Top Qs
Linha do tempo
Chat
Contexto
Português uruguaio
conjunto de dialetos da língua portuguesa como falados no Uruguai Da Wikipédia, a enciclopédia livre
Remove ads
O português uruguaio, algumas vezes chamado fronteiriço ou misturado, é uma variedade dialetal do que hoje se conhece em meios acadêmicos como Dialetos Portugueses do Uruguai ou Dialectos portugueses del Uruguay (DPU) em espanhol. É falado por cerca de 30% da população uruguaia em geral e 15% como nativo,[2] sendo usado na região fronteiriça entre o Uruguai e o Brasil em cidades como Artigas e Quaraí, mas principalmente na região das cidades gêmeas de Rivera e de Santana do Livramento. Esta região da fronteira é chamada de "Fronteira da Paz". Este nome é resultado da cultura de integração surgida da convivência internacional pacífica de ambos povos.
Remove ads
Características gerais
Resumir
Perspectiva
Como toda língua, o português uruguaio é muito dinâmico e heterogêneo, existindo um contínuo de dialetos que vão desde o português brasileiro (brazilero, em portunhol) padrão até ao espanhol rioplatense (castilhano, em portunhol). Não obstante, possui uma variante que é a mais utilizada, e que pode ser usada como base de estudo: esta localiza-se geograficamente na zona que tem como centro as cidades de Rivera e Santana do Livramento, e estende-se por uma orla de vários quilômetros ao longo da fronteira. E é a esta variante que o artigo tratará de abordar, ainda que daqui em diante seja chamada simplesmente portunhol ou riverense, nomes pelos quais se identificam as pessoas que falam este idioma.
A maioria dos linguistas classificam o riverense como um dialeto da língua portuguesa (mais notoriamente Adolfo Elizaincín [3], que tecnicamente chama-o de DPU - dialeto português do Uruguai), ainda que não haja um consenso. O que se pode dizer com certeza é que, por receber contribuições de dois idiomas, o portunhol é uma língua muito rica, no sentido de que tem uma grande variedade de sinônimos e palavras mais precisas para expressar conotações específicas, além de possuir uma maior riqueza fonética. Por outro lado, o riverense não é uma simples mescla de dois idiomas que não segue regras gramaticais precisas. Também é importante assinalar que, de maneira geral, somente os cidadãos uruguaios utilizam esse dialeto, enquanto o que ocorre no lado brasileiro é um bilinguismo.
Origem
A origem do portunhol se remonta na época da colonização portuguesa na região norte do Uruguai, na qual não estava bem definido a quem pertenciam esses territórios, com a soberania passando de maneira sucessiva de uma coroa a outra. Não somente o português e o espanhol tiveram influência sobre o portunhol, mas também as línguas indígenas, em alguns casos. Como exemplos, podem-se citar: guri (menino), mamboretá (reza ou pedido), caracu (osso de vaca).
Nas canções populares e folclore fronteiriço
Muito frequente em músicas de caráter lúdico nas periferias fronteiriças de ambas cidades, um estilo regional de música surgiu utilizando o Portunhol Riverense como base linguística junto o amplo ritmo latino chamado Cumbia, sendo este estilo denominado a "Cumbia Bagacera".
"Bagacera" denomina algo ou alguém de procedência duvidosa e sugere um baixo calão para "algo/alguém que não presta". Muito comum relacionar o termo a pessoas com desvios de caráter ou que apresentam comportamentos não aceitáveis perante a sociedade como alcoolismo, boemia e a frequente pronúncia de palavrões. Por isto o estilo faz de forma mimética uma estereotipagem narrativa ou prosaica do dia a dia destes "bagaceras", ora como crítica, ora como mera brincadeira.
Decorrente da união dos conceitos de cada povo sobre as pessoas à margem da sociedade e esta convivência mútua, assim como "Bagacera" surgiram alguns arquétipos locais e perfis destas pessoas que são mutuamente reconhecidos e utilizados em ambas cidades, mais especificamente pelos falantes de portunhol, dentre estas figuras:
- "Chinelão" - Pessoa sem habilidades, sem respeito ou bons costumes, semelhante a bagacera.
- "Biticome" - Pessoa que orgulhosa e mentirosa, que se gaba muito de algo que não é.
- "Tramposo" - Pessoa trapaceira, principalmente em negócios ou jogos.
- "Fronha" / "Mãe" - Pessoa medrosa, que não encara desafios, melindrado.
- "Payaso" - Literalmente palhaço, pessoa que faz graça até do que não deve.
- "Entonado" - Pessoa brigona, que busca motivos para levantar a voz e arranjar briga.
- "Borracheira" / "Querosem" - Pessoa alcoólatra, referência ao estado "mol" devido a ingestão de álcool e ao cheiro desagradável de álcool.
- "Calavera" - Indivíduo de idade avançada e também caloteiro, caborteiro, vagabundo, tratante
A fonologia e ortografia
A língua Riverense formalmente não tem uma ortografia definida, mas neste artigo uma ortografia de Portunhol Riverense será apresentada/indicada para permitir que os seus fonemas sejam representados da mais exata e mais constante maneira possível, enfatizando as características fonológicas desta variedade da língua. Deve-se observar que nem todos os falantes do Portunhol Riverense usam a mesmo pronúncia para as mesmas palavras (que é o caso com a maioria das línguas). Não obstante, escolhe-se a escrita que é mais representativa das características mais frequentes e distintas.
Os fonemas e a sua representação ortográfica
A representação escolhida é a mais próxima da usada se tentarmos transcrever os fonemas à língua espanhola (porque esta é a língua ensinada aos uruguaios, aquela é a nacionalidade da maioria dos usuários deste dialecto), à excepção dos fonemas que não podem ser representados com o alfabeto espanhol, como, por exemplo as vogais nasais.
Vogais espanholas
As vogais espanholas são pronunciadas como as cinco vogais da língua espanhola (existem também no português):
Vogais portuguesas
Estas vogais são encontradas no português, mas não no espanhol.
Vogais Semiabertas
São como as vogais e e o, mas pronunciado de uma maneira mais aberta, próximo de um a.
É muito importante distinguir as vogais abertas (é, ó), porque podem mudar totalmente o sentido da palavra, como nos seguintes exemplos:
- avó [a'vɔ] (avó) e avô [a'vo] (avô)
- véio ['vɛjo] (velho) e veio ['vejo] (veio, do verbo ir)
- véia ['vɛja] (velha) e veia ['veja] (veia)
- póso ['pɔso] (posso) e poso ['poso] (poço)
Vogais nasais
As vogais nasais são as vogais que são expiradas produzindo o ar através do nariz e em parte através da boca. Não existem no espanhol e consequentemente derivam-se das palavras portuguesas.
Distinguir vogais nasais é muito importante, porque podem mudar completamente o significado da palavra, como nos seguintes exemplos:
- paũ [paw̃ (pão) e pau [paw] (pau)
- nũ [nũ] (num) e nu [nu] (no)
- nũa ['nũa] (numa) e núa ['nua] (nua)
- ũ [ũ] (um) e u [u] (o)
- cũ [kũ] (com) e cu [ku] (cu, ânus)
- ũs [ũs] (uns) e us [us] (os)
Consoantes
No quadro seguinte, quando se referir ao português, está-se a referir ao português brasileiro e em particular ao português gaúcho (do estado do sul do Brasil o Rio Grande do Sul) ou aos da mídia brasileira, e quando se referir ao espanhol, na realidade está-se a referir à variante do espanhol tal como é falada no Uruguai.
As regras de acentuação ortográfica
O acento tônico denota, a tonicidade, ou seja, a ênfase dada a determinadas sílabas das palavras durante a fala. A sílaba acentuada denomina-se tónica, e as restantes de átonas. Pelo seu acento as palavras dividem-se em:
- Oxítonas: as que estão acentuadas na última sílaba: asador, cantá (cantar), sabê (saber), numerô (numerou), algũ (algum).
- Paroxítonas: as acentuadas na penúltima sílaba: caza (casa), canta, sabe, numéro (número).
- Proparoxítonas: as acentuadas na antepenúltima sílaba: esplêndido, helicôptero (helicóptero), número.
- Sobresdrúxulas: as acentuadas nalguma sílaba anterior à antepenúltima: dêbilmente (debilmente), pacíficamente (pacificamente), insínemelo (mostra-mo).
O acento ortográfico é a forma de representar o acento tônico, e em riverense consiste num acento agudo (´) ou um acento circunflexo (^). O acento circunflexo usa-se quando a vogal da sílaba tônica é a letra "e" fechada ou a letra "o" fechada, como em português. Nos restantes casos usa-se o acento agudo.
Mas nem todas as palavras levam acento ortográfico, e nem sempre os acentos agudos utilizam-se para representar o acento tônico, mas sim também para representar uma vogal aberta ("é", "ó"), como mencionou-se na seção anterior (ainda que geralmente ambos os usos coincidem).
As palavras que levam acento ortográfico
- As palavras agudas com mais de uma sílaba terminadas em vogal (exceto as terminadas em "saũ") ou terminadas nas consoantes "n", "s" ou "ñ": gurí (menino), bombiá (olhar), comê (comer), shulé (chulé), Tarzán (Tarzan), tambêñ (também), estrês (estresse), pensaũ (pensão).
- As palavras graves terminadas em "saũ" e as não terminadas em vogal, nem nas consoantes "n", "s" ou "ñ": pênsaũ (pensam), mártir, frágil.
- Todas as palavras proparoxítonas e sobresdrúxulas: aritmêtica (aritmética), fácilmente (facilmente).
- Todos os infinitivos: í (ir), ví (vir), sê (ser), tê (ter), dá (dar), pô (pôr), vê (ver), carpí (carpir), iscuiambá ("bagunçar")
Regras especiais de acentuação ortográfica
- Monossílabos. Em regra geral escrevem-se sem acento agudo (se não são verbos no infinitivo); não obstante, quando dois monossílabos são iguais quanto à forma mas cumprem uma função distinta, um deles (geralmente o tónico) leva acento agudo:
- te (pronome pessoal), té (substantivo), tê (verbo): "Eu vo tê que te dá té da India." [ew vo 'te ke te 'ða 'tɛ ða 'indja] ("Eu vou ter que dar-te chá da Índia.")
- siñ (preposição), síñ (advérbio de afirmação): "Síñ, siñ ele." ['siɲ si'ɲele] ("Sim, sem ele.")
- dê (conjugação do verbo dá [dar]), de (preposição): "Me dê ũ de cada ũ." [me 'ðe 'ũ ðe 'kaða 'ũ] ("Dê-me um de cada um.").
- dá (verbo), da (preposição): "Eu vo tê que te dá té da India." [ew vo 'te ke te 'ða 'tɛ ða 'indja] ("Eu vou ter que dar-te chá da Índia.").
- saũ (conjugação do verbo sê [ser]), sáũ (adjetivo), Saũ (nome, o mesmo que Santo): "Us pensamento de Saũ Francisco saũ sáũ." [us pẽsa'mento ðe 'saw̃ fɾã'sisko saw̃ 'saw̃] ("Os pensamentos de São Francisco são sãos.").
- cũá [kw̃a] (com a; contração de cũ a), cũa ['kũa] (com uma; contração de cũ ũa) "¿Cũá miña o cũa dele?." ("Com a minha ou com uma dele?").
- Acento agudo que indica hiato. Quando numa palavra concorrem uma das vogais fortes ("a", "e" ou "o") e uma das vogais fracas ("i" ou "u") acentuada, não se produz ditongo. Para indicar a falta de ditongo (hiato) coloca-se um acento agudo sobre a vogal "i" ou "u": María [ma'ɾia] (Maria), reúna [re'una], baúl [ba'ul] (baú), fía ['fia] (filha), ladrío [la'ðɾio] (tijolo), garúa [ga'ɾua] (chuvisco), saí [sa'i] (sair).
Remove ads
Gramática
Resumir
Perspectiva
Conjugação verbal
Os verbos classificam-se em quatro tipos segundo a terminação do seu infinitivo:
- 1ª conjugação - verbos terminados em á.
- 2ª conjugação - verbos terminados em ê.
- 3ª conjugação - verbos terminados em í.
- 4ª conjugação - verbos terminados em ô.
O portunhol riverense tem tanto verbos regulares como irregulares.
Verbos regulares
Tempos simples
- Observações
- Na segunda pessoa do singular dos modos indicativo e conjuntivo, também conjuga-se juntando um "s" ao fim da palavra. Exemplos: tu ama --> tu amas; tu temería --> tu temerías; tu poña --> tu poñas; tu partise --> tu partises.
- Na primeira pessoa do plural (em todos os modos) também conjuga-se tirando o "s" final. Exemplos: nós poremos --> nós poremo; nós temíamos --> nós temíamo; nós amásemos --> nós amásemo; partamos --> partamo (imperativo).
- As observações anteriores também valem para os verbos irregulares.
- O verbo pô (pôr) tem um verbo sinónimo ponê (pôr), que é irregular.
Tempos compostos
- Pretérito perfeito do indicativo
pretérito perfeito (verbo) = pretérito (té ou havê) + particípio (verbo)
- Forma-se com o pretérito simples do verbo tê (ter) ou do verbo havê (haver), mais o particípio do verbo em questão.
- Exemplos: Eu teño amado. Eu he amado. Tu teñ partido. Nós hemos temido.
- Pretérito mais-que-perfeito do indicativo
pretérito mais-que-perfeito (verbo) = pretérito imperfeito (té ou havê) + particípio (verbo)
- Forma-se com o pretérito imperfeito do verbo tê ou do verbo havê, mais o particípio do verbo em questão.
- Exemplos: Eu tiña amado. Eu havía amado. Tu tiña partido. Nós havíamo temido.
- Futuro composto
futuro composto (verbo) = presente (té ou havê) + infinitivo (verbo)
- Forma-se com o presente do verbo í (ir), mais o infinitivo do verbo em questão. Esta forma é mais usada que o futuro simples.
- Exemplos: Eu vo amá. Tu vay partí. Nós vamo temé. Eles vaũ pô.
- Futuro perfeito do indicativo
futuro perfeito (verbo) = futuro (té ou havê) + particípio (verbo)
- Forma-se com o futuro simples do verbo tê ou do verbo havê, mais o particípio do verbo em questão.
- Exemplos: Eu terey amado. Eu havrey amado. Tu terá partido. Nós havremos temido.
- Condicional perfeito
condicional perfeito (verbo) = condicional (té ou havê) + particípio (verbo)
- Forma-se com o condicional simples do verbo tê ou do verbo havê, mais o particípio do verbo em questão.
- Exemplos: Eu tería amado. Eu havría amado. Tu tería partido. Nós havríamos temido. Vocês havríaũ posto.
- Pretérito perfeito do conjuntivo
pretérito perfeito (verbo) = pretérito (té ou havê) + particípio (verbo)
- Forma-se com o pretérito simples do verbo tê (ter) ou do verbo havê (haver), mais o particípio do verbo em questão.
- Exemplos: Eu teña amado. Eu haya amado. Tu teña partido. Nós hayamos temido.
- Pretérito mais-que-perfeito do conjuntivo
pretérito mais-que-perfeito (verbo) = pretérito imperfeito (té ou havê) + particípio (verbo)
- Forma-se com o pretérito imperfeito do verbo tê ou do verbo havê, mais o particípio do verbo em questão.
- Exemplos: Eu tivése amado. Eu huvése amado. Tu tivése partido. Nós huvésemos temido.
- Futuro perfeito do conjuntivo
futuro perfeito (verbo) = futuro (té ou havê) + particípio (verbo)
- Forma-se com o futuro simples do verbo tê ou do verbo havê, mais o particípio do verbo em questão.
- Exemplos: Eu tivé amado. Eu huvé amado. Tu tivé partido. Nós havermos temido.
Verbos irregulares
São os verbos que não seguem as regras de conjugação anteriores, que foram dadas para os verbos regulares.
Alguns verbos irregulares:
Tê (ter)
Sê (ser)
Í (ir)
Tá (estar)
Remove ads
Referências
- «davidpbrown». Top 100 languages by population (Ethnologue 1996) (em inglês)
- «Centenas de milhares de uruguaios têm português como língua materna». Diário de Notícias. Consultado em 14 de dezembro de 2016
- Carvalho, p. 648-650, p. 7-9 do arquivo anexo
- Carvalho (2004), Documento sobre a patalização (e assibilação) de /t/, /d/ antes de /i/, /ĩ/
Bibliografia
Ver também
Ligações externas
Wikiwand - on
Seamless Wikipedia browsing. On steroids.
Remove ads