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A Pedra de Dighton é um bloco de rocha cuja superfície, na face voltada para cima, está recoberta de inscrições, muito erodidas, cuja origem tem alimentado uma polémica secular. Originalmente a pedra estava localizada dentro de água no estuário do rio Taunton, em Berkley, Massachusetts (em tempos parte da vila de Dighton, daí o nome da rocha).[1] Para evitar os danos provocados pelo vandalismo, pela erosão das marés e pelos efeitos da variação térmica, em 1963, a rocha foi removida do rio e classificada como objecto protegido pelo Estado de Massachusetts.
A pedra de Dighton é um bloco de arenito feldspático, com cerca de 40 toneladas de peso, formando um paralelepípedo com seis faces irregulares, medindo cerca de 1,5 m de altura, 2,9 m de largura e 3,4 m de comprimento. O bloco terá sido depositado na zona durante a última glaciação há cerca de 13 000 anos. O arenito que constitui o bloco é de cor castanho-acinzentada, com grandes fenocristais, apresentando uma textura grosseira.
A face onde estão as inscrições é de forma trapezoidal, estando, quando a rocha se encontrava no leito do estuário, voltada para noroeste, com uma inclinação de aproximadamente 39º em relação à vertical. As inscrições foram feitas com um instrumento cortante, de metal ou rocha de grande dureza, e têm uma profundidade que vai dos 2 aos 7 mm. Parte da superfície da inscrição sofreu abrasão pelo gelo e danos devido aos ciclos térmicos e a meteorização. O vandalismo ao longo dos anos também levou à destruição de algumas das marcações.
Ao longo dos últimos 350 anos a epigrafia da rocha tem suscitado as mais díspares interpretações, sendo a sua origem e significado objecto de longas polémicas, a que não estão alheios os nacionalismos e os preconceitos étnicos que entretanto se foram gerando e desfazendo.
As teorias mais geralmente aceites atribuem a origem das inscrições aos seguintes povos:
As primeiras descrições conhecidas das inscrições na rocha datam de 1680, quando o reverendo John Danforth as copiou e enviou para Londres numa tentativa de obter uma interpretação. A partir daí as inscrições foram regularmente copiadas e reinterpretadas por dezenas de estudiosos sem que se tenha jamaís atingido uma explicação cabal e inatacável. Um estudo completo foi elaborado em 1830 sob os auspícios da Rhode Island Historical Society, dando origem a uma nova onda de explicações e interpretações.
Desde 1829 que existem planos para remover a rocha do interior do estuário e colocá-la num museu, tendo sido proposta a sua deslocação para Boston, Fall River e mesmo para a Dinamarca. Contudo, a primeira tentativa de remoção apenas foi feita em 1955, tendo sido interrompida por ordem judicial quando se detectou que os cabos usados na operação estavam a danificar a rocha. Depois de um estudo que determinou que a Pedra de Dighton era um calhau solto e não um afloramento rochoso, em 1963 o Massachusetts Department of Natural Resources construiu uma protecção e elevou a rocha cerca de 3,4 m acima da sua posição inicial colocando-a fora do alcance das águas da maré. A rocha permaneceu nessa plataforma, protegida por arame farpado durante alguns anos, mas o vandalismo continuou pelo que foi necessário recolhê-la num abrigo fechado, o que veio a acontecer em 1973. A rocha foi mantida com a sua orientação original mas foi inclinada por forma que a face gravada faça um ângulo de 70º com a vertical.
Em Novembro de 1952, a Miguel Corte Real Memorial Society da cidade de New York adquiriu 49,5 acres (aproximadamente 200 000 m²) de terra na zona adjacente à Pedra de Dighton com o objectivo de criar um parque em memória dos Corte Real. Não sendo pacífica a apropriação pela comunidade portuguesa do simbolismo da Pedra, o Estado de Massachusetts expropriou a parcela de terreno, em 1954 criando nela um parque estatal. Posteriormente mais terra foi adquirida e hoje o Dighton Rock State Park ocupa uma área de quase 100 acres (aproximadamente 400 000 m²). A zona foi ajardinada, criando-se uma área para recreação e lazer e um pequeno museu onde a rocha se encontra protegida.
O museu, autorizado pela legislatura de Massachusetts em 1974, é constituído por dois pequenos edifícios octogonais, um contendo a rocha, protegida por um vidro, o outro uma pequena colecção de artefactos relacionados com a navegação portuguesa e com os povos aborígenes locais.
Na década de 1920, Edmund Delabarre, Professor de Psicologia na Brown University, propos a leitura do nome de Miguel Corte- Real e do 1511, ligando a pedra aos irmãos Corte-Real, saídos da ilha Terceira, nos Açores, tinham desaparecido durante viagens de exploração no Atlântico noroeste. A partir dessa ligação, as inscrições foram reinterpretadas por Delabarre como dizendo: MIGUEL CORTEREAL v[oluntate] DEI hic DUX IND[iorum] 1511, que traduzido para português significaria: MIGUEL CORTE-REAL pela vontade de Deus chefe dos índios 1511. A interpretação apoia-se ainda na existência de formas que lembram cruzes de Cristo e o escudete português.[2] Os historiadores portugueses tiveram de lembrar ao psicólogo americano que nem os Corte-Real nem outros navegadores portugueses sabiam latim. Delabarre retrocedeu reconhecendo que tinha ido longe de mais.[2] A sua teoria nunca foi pelos historiadores e especialistas portugueses, que nela apontaram várias falhas.[2]
Tal não obstou a que pela sua interpretação e pela defesa que dela fez, o Professor Edmund Delabarre foi celebrado pelo Estado Novo e pelo nacionalismo português como um verdadeiro herói, sendo condecorado em 1933, com a Ordem Militar de Sant'Iago da Espada.[3] Uma réplica da Pedra de Dighton está exposta no Museu de Marinha, em Lisboa.[4]
Muito por influência de Manuel Luciano da Silva, um médico de origem portuguesa (natural de Vale de Cambra), tem sido mantida uma vigorosa campanha visando o reconhecimento e a divulgação da teoria portuguesa da origem dos desenhos rupestres de Dighton.[1]
A teoria portuguesa tem sido muito desacreditada pela maior parte dos historiadores sérios, como Luís de Albuquerque, na sua obra Navegadores, Viajantes e Aventureiros Portugueses (1987) e pelo Professor Onésimo Teotónio Almeida que foi Director durante 12 anos do Departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros da Universidade de Brown nos Estados Unidos.[1]
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