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Movimento Popular de Libertação de Angola

partido político angolano Da Wikipédia, a enciclopédia livre

Movimento Popular de Libertação de Angola
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O Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) é um partido político angolano orientado no espectro de centro-esquerda à esquerda, que governa o país desde sua independência de Portugal em 1975.

Factos rápidos Líder, Presidente ...

Fundado em 1956 foi, inicialmente, uma organização nacionalista de luta pela independência de Angola, transformando-se num partido político após a Guerra de Independência de 1961 a 1974. Na descolonização, conquistou o poder em 1975 e saiu vencedor da Guerra Civil Angolana de 1975-2002, contra dois movimentos/partidos rivais, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) e a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA).

É o maior partido do país em número de filiados e de representantes eleitos para a Assembleia Nacional de Angola. Seus militantes são chamados émepelalistas,[10] émes[11] e rubros.[12]

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História

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Perspectiva

A luta de libertação de Angola foi marcada pela formação de movimentos distintos: o MPLA, de orientação marxista nacionalista ampla, mais modernizador e universalista;[13] a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), de orientação conservadora e tribalista,[14] mas que havia começado acções de luta pouco antes e, apesar das tentativas, não alcançou entendimento de unidade com o MPLA, e;[15] a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), de orientação inicialmente maoísta também com aspectos tribalistas.[14]

Fundação e início da luta anticolonial (1956-1961)

A articulação para fundação do MPLA deu-se, principalmente, no seio de duas organizações políticas: o Partido da Luta Unida dos Africanos de Angola (PLUAA), fundado em 1953[13] por Viriato Clemente da Cruz e Matias Miguéis,[16] que operou incipiente até 1954 por falta de mobilização de massas,[16] sendo ofuscado por outros grupos nacionalistas anticoloniais políticos e culturais que já operavam em Angola e em Portugal,[16] e; o Partido Comunista Angolano (PCA), fundado em dezembro de 1955 como uma célula baseada em Luanda do Partido Comunista Português (PCP),[nota 1] agrupando, inicialmente, destacadas lideranças do nacionalismo angolano, como Viriato da Cruz, Ilídio Machado, Mário António e António Jacinto,[16] e, logo em seguida, Lúcio Lara, Mário Pinto de Andrade e Joaquim Pinto de Andrade.[16]

A liderança do PCA percebeu que o crescimento da luta nacionalista esbarrava na relutância da aceitação da luta de classes marxista-leninista que o partido propunha,[16] bem como na própria perseguição imposta pelo regime do Estado Novo a qualquer organização de cunho comunista e socialista.[13][14][16] Viriato da Cruz, membro de ambas as organizações,[16] articulou a fusão e organização do PCA com o PLUAA — este um partido não-comunista e, a partir de meados de 1955, já com organização de massas populares.[16] As discussões avançaram para a formação de um movimento nacionalista de frente ampla[17] que abarcaria organizações diluídas em seu seio,[16] sem usar os símbolos ou divulgar explicitamente as teorias marxistas-leninistas.[16] Assim, em 10 de dezembro de 1956, numa reunião na casa de Ilídio Machado em Luanda, este, Viriato da Cruz e Mário Pinto de Andrade redigem o "Manifesto de 1956"[18][19] por um "amplo Movimento Popular de Libertação de Angola",[20] como um programa de reagrupamento das lutas nacionalistas.[21] Além dos nomes já citados que lideravam o PLUAA e o PCA, juntaram-se ao manifesto de criação do MPLA Liceu Vieira Dias, Chico Machado, Germano Joy Gomes, Manuel dos Santos Capicua, Noé Saúde, Deolinda Rodrigues, Manuel Bento Ribeiro, Paulo Teixeira Jorge, Adriano Sebastião Kiwima e Amílcar Cabral.[16] Ilídio Machado, um membro-chave do PCA e da Liga Nacional Africana,[16] foi eleito o primeiro presidente do MPLA,[16] permanecendo em funções até ser preso, em 1959.[16] Antecipando-se ao cerco da PIDE, Ilídio Machado ordena a retirada de parte da liderança do MPLA de Luanda até setembro de 1957, confiando a Mário de Andrade e Viriato da Cruz a formação de um núcleo de relações exteriores e sede no exílio em Paris e Francoforte do Meno.[21] Permanecem em Luanda liderando as ações do MPLA Ilídio Machado, Joaquim de Andrade, Sebastião Kiwima e Manuel Pedro Pacavira.[22] Quando preso, Ilídio Machado foi substituído pelo secretário-geral Mário de Andrade, que exerceu o cargo no exílio entre 1959 e 1960;[23] de liderança, somente António Jacinto,[24] Pacavira e Joaquim de Andrade permaneceram em Angola coordenando as atividades do movimento que ainda contava com poucos militantes.[22]

Em 1960 já tinham se unido ao MPLA o Movimento para a Independência Nacional de Angola (MINA),[13] fundado em 1958, o Movimento para a Independência de Angola (MIA), fundado em 1958[13] e liderado também por Ilídio Machado,[13] e o Movimento de Libertação Nacional de Angola — Exército de Libertação de Angola (MLNA-ELA).[13] Além dessas, diversos ativistas anticoloniais que fugiam do interior de Angola também juntaram-se ao MPLA. Tais grupos unidos formavam correntes distintas dentro do movimento, que lutavam pela predominância, que acabou ficando com a corrente do PCA, liderada por Lúcio Lara (marxista-leninista) e Viriato da Cruz (maoísta).[25][nota 2]

Em 1960 António Agostinho Neto assume como presidente do partido, tendo como secretário-geral Viriato da Cruz[23] e o auxílio operacional de Pacavira e Joaquim de Andrade.[22] Com a prisão de Agostinho Neto ainda em 1960, Mário de Andrade alterna com Viriato da Cruz no comando do partido até dezembro de 1962.[23] As seguidas prisões das lideranças Ilídio Machado, Antonico Monteiro, Liceu Vieira Dias, Noé Saúde, Sebastião Kiwima, Hélder Neto e Uanhenga Xitu, no Processo dos 50, e de Agostinho Neto,[22] Joaquim de Andrade,[22] José Luandino Vieira[24] e Pacavira[22] pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) em Luanda,[22] repercute, respectivamente, no movimento anticolonial internacional e no despertar de uma consciência anticolonial em solo angolano, angariando forte apoio popular ao nascente MPLA.[26] Em janeiro de 1960, pouco antes da prisão de Agostinho Neto, o MPLA articulou a criação da Frente Revolucionária Africana para a Independência Nacional das Colônias Portuguesas (FRAIN), estabelecida durante a 2ª Conferência dos Povos Africanos, realizada em Tunes.[27] A FRAIN/CONCP seria fundamental para que o partido voltasse a ter uma sede em solo africano (Conacri, em 1960) e articulasse apoios e financiamento no exterior, como de Cuba, União Soviética, Bulgária, Checoslováquia, Guiné-Conacri, Suécia e Argélia.[28]

Cisões e organização da guerrilha (1961-1972)

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Secretário-geral Mário de Andrade (em primeiro plano à direita) como delegado do MPLA numa conferência da Organização de Unidade Africana (OUA) em Argel, em 1968.

A partir de 1961 a ala comunista do MPLA, sob supervisão do GRAE-Frente de Libertação (GRAE-FLA), começou a organizar a luta armada contra a dominação colonial de Angola por Portugal, tendo como marco os ataques de fevereiro de 1961 à Casa de Reclusão Militar, em Luanda, a Cadeia da 7ª Esquadra da polícia, a sede dos CTT e a Emissora Nacional de Angola, organizados operacionalmente por Adão Neves Bendinha[29] e pelo monsenhor Manuel Joaquim Mendes das Neves.[30] O temor pela crescente influência do GRAE-FLA, demonstrada nos ataques de fevereiro, fez com que o MPLA constituísse rapidamente o "Exército Popular de Libertação de Angola" (EPLA), atribuindo a tarefa a Manuel dos Santos Lima, o primeiro comandante da tropa.[31]

A primeira grande reorganização dos quadros dirigentes do MPLA ocorreu na reunião do Comitê Director de 13 a 23 de maio de 1962, na sede política no exílio em Quinxassa, quando, por iniciativa de Viriato da Cruz, os elementos mestiços e brancos foram substituídos majoritariamente por elementos negros na liderança do partido.[14] Houve, naquele momento, a opção pela suavização ideológica do movimento com vistas a diminuir a influência de membros considerados radicais e comunistas, como Viriato da Cruz e Lúcio Lara.[14] Neto retorna à liderança do partido como "presidente honorário" em julho de 1962 e tenta desfazer as teses de Cruz.[14] As contendas levam a realização da Primeira Conferência Nacional do MPLA, de 1 a 3 de dezembro de 1962, no exílio em Quinxassa, onde Neto foi eleito novamente como presidente efetivo em substituição a Mário de Andrade, e Matias Miguéis como secretário-geral, havendo também o retorno da ala comunista à liderança, com a eleição de Lara como Chefe do Departamento de Organização e Quadros (que se tornaria de facto o número 2 do partido durante a década).[14]

Em julho de 1963 formou-se a primeira grande dissidência liderada por Viriato da Cruz, Matias Miguéis, José Domingos e José Miguel, que formaram o chamado "MPLA-ala Viriato da Cruz" que defendia, dentre outras coisas, a destituição do Comitê Director e um acordo de fusão com o FNLA.[14] A ala de Neto respondeu a essas propostas destituindo, desfiliando e prendendo os dissidentes, e com a criação da Frente Democrática de Libertação de Angola (FDLA), a partir da união do MPLA com o Movimento de Defesa dos Interesses de Angola (MDIA), o Movimento Nacional Angolano (MNA), o Ngwizani a Kongo (NGWIZAKO) e a União Nacional dos Trabalhadores Angolanos (UNTA).[14] Neto tentou que a FDLA fosse reconhecida pela Comissão de Conciliação da Organização de Unidade Africana (OUA), em vez da FNLA, mas não obteve sucesso.[14] Por fim, mesmo Mário de Andrade desligou-se do Comitê Director por discordar da criação da FDLA e o MPLA-ala Viriato da Cruz filiou-se em peso à FNLA, em 1964.[14] O revés político na Comissão de Conciliação da OUA custou a mudança da sede política do MPLA para Brazavile, em 1963.[14] Além disso, as discordâncias de Neto com Viriato da Cruz, Matias Miguéis e José Miguel levaram os mesmos a sofrerem sessões de tortura, com a morte dos dois últimos em 1965.[14] Por fim, em 1964 a FDLA foi totalmente absorvida pelo MPLA.[25]

Aproveitando sua posição no Congo-Brazavile, o MPLA estabelece sua mais importante base operacional em Dolisie e começa sua campanha para tomar Cabinda em 1964, embora operasse com dificuldade dado a forte presença portuguesa no território a proteger as fontes petrolíferas.[32] A reorganização feita por Neto e Lara neste mesmo ano angaria uma notável vitória política com o reconhecimento do movimento por parte da OUA.[33] Em 1966, o MPLA, com apoio da Zâmbia, abre a exitosa "Frente Leste" conquistando progressivamente enormes porções da Lunda Sul, Moxico e Cuando-Cubango (efetivamente conquistando o apoio dos chócues, ganguelas, xindongas e vambundas), superando uma virtual penetração ideológica até então restrita às áreas de ambundos, mestiços e congos.[34] É criada a "zona libertada",[32][35] com comando operacional a partir de uma nova sede em Lusaca.[17] Tal feito, correlacionado ao "Plano Iko",[17] sob comando de Iko Carreira, permite ao partido chegar até Malanje em 1968, efetivamente controlando enormes porções também da Lunda Norte.[34] Em 1968 a OUA retira o apoio anteriormente dado à FNLA e passa a reconhecer unicamente o MPLA, o grupo mais bem consolidado no terreno, controlando a famosa "Rota Agostinho Neto" que se estendia desde Luena e Lungué-Bungo até Malanje.[34][36]

A mudança de panorama deu-se entre 1969 e 1971, quando a necessidade de lutar ao mesmo tempo contra o Exército Português e a UNITA enfraqueceram militarmente a Frente Leste. O movimento voltou a lutar basicamente na região de Cabinda e norte de Angola.[37] Com a aposentadoria por idade do vice-presidente Domingos Kileba em 1971, o quadro de comando do partido, após reunião do Comité Director (que seria integralmente substituído em 1974 pelo Comité Central) passa a ser Lúcio Lara como vice e Iko Carreira como secretário-geral.[38]

Assembleia de Dolisie e MPLA no governo (1972-1977)

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Manifestação em Amesterdão de endosso ao MPLA, em junho de 1975.

A perda da capacidade militar do MPLA faz com que a OUA reconheça novamente a FNLA, que também agrega apoio da China e do Zaire em 1971. Este cenário gerou uma crise sem precedentes em 1972, quando o MPLA se dividiu em três "alas" praticamente autónomas — a "Revolta Activa", liderada por Mário de Andrade, e a "Revolta de Leste", liderada por Daniel Chipenda, ambas opostas a Agostinho Neto, e a "Ala Presidencial", fiel a Agostinho Neto.[39] Foi convocada a Assembleia Extraordinária de Dolisie, em abril de 1972, para consolidação de uma liderança forte em torno de Neto e Lara.[40] Mesmo assim, a tripla cisão só foi superada em 1974, por uma conferência de unificação realizada na Zâmbia, mas levou à expulsão ou saída espontânea de uma série de elementos, como Chipenda, Mário de Andrade, Joaquim de Andrade e Gentil Ferreira Viana, e deixou profundas marcas no movimento.[41]

Terminada a luta de libertação, na sequência da revolução dos cravos de 25 de Abril de 1974 em Portugal, os três movimentos (MPLA, FNLA e UNITA) são chamados a assinar o Acordo do Alvor de partilha do poder, estabelecendo o Conselho Presidencial do Governo de Transição em janeiro de 1975.[42] A paz dura pouco tempo e inicia-se entre os movimentos uma luta armada pelo poder, com a ajuda dos países que os apoiavam.[41] A ala de Chipenda, agora na FNLA, faz seguidas incursões contra as posições fragilizadas do MPLA no leste e em Luanda a partir de fevereiro de 1975, enquanto que a guerra total explode em julho do mesmo ano entre os três movimentos.[41]

Nos bastidores da partilha do poder do Alvor o MPLA recebeu apoio intenso do grupo informal chamado militares vermelhos das Forças Armadas de Portugal, destacadamente do almirante Rosa Coutinho e do major Otelo Saraiva de Carvalho.[42] Foram esses militares portugueses que colaboraram para que o movimento tivesse pesado apoio soviético e cubano a partir de julho de 1975.[42] Eles conseguiram que o MPLA firmasse contatos mais fortes com Fidel Castro e Raúl Castro,[42] que possibilitaram a negociação do plano para uma intervenção militar cubana em Angola.[42]

Os grupos guerrilheiros rivais proclamaram separadamente a independência do país,[41] sem que tivesse acontecido a pacificação interna.[41] Do embate pela proclamação de independência, o MPLA saiu como vencedor imediato em Luanda, Cabinda, litoral e grandes porções do interior do país.[43] É frequente, numa leitura etnolinguística e racial da política angolana, ligar o MPLA à região dos ambundos e ao segmento populacional dos mestiços, e posteriormente, aos chócues, ganguelas, xindongas e hererós. Esta leitura corresponde a uma realidade inicial que, no entanto, foi superada numa medida considerável, pela inclusão de elementos de outras proveniências étnicas e políticas tanto nos quadros como na base social de apoio, principalmente na etapa seguinte, a Guerra Civil Angolana, que fez o partido inserir-se fortemente também às comunidades congos, ovimbundos, ovambos e nhaneca-humbes.[nota 3]

Fraccionismo e guerra civil (1977-1991)

Em 1977, o MPLA sofreu um sério abalo com uma nova dissidência, liderada por Nito Alves, Sita Valles e José Jacinto Van-Dúnem, que tentaram um golpe de Estado contra a direcção do partido, conseguindo assassinar as importantes lideranças militares émepelalistas Paulo Mungungo Dangereux, Eugénio Nzaji, Saíde Mingas, José Bula Matadi e Hélder Ferreira Neto.[39] Esta tentativa, oficialmente designada por Fraccionismo, falhou de imediato graças à intervenção de tropas cubanas presentes no país,[39] levando posteriormente a uma purga sangrenta que custou a vida a milhares de pessoas.[44][45]

Sob o impacto destes acontecimentos, o MPLA adoptou durante o I Congresso Ordinário, realizado em 1977, a designação "Movimento Popular de Libertação de Angola - Partido do Trabalho" (MPLA-PT) e os seus estatutos passaram a incluir a designação de partido marxista-leninista.[39] O entendimento foi, no entanto, que se procuraria pôr em prática o modelo marxista do "socialismo", não o do "comunismo".[46]

A partir de 1977 até 1979 o pensamento pragmático no partido se acentuou,[46] inclusive ensaiando uma aproximação tímida com os Estados Unidos,[46] que irritava os soviéticos[46] (e também os cubanos) que esboçaram um plano para substituir Neto pelo então primeiro-ministro Lopo do Nascimento. Tal plano foi descoberto pelo governo angolano, que agiu rapidamente destituindo Nascimento (foi realocado como Ministro do Comércio Interno) e abolindo a posição de primeiro-ministro.[46] O pós-Fraccionismo e a crise com o bloco comunista recrudesceu a política interna do MPLA-PT, que optou por governar Angola em regime de partido único de ditadura do proletariado e sem diálogo com a oposição ou com outras tendências, inspirado nos sistemas então vigentes no Leste Europeu.[46]

O final da década de 1970 e a década de 1980 também ficariam marcadas pela morte de Neto, a breve presidência de Lara[47] e a ascensão de José Eduardo dos Santos.[40] Este levou a cabo um longo processo de afastamento de figuras que considerava demasiado poderosas, no que ficou conhecido como as "purgas eduardianas", ou "purgas da Peça e do Quadro", iniciadas em 1982,[48] e replicadas em 1985[48] e 1987-1990.[49] Tais purgas fortaleceram definitivamente a chamada de ala pragmática-liberal[50] e exilaram dos cargos-chave a ala "Guia Imortal" (ou comunista/progressista-socialista).[48] A purga atingiu nomes como Ambrósio Lukoki,[50] Costa Andrade (Ndunduma wé Lépi),[50] Ruth Lara[51] e Lúcio Lara.[52]

Multipartidarismo e adoção da social-democracia

Quando Angola adotou, em 1991, o sistema democrático multipartidário, o MPLA abdicou do marxismo-leninismo e passou a ser um partido politicamente constituído próximo da social democracia, ora com tendências nacionalistas de esquerda e progressistas — pela sua prática de manter o mercado angolano protecionista e com alto controle estatal — ora com abertura de mercado e privatizações.[53]

Em 1992 Angola viveu as suas primeiras eleições parlamentares e presidenciais multipartidárias. O MPLA ganhou maioria qualificada com 129 dos 220 assentos da Assembleia Nacional. Porém, nas presidenciais o seu candidato, José Eduardo dos Santos, não obteve a maioria absoluta requerida na primeira volta. A UNITA não aceitou os resultados como correctos e válidos, retornando de imediato a Guerra Civil Angolana.[54]

A opção pelo neoliberalismo, com abertura de mercado, desmonte do Estado e privatizações, além de um fraco componente de políticas sociais durante a década de 1990, bem como a nova configuração interna de poder adoptada, afastou o partido de antigos aliados e de bandeiras históricas, marcando também um período de aumento de denúncias de corrupção e alienação da estrutura partidária para fins particulares envolvendo nomes da cúpula política, cultural e militar do MPLA. O impacto foi tão profundo no partido que o jornalista Rafael Marques chegou a apontar um "realinhamento político" ou "inversão eleitoral crítica", com a UNITA tomando posições antes do MPLA e vice-versa — semelhante ao ocorrido em 1932 entre os partidos estadunidenses democrata e republicano.[55]

Pós-guerra civil e fim da era Dos Santos

Em 2002, como resultado do Memorando de Entendimento do Luena, foram criadas condições para a normalização das questões políticas nacionais com eleições livres, que culminou no tratado da paz em 4 de abril de 2002 entre os principais intervenientes da Guerra Civil: o MPLA, o governo e a UNITA.[56]

Foram realizadas eleições legislativas nacionais, a 5 de setembro de 2008, decorrendo num clima de tranquilidade e paz social, tendo sido consideradas livres e justas e um exemplo para os outros países africanos, marcando a entrada do país numa era de consolidação da sua democracia com garantias de liberdades. Os resultados das eleições consolidou o MPLA, que ganhou por maioria absoluta com cerca de 82% dos votos,[57] enquanto que o seu mais directo oponente, a UNITA, não foi além dos 10%. De uma maneira geral, não houve contestação aos resultados destas eleições.[58] Nesta eleição, também, o MPLA passa a voltar-se e orientar-se para suas instituições orgânicas e de massas, marcado pela inscrição de Inga Van-Dúnem, Secretária-Geral da Organização da Mulher Angolana (OMA), na segunda posição da lista dos candidatos do MPLA ao Círculo Nacional da Assembleia Nacional, naquele momento a mulher com maior protagonismo na história do partido desde Deolinda Rodrigues,[59][60][61][62] Mariana Manana,[63] Maria Vahekeni,[64][65] Ruth Neto[65] e Maria Mambo Café.[65]

Nas eleições de 2012 o MPLA decresceu cerca de 10% no parlamento, muito embora mantendo uma maioria qualificada, e confirmando, deste modo, José Eduardo dos Santos na Presidência da República.[66]

De 2016 a atualidade

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João Lourenço, então candidato a Presidente pelo MPLA, ergue o dedo pintado depois de votar em Luanda, em 23 de agosto de 2017.

Em agosto de 2016,[67] o MPLA sinalizou que João Lourenço, então Ministro da Defesa e Vice-Presidente do MPLA, poderia ser o cabeça da lista legislativa do partido e, portanto, seu candidato presidencial para as eleições legislativas de 2017, indicando a aposentadoria de José Eduardo dos Santos.[67] Na 3ª. Reunião Ordinária do MPLA, em 3 de fevereiro de 2017, Lourenço foi confirmado como cabeça de lista.[67] Nas eleições de agosto de 2017 o MPLA venceu novamente garantindo maioria, mas ficando evidente uma queda em seu apoio popular.[68] Lourenço é eleito presidente com uma margem de 61% dos votos.[68]

Em setembro de 2018, João Lourenço tornou-se o primeiro presidente do partido após quase quarenta anos, na sequência da decisão de José Eduardo dos Santos de se aposentar.[23] Foi eleita também pela primeira vez, desde 1966, uma mulher como vice-presidente da agremiação, a deputada e jornalista Luísa Pedro Francisco Damião.[69]

Para as eleições gerais de Angola de 2022, o partido indicou João Lourenço como cabeça de lista à reeleição,[70] ladeado pela professora universitária e secretária de governo Esperança da Costa, como vice-cabeça de lista.[71] Pela primeira vez uma mulher ganhou tal protagonismo no partido, pois concorreu à vice-presidência de Angola.[72] O partido venceu as eleições com 3.209.429 de votos nas urnas, registrando maioria de 51,17%, mas registrou uma histórica queda de um milhão de votos, conquistando 124 cadeiras parlamentares, face às 150 das eleições de 2017. Pela primeira vez, desde as eleições de 1992, o partido perdeu maioria de representação parlamentar em províncias, sendo o caso de Luanda, Cabinda e Zaire.[73]

O impacto do resultado das eleições de 2022, bem como das políticas neoliberais aplicadas pelo governo Lourenço que minaram a popularidade da agremiação,[74] fez o partido acelerar sua renovação de quadros, elegendo, em dezembro de 2024, a administradora e socióloga Mara Regina da Silva Baptista Domingos Quiosa como nova Vice-Presidente do partido,[1] bem como possível cabeça de lista do MPLA.[75]

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Organização

O partido se organiza nacionalmente nos órgãos dirigentes Comité Central e Bureau Político. Além disso, mantém uma organização juvenil, a Organização de Pioneiros Agostinho Neto (OPA), uma ala jovem, a Juventude do Movimento Popular de Libertação de Angola (JMPLA), uma ala feminina, a Organização da Mulher Angolana (OMA) e uma entidade sindical, a União Nacional dos Trabalhadores Angolanos (UNTA).[76]

Mantém ainda o periódico ÉME,[7] além de uma rede denominada Centro de Formação Política do Partido (CEFOP), vocacionada a formar militantes e dirigentes em conhecimentos políticos, ideológicos e culturais.[77] O organismo cultural e assistencial Fundação Sagrada Esperança (FSE) também é ligado ao partido.[78] Seu símbolo máximo é a Bandeira do MPLA,[79] e seus lemas são "Paz, Trabalho e Liberdade",[80] "A Vitória é Certa!"[81] e "A Sagrada Esperança da Liberdade".[81]

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Resultados eleitorais

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Eleições legislativas

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Líderes do partido

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Vice-presidentes

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Perspectiva

O MPLA é mencionado em alguns produtos culturais, como é o caso da canção "O Homem Novo Veio da Mata", de José Afonso, inteiramente dedicada ao movimento de libertação angolano.[85] O MPLA também surge referenciado noutras canções, como "Anarchy in the U.K.", dos Sex Pistols,[86] ou "Morena de Angola", de Chico Buarque.[87] Na primeira, é feita uma comparação entre a Inglaterra do final da década de 1970 com a Guerra Civil Angolana.[86] Na segunda, composta por Chico Buarque para Clara Nunes após uma visita de ambos a Angola, o MPLA é mencionado como uma forma subtil de demonstrar o despertar de uma consciência política na cantora.[87]

O escritor angolano Pepetela, em livros como "Mayombe" e "A geração da utopia", retrata a vida de guerrilheiros do MPLA.[88] Outra menção na literatura está na novela "Cinco dias depois da independência" de Manuel Rui, especialmente sobre o "Comandante Kwenha", uma criança-soldado da Organização dos Pioneiros de Angola (OPA) do MPLA.[89]

O partido também é mencionado no jogo Metal Gear Solid V: The Phantom Pain, sendo uma das muitas organizações citadas.[90] Parte do jogo se passa na fronteira entre Zaire e Angola, abordando de forma breve as tensões políticas angolanas.[90]

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Ver também

Notas

  1. Ver "John Marcum (1969). The Angolan Revolution. I The Anatomy of an Explosion (1950-1962). Cambridge/Mass. & Londres: MIT Press".
  2. A historiografia indica geralmente 1956 como data de fundação do MPLA, mas a investigação do historiador doutor Marcelo Bittencourt Ivair Pinto aponta para um processo complexo concluído apenas em 1960. Ver: BITTENCOURT, Marcelo. Criação do MPLA. Estudos Afro-Asiáticos, Rio de Janeiro, v. 32, n.32, p. 185-208, 1997. Ver também: Jean Martial Arsène Mbah, As rivalidades políticas entre a FNLA e o MPLA (1961-1975), Luanda: Mayamba, 2012.
  3. Uma primeira análise detalhada deste aspecto é oferecida em "Fidel Raul Carmo Reis (2010). Das políticas de classificação às classificações políticas (1950 - 1996): A configuração do campo político angolano. Contributo para o estudo das relações raciais em Angola. Tese de doutoramento em história. Lisboa: ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa".
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    Referências

    1. Ana Augusta dos Santos Silva (18 de dezembro de 2024). «Mara Quiosa eleita vice presidente do MPLA». Televisão Pública de Angola
    2. Antonio, Nelson Domingos. (2013). Transição pela transação: uma análise da democratização em Angola (PDF). Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro
    3. Santos, Hélia (2008). MPLA (Angola), A Historical Companion to Postcolonial Literatures - Continental Europe and its Empires. [S.l.]: Edinburgh University Press. 480 páginas
    4. Silva, Dayane Augusta Santos da (1 de janeiro de 2021). «Na cobertura da retaguarda: mulheres angolanas na luta anticolonial (1961-1974)». Consultado em 11 de abril de 2023
    5. Morais, Rafael Marques de. «Religion and the State in Angola» (em inglês). Consultado em 1 de julho de 2021
    6. «Presidente do MPLA realiza campanha em Benguela». Revista Destemidos. 17 de agosto de 2022
    7. «PCP e MPLA reforçam cooperação». Avante. 10 de abril de 2008
    8. «Será JES um ícone da ética democrática?». Folha 8. 30 de dezembro de 2017
    9. «MPLA versus MPLA». O Kwanza. 7 de outubro de 2022
    10. Catarina Antunes Gomes (Fevereiro de 2009). De como o poder se produz: Angola e as suas transições (PDF). Coimbra: Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
    11. Pinto, João Paulo Henrique (dezembro de 2016). «A questão identitária na crise do MPLA de (1962-1964)». Irati: Universidade Estadual de Ponta Grossa. Revista TEL. 7 (2): 140-169. ISSN 2177-6644
    12. Jean Martial Mbah (2005). Les rivalités politiques entre la FNLA et le MPLA, 1961 - 1975. 1–2. Dissertação de doutoramento em história. Paris: Université de Paris I
    13. Nelson Pestana (8 de fevereiro 2017). «O manifesto de Viriato da Cruz (1956)». Novo Jornal
    14. Ricardo Noronha (22 de fevereiro de 2013). «"A vitória é certa" apontamentos para a História do MPLA». Buala
    15. Daniel Deliberali (2016). Estado e poder em Angola: a trajetória do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e a construção do Estado Angolano (1956-1992) (PDF). Santana do Livramento: Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA
    16. Carlos Serrano (2012). «Viriato da Cruz: um intelectual angolano do século XX: a memória que se faz necessária». São Paulo: Universidade de São Paulo. África: Revista do Centro de Estudos Africanos (especial): 165-178
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