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Raio Negro é um super-herói brasileiro criado por Gedeone Malagola e lançado em 1966 pela GEP de Miguel Penteado.[1][2] Sua origem é parecida com a do Lanterna Verde da Era de Prata[nota 1] e seu uniforme do herói se assemelha ao do Cíclope dos X-Men.[4] Curiosamente, o próprio Malagola roteirizou histórias dos X-Men publicadas na revista Edições GEP.[5] A revista foi elogiada pela Censura durante a Ditadura Militar.[6]
Raio Negro | |
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Edição número 4 de Raio Negro | |
Informações gerais | |
Primeira aparição | Raio Negro nº 1, GEP (1966) |
Criado por | Gedeone Malagola |
Editora | GEP Grafipar Phenix Panini Comics |
Características físicas | |
Espécie | humano |
Informações profissionais | |
Poderes | Poderes oriundos do Anel de Luz Negra oriundo de Saturno |
As histórias em quadrinho já era um mercado consolidado no Brasil, vendendo mais de 20 milhões de exemplares por mês. Também, o trabalho de quadrinhista era árduo e mal-pago. Editores como Aizen e Roberto Marinho publicavam principalmente títulos de super-heróis estrangeiros, que dificultava a entrada de quadrinhistas nacionais no mercado. Por isso, discutia-se a nacionalização dos quadrinhos, que ganhou força com a pressão de sindicatos como a ADESP nos governos JK e Jânio. Nesse contexto, uma editora nacional que se sobressai é a Editora Continental, que publicava apenas histórias brasileiras. Durante a presidência de Goulart, foi elaborada uma lei que reservava 60% do mercado para os quadrinhistas brasileiros, porém ela só foi aceita durante o regime militar de Castelo Branco, mas ela não chegou realmente a ser posta em prática. Os quadrinhos também foram as primeiras vítimas da censura durante a Ditadura Militar, com a Lei das Publicações Perniciosas aos Jovens. Muitos dos artistas perderam seu emprego, e a Continental contratou vários deles. Nesse cenário de hipercompetitividade e de dominação do mercado por histórias americanas, surgiram quadrinhos nacionais baseados ou até mesmo copiados dos quadrinhos de super-heróis. Destaca-se as revistas Hur, Fikon, Super-Héros, Targo e Escorpião.[7]
Geodone Malagola trabalhava na Polícia Militar de São Paulo,[8] mas já havia trabalhado como desenhista e roteirista de revistas de super-heróis, como Capitão 7 e Vigilante Rodoviário. Também havia militado pela nacionalização dos quadrinhos[7] enquanto membro da ADESP, juntamente com Mauricio de Sousa.[8]
Raio Negro foi criado por Gedeone Malagola a pedido de Jayme Cortez. Inicialmente, Gedeone mostrou o Homem-Lua mas esse personagem foi recusado. Para mostrar o que queria, Cortez apresentou a Gedeone revistas dos heróis da DC Comics: Flash, Lanterna Verde e Adam Strange. Dos três, o Lanterna Verde foi o personagem que mais agradou Gedeone e assim ele elaborou a origem do Raio Negro. Uma diferença na história é que enquanto o americano Hal Jordan (identidade do Lanterna Verde) era um aviador civil, o brasileiro Roberto Salles (o Raio Negro) era um piloto militar (da FAB - Força Aérea Brasileira),[9] segundo Gedeone Malagola, o visor usado pelo Raio Negro nada tem a ver com o do Ciclope, sua inspiração teria sido um óculos do vilão Slits da tira Terry e os piratas de Milton Caniff.[9][10] Até então, as histórias solo do Lanterna Verde eram inéditas no Brasil,[7] embora o herói tenha aparecido em uma história do Adam Strange na revista O Homem no Espaço nº 12 da Editora O Cruzeiro publicada em 1962, onde foi chamado de Anel Verde.[11]
Para completar a revista Raio Negro nº1 foi incluída uma história solo do Homem-Lua (inspirado em O Fantasma de Lee Falk).[12] A revista também publicaria histórias do Hydroman (inspirado no Namor da Marvel) e até mesmo um crossover com o Homem-Lua e um com o Hydroman.[9]
Raio Negro trás muitos elementos de ficção científica, como os presentes nas histórias de Hal Jordan. Originalmente, o Lanterna Verde possuía poderes místicos, porém foi remodelado durante a Era de Prata. Hal Jordan era um piloto de testes e recebeu seu anel do alienígena moribundo Abin Sur, que deve ser recarregado com uma bateria energética. Similarmente, o tenente Roberto Salles é um piloto de caça da FAB que é selecionado para ser o primeiro astronauta brasileiro. Ele ajuda um alienígena ferido de Saturno e recebe seu anel, que funciona com a energia magnética do planeta. Nota-se a inserção do Brasil na corrida espacial. Também, ambas as histórias abordavam o perigo atômico, vilões que visavam roubar informações secretas da nação e cientistas com pretensões de dominação mundial, temas vigentes na Guerra Fria. Apesar disso, ambas histórias traziam uma fascinação com a era espacial e otimismo em relação ao futuro. E, assim como Hal Jordan possui laços românticos com a filha de seu chefe, Carol Ferris, Roberto Salles é apaixonado por Marajoara Campos, filha de seu superior. A postura de Raio Negro perante a sociedade também é muito similar ao Lanterna Verde. Na época, os quadrinhos traziam aspirações da classe média americana, onde o herói cooperava com o governo no combate ao crime e era um modelo de bom comportamento para as crianças. As semelhanças ocorrem justamente por causa da presença em massa de histórias americanas em solo brasileiro, que levou os artistas a copiarem o estilo para conquistarem uma fatia do mercado. Alguns autores classificam essas histórias como cópias mal-feitas, por ser uma "duplicação da forma sem uma elaboração crítica do conteúdo, num ato passivo de ceder sua voz à voz do outro". Ainda, argumenta-se que tais características não se adequavam à realidade brasileira, pois o super-herói nasce de uma cultura bélica, onde ele garante o funcionamento da sociedade americana. Estudiosos defendem que o herói brasileiro deveria trazer conceitos da carnavalização e do homem cordial, onde as relações impessoais e as brechas e contradições do sistema ditam sua vida. Em outras palavras, o super-herói brasileiro é o arquétipo do malandro, que seria reconhecido como um anti-herói nos Estados Unidos.[7]
Críticos a essa visão trazem que a identidade nacional não é algo imutável, mas uma constante luta por representação. Outro ponto é que se os valores americanos fossem tão distantes da realidade brasileira, a revista jamais faria sucesso. O Brasil é o segundo maior mercado consumidor de super-heróis do mundo. Além disso, a revista do Raio Negro trás elementos únicos. Por exemplo, o vilão principal, Op Art, apesar de ser um cientista alemão que quer dominar o mundo, é baseado no movimento artístico homônimo. Também, o traço de Lanterna Verde é tradicional. Já Malagola subvertia o uso dos quadros e trazia elementos nacionais reconhecíveis ao público nos cenários. E, por conta do limite tecnológico, o artista precisou trabalhar com o contraste de preto e branco para apresentar as cenas de ação. Oturo fator é o militarismo presente em Raio Negro. Enquanto Hal Jordan é um piloto de testes de uma empresa de aviação, Ricardo Salles é membro da FAB, ou seja, é parte do governo militar. Inclusive, membros da alta cúpula militar são frequentemente retratados em reuniões em Brasília para a elaboração de planos de segurança, que seriam postos em prática por Raio Negro. Portanto, a história não seria uma simples cópia de Lanterna Verde.[7]
A primeira série de revistas teve início em 1966 e durou 15 edições consecutivas publicadas pela Gráfica Editora Penteado (GEP). Todas desenhadas e roteirizadas por Gedeone Malagola, exceto a edição 13 que teve Edmundo Rodrigues como ilustrador. Além disso, a GAP publicou um almanaque e edições especiais, totalizando 24 edições. Em Raio Negro nº15, o herói luta ao lado de Unus, um vilão dos X-Men. Das revistas que copiavam as histórias americanas, Raio Negro foi a mais popular.[7][13]
Após o cancelamento da revista, o personagem caiu no limbo editorial, porém continuou fazendo sucesso entre os fãs. Em1982, o Raio Negro ganhou uma edição especial de 100 páginas pela editora Grafipar do estado do Paraná. Porém, devido à crise econômica, a editora entrou em falência.[14][15]
Em 1989, a Editora Phenix lançou uma edição com história inédita.[16]
No início dos anos 90 teve dois números publicados pela Editora ICEA.
Em 1998, teve uma história publicada na revista Metal Pesado.
Em 2005 participou de um crossover com o super-herói Cometa de Samicler Gonçalves na versão brasileira da Revista Wizard editada pela Panini Comics.[17]
No ano seguinte, o herói participou da sexta edição da revista do herói, onde encontra com outros heróis: Nova, de Emir Ribeiro e Escorpião, de Wilson Fernandes e Rodolfo Zalla.[18][19]
Tenente Roberto Salles é um piloto da FAB e é selecionado para ser o primeiro astronauta brasileiro. É enviado da Barreira do Inferno ao espaço no foguete Santos Dumont I, numa missão secreta em voo orbital. Encontra e é capturado por um disco voador. No interior da nave está um ser agonizante chamado Lid, oriundo do planeta Saturno. A espaçonave tinha sido atingida por um meteoro. Roberto Salles recebe as instruções do alienígena e consegue desviar a nave e chegar até Saturno. Recebe como recompensa de Lid (por ter arriscado a vida para salvar a do alienígena) o anel de luz negra feito com a energia magnética de Saturno que contém super-poderes, e, finalmente, volta à Terra, prometendo só usar o anel para o bem, assumindo uma nova identidade para combater os criminosos.[20] Roberto namora Marajoara Campos, filha do Coronel Campos.[7]
Seu principal inimigo é o Capitão Op-Art, cujo nome verdadeiro é Duarte Rodrigues, cientista especializado em robótica, formado na Alemanha e que foi afastado das Forças Armadas por desequilíbrio mental. Op-Art é inspirado fisicamente em Gedeone. O nome Op-Art é uma alusão ao movimento artístico homônimo, por conta do vilão usar ilusões psicodélicas para atacar seus inimigos.[21]
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