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Primazia papal

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Primazia papal
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A primazia papal (ou primado do Papa) é um dos elementos centrais da eclesiologia católica, e refere-se à autoridade singular e suprema exercida pelo Bispo de Roma, o Papa, sobre toda a Igreja. Esta doutrina afirma que ao Papa é devido um respeito e obediência especiais por parte dos demais bispos e suas respectivas igrejas locais, em razão de seu ministério único como sucessor do apóstolo São Pedro.[1]

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São Pedro e as chaves do Céu.
Na Catedral de Santo Isaac, em São Petersburgo, na Rússia.
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História

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Consolidação (séc I a séc V)

A noção de primazia papal formou-se gradualmente ao longo dos primeiros séculos do cristianismo, em paralelo às transformações políticas do Império Romano. Durante as primeiras décadas, os cristãos organizavam-se em pequenas comunidades independentes e comunitárias, sem a existência de uma lidrança formalizada. A partir do século II, as comunidades cristãs começaram a adotar estruturas episcopais centralizadas, processo que Santo Irineu de Lião (c. 130–202) e Tertuliano (c. 160–220) justificaram teologicamente como sucessão apostólica, segundo a qual os bispos herdariam a autoridade dos apóstolos. Nesse contexto, Roma passou a ocupar posição singular, pois, conforme a tradição, fora o local de martírio de São Pedro e São Paulo. [2]

Durante o século III, autores como São Cipriano de Cartago defenderam que toda a Igreja estava fundada sobre Pedro, reforçando a associação entre a Sé Romana e o apóstolo. Papas como Dâmaso I (r. 366–384) e Inocêncio I (r. 401–417) ampliaram esse discurso, afirmando que Roma era a verdadeira Sé Apostólica e que as causas eclesiásticas mais relevantes deveriam ser submetidas ao seu julgamento. Esse desenvolvimento estave ligado não apenas a argumentos religiosos, mas também à centralidade administrativa de Roma, que atuava como tribunal eclesiástico de última instância no Ocidente.[3]

Entre os séculos IV e V, o termo principatus começou a aparecer com frequência em cartas papais, expressando a ideia de primado de São Pedro sobre os demais apóstolos e, por extensão, a autoridade do bispo de Roma sobre outras dioceses.[4] A partir de Sisto III (432–440), as relações entre a Igreja e a aristocracia romana consolidaram a influência papal na cidade.[5]

O pontificado de Leão I (440–461) marcou o auge dessa formulação. Leão empregou intensamente o discurso da primazia petrina em suas cartas e sermões, afirmando que o bispo de Roma, como sucessor de Pedro, possuía autoridade sobre toda a cristandade. Seu governo coincidiu com a decadência política da cidade e a ausência de um imperador no Ocidente, contexto em que o papado passou a exercer funções administrativas e diplomáticas de relevância.[6]

Conflitos teológicos com as Igrejas orientais acentuaram o debate sobre a primazia. Leão I interveio em controvérsias como o monofisismo e teve papel decisivo no Concílio de Calcedônia (451). Embora o concílio reafirmasse a doutrina das duas naturezas de Cristo, o papa rejeitou o Cânon XXVIII, que conferia à sede de Constantinopla privilégios iguais aos de Roma, sustentando que a primazia derivava não de razões políticas, mas do mandato de Cristo a Pedro ("tu es Petrus et super hanc petram aedificabo ecclesiam meam"). Em uma carta ao imperador Marciano, Leão consolidou essa posição, articulando argumentos teológicos e históricos para justificar a superioridade da Sé Romana.[4] O episódio de Calcedônia e as intervenções de Leão I simbolizam a transição do primado de honra para o primado de jurisdição, fundamento da concepção posterior de supremacia papal desenvolvida na Idade Média.[7]

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Denominações cristãs

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Igreja Católica

De acordo com a da Igreja Católica, o dogma da primazia do Pontífice Romano implica que o Papa, enquanto ocupante da Sé Apostólica, possui jurisdição plena, suprema, imediata e universal sobre toda a Igreja, incluindo tanto a Igreja de rito latino quanto as Igrejas orientais católicas, em comunhão com ele.

A Igreja também ensina que o próprio Jesus Cristo confiou a Pedro um papel específico de pastoreio universal (João 21:15–17), o qual é perpetuado no ministério dos seus sucessores, os Papas. Assim, o Papa é reconhecido como o chefe visível da Igreja universal, com a missão de confirmar os irmãos na fé (Lucas 22:32), guardar a unidade da Igreja e exercer, com o colégio dos bispos, a autoridade suprema em matéria de fé e moral. Logo, A primazia papal, portanto, não é apenas uma questão de honra, mas um verdadeiro ofício pastoral instituído por Cristo, e exerce-se em espírito de serviço, como sinal da unidade e garantia da fidelidade à Revelação divina.

Igreja Ortodoxa

Outras tradições cristãs, como as Igrejas Ortodoxas, reconhecem o Bispo de Roma somente como o "Patriarca do Ocidente" e ainda como o primeiro bispo entre seus pares ou iguais (primus inter pares). Logo, os ortodoxos consideram que o Bispo de Roma tem apenas uma primazia de honra (negando por isso a autoridade suprema do Papa), que, desde o Grande Cisma (1054), não tem nenhum poder concreto sobre estas Igrejas cristãs.[8]

Recentemente, devido ao grande esforço ecuménico, as Igrejas Católica e Ortodoxa chegaram finalmente a um consenso mínimo sobre a questão da primazia papal. Este consenso, expresso no "Documento de Ravena" (que foi aprovado no dia 13 de Outubro de 2007),[9] consiste no reconhecimento de ambas as partes de "que o Bispo de Roma […] é o "protos", ou seja, o primeiro entre os patriarcas de todo o mundo, pois Roma, segundo a expressão de Santo Inácio de Antioquia, é a ‘Igreja que preside na caridade".[10] Mas, mesmo assim, "ainda existe divergência entre católicos e ortodoxos quanto às prerrogativas" e aos privilégios desta primazia,[11] visto que os ortodoxos só concedem ao Papa uma primazia pastoral, não jurisdicional; entre iguais, não acima dos outros.

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Ver também

Referências

  1. «O PRIMADO DO SUPREMO PONTÍFICE». Pela Fé Católica. 28 de junho de 2016. Consultado em 28 de junho de 2016
  2. LIMA, Marinalva Silveira. Reflexões sobre a plenitude do poder papal. In: Simpósio Nacional de História, v. 25, 2009, p. 1–10.
  3. MCBRIEN, Richard P. Os Papas: os pontífices de São Pedro a João Paulo II. São Paulo: Edições Loyola, 2004.
  4. Charrone, João Paulo (2017). «Construindo a hegemonia na alta idade média: Gregório Magno e as monarquias no Ocidente». Consultado em 5 de novembro de 2025
  5. Silva, Paulo Duarte (16 de setembro de 2020). «"De todo o mundo, porém, só Pedro é escolhido": os sermões de elevação episcopal de Leão (440-461)». Revista Diálogos Mediterrânicos (18): 87–105. ISSN 2237-6585. doi:10.24858/390. Consultado em 5 de novembro de 2025
  6. Arns, Evaristo P. (31 de dezembro de 1961). «São Leão Magno, Homem de Govêrno». Revista Eclesiástica Brasileira (4): 871–882. ISSN 2595-5977. doi:10.29386/reb.v21i4.5415. Consultado em 5 de novembro de 2025
  7. Silva, Dayvid da (24 de dezembro de 2022). «A sinodalidade e a questão do primado na igreja primitiva». Annales Faje (2): 49–57. ISSN 2526-0782. Consultado em 5 de novembro de 2025
  8. Doutrina ortodoxa Arquivado em 19 de dezembro de 2009, no Wayback Machine., no site Hieros
  9. COMISSÃO INTERNACIONAL PARA O DIÁLOGO TEOLÓGICO ENTRE A IGREJA CATÓLICA E A IGREJA ORTODOXA, "Ravenna Document" (2007); n. 41
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