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M'banza Congo

É uma cidade e município angolana, capital da província do Zaire Da Wikipédia, a enciclopédia livre

M'banza Congo
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M'banza Congo,[2] também grafada como M'banza Kongo[3][4] e Mabanza Congo,[5][6] é uma cidade e município angolana, capital da província do Zaire.[7]

Factos rápidos Localidade de Angola (Cidade), Dados gerais ...
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Segundo as projeções populacionais de 2018, elaboradas pelo Instituto Nacional de Estatística, conta com uma população de 205 272 habitantes e área territorial de 7 651 km². É a única capital angolana que não é a localidade mais populosa de sua província, perdendo para a cidade zairense do Soio.[1]

Designada historicamente como "São Salvador do Congo", capital do antigo e poderoso reino do Congo, teve o seu centro histórico declarado, em 2017, como Património da Humanidade pela UNESCO.[8]

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História

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Perspectiva

A história oral da cidade de Mabanza Congo é muito mais antiga do que a chegada dos portugueses, e mesmo da conquista do poderoso reino do Congo, que fez dela a morada e capital da dinastia reinante.[9]

Fundação

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Mulheres e crianças em Mabanza Congo no ano de 1912

Segundo a tradição oral, no ano de 690 AD os congos chegaram à região compreendida entre os rios Cuanza e Cuango, sob a liderança de Na-Culunsi, uma autoridade religiosa. As autoridades religiosas congolesas chamaram essa região Timansi-Timancosi, que siginifica "coração do leão".[9]

Em 691 as autoridades ordenaram que se construísse numa zona planáltica, próximo a uma montanha de nome Congo-dia-Tôtila, uma cidade, com trabalhos sob supervisão do artífice Masema-Toco. Sob coordenação do mesmo artífice abrem-se os Anzila Congo, as sete estradas que ligariam a nova cidade (que a princípio conservou o nome Tôtila) a todos os territórios dos congos, ao sul do rio Congo.[9]

Segundo a tradição oral, o primeiro grande governante de Tôtila foi Muabi Maiidi, em 698 AD, sendo sucedido por Zananga Moua e Mabala Luqueni, e; somente muito depois o reino receberia o nome de Muene Cabunga e a cidade de Tôtila passaria a chamar-se Mongo-dia-Congo, possivelmente no século XII.[9]

Conquista pelo reino do Congo

Quando o rei Luqueni-lua-Nimi conseguiu unificar as entidades políticas dos congos para formar o reino do Congo em 1390, fixou inicialmente capital em uma localidade por nome Nisi Cuílo, em territórios do Congo-Quinxassa.[9]

Já politicamente forte, o reino do Congo organizou uma expedição e conquistou o reino rival de Muene Cabunga, que tinha sua capital na ainda denominada Mongo-dia-Congo. Após a conquista, a cidade mudou de nome, passando a chamar-se Mabanza Congo, para onde o rei do Congo se mudou e construiu o seu palácio.[9]

Chegada dos portugueses

Em 1483, o explorador Diogo Cão, a serviço do reino de Portugal, chega em Mabanza Congo, onde assentava-se o trono do manicongos, monarcas que governavam o Reino do Congo. Quando os portugueses chegaram, ela já era uma grande cidade, a maior da África sub-equatorial.[10]

No ano de 1549, por influência dos missionários portugueses, foi construída a igreja católica Catedral de São Salvador do Congo no local em que os angolanos reclamam ser a mais antiga da África Sub-Saariana. A edificação foi elevada a catedral em 1596.[11]

O nome "São Salvador do Congo", para designar a cidade de Mabanza Congo, apareceu pela primeira vez em cartas enviadas por Álvaro I do Congo (ou Álvaro II do Congo), entre os anos de 1568 e 1587.

Durante o reinado de Afonso I do Congo, edificações de pedra foram criadas, incluindo o palácio e muitas igrejas. Em 1630 foram relatados cerca de 4000 a 5000 baptismos cristãos na cidade, naquele ano com uma população de 100.000 pessoas.

Decadência e abandono

Os desentendimentos do reino do Congo com o reino de Portugal, levaram a cidade a ser saqueada várias vezes, principalmente durante a guerra civil que se seguiu após a batalha de Ambuíla. As consequências foram tão dramáticas que São Salvador do Congo foi abandonada no ano de 1678.[12]

Nas cercanias do ano de 1704 o rei Pedro IV do Congo concede a Quimpa Vita, líder política, profetiza e membro da monarquia congolesa a incumbência de ser a regente de São Salvador do Congo, numa tentativa de reocupar e restaurar a cidade. Por esforço de Quimpa Vita a cidade foi reestruturada e reconstruída aos poucos, não sendo mais abandonada desde então.[12]

Séculos XIX e XX

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Aspecto de casas em Mabanza Congo, no ano de 1953

No século XIX Portugal criou o Protetorado do Congo Português e, em seguida, o "distrito do Congo", mas resolveu não assentar os aparatos administrativos em São Salvador do Congo, a preterindo por Cabinda.

Durante a grande revolta do Congo contra Portugal, a cidade foi parcialmente destruída, caindo em desgraça, pois em 1914 a monarquia congolesa é extinta, deixando de ser capital.[13]

Em 1917 o governo colonial pretere mais uma vez a cidade de São Salvador do Congo, pois transfere a capital do distrito do Congo para a antiga capital do ducado de Bambata, a cidade de Maquela do Zombo.[14]

Em 1922, porém, a cidade passa a sediar o "distrito do Zaire", condição que conserva até 1930, quando o distrito do Zaire é fundido ao de Cabinda para tornar-se a "Intendência-Geral do Zaire e Cabinda", com capital na cidade de Cabinda.[15][14]

Em 1961 a cidade recupera seu status de capital, quando ocorre a refundação do "distrito do Zaire".[15][16]

Pós-independência

A cidade voltaria a se chamar Mabanza Congo, após a Independência de Angola em 1975.

O papa João Paulo II visitou a cidade, fazendo um culto especial na histórica catedral em 1992, onde fez apelo ao processo de paz que se negociava em função da Guerra Civil Angolana.[17]

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Geografia

O município situa‐se no topo do planalto de Tôtila,[18] que possui muitas encostas escarpadas; a sede municipal está numa elevação com cerca de cinco quilómetros quadrados, a cerca de quinhentos e vinte metros de altura em relação ao nível do mar.[12] O planalto divide as sub-bacias dos rios Mupozo e Luezi.[19]

O município de Mabanza Congo é administrativamente subdividido, além da comuna-sede — que corresponde a própria cidade de Mabanza Congo —, nas comunas de Caluca, Quiende e Madimba (ou Nadinba).[7] Até setembro de 2024 seu território continha as comunas de Calambata e Luvo.[20][21]

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Economia

Mabanza Congo é agora um importante centro comercial de atacado e varejo para a província zairense; serve também como centro agroindustrial beneficiador de milho, amendoim, amêndoas, gergelim e mandioca cultivados no leste do Zaire.[22]

A cidade também possui plantas industriais de beneficiamento de carnes, couro e leite, havendo também unidades de fabricação de bebidas, de têxteis e de materiais de construção.[23]

A capital zairense ainda dispõe de uma gama grande de serviços financeiros, administrativos, além de oferta de outros relacionados com a saúde, turismo, educação e entretenimento.[22]

Infraestrutura

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Abastecimento de água

O abastecimento de água potável na cidade é assegurado pela Empresa Pública de Águas e Saneamento do Zaire (EPASZ), que sustenta o sistema por captações subterrâneas e, principalmente, dos rios Luege e Coco,[24] sendo a água bombeada por eletrobombas para os reservatórios.[24][25]

Comunicações

Do ponto de vista de comunicação, os serviços disponíveis são os telefónicos — telefonia fixa e móvel — ofertados pelas operadoras Angola Telecom e Unitel;[26] serviços de rádio com frequência da Rádio Zaire (retransmissora da Rádio Nacional de Angola)[27] e da Rádio Ecclesia;[28] televisivo, com repetidores da Televisão Pública de Angola;[27] Correios de Angola, com serviços de correio e telégrafo,[27] e; serviço de internet disponível pela operadora Multitel.[29] Nas mídias impressas, ainda há o tradicional Jornal de Angola e o jornal regional Nkanda.[30][31]

Educação

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Um enfermeiro fazendo testagem de malária em uma criança no Hospital Municipal de Mabanza Congo, em setembro de 2006

Na educação superior, a cidade dispõe de um campus universitário, que sedia a Escola Superior de Ciências Sociais, Artes e Humanidades do Zaire.[32]

Energia eléctrica

O fornecimento de energia eléctrica na cidade é garantido pela Central do Ciclo Combinado do Soyo (também chamada de Central Térmica do Soyo I).[33][25] A eletricidade é distribuída a nível residencial e comercial pela Empresa Nacional de Distribuição de Electricidade (ENDE).[25]

Saúde

No âmbito da saúde, a cidade dispõe dos centros de referência Hospital Geral do Zaire, Hospital Provincial Maria Eugénia Neto e Hospital Municipal de Mabanza Congo, além de diversas clínicas e centros de saúde.[34]

Segurança

O sistema de segurança pública de Mabanza Congo é garantido por um batalhão da Polícia Militar das Forças Armadas Angolanas,[35] por um destacamento permanente da Polícia Nacional,[36] por uma delegacia de polícia do Serviço de Investigação Criminal[37] e por um quartel do Serviço de Protecção Civil e Bombeiros.[38]

Embora não tenha papel de força de segurança pública convencional, na cidade está a sede da 2ª Região de Infantaria Motorizada do Exército Angolano.[39]

Transportes

As principais ligações rodoviárias do Mabanza Congo são pelas rodovias EN-210, que dá ligação ao Nezeto e à Cuimba, e; a EN-120 (Rodovia Transafricana 3), que dá ligação a Matadi (Congo-Quinxassa).

A cidade ainda dispõe do Aeroporto Pedro Moisés Artur, que será desativado e substituído por uma nova infraestrutura,[40] o Aeroporto Nímia Luqueni, a 33 quilómetros do centro da cidade, na comuna de Quiende.[41]

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Cultura e lazer

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Um grupo carnavalesco desfilando em Mabanza Congo em 2019. O carnaval de rua é uma das festividades populares mais importantes da cultura mabanzina

Cultura

Uma das principais manifestações culturais-religiosas da cidade, e por consequência do país, são as festividades de São Salvador, o padroeiro da cidade, e a procissão em alusão ao martírio de Quimpa Vita. Quem as promove é a Diocese de Mabanza Congo.[18]

Outras manifestações culturais de grande relevo são o Carnaval de Rua de Mabanza, a mais relevante festividade popular da cidade e do norte angolano, e o FestiCongo, uma festa multicultural que reúne os povos e países que integravam o antigo Reino do Congo.[42]

Lazer

Mabanza Congo é conhecida pelas ruínas da Catedral de São Salvador do Congo (construída em 1492), do século XV, que afirmam ser a igreja colonial mais antiga da África Subsaariana. Na tradição oral, diz-se que esta mesma igreja, conhecida localmente como Culumbimbi, foi construída por anjos durante a noite. Foi elevado ao status de catedral em 1596. O Papa João Paulo II visitou o local durante sua visita à Angola em 1992.[43]

Outro local interessante de importância histórica é o memorial da mãe do rei Afonso I, próximo ao aeroporto, que rememora uma lenda popular que começou na década de 1680 em que o rei possivelmente havia enterrado sua mãe viva, porque ela não estava disposta a desistir de um "ídolo" que ela usava em volta do pescoço.

Outros locais importantes incluem o Jalancuvo, a árvore de julgamentos do manicongo, que ainda pode ser encontrada no centro da cidade, juntamente com o Sunguilu, uma estrutura retangular no nível do solo onde a tradição local diz que o corpo do rei foi lavado antes do enterro. Ambos estão nas terras do palácio real e do museu real atual.

O Museu Real do Congo, reconstruído como uma estrutura moderna, abriga uma impressionante coleção de artefatos do antigo reino, embora muitos tenham sido perdidos do prédio mais antigo durante a Guerra Civil Angolana.[44]

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Referências

  1. Aurelio Schmitt (3 de fevereiro de 2018). «Município de Angola: Censo 2014 e Estimativa de 2018». Revista Conexão Emancipacionista
  2. «M'banza Congo». UCCLA - União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa. Consultado em 17 de abril de 2021
  3. Renato Pinto Venancio (1998). «O Ofício do Historiador: uma entrevista com Ronaldo Vainfas» (PDF). Ouro Preto-MG: Universidade Federal de Ouro Preto. LPH-Revista de História (8): 10
  4. Fongot Kini-Yen Kinni (2015). Pan-Africanism: Political Philosophy and Socio-Economic Anthropology for African Liberation and Governance. 3. [S.l.]: Langaa RPCIG. p. 852. ISBN 9956762547
  5. «Lei n.° 14/24 de 5 de Setembro» (PDF). Imprensa Nacional de Angola. Diário da República (171): 9800–10505. 5 de setembro de 2024. Consultado em 29 de dezembro de 2024
  6. Patrício Cipriano Mampuya Batsîkama (2011). O Reino do Kongo e a sua origem meridional. Luanda: Universidade Editora. ISBN 9899745502
  7. Angola – Antiga e a várias velocidades. Wizi-Kongo.com. 3 de Novembro de 2018.
  8. Mbanza Congo a património cultural da humanidade. Somos Portugueses. 14 de Agosto de 2017.
  9. José Carlos de Oliveira (7 de Abril de 2014). «Factos e Documentos Históricos Relativos ao Reino do Kongo nos Primórdios do Século XX». Portal do Uíge e da Cultura Kongo
  10. Carlos Rodolfo Pinto (Julho de 2011). «Pobreza no meio rural em Angola: contribuição para a sua caracterização no município do Negage». Luanda: Universidade Católica de Angola. Revista CEIC - Centro de Estudos e Investigação Científica
  11. Bruno Pastre Máximo (2016). Um lugar entre dois mundos: paisagens de M'Banza Congo (PDF). São Paulo: Universidade de São Paulo
  12. «Município investe em projectos de impacto social». Jornal de Angola. 15 de março de 2014
  13. «M'Banza Congo». Encyclopaedia Britannica. Consultado em 23 de abril de 2020
  14. Relatório e Contas - Exercício findo em 31 de dezembro de 2020. Empresa Pública de Águas e Saneamento do Zaire. Abril de 2021.
  15. «Rádio Zaire». Rádio Nacional de Angola. 2025
  16. Rádio Ecclesia quer espaço para crescer em Angola. Agência ECCLESIA. 3 de abril de 2006.
  17. Xavier António (26 de junho de 2021). «Edições Novembro lança hoje Jornal "Nkanda" em Mbanza Congo». Jornal de Angola
  18. Victor Mayala (28 de junho de 2021). «"Nkanda" ultrapassa expectativas». Jornal de Angola
  19. António, Alfredo Luindula. A Polícia Militar das Forças Armadas Angolanas: Criação, Implementação e Emprego. Academia Militar - Direção de Ensino. 1 de julho de 2013.
  20. SIC resgata feto numa lixeira no Zaire. O País. 7 de agosto de 2025.
  21. Protecção Civil cadastra famílias em zonas de risco no Zaire. Televisão Pública de Angola. 9 de dezembro de 2021.
  22. Mbanza Congo terá novo aeroporto. O País. 13 de Dezembro de 2018.
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Bibliografia

Ver também

Ligações externas

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