Top Qs
Linha do tempo
Chat
Contexto
Candombe
Da Wikipédia, a enciclopédia livre
Remove ads
O candombe é uma dança com atabaques típica da América do Sul.[1][2] Tem um papel significativo na cultura do Uruguai dos últimos duzentos anos. Foi reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura como Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade. É uma manifestação cultural originada a partir da chegada dos escravos da África ao continente sul-americano. Em menor medida, existem manifestações de candombe no Brasil e Argentina. Na Argentina, pode ser encontrado em Buenos Aires, Santa Fé, Paraná, Salta e Corrientes. No Brasil, ainda mantém seu caráter religioso: vemo-lo no Estado de Minas Gerais.
O candombe foi integrado pela UNESCO na lista representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade em 2009.[3]
Remove ads
Etimologia
História
Resumir
Perspectiva
O candombe teria surgido no Uruguai, ainda no século XVIII, a partir da mistura dos ritmos africanos trazidos ao Rio da Prata pelos escravos. A partir de 1750, com o início do tráfico de escravos para o Uruguai, então colônia espanhola, Montevidéu passou a receber levas contínuas de africanos de diversas regiões, sobretudo da África Oriental e África Equatorial. Tal afluxo de escravos fez com que, no início do século XIX, a população negra de Montevidéu excedesse os 50 por cento da população da cidade.
O termo candombe, a princípio, referia-se genericamente às danças praticadas pelos negros no Uruguai. Com o tempo, passou a designar o ritmo musical, calcado sobretudo nos tambores - chamados de tangó ou tambó, nome também usado para designar o lugar onde realizavam suas candomberas e a própria dança. Essas manifestações culturais a céu aberto chegaram a ser reprimidas pelas autoridades no século XIX, e, por muito tempo, foram realizadas apenas em ambientes fechados, em clubes secretos organizados pelos africanos e afrodescendentes.
Na Argentina
As sementes do candombe tiveram origem na atual Angola, de onde foram levadas para a América do Sul nos séculos XVII e XVIII por pessoas escravizadas oriundas dos reinos do Congo, Anziqua, Nyong, Quang e outros, principalmente por traficantes portugueses. Esses portadores culturais do candombe se estabeleceram no Brasil (especialmente na região de Salvador, na Bahia), em Cuba e na região do Rio da Prata, com suas capitais Buenos Aires e Montevidéu. As diferentes trajetórias históricas e experiências nessas regiões deram origem a ritmos distintos, embora derivados de uma mesma raiz africana.
A influência africana também marcou a Argentina, onde o candombe se desenvolveu com características próprias. Uma população de africanos escravizados estava presente em Buenos Aires desde cerca de 1580. Entretanto, a miscigenação com uma população cada vez mais branca (à medida que o país recebeu até 6 milhões de imigrantes europeus) e o racismo estrutural — incluindo políticas estatais de branqueamento — levaram à progressiva invisibilização da população afro-argentina.[4][5]
Durante os dois governos de Juan Manuel de Rosas, era comum que os afroporteños (negros de Buenos Aires) se apresentassem publicamente com o candombe, com o apoio e a presença do próprio Rosas e de sua filha Manuela. Após a derrota de Rosas na Batalha de Caseros (1852), Buenos Aires passou por uma profunda transformação cultural, com maior ênfase na cultura europeia. Nesse contexto, os afro-argentinos mantiveram suas tradições culturais no espaço privado, e a partir de 1862, jornais, intelectuais e políticos passaram a difundir a falsa ideia do “desaparecimento” dos afro-argentinos, que permanece no imaginário coletivo argentino até hoje.[6]
Muitos pesquisadores concordam que o candombe, por meio do desenvolvimento da milonga, foi um elemento essencial na gênese do tango. Esse ritmo africano influenciou especialmente a milonga surera, e de fato, tango, milonga e candombe formam um tríptico musical com raízes africanas comuns, mas desenvolvimentos distintos.[7]
Inicialmente, o candombe era praticado exclusivamente por pessoas negras, que criaram espaços específicos chamados “Tangós”. Essa palavra deu origem, em algum momento do século XIX, ao termo “tango”, embora ainda sem o significado atual. Hoje, o candombe continua a ser praticado tanto por populações afro-argentinas quanto por não negras em várias partes do país. Na província de Corrientes, o candombe faz parte da festa religiosa de São Baltasar, considerado o santo padroeiro popular dos negros argentinos.[8]
No Uruguai
O termo “candombe” vem de uma palavra kikongo que significa “relativo aos negros”, e foi usado inicialmente em Buenos Aires para se referir às sociedades de dança formadas por membros da diáspora africana e seus descendentes. Posteriormente, passou a designar o estilo de dança em geral, e o termo foi adotado também no Uruguai. No Uruguai, o candombe fundiu diversas tradições de dança africanas em uma coreografia complexa, com movimentos enérgicos e passos improvisados conforme o ritmo.[9]
Remove ads
Atualidade
Resumir
Perspectiva
O candombe, na atualidade, é executado por três tipos distintos de tambores - tambor piano, tambor chico e tambor repique -, que são denominados, em conjunto, como cuerda. No Carnaval uruguaio, formam-se agrupamentos musicais chamados de comparsas, que saem às ruas acompanhados por multidões de dançarinos e populares. O cortejo é conduzido pelo escobero, em geral um jovem que tem a função de arauto; o mestre dos tambores é conhecido como gramillero, sempre acompanhado de sua mama vieja - uma mulher vestida de trajes coloridos e com um leque à mão.
Na capital uruguaia Montevidéu, os bairros "Sur" e "Palermo" são conhecidos como berços do candombe, cada um com seu ritmo característico: o ritmo "Cuareim" no primeiro e o "Ansina" no segundo.
Na Argentina

Nos últimos anos, alguns artistas passaram a incorporar o gênero do candombe em suas composições, criando também grupos e ONGs de afrodescendentes, como a Associação Misibamba, da Comunidade Afro-Argentina de Buenos Aires. No entanto, é importante destacar que o candombe uruguaio é o mais praticado na Argentina, tanto pela imigração proveniente do Uruguai quanto pelo ritmo envolvente que cativa os argentinos. Por essa razão, muitos aprendem a música, a dança e os personagens, recriando algo semelhante ao estilo uruguaio. O candombe uruguaio é especialmente tocado nos bairros de San Telmo, Montserrat e La Boca, em Buenos Aires.
A variante argentina teve menor difusão local — em comparação com a popularização que o gênero alcançou no Uruguai —, principalmente devido à redução da população de origem africana, à miscigenação com imigrantes brancos e à proibição do Carnaval durante a última ditadura militar. O candombe afro-argentino é executado apenas por afrodescendentes, geralmente em ambientes privados, nas periferias de Buenos Aires.[10]
Mais recentemente, com a mudança de postura da comunidade afro-argentina, que passou da invisibilidade para a visibilidade, cresceram os esforços para levar o candombe ao espaço público, aos palcos e às ruas em desfiles e apresentações. Entre os grupos que tocam o candombe afro-argentino estão: Tambores del Litoral (união dos grupos Balikumba, de Santa Fé, e Candombes del Litoral, de Paraná, Entre Ríos); Bakongo (que possui site próprio); Comparsa Negros Argentinos; Grupo Bum Ke Bum (ambos ligados à Associação Misibamba). Os dois últimos atuam na Grande Buenos Aires (capital e arredores).

No Uruguai
Entre o final da década de 1960 e início dos anos 1970, o candombe foi combinado com elementos do pop dos anos 1960 e da bossa nova, dando origem a um novo gênero chamado candombe beat. A criação desse estilo é atribuída principalmente ao cantor, compositor e músico uruguaio Eduardo Mateo, em parceria com outros músicos como Jorge Galemire.[11] O estilo foi posteriormente adotado por Jaime Roos e exerceu grande influência sobre Jorge Drexler. Músicos contemporâneos como Diego Janssen e Miguel del Aguila têm experimentado fusões do candombe com gêneros clássicos, jazz, blues e milonga.[12]
Remove ads
Ver também
Referências
- CUNHA, A. G. Dicionário etimológico Nova Fronteira da língua portuguesa. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1982. p. 146.
- FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 334.
- UNESCO. «El candombe y su espacio sociocultural: una práctica comunitaria». Consultado em 21 de janeiro de 2019
- «Cantos y tambores para la crítica social». www.clarin.com (em espanhol). Consultado em 30 de outubro de 2025. Cópia arquivada em 20 de março de 2008
- Reid Andrews, George. Los afroargentinos de Buenos Aires. Aquí mismo y hace tiempo (in Spanish). Buenos Aires: Ediciones de la Flor. p. 41. ISBN 950-515-332-5.
- Ocoró Loango, Anny (julho de 2010). «Los negros y negras en la Argentina: entre la barbarie, la exotización, la invisibilización y el racismo de Estado». ISSN 1900-7922. Consultado em 30 de outubro de 2025
- Reid Andrews, George. Los afroargentinos de Buenos Aires. Aquí mismo y hace tiempo (in Spanish). Buenos Aires: Ediciones de la Flor. p. 196. ISBN 950-515-332-5.
- HOY, Redacción NEA (6 de janeiro de 2022). «Corrientes celebra a San Baltasar, el santo popular que hermana diferentes culturas». NEA HOY (em espanhol). Consultado em 30 de outubro de 2025
- Pinto, Guilherme de Alencar (14 de outubro de 2016). «Raspa, pega y enciende». Semanario Brecha (em espanhol). Consultado em 30 de outubro de 2025
- From the dream of a European Argentina, to the reality of American Argentina: the assumption of African ethno-cultural component and its (our) musical heritage/ Del sueño de la Argentina blancaeuropea a la realidad de la Argentina americana: la asunción del componente étnico-cultural afro y su (nuestro) patrimonio musical. Arquivado em 2011-07-06 no Wayback Machine
- «Mateo Alone Licks Himself Well | Sounds and Colours». www.soundsandcolours.com (em inglês). Consultado em 30 de outubro de 2025. Cópia arquivada em 29 de abril de 2015
- Pinto, Guilherme de Alencar (14 de outubro de 2016). «Raspa, pega y enciende». Semanario Brecha (em espanhol). Consultado em 30 de outubro de 2025
Remove ads
Ligações externas
Wikiwand - on
Seamless Wikipedia browsing. On steroids.
Remove ads
