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filme de animação japonês dirigido por Isao Takahata Da Wikipédia, a enciclopédia livre
Memórias de Ontem[1][3] (おもひでぽろぽろ Omoide Poro Poro?)[nota 1] é um filme animado japonês de 1991, dirigido e escrito por Isao Takahata, baseado no mangá homônimo de Hotaru Okamoto e Yuko Tone, lançado em 1982.[4] É a quinta produção do Studio Ghibli, e a empresa Toho ficou encarregada de sua distribuição.[5] O filme é considerado um marco importante para os filmes animados, devido à originalidade do tema proposto, já que a vida amorosa de uma mulher de 27 anos é um tema bastante incomum na animação.[6]
Memórias de Ontem | |
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おもひでぽろぽろ | |
Japão 1991 • cor • 118 min | |
Gênero | |
Direção | Isao Takahata |
Produção | Toshio Suzuki |
Roteiro | Isao Takahata |
Baseado em | Omoide Poro Poro, de Hotaru Okamoto e Yuko Tone |
Elenco |
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Música | Katz Hoshi |
Cinematografia | Hisao Shirai |
Edição | Takeshi Seyama |
Companhia(s) produtora(s) | Studio Ghibli |
Distribuição | Toho |
Lançamento | JPN 20 de julho de 1991 BRA 10 de julho de 1993[1] |
Idioma | japonês |
Receita | ¥ 1,870 bilhão[2] |
Comercialmente, Memórias de Ontem foi um sucesso na bilheteria, atraindo um grande público adulto e se tornando o longa-metragem mais bem-sucedido em 1991 no Japão,[2] além de ser bem recebido pela crítica japonesa e internacional, no Rotten Tomatoes detém uma classificação de 100%.[7] Nos Estados Unidos, foi lançado 25 anos após o seu lançamento original, distribuído no país pela GKIDS,[8] e no Brasil em 10 de julho de 1993, apenas nos formatos de mídia física.[1] O portal britânico BroadbandChoices, fez uma análise dos filmes mais pesquisados do Studio Ghibli ao redor do mundo e classificou o filme em 18.º lugar com 1,23%.[9]
Em 1982, Taeko Okajima (岡島タエ子 Okajima Taeko?) é mulher de 27 anos, solteira e que viveu toda sua vida em Tóquio.[10] Decide viajar a Yamagata para visitar a família do cunhado e ajudar na colheita anual de açafrão-bastardo.[10] Enquanto viajava à noite no trem, Taeko começa a recordar memórias de si mesma como estudante em 1966, e o seu desejo intenso de ir de férias como os seus colegas de turma, todos eles com família fora da grande cidade.[11]
Ao chegar na estação, fica surpresa ao descobrir que o primo de segundo grau do seu cunhado, Toshio, que mal conhece, é quem veio buscá-la.[12] Durante a sua estadia em Yamagata, Taeko fica cada vez mais nostálgica e melancólica por suas recordações da infância, simultaneamente, luta com problemas da vida adulta, relacionados a amor e a carreira.[13] A viagem faz com que venham à tona memórias até então esquecidas, tais como o primeiro amor, a puberdade, o crescimento, as frustrações da matemática e dos rapazes.[14] Entre o presente e o passado, Taeko pergunta-se se tem sido fiel aos sonhos da sua infância, e percebe que Toshio a tem ajudado ao longo do caminho.[15] A personagem enfrenta o seu verdadeiro "eu", a forma como vê o mundo e as pessoas à sua volta, e ao final escolhe ficar no campo em vez de regressar a Tóquio.[5]
O elenco de Memórias de Ontem é composto por:[16]
Memórias de Ontem é baseado no mangá homônimo, escrito por Hotaru Okamoto com ilustrações de Yūko Tone, e publicado em 1988 pela Seirindō Publishing House.[4] A obra em 1990, foi relançanda pela Animage em três volumes, e narra a infância de Taeko em 1966.[4] O mangá foca exclusivamente na história de Taeko como uma criança nos anos 60 e de forma autobiográfica. Já a sua vida adulta nos anos 80 e a viagem à Yamagata, são ideias originais de Isao Takahata.[17] O conceito de tentar adaptar à HQ já existia dentro do Studio Ghibli deste o final dos anos 80, entretanto, Takahata considerou que não era adaptável ao cinema no seu estado atual, sem qualquer enredo. O roteirista teve, portanto, a ideia de inserir um tempo narrativo adicional na trama.[18]
A produção da animação foi facilitada pelo sucesso do trabalho anterior do Studio Ghibli, Majo no Takkyūbin, que permitiu ao estúdio embarcar em projetos mais ambiciosos.[19] Visualmente, o filme é constituído sobre uma oposição estilística entre o passado e o presente.[4] O estilo adotado nas cenas dos anos 80, visa um realismo muito forte, característico nas produções de Takahata, e os detalhes são apresentados com grande meticulosidade, tanto os traços faciais quanto os cenários.[17] O animador responsável pelas cores, Yasuda Michiyo, explica, por exemplo, que para algumas cenas, foram analisadas mais de 450 cores para escolher a mais realista.[20] Outros detalhes que contribuem para o sentido de realismo, são, por um lado, a música, cartazes, anúncios e programas de televisão que trazem recordações do Japão dos anos 60;[21] e por outro, a precisão "quase documental" com que os anos 80 é retratado.[22] A história do filme é ambientada no distrito de Takase, na província de Yamagata, e as estações Takase e Yamadera ao longo da linha Senzan aparecem na produção.[23] Os personagens foram desenhados por Yoshifumi Kondō, e com supervisão artística de Kazuo Oga.[18]
Composta por Katsu Hoshi, a trilha sonora de Memórias de Ontem apresenta músicas originárias do Leste Europeu, traçando um paralelo entre o mundo camponês e a vida rural japonesa.[18] Muitas canções populares estão presentes no filme, tais como "Frunzuliță lemn adus (cântec de nuntă)", uma canção romena escrita por Gheorghe Zamfir e utilizada durante algumas cenas panorâmicas, como a chegada de Taeko à fazenda.[24] A música húngara também está representada na obra, com canções do grupo Muzsikás, da artista Márta Sebestyén, entre outras.[25] Entre as muitas faixas utilizadas, há também uma italiana, "Stornelli", do álbum Italie Eternelle - Chant & Danses.[26]
Nos créditos finais, é apresentada a faixa "Ai wa Hana, Kimi wa Sono Tane" (愛は花、君はその種子?), uma versão em língua japonesa de "The Rose", interpretada pela cantora estadunidense Amanda McBroom, e em japonês por Harumi Miyako, cuja tradução foi feita por Hoshi.[27][28]
Memórias de Ontem foi lançado no Japão em julho de 1991 e obteve uma boa recepção nas bilheteiras apesar de ser um drama destinado a um público maduro; tendo em conta que a protagonista é uma jovem de 27 anos, o que é invulgar nos filmes de anime nipônicos.[8][12] No entanto, apesar do sucesso da animação em seu país de origem, a obra não foi lançada em nenhum outro território durante uma década.[29] A Alemanha foi o primeiro país ocidental onde Memórias de Ontem foi lançado e também o primeiro distribuído com dublagem na língua local.[30] Em países de língua inglesa como a Austrália e o Reino Unido, sua distribuição ocorreu sem dublagem em inglês e apenas com legendas. Foi o primeiro longa-metragem do Studio Ghibli a ser distribuído desta forma.[31][32] Em países francófonos como a França, Bélgica e Suíça, a película foi distribuída em outubro de 2007 e lançada diretamente em DVD, sem áudio em francês.[33][34] Posteriormente, ficou disponível no catálogo da Netflix e, desta vez, com dublagem em francês.[35]
Embora a Disney possuísse os direitos de distribuição do filme, decidiu não lança-lo em países como os Estados Unidos ou o Canadá, pois, se tratava de um longa-metragem para adultos.[36] Mesmo assim, o filme foi transmitido pelo Turner Classic Movies em janeiro de 2006,[37] e subsequentemente estreou no Festival Internacional de Cinema de Animação de Nova Iorque, tendo a sua estreia oficial em território estadunidense, onde foram exibidas numerosas produções do estúdio, incluindo o inédito Umi ga Kikoeru.[38][5] Em alguns países da América Latina, foi distribuído em 2011 pela Zima.[39] No Brasil, Memórias de Ontem foi lançado em 10 de julho de 1993, quase dois anos após o lançamento original.[1]
Memórias de Ontem foi o filme de maior bilheteria de 1991 no Japão, lucrando 1,870 bilhão de ienes.[2] Com o seu lançamento tardio, o filme estreou na Rússia em 8 de maio de 2008 e arrecadou 9 041 dólares,[40] ficando atrás de The Ruins,[41] ao todo, a obra lucrou no país 19 867 dólares.[40] Memórias de Ontem conquistou um total de 453 243 dólares nos Estados Unidos,[42] representando 86,2% do lucro.[42] Em sua estreia no país, obteve um lucro de 14 970,[43] e em seu último fim de semana conseguiu apenas 52 dólares, registrando uma queda de 98,6%.[44]
Na Finlândia, Memórias de Ontem faturou 8 141 em sua estreia, arrecadando ao total 26 781 dólares.[45] Devido ao seu lançamento limitado no Reino Unido, por lá a receita do filme foi de 5 044 dólares em doze cinemas.[46] Em dois países da Oceania, o longa-metragem arrecadou (em dólares): 33 195, na Austrália,[47] e 7 695, na Nova Zelândia.[48] Mundialmente, Memórias de Ontem arrecadou 545 825 dólares.[49]
Memórias de Ontem foi amplamente aclamado pelos críticos contemporâneos. No agregador de resenhas Rotten Tomatoes, o filme recebeu o "Certified Fresh" e marca uma pontuação de 100%, com base em 56 resenhas, e registra uma nota 8,4 de 10.[7] No Metacritic, que atribui uma média aritmética ponderada com base em 100 comentários de críticos mainstream, o filme recebe uma pontuação média de 90 pontos, com base em 19 comentários, indicando "aclamação universal".[50]
Nicolas Rapold, do The New York Times, fez uma crítica positiva ao filme, dizendo que "[a] obra do Sr. Takahata, sendo baseada em um mangá, parece crescer também em seu impacto, tanto quanto Taeko chega a uma mais rica compreensão do que quer e de como quer viver".[51] O crítico de cinema Peter Travers, da revista Rolling Stone, deu ao longa-metragem quatro estrelas e meia, de quatro, registando: "Memórias de Ontem é mais calmo e menos demonstrativo; assim como Kaguya-hime no Monogatari, Takahata criou Memórias de Ontem para marcar".[52] Kenneth Turan, do Los Angeles Times, aclamou-o afirmando que a produção é "uma história realista e pessoal".[53] Na publicação ao Entertainment Weekly, Devan Coggan escreveu: "Memórias de Ontem pode ter sido lançado em 1991, mas a reflexão da protagonista sobre a condição feminina é verdadeiramente atemporal".[11] Tom Huddleston, do Time Out London, destacou sua narrativa como simples, reflexiva, bonita e nostálgica.[54] "É outra grandiosa produção do estúdio, cheia de imagens ricas em cores, finamente detalhadas e muitas vezes extravagantes", disse Tom Keogh, do The Seattle Times.[55]
Nota "quatro estrelas" vieram de Glenn Kenny, do RogerEbert.com, e "três" de Brad Wheeler, do The Globe and Mail; com Kenny dizendo que "como Kaguya, Memórias de Ontem é uma consideração empática da situação das mulheres na sociedade japonesa — e é também uma obra de arte",[56] com Wheeler finalizando: "[a] metáfora da borboleta é empregue por Takahata, um cineasta cujo seu encantador filme demorou 25 anos para chegar na hora certa".[57] Oleg Ivanov, do website Slant Magazine, disse que a obra utiliza os melodramas familiares para revelar as restrições sociais subtis que inibem as pessoas, particularmente as mulheres, de atingirem a sua autorrealização.[58]
Ano | Premiação | Categoria | Destinatário(s) | Resultado | Ref. |
---|---|---|---|---|---|
1991 | Golden Gross Prize | Prêmio de Excelência | Memórias de Ontem | Ouro | |
1992 | Prêmios da Academia do Japão | Prêmio de Popularidade | Venceu |
Em 2010, foi anunciado que Memórias de Ontem seria adaptado para o teatro, sendo a primeira obra do Studio Ghibli para os palcos.[61] O musical estreou em 16 de abril de 2011, no The Galaxy Theatre, em Tóquio,[61] continuando até 2012.[61] A atriz Hikaru Asami interpretou Taeko quando adulta e Shiina Ishimaru aos seus dez anos.[62] O cartaz de divulgação da produção foi feito por Kazuo Oga, supervisor artístico da animação de Takahata.[63]
Memórias de Ontem é caracterizado por dois temas centrais: os valores positivos da vida rural e tradicional, em contraste com a cidade contemporânea de Tóquio, e a introspecção psicológica da personagem principal, de acordo com Susan Jolliffe Napier.[64]
Memórias de Ontem é sobretudo um tributo à vida camponesa em declínio e à satisfação encontrada no trabalho árduo da agricultura, em contraste com o tedioso emprego de um escritório.[65] Para Taeko, o campo representa nostalgia, um sentimento predominante no filme, com os valores tradicionais do Japão sendo transmitidos através das retrospectivas da protagonista.[65] Para S. J. Napier, Takahata encena duas categorias de nostalgia, uma pessoal e uma comum.[64] No entanto, Colin Odell e Michelle Le Blanc notaram que o sentimento nostálgico é uma sensação de sonhos não realizados e de uma infância passiva.[4]
O filme ilustra uma ocidentalização e a mudança de um lugar arquipélago no mundo que sujeitou os seus habitantes a uma rápida transformação na sociedade.[20] Nos anos 80, surgiram campanhas no Japão que encorajaram os habitantes das cidades a retornarem ao campo. Takahata já mostrava o interesse pelas boas práticas agrícolas, em particular a agricultura biológica, que estava surgindo na época.[66] A posição da mulher também é destacada nas épocas em que decorrem o filme, embora não seja questionada a escolha quase irreconciliável das mulheres japonesas entre a sua carreira e o seu casamento.[17]
As recordações de Taeko remontam a quando tinha dez anos. Esta idade é o tempo do primeiro amor, da entrada na puberdade e da consciência do "eu" como elemento da vida comunitária e social.[14] Para S. J. Napier, é tudo uma questão da personagem de se conformar com as suas memórias, de modo a fazer uma escolha certa, casar-se no campo ou ter uma carreira na cidade.[64] Evidentemente, Takahata expressa no seu filme que a vida comunitária propicia a libertação dos sonhos e frustrações egoístas da infância, e para alcançar este objetivo pessoal, as memórias ressoam fortemente em Taeko até à sua escolha final.[64] Takahata também evoca em sua obra a metáfora da borboleta, que consiste primeiro na fase larval e depois no estágio de crisálida.[4]
No momento da criação de Memórias de Ontem, os trabalhos de Isao Takahata, marcados pelo realismo na encenação da vida cotidiana, são bem estabelecidos, desde Hotaru no Haka, e evoluem para integrar progressivamente a dimensão psicológica dos personagens.[67] Além das obras de Takahata, vários temas recorrentes nas produções do Studio Ghibli, em geral, estão presentes em Memórias de Ontem, de acordo com a tipologia de Odell e Le Blanc: os valores tradicionais (como em Tonari no Totoro e Sen to Chihiro no Kamikakushi), a vida comunitária (Tenkū no Shiro Rapyuta) e a ecologia (Mononoke Hime), são três temas que Takahata trabalhou em seu longa-metragem posterior, Heisei Tanuki Gassen Ponpoko, de 1994.[68][69]
O tema da nostalgia e da perda de valores está presente em várias outras animações, como em Heisei Tanuki Gassen Ponpoko, Memories, Urusei Yatsura 2: Byūtifuru Dorīmā e Mari Iyagi. A principal diferença em relação a Memórias de Ontem é que o mundo que os personagens desejam é acessível e benevolente.[70]
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