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Ácido gama-hidroxibutírico

composto químico Da Wikipédia, a enciclopédia livre

Ácido gama-hidroxibutírico
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O ácido gama-hidroxibutírico (GHB) começou a ser usado no início da década de 1990 como uma droga de abuso. Foi sintetizada como análogo do ácido gama-aminobutírico GABA, como o objetivo de se conseguir uma substância similar, capaz de atravessar a barreira hematoencefálica. Foi investigado como agente anestésico, porém devido aos seus efeitos colaterais (contrações musculares involuntárias e delírio) foi abandonado. Posteriormente foi usado como estimulador do crescimento muscular, efeito que não foi comprovado cientificamente. Por causar diminuição do nível de consciência, depressão respiratória e convulsões, foi banido pelo FDA americano (United States Food and Drug Administration). Como medicamento, em raros casos ainda são utilizados para o tratamento de distúrbio do sono e epilepsia. No Brasil, tem seu uso controlado, sendo a importação do medicamento regulamentada pelos controles da ANVISA. Como droga é produzido ilícitamente e permanece sendo frequentemente usado, quer individualmente "Droga" ou por terceiros como "Droga do Estupro" e "Boa Noite, Cinderela". Casos de morte tem sido descritos tanto no uso individual como droga e também no uso para a prática de crimes de estupro e furtos.

Factos rápidos Nomes, Identificadores ...
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História

  • 1874 - Primeira síntese documentada do composto GHB reportada por Alexander Zaytsev[5]
  • 1960 - Na década de 1960, um pesquisador francês Dr. Henri Laborit estudou os efeitos do GHB em seres humanos pesquisando seus efeitos nos neurotransmissores GABA[6] com o potencial anestésico. Sua primeira utilização médica foi indicada para anestesia intravenosa. Foi rejeitado porque provocava uma elevada frequência de vômitos e apoplexia.
  • 1963 - Descobriu-se que GHB é uma substância produzida pelo cérebro[carece de fontes?].
  • 1970 - O GHB foi indicado para o tratamento do sono em alguns casos.
  • 1980 - Foi muito utilizado como suplemento dietético por fisio-culturistas, devido à crença desta substância aumentar os músculos do corpo.
  • 1990 - Foi utilizado no tratamento da dependência do álcool e síndrome de abstinência de opiáceos.
  • 1991 - Food Drug Administration (FDA) retirou o GHB do mercado devido ao aumento de casos de abuso e de reações tóxicas por utilização desta droga.
  • 1997 - A partir de 1997, o GHB começou a ser conhecido como uma droga de violação sexual. O uso do GHB para a prática de crimes é utilizado porque podem existir os seguintes sintomas em doses elevadas:
1) perda de controle
2) desorientação
3) relaxamento muscular
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Usos do GHB

O GHB é usado, farmacologicamente, para o tratamento da narcolepsia, na forma de oxibato de sódio (Xyrem ®), da abstinência do álcool com o nome Alcover ® e como anestésico, na Alemanha, com o nome Somsanit ®. Também é usado como suplemento para dormir e para intensificar a libertação da Hormona do Crescimento.

É também usado como droga de abuso, em ambientes recreativos, pelos seus efeitos de euforia e perda de inibição, sendo frequente o uso concomitante com álcool e outras substâncias abusivas. Também está associado a situações de agressão sexual, já que provoca sonolência e amnésia. Na rua, é habitualmente conhecido como Líquido X, Líquido G, Georgia Home Boy, Ecstasy Líquido e Droga dos Violadores. Alternativamente, também são usados os seus percursores, a gama-butirolactona (GBL) e o 1,4-butanodiol (1,4-BD) para este abusivo, dada a facilidade de obtenção dos mesmos.

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Formação do GHB

O GHB pode ser formado endogenamente a partir do GABA ou a partir dos seus percursores.

  1. A partir da gama-butirolactona (GBL): as lactonases sanguíneas convertem este percursor no GHB[7]
  2. A partir do 1,4-butanodiol (1,4-BD): este composto é convertido, pela álcool desidrogenase, em 4-hidroxibutiraldeído, sendo que este é depois convertido a GHB pela aldeído desidrogenase[8]
  3. A partir do GABA: o GABA é convertido pela GABA transaminase em semialdeído succínico, que depois é convertido, pela GHB desidrogenase, em GHB.[7]

Mecanismo de ação

O GHB atua em dois recetores: o recetor do GHB, para o qual tem maior afinidade e por isso, são necessárias doses mais baixas de GHB, e o recetor de GABA B, para o qual o GHB tem menor afinidade, sendo necessárias doses mais elevadas, superiores às fisiologicamente presentes no cérebro.[8]

Em doses baixas, ela estimula a libertação da dopamina, levando a efeitos estimulantes, de perda de inibição. Em doses mais elevadas, ao ligar-se ao recetor GABA B, leva a efeitos inibitórios a nível pré-sinático, pela inibição do influxo de cálcio que impede a libertação de neurotransmissores como a serotonina e a dopamina, e a nível pós-sinático, já que leva ao efluxo do potássio.

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Toxicocinética

O GHB é rapidamente absorvido, tendo um início de ação entre 15 a 30 minutos, após a ingestão. Isto deve-se à presença dos transportadores de monocarboxilatos (MCT/SMCT) presentes no intestino. Além disso, estes transportadores estão também presentes em outros tecidos, levando à grande distribuição do GHB, que se encontra mais presente ao nível do cérebro, rim e fígado.[7][8]

Quanto ao metabolismo, a principal via é o metabolismo hepático, em que o GHB, pela atuação da GHB desidrogenase, passa a semialdeído succínico, que pode seguir duas vias:

  1. Pela GABA transaminase, dá origem a GABA
  2. Pela semialdeído succínico desidrogenase origina o ácido succínico, que entra no ciclo de Krebs e origina CO2 e água.

A quantidade de GHB excretada de forma inalterada na urina é muito reduzida.[9]

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Overdose

A overdose com a toma de GHB é bastante comum, já que tem uma margem de segurança bastante estreita, pelo facto de a diferença entre a dose recreativa e a dose tóxica ser bastante curta. Além disso, a habitual coingestão do GHB com outras substâncias, como o álcool, canábis, metanfetaminas, opioides, sedativos, entre outros, leva a um potencial de toxicidade aumentado.[10]

Os principais sintomas são bradipneia, bradicardia, convulsões, depressão do SNC, coma profundo, podendo em algumas situações levar à morte.[11]

Não existe antídoto para estas situações, sendo que o tratamento passa por cuidados de suporte, como é o caso da ventilação mecânica, no caso de depressão respiratória. No entanto, estão em estudo os inibidores de MCT-1, como o L-lactato e a luteolina, pois ao aumentarem a depuração renal do GHB, reduzem os efeitos sedativos.[7]

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Vício

O uso crónico de GHB leva a tolerância, dependência e ao síndrome de abstinência, com variados sintomas que surgem entre as 6 e as 72h após a toma de GHB.

Numa fase inicial da síndrome de abstinência, são comuns os tremores, miose, sudorese, taquicardia, palpitações, dispneia, náuseas, vómitos, diarreia, dores abdominais e ansiedade. Em casos mais graves, verifica-se hipertensão, insónia, agitação, paranoia, desorientação e agressividade, podendo ainda ocorrer depressão, psicose e agressão.[12]

O tratamento da síndrome de abstinência faz-se recorrendo a benzodiazepínicos, podendo ser associados a estes barbitúricos, baclofeno ou antipsicóticos.[13]

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Considerações sobre crimes

O uso do GHB para a prática de crimes de violação sexual e furtos merece uma atenção especial enquanto crime. Drogar a vítima para a prática de estupro e furto qualifica a gravidade do delito.

Ver também

Referências

  1. Witkowski, M.R. et al. (2006): GHB free acid: II. Isolation and spectroscopic characterization for forensic analysis. In: J. Forensic. Sci. Bd. 51, S. 330–339. PMID 16566766 doi:10.1111/j.1556-4029.2006.00074.x
  2. Hermann Römpp, Jürgen Falbe und Manfred Regitz: Römpp Lexikon Chemie. 9. Auflage, Georg Thieme Verlag, Stuttgart, 1992.
  3. M. Sylvia Stein (2003): Stellungnahme zur Nicht Geringen Menge von γ-Hydroxybuttersäure. In: Toxichem. Krimtech. Bd. 70, Nr. 2, S. 87–92. PDF
  4. Alexander Saytzeff (1874). «über die Reduction des Succinylchlorids». Liebigs Annalen der Chemie. 171: 258–290. doi:10.1002/jlac.18741710216
  5. H. Laborit, J.M. Jouany, J. Gerald, F. Fabiani (1960). «Generalities concernant l'etude experimentale de l'emploi clinique du gamma hydroxybutyrate de Na». Aggressologie. 1. 407 páginas
  6. Felmlee, Melanie A.; Morse, Bridget L.; Morris, Marilyn E. (8 de janeiro de 2021). «γ-Hydroxybutyric Acid: Pharmacokinetics, Pharmacodynamics, and Toxicology». The AAPS Journal (em inglês) (1). 22 páginas. ISSN 1550-7416. PMC 8098080Acessível livremente. PMID 33417072. doi:10.1208/s12248-020-00543-z. Consultado em 5 de maio de 2023
  7. Tay, Emma; Lo, Wing Kwan Winky; Murnion, Bridin (fevereiro de 2022). «Current Insights on the Impact of Gamma-Hydroxybutyrate (GHB) Abuse». Substance Abuse and Rehabilitation (em inglês): 13–23. ISSN 1179-8467. PMC 8843350Acessível livremente. PMID 35173515. doi:10.2147/SAR.S315720. Consultado em 5 de maio de 2023
  8. Schep, Leo J; Knudsen, Kai; Slaughter, Robin J; Vale, J Allister; Mégarbane, Bruno (julho de 2012). «The clinical toxicology of gamma-hydroxybutyrate, gamma-butyrolactone and 1,4-butanediol». Clinical Toxicology (em inglês) (6): 458–470. ISSN 1556-3650. doi:10.3109/15563650.2012.702218. Consultado em 5 de maio de 2023
  9. Dijkstra, B.A.G.; Beurmanjer, H.; Goudriaan, A.E.; Schellekens, A.F.A.; Joosten, E.A.G. (agosto de 2021). «Unity in diversity: A systematic review on the GHB using population». International Journal of Drug Policy (em inglês). 103230 páginas. doi:10.1016/j.drugpo.2021.103230. Consultado em 5 de maio de 2023
  10. Marinelli, Enrico; Beck, Renata; Malvasi, Antonio; Faro, Alfredo Fabrizio Lo; Zaami, Simona (1 de março de 2020). «Gamma-hydroxybutyrate abuse: pharmacology and poisoning and withdrawal management». Archives of Industrial Hygiene and Toxicology (em inglês) (1): 19–26. ISSN 1848-6312. PMC 7837237Acessível livremente. PMID 32597141. doi:10.2478/aiht-2020-71-3314. Consultado em 5 de maio de 2023
  11. Kamal, Rama M.; van Noorden, Martijn S.; Franzek, Ernst; Dijkstra, Boukje A.G.; Loonen, Anton J.M.; De Jong, Cornelius A.J. (2016). «The Neurobiological Mechanisms of Gamma-Hydroxybutyrate Dependence and Withdrawal and Their Clinical Relevance: A Review». Neuropsychobiology (em inglês) (2): 65–80. ISSN 0302-282X. doi:10.1159/000443173. Consultado em 5 de maio de 2023
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