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Compasso de Espera

filme de 1973 dirigido por Antunes Filho Da Wikipédia, a enciclopédia livre

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Compasso de Espera é um filme de drama produzido no Brasil, foi o único filme dirigido por Antunes Filho , um dos mais inovadores encenadores teatrais brasileiro. O filme trata da questão racial no Brasil pela ótica de um intelectual negro de classe media brasileiro, situado na São Paulo de 1969.O filme foi um marco importante para o cinema negro, ao debater o mito da democracia racial no Brasil. As filmagens iniciaram e finalizaram em 1969 porem o filme foi censurado sendo lançado apenas em 1973.[12][13]

Factos rápidos
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Sinopse

Jorge (Zózimo Bulbul), jovem poeta negro, é amante de Ema (Elida Palmer), diretora de uma agência de publicidade em São Paulo. Numa reunião literária, ele conhece Cristina (Renée de Vielmond), branca de família aristocrática. Nasce uma simpatia entre ambos, e quando voltam a se encontrar são surpreendidos por Ema, que provoca uma discussão e o afastamento de Cristina. Angustiado, Jorge procura sua família, depois de meses de ausência, e é repreendido por abandonar sua origem humilde pela irmã Zefa (Léa Garcia). Encontra novamente Cristina e os dois buscam refúgio para seu amor nascente numa praia distante, onde são humilhados, com revolta e desaprovação pela diferença racial, por pescadores locais. Também a diretora da escola de Cristina e sua família fazem pressão sobre a jovem, e ela resolve partir para a Europa. Jorge abandonado e criticado pelos amigos negros sente-se perdido numa sociedade na qual não consegue se inserir, enquanto Ema insiste em procurá-lo.[14]

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Elenco

Mais informação Atores, Papeis ...

Participações especias

  • Flávio Porto
  • Dorothy Leiner

Censura

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Perspectiva

As filmagens de Compasso de Espera ocorreram em 1969 e foram concluídas no início de 1970. Porém, o lançamento do filme sofreu um longo atraso devido à censura imposta pela ditadura militar brasileira (1964–1985), que via na obra um questionamento direto ao discurso até então oficial sobre a inexistência do racismo estrutural no país. Por esse motivo, a exibição pública só foi autorizada em 1973, quase quatro anos após a finalização das filmagens.[15][16]

Ao ser submetido à Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP), ligada ao Ministério da Justiça, Compasso de Espera foi proibido por supostamente incitar tensões raciais. Os censores afirmaram que o filme criava uma imagem negativa do Brasil ao sugerir a existência de preconceito racial, contrariando os ideais defendidos pelo governo militar.[17][18][19] Essa repressão estava em sintonia com a política cultural do regime, que evitava qualquer crítica ao nacionalismo e à ordem social vigente, especialmente durante os anos de maior endurecimento institucional após o Ato Institucional nº 5, de 1968.[13]

Após uma longa batalha, e com o apoio de críticos, jornalistas e intelectuais da oposição, como membros do jornal O Pasquim e do ex-deputado Afonso Arinos, o filme obteve autorização para ser exibido de forma restrita em 1973. Sua estreia não ocorreu em salas comerciais tradicionais, mas sim em circuitos alternativos, como cineclubes e mostras independentes. Uma das primeiras exibições conhecidas aconteceu no Cinema Um, no Rio de Janeiro, e na Casa França-Brasil, em sessão voltada a estudantes e militantes culturais.[20][21] A exibição comercial se deu em 1975 no Cine Marachá, em São Paulo, onde foi exibido apenas por cinco dias, devido a recusa das grandes distribuidores a exibir um filme preto e branco.[13]

Legado

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Perspectiva

Uma década após o lançamento de Compasso de Espera Zózimo Bulbul comentou sobre a experiência de realizar o filme:

Este filme surgiu da discussão que o cinema no Brasil está nas mãos do branco; de que pouquíssimos negros conseguem dinheiro para dirigir ou produzir alguma coisa. Antunes então, pegou essa bandeira [...] Meu personagem é o negro que entra para a universidade e, na medida em que vai se intelectualizando, perde contato com a sua base, entra num processo de branqueamento. Esta é a questão principal do filme: ele frequenta o meio branco, trabalha, é paternalizado e se acomoda. O envolvimento afetivo com a estudante branca despertará todos os tipos de rejeições que se manifestam no final com alto grau de violência. Só a partir dai o personagem toma consciência do racismo existente e da impossibilidade do envolvimento com uma branca.[22]

A criação de Compasso de espera foi influenciada pelos estudos das relações étnico-raciais feitas por Florestan Fernandes e Roger Bastide nos anos 1950, que se contrapunham as teses de outros sociólogos que negavam a existência de um racismo no Brasil.[13][23]O diretor Antunes Filho, situa sobre o debate e desafios em torno da realização do filme[23]

É o único filme brasileiro que tenta, de maneira acertada ou não, colocar em questão o negro de verdade, sem fazer folclore. (...). Eu enfrentei essa questão que é violenta. Entrei num vespeiro de contradições. Entendeu? E arrisquei. Mas eu tinha alguma identidade com o negro, como artista, e apostei nisso. E nisso o Zózimo foi um grande apoio, no sentido de eu me sentir escorado, de ir em frente com o propósito de fazer o filme. É realmente perigoso. (...). Eu sou branco, vou fazer um filme de negro. [23]

Compasso de Espera foi um dos primeiros filmes no Brasil a evitar estereótipos na representação do corpo negro, tanto em comparação com a chamada Era de Ouro dos estúdios quanto com representações alegóricas do Cinema Novo. Para a criação e idealização do filme Antunes Filho se aproximou de intelectuais e atores negros, se aproximando de suas discussões e experiências, de quem vivenciam o racismo.[13]O lançamento tardio e silencioso do filme é interpretado como reflexo da censura institucional à produção cinematográfica engajada do período. Em contraponto a partir dos anos, Compasso de Espera passou a ser valorizado por sua relevância histórica e estética, sendo incluído em mostras de cinema político e reexibido por instituições como a Casa França-Brasil, em 2019.[24]

O filme desempenhou um papel importante para o consolidamento do cinema negro brasileiro. Além de retratar, de forma então incomum, um intelectual negro de classe média, o filme influenciou diretamente a realização do curta-metragem Alma no Olho, que foi roteirizado e dirigido por Zózimo, que utiliza restos de negativos de Compasso de Espera.[13]

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Prêmios

  • Prêmio Governador do Estado de São Paulo, SP, de Melhor argumento para Antunes Filho.
  • Prêmio Air France, 1975, RJ, de Melhor diretor.
  • Prêmio Adicional de Qualidade, 1973 - INC.
  • Melhor Argumento (Antunes Filho) e Revelação de Atriz (Renée de Vielmond,) - Associação Paulista dos Críticos de Arte APCA, 1975

Referências

  1. «Compasso de Espera». Enciclopédia Itaú Cultural. Consultado em 20 de julho de 2025
  2. «Compasso de Espera (1973)». Filmes Brasil. Consultado em 20 de julho de 2025
  3. «Compasso de Espera». Enciclopédia Itaú Cultural. Consultado em 20 de julho de 2025
  4. «Compasso de Espera». Enciclopédia Itaú Cultural. Consultado em 20 de julho de 2025
  5. «Compasso de Espera – produção por Antunes Filho». Casa França-Brasil. Consultado em 20 de julho de 2025
  6. «Compasso de Espera». Enciclopédia Itaú Cultural. Consultado em 20 de julho de 2025
  7. «Compasso de Espera – Elenco». AdoroCinema. Consultado em 20 de julho de 2025
  8. «Música: Vicente de Paula Salvia». Magia do Real. Consultado em 20 de julho de 2025
  9. «Compasso de Espera – fotografia por Jorge Bodanzky». Instituto Moreira Salles. Consultado em 20 de julho de 2025
  10. «Compasso de Espera». Enciclopédia Itaú Cultural. Consultado em 20 de julho de 2025
  11. «Compasso de Espera». Enciclopédia Itaú Cultural. Consultado em 20 de julho de 2025
  12. Cultural, Instituto Itaú. «Compasso da espera». Enciclopédia Itaú Cultural. Consultado em 16 de julho de 2025
  13. «FILMOGRAFIA - COMPASSO DE ESPERA». bases.cinemateca.gov.br. Consultado em 27 de julho de 2019
  14. XAVIER, Ismail (2007). O CINEMA BRASILEIRO MODERNO. [S.l.]: Paz e Terra. ISBN 9788577531448
  15. FRANCO, José (2006). «Censura e Resistência Cultural no Cinema Brasileiro dos Anos 70». Revista de História do Cinema. 12 (2)
  16. Trapp, Rafael (2021). «A Sociologia Censurada: Raça, Classe E a Pesquisa Em Ciências Sociais Na Ditadura Militar Brasileira (1971-1977)1». Revista de História (São Paulo) (180). Consultado em 13 de julho de 2025
  17. Lapera, Pedro Vinicius Asterito (1 de junho de 2015). «Entre brechas, cortes e rasuras: relações étnico-raciais e censura cinematográfica na ditadura militar». Revista FAMECOS (2). ISSN 1980-3729. doi:10.15448/1980-3729.2015.2.19927. Consultado em 13 de julho de 2025
  18. Carvalho, Noel dos Santos (1 de março de 2007). «A consciência da diáspora no cinema brasileiro: o cinema negro de Zózimo Bulbul». Cinémas d’Amérique latine (15): 28–44. ISSN 1267-4397. doi:10.4000/cinelatino.6460. Consultado em 13 de julho de 2025
  19. «Continue lendo com acesso ilimitado.». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 14 de julho de 2025
  20. «"Compasso de Espera", de Antunes Filho, estréia de na Casa França-Brasil». Casa França Brasil. 11 de novembro de 2019. Consultado em 14 de julho de 2025
  21. Carvalho, Noel dos Santos (1 de março de 2007). «A consciência da diáspora no cinema brasileiro: o cinema negro de Zózimo Bulbul». Cinémas d’Amérique latine (15): 28–44. ISSN 1267-4397. doi:10.4000/cinelatino.6460. Consultado em 16 de julho de 2025
  22. Candanda, Davidson Davis do Nascimento; Borges, Roberto Carlos da Silva; Oliveira, Samuel Silva Rodrigues de (31 de outubro de 2022). «"CINEMA NEGRO BRASILEIRO": HISTÓRIAS, CONCEITO E PANORAMA DE UM MOVIMENTO CINEMATOGRÁFICO». Revista da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN) (Ed. Especi): 279–300. ISSN 2177-2770. Consultado em 17 de julho de 2025
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