulgências a todos os que tomassem parte, tendo sido mobilizadas milhares de pessoas na Europa, de todas as classes sociais. Jerusalém foi conquistada pelos cruzados em 1099, tendo também sido estabelecidos vários estados cruzados na região. Durante os séculos XII e XIII, houve uma série de conflitos entre estes estados e os territórios islâmicos circundantes, o que levou à convocação de novas cruzadas em seu auxílio,[166] ou para reconquistar Jerusalém, que entretanto tinha sido novamente capturada por Saladino em 1187.[167] As ordens religiosas militares, como os Templários ou os Hospitalários, são formadas durante esta época, e viriam a desempenhar um papel fundamental na consolidação e estabilização dos territórios reconquistados.[168] No ano de 1204, a Quarta Cruzada conquista a cidade de Constantinopla estabelecendo o que viria a ser o Império Latino de Constantinopla[169] e enfraquecendo consideravelmente a posição do Império Bizantino que, embora voltasse a conquistar Constantinopla em 1261, nunca chegaria a restabelecer a glória dos séculos anteriores.[170] No entanto, em 1291 todos os estados cruzados tinham já sido capturados ou forçados a deslocar-se para territórios insulares.[171]
O poder papal convocou também cruzadas para outras regiões além da Palestina, tendo sido proclamadas à Península Ibérica, sul de França e ao longo do Báltico.[166] As cruzadas na Península Ibérica estão interligadas com o processo de Reconquista do território aos muçulmanos. A participação da Ordem dos Templários e da Ordem dos Hospitalários serviu como modelo à fundação de várias ordens militares locais, a maior parte delas mais tarde integradas nas duas ordens que viriam a ser dominantes no início do século XII, a Ordem de Calatrava e de Santiago.[172] A Europa do Norte, que tinha permanecido fora da influência do mundo cristão até ao século XI, foi também palco de movimentos de conquista entre os séculos XII e XIV que viriam a ser conhecidos como Cruzadas do Norte. Este movimento deu também origem a várias ordens militares, entre elas os Irmãos Livônios da Espada e a Ordem dos Cavaleiros Teutónicos. Esta última, apesar de fundada nos estados cruzados, foi sobretudo ativa na área do Báltico a partir de 1225, mudando em 1309 a sua sede para o Castelo de Malbork na Prússia.[173]
Ao longo do século XI, as novas obras publicadas nos campos da filosofia e da teologia começam a estimular o pensamento intelectual. É notório o debate entre realistas e nominalistas sobre o conceito da universalidade. O discurso filosófico é bastante i