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Jacques Hébert

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Jacques-René Hébert (Alençon, 15 de novembro de 1757Paris, 24 de março de 1794) foi um jornalista e político francês. Editor responsável pelo Père Duchesne, um periódico de ampla circulação durante os primeiros anos da Revolução Francesa. Hébert exerceu influência considerável sobre os Sans-Coulottes, constituindo-se, por meio de seus panfletos, num radical porta-voz dos setores populares urbanos de Paris. Ligado ao grupo dos Cordeliers, seria posteriormente compreendido como liderança do movimento "Hébertista", cujas tensões crescentes com o robespierrismo o levaram a ser preso, julgado e guilhotinado em março de 1794.[1]

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Biografia

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Anos Iniciais e Primeiras publicações

Nascido no seio de uma família da média burguesia de Aleçon, na Normandia, muda-se para Paris em 1780, aos 23 anos. Ao longo da década de 80, sobre a qual há poucas fontes[2], sabe-se que Hébert enfrenta dificuldades financeiras. A partir de 1786 trabalha no Théatre des Varietès amusantes (Algo como "Teatro de variedades divertidas"), onde primeiro entra em contato com a personagem Père Duchesne. A personagem, conhecida como Pére Duchesne, marchand de fourneaux (Mercador de fornos), era então uma tradicional figura no teatro popular parisiense, caracterizada como um militar de bigode e cachimbo[3]. Não há consenso quanto à origem exata da figura de Père Duchesne, embora suponha-se que seja advinda da commedia dell'arte.[4]

Demitido do teatro em meados de 1788, somente no ano de 1790 é que Hébert passa a dedicar-se à escrita, sendo La Lanterne Magique, datada deste mesmo ano, sua primeira publicação conhecida. Seguiram-se, então, uma série de publicações de teor crítico ao conservadorismo monárquico, intituladas "Sermons prêches à l’Assemblée des enragés"[5] (Sermões pregados à assembleia dos "enraivecidos"), até que, no final de 1790, Hébert assinasse pela primeira vez o Père Duchesne.

O "Père Duchesne"

O Père Duchesne de Hébert tornaria-se, até a execução de seu autor, um dos mais populares impressos da França. Porém, se foi o mais relevante, o periódico de Hébert não foi o único batizado de "Père Duchesne". Publicações isoladas de outros "Pères Duchesnes" existiram desde 1789, quando circulou em Paris o conto "Les Voyages du Père Duchesne à Versailles", e, mais notadamente, já em 1790 panfletos de autoria de Antoine Lemaire e do Abade Jumel, ambos fazendo uso da personagem em seus títulos. Para muitos autores, operou-se no discurso público parisiense uma verdadeira guerra de propagandas, na tentativa de angariar leitores no circuito popular de Paris em 1790.[6]

De qualquer maneira, Hèbert logrou editar o mais popular dos Père Duchenes, rapidamente ultrapassando seus concorrentes homônimos. Vendido a dois sous em Paris, o texto de Hèbert era escrito em tom ácido, crtítico e frequentemento chulo; a este tipo particular de escrita deu-se o nome de grivois. Essa característica acarretou, ao mesmo tempo, uma aproximação das classes populares urbanas e um afastamento de boa parte da elite intelectual revolucionária[7]. Outra razão que permite explicar sua popularidade encontra-se em sua estrutura sintética, que logo de início apresentava breves comentários sobre os acontecimentos mais recentes. Quando em tom positivo, intitulavam-se "Grand joie" (Grande alegria) e, quando em tom negativo, "Grand Colère" (Grande cólera).[7]

Em trajetória ascendente, Hébert ingressa na política, incensado pela ampla disseminação de seu jornal, em 1791. No mesmo ano, com a Fuga de Varennes, acirram-se suas posições contra a monarquia e, cada vez mais, radicaliza-se o discurso do Duchesne.[8]A popularidade do Père Duchesne chega ao seu auge com a morte de Marat e a consequente interrupção do "L'ami du peuple", em 1793[9], até o ano seguinte, seriam impressos cerca de 40 mil exemplares do periódico[10], que circularam sobretudo nos centros urbanos, no campo e, de maneira expressiva, entre as forças armadas[11].

Julgamento e execução

Radicalizando progressivamente, o Duchesne passa a entrar em choque com as lideranças revolucionárias, notadamente os Girondinos e Brissotistas até sua queda em 1793, e, então, com o Comitê de Salvação Pública em 1794. Acusado de coordenar uma conspiração, Jacques-René Hébert é preso em 13 de março de 1794 e guilhotinado onze dias depois. Com sua morte, encerram-se as tiragens do Duchesne, embora, no futuro, outros periódicos não relacionados viessem a reivindicar o título.

Após a derrubada de Luís XVI e o expurgo da bancada girondina da Convenção, a sans-culotterie passa a desempenhar papel ativo na condução dos acontecimentos políticos.[12] Em 05 de setembro de 1793, os sans-culottes saem Às ruas de Paris para exigir da Convenção a implementação de medidas que remediassem a carestia de alimentos e o estabelecimento de forças coativas institucionais que garantissem a execução destas medidas. Para alguns historiadores, como Albert Mathiez, essa seria uma “poussée hébertiste” (pressão hébertista), posto que os revoltosos teriam sido liderados por Hébert. Outros, porém, defendem que o jornalista não gozava de envergadura política para tanto, como é o caso de Albert Soboul, para quem trata-se de uma pressão sans-culotte".[13] De qualquer maneira, o momento assinala a ascensão dos montanheses a uma posição de destaque.[13]

Os choques com Hébert viriam ainda no fim de 1793. Reivindicações da sans-culotterie por democracia direta afastaram o movimento da recém-estabelecida Convenção Montanhesa, que eliminou lideranças radicais dos Enragés e desarticulou grupos de mulheres revolucionárias[14]. O golpe fatal aos Hébertistas chegou em 1794, durante o chamado "drama do germinal", quando George Jacques Danton, liderando o grupo dos chamados "Indulgentes", comprometidos com a defesa de maior tolerância em relação aos suspeitos, passa a atacar a ala mais radical da sans-culotterie[14]. O acirramento das tensões rende tanto aos Indulgentes quanto aos Hébertistas conflitos com o Comitê de Salvação Pública. Os primeiros, em razão de sua oposição à radicalização e, os segundos, em função de seu discurso cada vez mais radical.[15] Hébert, inclusive, chega a falar em uma nova insurreição. O Comitê decreta a prisão de Jacques Hébert, que é condenado à morte e executado em 24 de março de 1794

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Bibliografia

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GUILHAUMOU, Jacques. Les mille langues du Pére Duchesne: la parade de la culturepopulaire pendant la Révolution. Paris,

Guilhaumou Jacques. Dater Le Père Duchesne d'Hébert (juillet1793-mars 1794). In: Annales historiques de la Révolution française, n°303, 1996. pp. 67-75.DOI : https://doi.org/10.3406/ahrf.1996.1833'Hébert (juillet1793-mars 1794). In: Annales historiques de la Révolution française, n°303, 1996. pp. 67-75.DOI : https://doi.org/10.3406/ahrf.1996.1833

HUNT, Lynn. Política, cultura e classe na Revolução Francesa. Editora Companhia das Letras, 2007. p.76-112.

OLIVEIRA, Josemar Machado de. Jacques-René Hébert (O jornalista do Père Duchesne) e o processo da revolução . Revista de História, São Paulo, n. 146, p. 139–174, 2002. DOI: 10.11606/issn.2316-9141.v0i146p139-174. Disponível em: https://revistas.usp.br/revhistoria/article/view/18937.. Acesso em: 4 jun. 2025.

OLIVEIRA, Josemar Machado de. o père duchesne no interior da revolução democrática: jacques-rené hébert e as ideias democráticas do movimento secionário sans-culotte durante o ano i e o ano ii (1792-94). vitória: cousa, 2017. Acesso em: 4 jun. 2025.

OLIVEIRA, Josemar Machado de. Governo revolucionário e movimento popular: a contradição entre a democracia representativa e a democracia direta durante o ano II. Revista Ágora, Vitória/ES, n. 29, p. 204–220, 2019. Disponível em: https://periodicos.ufes.br/agora/article/view/27509. Acesso em: 7 jul. 2025.

Soboul Albert. Louis Jacob. Hébert, le Père Duchesne, chef des Sans-Culottes, Paris, Gallimard, 1960. In: Annales historiques de la Révolution française, n°167, 1962. pp. 110-113;

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Referências

  1. OLIVEIRA, 2002, p.156.
  2. OLIVEIRA, 2002, p. 142.
  3. GUILHAUMOU, 1986, p.146.
  4. GUILHAUMOU, 1986, p.145.
  5. OLIVEIRA, 2002, p.141.
  6. OLIVEIRA, 2002, p.142.
  7. OLIVEIRA, 2002, pp.144; 148.
  8. OLIVEIRA, 2002, p. 155.
  9. SOUBOUL, 1962, p.111.
  10. GUILHAUMOU, 1986, p.111.
  11. HUNT, p.94
  12. OLIVEIRA, 2019, p. 212-213.
  13. OLIVEIRA, 2019, p.213
  14. OLIVEIRA, 2019, p. 215.
  15. OLIVEIRA, 2019, p.216.
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