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Frente para a Libertação do Enclave de Cabinda

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Frente para a Libertação do Enclave de Cabinda
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A Frente para a Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC) é um movimento político guerrilheiro separatista que reclama a independência de Cabinda,[1] Anteriormente sob administração portuguesa, aquando da independência de Angola, em 1975, o território tornou-se uma província desta nova nação independente.

Factos rápidos Líder(es), Fundação ...

A FLEC atua na região onde localizavam-se os antigos reinos de Cacongo, Loango e Angoio, declarando como sendo parte da República de Cabinda, cujo governo está no exílio.[2]

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História

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Perspectiva

A FLEC reclama que o nacionalismo cabindino têm seu marco inicial em 1 de fevereiro de 1885, na assinatura do Tratado de Simulambuco, estabelecendo o Protetorado do Congo Português administrado pelo Reino de Portugal.[3][4] Foi erguido no local um monumento a comemorar a data.

Antes da independência angolana

Em 1963, três organizações — o Movimento para a Libertação do Enclave de Cabinda (MLEC), o Comité de Acção da União Nacional de Cabinda (CAUNC) e a Aliança Nacional do Maiombe (ALIAMA) — fundiram-se para formar a FLEC.[5]

Na formação das frentes únicas de combate pela independência angolana o líder do grupo, Luis Ranque Franque, rechaçou a participação nos combates junto aos outros movimentos independentistas angolanos, o que enfraqueceu a posição da FLEC.

Processo de independência angolana

Durante a Guerra Colonial Portuguesa (1961-1974), os movimentos nacionalistas de Cabinda lutaram contra as Forças Armadas Portuguesas, embora sem a mesma relevância da luta empreendida pelo Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) na área. Depois que o regime do Estado Novo, que governou Portugal e os seus territórios ultramarinos, foi derrubado, durante o golpe militar da Revolução dos Cravos, a 25 de Abril de 1974, a independência foi oferecida a todos os territórios dependentes, incluindo Angola.

Dado seu tamanho diminuído e pouco relevante em 1974, a FLEC foi excluída das negociações com o então governador Rosa Coutinho.[nota 1] A 10 de Novembro de 1974, uma onda de violência em Luanda resulta em mais de 50 mortos,[12] e verifica-se um ataque da FLEC às forças portuguesas em Cabinda.[13]

Em 1975 a FLEC formou um governo provisório, liderado por Henrique N'zita Tiago, que proclamou a independência de Cabinda de Portugal a 1 de agosto, instalando a sede do governo no exílio em Quinxassa; Luis Ranque era o presidente. Porém, somente em 1 de novembro de 1975, é que a FLEC consegue fazer a primeira incursão que lhe garante porções rurais do território da província, de fato instalando a República de Cabinda. Sua incursão somente foi possível graças a contratação dos mercenários de Bob Denard, que intervieram em 1975 para arrancar este território rico em petróleo à soberania angolana. O apoio financeiro para contratação dos mercenários foi garantido pelos Estados Unidos, pelo Zaire, pelo regime do apartheid da África do Sul e pela França.

No início de novembro de 1975, os rebeldes, reforçados pelos mercenários e pelas tropas zairenses de Mobutu, lançaram uma ofensiva contra as forças angolanas (que contava com apoio de 232 cubanos), batalhas que ficaram conhecidas como fronteira Antó/Iema e Morro do Chizo. Entre novembro de 1975 e 4 de janeiro de 1976 o enclave de Cabinda foi retomado pelo MPLA. O MPLA rapidamente conquistou o domínio das áreas urbanas de Cabinda, enquanto a FLEC manteve o controle da zona rural até janeiro de 1976, quando foi definitivamente expulsa.

Derrota militar e formação de facções

A enorme derrota militar fez com que a FLEC se dividisse em três facções: FLEC-Ranque Franque, FLEC-N'Zita, liderado por Henrique N'zita Tiago, e FLEC-Lubota, comandado por Francisco Xavier Lubota. Em Novembro de 1977 outra facção, o Comando Militar de Libertação de Cabinda, foi criado. Em Junho de 1979 as Forças Armadas de Libertação de Cabinda criaram outro movimento, o Movimento Popular de Libertação de Cabinda (MPLC).

Na década de 1980 a FLEC recebeu ajuda da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), com o apoio do regime do apartheid da África do Sul. A associação com o regime do apartheid fez com que em 1988 o Comité Comunista de Cabinda (CCC), liderado por Kaya Mohamed Yay, abandonasse a FLEC. Na década seguinte outra facção, a União Nacional de Libertação de Cabina, comandada por Lumingu Luis Gimby, foi criada.

Reagrupamento parcial da FLEC e retomada da atividade militar

A FLEC original foi reformada na década de 1990, e duas facções foram fundidas: a FLEC-Renovada, cuja bandeira era branca, com uma faixa central dividida em três cores (verde, amarelo e negro, com um anel vermelho no centro da bandeira), e a FLEC-Forças Armadas de Cabinda (FLEC-FAC), que continuou a usar a bandeira original vermelha, amarela e azul.

Outro grupo foi criado por expatriados de Cabinda nos Países Baixos, em 1996, a Frente de Libertação do Estado de Cabinda (FLEC-Lopes), que utilizou uma bandeira azul, amarela e negra com o monumento de Simulambuco no centro.[14]

A partir de 2000, membros do grupo passaram a manter alguns cidadãos internacionais como reféns em Cabinda. Em Março de 2001 a FLEC-Renovada sequestrou cinco empregados portugueses de uma firma de construção civil, que foram libertados três meses depois. Em Maio de 2000 a FLEC-FAC raptou três empregados estrangeiros e um cidadão nacional, de uma empresa portuguesa, e libertou-os dois meses mais tarde.[15]

Em dezembro de 2002 as Forças Armadas de Angola anunciaram a captura da FLEC-Renovada.[15] Em Agosto de 2006 foi assinado o "Memorando de Entendimento para a Paz e a Reconciliação da Província de Cabinda" entre a FLEC-Renovada, o Fórum Cabindês para o Diálogo e o governo de Angola.[16] Em consequência deste entendimento, os efectivos militares da FLEC foram aquarteladas e a 6 de janeiro de 2007, alguns destes elementos incorporados nas Forças Armadas Angolanas e na Polícia Nacional.[16] Um dos dirigentes da FLEC, António Bento Bembe, passou a integrar o Governo de Unidade e Reconciliação Nacional, em Luanda.[16] Este acordo foi denunciado como uma fraude por parte dos grupos e facções da FLEC. Particularmente, a FLEC-FAC anunciou a continuação da luta pela independência de Cabinda; em Outubro de 2006 a FLEC-FAC solicitou à Comissão de Direitos Humanos e dos Povos da União Africana uma intervenção.

Táticas de terror (2010-presente)

No entanto, elementos inconformados da FLEC acabaram por realizar ataques esporádicos contra forças do governo nas selvas e também contra instalações de empresas sediadas no território. Para demonstrar normalidade, Cabinda havia sido escolhida como uma das sub-sedes do Campeonato Africano das Nações de 2010, uma competição continental de futebol organizada em Angola. A FLEC aproveitou esta oportunidade para levar a cabo um ato terrorista, atacando o autocarro que fazia o transporte da selecção do Togo, matando o motorista e ferindo dois jogadores.[17] Este ato suscitou fortes reações da comunidade internacional e da parte dos serviços de segurança de Angola. Em janeiro de 2011, na França, foi preso Rodrigues Mingas, líder da FLEC/PM, acusado de ser o principal mandante do atentado ao autocarro da selecção do Togo.[18][19] Em inícios de março de 2011, as Forças Armadas Angolanas conseguiram emboscar e assassinar Gabriel Nhemba "Pirilampo",[20] o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas de Cabinda (FAC), o braço armado da FLEC, momento em que as mais importantes bases secretas dos separatistas foram desmanteladas.[21]

Em 2021, a FLEC-FAC reclamou a autoria de um ataque que vitimou sete soldados angolanos, reclamando que Luanda assuma um "diálogo franco".[22]

Em maio de 2024, a FLEC denunciou a morte de seis de seus membros pelas forças de segurança angolanas em território do Congo-Brazavile, retaliando ao longo do ano com ataques que vitimaram soldados angolanos.[23][24]

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Símbolos

A bandeira do MLEC era amarela, com uma insígnia no centro que mostrava o Maiombe. Em seguida a FLEC adotou uma bandeira com faixas vermelha, amarela e azul — uma cor para cada um dos grupos que formaram a organização, com um novo emblema — uma estrela branca e um triângulo verde dentro de um anel — no centro.

Notas

  1. Não somente a FLEC foi excluída, mas também outras organizações que atuavam em território angolano,[6][7], como a antifascista Frente de Unidade Angolana (FUA).[8][9][10][11]

    Referências

    1. AlʻAmin Mazrui, Ali. The Warrior Tradition in Modern Afriuca, 1977. Page 227.
    2. «Cabinda -» (em inglês). 6 de junho de 2018. Consultado em 4 de dezembro de 2024
    3. Shillington K., Encyclopedia of African history, Volume 1, p197 ISBN 978-1579582456
    4. James, W. Martin; Susan Herlin Broadhead (2004). Historical Dictionary of Angola. [S.l.: s.n.] p. 60
    5. Pimenta, Fernando Tavares (3 de abril de 2018). «Causas do êxodo das minorias brancas da África Portuguesa: Angola e Moçambique (1974/1975)». Revista Portuguesa de História: 99–124. ISSN 2183-3796. doi:10.14195/0870-4147_48_5. Consultado em 8 de novembro de 2024
    6. «Independências - Angola». casacomum.org. Consultado em 8 de novembro de 2024
    7. Pimenta, Fernando Tavares (2009). Angola: os brancos e a independência. Col: Biblioteca das ciências sociais. História. Porto: Afrontamento
    8. «Fernando FalcãoUm branco fora dos "eixos"». PÚBLICO. 9 de junho de 2011. Consultado em 8 de novembro de 2024
    9. «Angola». Comissão Comemorativa 50 Anos 25 Abril. Consultado em 8 de novembro de 2024
    10. PIMENTA, Fernando Tavares. Ideologia nacional dos brancos angolanos (1900-1975). [S.l.: s.n.]
    11. H., DUARTE; J., Carlos. «Angola - Imperialismo - Mobutu - FNLA - Neocolonialismo». Associação Tchiweka de Documentação. Consultado em 8 de novembro de 2024
    12. RUIVO, Francisco Bairrão (2024). 1974 1982 - Uma Proposta de Cronologia. Lisboa: Museu do Aljube
    13. «CABINDA : Sítio oficial do Governo Cabindês no exílio da F.L.E.C». www.cabinda.org. Consultado em 30 de agosto de 2015
    14. Cabinda. Medicareclub. 2022.
    15. «Onibus da seleção de futebol de Togo metralhado». Globo.com. Consultado em 22 de fevereiro de 2011
    16. "Vamos ter Forças Armadas modernas". Jornal de Angola. 9 de outubro de 2014.
    17. Lusa, Agência. «Independentistas de Cabinda reivindicam ataque que matou sete soldados angolanos». Observador. Consultado em 4 de dezembro de 2024
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    Ver também

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