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Língua cantonesa
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O cantonês ou cantonense (chinês simplificado: 广东话; chinês tradicional: 廣東話; yale cantonês: Gwóngdūng wá) é uma das principais línguas do grupo yuè da família linguística chinesa (sinítica), fazendo parte do tronco linguístico Sino-Tibetano. O cantonês é o 16° idioma mais falado do mundo como língua materna e o 3° mais falado entre as línguas faladas na China, com mais de 80 milhões de falantes nativos[1] que usam ativamente a língua em seu cotidiano, principalmente localizados na província do Cantão (Guangdong), nas regiões administrativas de Hong Kong e Macau, assim como em comunidades internacionais, mais notavelmente no Vietnã, Malásia, Camboja e Singapura.
O nome da sua família linguística yuè corresponde ao nome de um antigo reino situado na atual província de Cantão. Por esse motivo, o caractere 粵 utiliza-se hoje em dia como abreviatura do nome desta província e língua. O cantonês é um idioma bastante conservador, mais próximo das formas antigas da língua do que outras línguas na China. Isto reflete-se, por exemplo, no facto de que a poesia antiga, cuja pronúncia original ainda é desconhecida, rima melhor lida em cantonês do que em mandarim. Ainda que os chineses prefiram falar de "dialetos" (方言 fāngyán) ao referirem-se às variedades linguísticas faladas na China, a inteligibilidade mútua entre estes é praticamente nula, fazendo com que os linguistas consideram o chinês uma família de línguas, e não uma língua única, família esta que inclui variedades como o mandarim, jin, wu, gan, hakka, xiang e min.
Dos diferentes idiomas chineses, o cantonês é o único que, à parte do mandarim, tem uma forma escrita. Esta utiliza alguns caracteres chineses que não existem em mandarim e reutiliza outros com significados diferentes. O cantonês escrito se utiliza, no entanto, somente em situações informais, como cartas entre amigos, foros de Internet ou em algumas formas de literatura popular. Em situações formais, o chinês escrito segue as normas do mandarim. Em Hong Kong e Macau, o cantonês falado se utiliza também em situações formais, como em discursos políticos, emissoras de rádio e televisão. Nestes casos, o idioma utilizado não é o cantonês autêntico, senão mandarim com uma leitura cantonesa dos caracteres.[2][3]
Para a língua cantonesa, utiliza-se em Macau um silabário codificado de romanização[4][5] com o objetivo de evitar disparidades na romanização dos nomes próprios escritos em caracteres chineses tradicionais.
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História
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Perspectiva
Durante o período da dinastia Song do Sul, Cantão se tornou o centro cultural da região.[6] O cantonês emergiu como a variedade de prestígio dos chineses yue quando a cidade portuária de Cantão, no Delta do Rio das Pérolas, se tornou o maior porto da China, com uma rede de comércio que se estendia até a Arábia.[7] O cantonês também era usado nos gêneros populares de canções folclóricas Yuè'ōu, Mùyú e Nányīn, bem como na ópera cantonesa.[8][9] Além disso, uma literatura clássica distinta foi desenvolvida em cantonês, com textos do chinês médio soando mais semelhantes ao cantonês moderno do que outras variedades chinesas atuais, incluindo o mandarim.[10]
Como o Cantão se tornou o principal centro comercial da China para o comércio exterior em 1700, o cantonês se tornou a variedade de chineses que mais interagia com o mundo ocidental.[7] Por volta deste período e continuando na década de 1900, os ancestrais da maioria da população de Hong Kong e Macau chegaram do Cantão e áreas circunvizinhas após terem sido cedidos à Grã-Bretanha e Portugal, respectivamente.[11] Após a Revolução Xinhai de 1912, o cantonês quase se tornou a língua oficial da República da China, mas perdeu por uma pequena margem.[12]
Na China continental, o mandarim padrão foi fortemente promovido como língua de instrução nas escolas e como língua oficial, especialmente depois que os comunistas assumiram o controle em 1949. Enquanto isso, o cantonês manteve-se a variedade oficial do chinês em Hong Kong e Macau, tanto durante como após o período colonial.[13]
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Diferenças entre línguas chinesas
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Fonética e fonologia
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Perspectiva
Iniciais
As consoantes iniciais são as 19 consoantes que podem estar presentes no início de um som.[14] Alguns sons podem não ter iniciais, quando isso acontece, é dito que possuem uma inicial nula. Possuindo assim o seguinte inventário em IPA:
Finais
Finais são a parte do som depois do inicial. Um final é geralmente composto de uma vogal principal, chamada de núcleo, e uma terminal, chamada de coda. A vogal principal pode ser longa ou curta, dependendo da duração vocálica. As vogais presentes em cantonês seguem o seguinte padrão:
Já uma terminal pode ser uma semivogal, uma consoante nasal ou uma consoante de pausa. O gráfico a seguir representa todos os finais em IPA:
Tons

Como outros dialetos (ou línguas) chineses, o cantonês usa contornos tonais para distinguir palavras, a partir do número de possíveis tons e dependendo do tipo de final da palavra. Enquanto o cantonês de Guangzhou (também conhecido como Cantão) geralmente distingue os tons alto descendente e alto plano, esses dois se fundiram na língua de Hong Kong, produzindo um sistema de seis tons diferentes em sílabas que terminam em uma consoante oclusiva com semivogal ou nasal. Alguns desses tons têm mais do que uma percepção sonora, mas tais diferenças não são utilizadas para distinguir palavras. Em finais que terminam numa oclusiva, o número de tons é reduzido para três; em descrições de chineses, esses ditos "tons fechados" são tratados separadamente, fazendo com que cantonês seja tradicionalmente dito como tendo nove tons. No entanto, esses três adicionais são foneticamente fusões de tom[15] e consoante final; o número de tons fonêmicos é de seis em Hong Kong e sete em Guangzhou.[16]
Como outros dialetos Yue, o cantonês preserva uma distinção análoga à distinção fonêmica (surdo, sonoro) do chinês médio, conforme se vê na tabela a seguir:
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Escrita
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Perspectiva
O cantonês escrito é uma adaptação dos caracteres chineses para servir à língua de maneira completa, tendo sido inicialmente desenvolvido do chinês clássico, que serviu como a principal língua literária da China no século XIX. Hoje em dia, enquanto que o mandarim pode ser lido e falado, palavra por palavra, por todas as outras variedades chinesas, a inteligibilidade desses leitores provavelmente vai ser prejudicada devido às diferenças em idiomas, gramática e uso. Os falantes do cantonês moderno já desenvolveram o seu próprio sistema de escrita, às vezes até mesmo criando novos caracteres para palavras que ou não existem ou foram perdidas no chinês padrão. Atualmente, com o avanço da globalização e do contato com o mundo ocidental, são utilizadas, cada vez mais, diversas palavras vindas inicialmente de outras línguas, agora adaptadas para os fonemas e para o sistema de escrita cantonês.
Romanização
Em algumas regiões, notavelmente Hong Kong, está sendo utilizado um sistema de romanização dos caracteres para evitar a discrepância em na pronúncia de nomes próprios causada pelo fato dos mesmos caracteres poderem possuir dois tipos de som, o cantonês e o padrão, no entanto, isso vem frustrando e gerando uma certa revolta nos cidadãos que afirmam estar perdendo uma parte essencial de sua língua, alegando que o governo está cedendo à globalização, assim levando à uma perda de identidade e sentimento nacional único.
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Gramática
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Os pronomes pessoais em cantonês são ngo5 (我) "eu/mim", nei5 (你) "você" e keoi5 (佢) "ele/ela", com dei6 (哋) adicionado para formar o plural. Ainda existem algumas outras versões presentes principalmente em obras literárias, como exibe o gráfico seguinte:
A língua cantonesa, assim como a grande maioria das outras línguas chinesas, não faz determinação de gênero, número e nem grau em seus substantivos, logo, não faz nenhum tipo flexão a fim de especificar algo em nenhuma dessas ocasiões. No entanto, faz-se o uso de outro artifício linguístico para inserir essa informação: os classificadores, também às vezes chamados de palavras de medida. Estes servem o principal fim de qualificar um substantivo em função de um numeral. Por exemplo, a frase “uma pessoa”, sendo “uma” um numeral, seria traduzida para cantonês como “一個人”, fazendo necessário o uso do classificador go “個”. Existem diversos classificadores, cada um servindo para um grupo específico de nomes, podendo, inclusive, mudar o sentido de uma frase, em certas ocasiões, como por exemplo: “一位家人” e “一个家人”, onde os significados são “membro da família” e “família”, respectivamente, sendo essa distinção feita unicamente pelo classificador.
As relações de posse ocorrem por meio de uma partícula subordinativa, no caso do cantonês, essa partícula é ge3 “嘅”. Ela pode ser usada após o sujeito e seguida do objeto cuja possessão há de ser estabelecida da seguinte forma: nei5 ge3 gaau3 si1“你嘅教師”, sendo literalmente traduzido como “você - (partícula de posse) - professor”, significando “seu professor”.
As variedades chinesas são tradicionalmente como os principais exemplos de línguas analíticas, sendo uma das principais características de línguas fazendo parte desse grupo a ausência de tempos e conjugações verbais, usando-se no lugar destes, os aspectos verbais. No caso do cantonês, faz-se o uso de diversos sufixos utilizados para explicar e especificar se um evento começou, está acontecendo ou já foi completado.
Note que a língua não possui as específicas estruturas que designamos como modos verbais em línguas neolatinas, como o indicativo, subjuntivo ou condicional, no entanto, faz uso de sentenças contrafactuais ou partículas finais que podem alterar o sentido da frase de maneira similar.
Diferentemente do mandarim, no cantonês, o objeto direto precede o objeto indireto quando o verbo 畀 bei2 “dar” é utilizado, por exemplo: a frase em mandarim “给我一本书”, em tradução literal “dar - eu - um - (classificador) - livro”, em cantonês seria traduzido como “畀嗰本書我”, em tradução literal “dar - (classificador) - (classificador) - livro - eu”, ambas significando “Dê-me um livro”. Na grande maioria dos outros casos da linguagem cotidiana, a ordem segue o padrão SVO (Sujeito - Verbo - Objeto), tanto em cantonês como em mandarim.
As comparações adjetivas em cantonês são formadas pela adição do marcador 過 gwo3 depois do adjetivo. Essa construção serve como um verbo transitivo que toma o objeto como o padrão de comparação, como o seguinte exemplo: “佢高過我” keoi5 gou1 gwo3 ngo5, traduzido literalmente como “Ele - alto - (partícula de comparação) - eu)”.
As frases condicionais tomam uma forma relativamente simples, utilizando uma construção básica usando as partículas “如果” yu guo, “萬一” marn yat e “假如” ga yu, em ordem decrescente de probabilidade, para os casos de acordo com a eventual chance de algo acontecer, usando sempre o modo indicativo para expressar a ideia completa da frase, às vezes, fazendo uso de aspectos, porém sempre com a estrutura inicial.
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Vocabulário
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Perspectiva
Declaração Universal dos Direitos Humanos
Cantonês padrão
第一条
人人生而平等,喺尊严同埋权利上一律平等。佢哋有理性同埋良心,而且应当以兄弟关系 嘅精神相对待。
Jyutping
dai6 jat1 tiu4
jan4 jan4 saang1 ji4 ping4 dang2, hai2 zyun1 jim1 tung4 maai4 kyun4 lei6 soeng6 jat1 leot6 ping4 dang2. keoi5 dei6 jau5 lei5 sing3 tung4 maai4 loeng4 sam1, ji4 ce2 jing1 dong1 ji5 hing1 dai6 gwaan1 hai6 ge3 zing1 san4 soeng1 deoi3 doi6.
Transcrição em IPA
tɐ̱i̯jɐ̄t̚ tʰi̖ːu̯
jɐ̖njɐ̖n sāːŋ ji̖ː pʰe̖ŋtɐ́ŋ, hɐ́i̯ t͡sȳːnji̖ːm tʰo̖ŋ ma̖ːi̯ kʰy̖ːnle̱i̯ sɵːŋ˥ jɐ̄t̚lɵ̱t̚ pʰe̖ŋtɐ́ŋ. kʰɵ̗y̯ te̱i̯ jɐ̗u̯le̗i̯ se̟ŋ tʰo̖ŋ ma̖ːi̯ lœ̖ːŋsɐ̄m, ji̖ːt͡sʰɛ́ː jēŋtɔ̄ːŋ ji̗ː hēŋtɐ̱i̯ kʷāːn hɐ̱i̯ kɛ̟ː t͡sēŋsɐ̖n sœ̄ːŋ tɵ̟y̯ tɔ̱ːy̯.
Numeração
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Referências
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- Yue-Hashimoto 1972, p. 4.
- Yue-Hashimoto 1972, pp. 5-6.
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- Yue-Hashimoto 1972, p. 5.
- Yue-Hashimoto 1972, p. 70.
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Ligações externas
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