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Crioulo cabo-verdiano
língua crioula de base portuguesa falada em Cabo Verde Da Wikipédia, a enciclopédia livre
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O crioulo cabo-verdiano ou língua cabo-verdiana é uma língua originária do Arquipélago de Cabo Verde. É uma língua crioula, de base lexical portuguesa. É a língua materna de quase todos os cabo-verdianos, e é ainda usada como segunda língua por descendentes de cabo-verdianos em outras partes do mundo.
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Nome e relevância
A designação mais correcta desta língua é «crioulo cabo-verdiano», mas no uso diário, a língua é simplesmente chamada de «crioulo» pelos seus falantes. O nome «cabo-verdiano» ou «língua cabo-verdiana» foi proposto para quando a língua estiver padronizada.
O crioulo cabo-verdiano reveste-se de particular importância para o estudo da crioulística pelo facto de se tratar de o crioulo (ainda falado) mais antigo, por ser o crioulo de base portuguesa com o maior número de falantes nativos, por ser o crioulo de base portuguesa mais estudado, e por ser um dos poucos crioulos em vias de se tornar uma língua oficial.
O crioulo cabo-verdiano reveste-se também de importância para o estudo diacrónico da língua portuguesa pelo facto de o crioulo ter conservado algum léxico, alguma fonologia e alguma semântica do português dos Sécs. XV a XVII.
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Classificação interna
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Apesar da pequenez territorial, a situação de insularidade fez com que cada uma das nove ilhas desenvolvesse uma forma própria de falar crioulo. Cada uma dessas nove formas é justificadamente um dialecto diferente, mas os académicos em Cabo Verde costumam chamá-las de «variantes», que é o termo que passaremos a empregar neste artigo.
Essas variantes podem ser agrupadas em duas grandes variedades. A Sul temos a dos crioulos de Sotavento que engloba as variantes de Brava, Fogo, Crioulo de Santiago e Maio. A Norte temos a dos crioulos de Barlavento que engloba as variantes de Boa Vista, Sal, São Nicolau, São Vicente e Santo Antão. Para mais pormenores, consultar os artigos referentes a cada uma das variantes.
As autoridades linguísticas em Cabo Verde consideram o crioulo como uma língua única, e não como línguas diferentes. Seguindo a política da Wikipédia, neste artigo não será favorecido, nem se incidirá sobre uma variante específica. O crioulo cabo-verdiano será tratado como uma língua única conforme tem sido a política da Wikipédia.
Como algumas formas lexicais do crioulo cabo-verdiano podem ser diferentes conforme as variantes, por convenção, as palavras e as frases serão apresentadas num modelo lexical de compromisso, numa espécie de «crioulo médio» de forma a poder ser apreendido por um falante de qualquer das variedades e para não ferir suscetibilidades. Sempre que necessário será apresentada, imediatamente depois da palavra, a transcrição fonémica (ou por vezes, a transcrição fonética) segundo o AFI. Quando as formas lexicais forem demasiadamente diferentes será apresentado depois da palavra (entre parêntesis) de que variante é originária a respectiva palavra.
Em alguns casos, o modelo lexical intermédio que será apresentado pode não existir, mas será usado por motivos de comparação linguística. Aqui vão dois exemplos:
- O verbo *lumbú /lũˈbu/ que significa «pôr às costas», e deriva da palavra portuguesa «lombo», já não existe. Sofreu uma dissimilação consonântica em Sotavento (bumbú /bũˈbu/), sofreu uma dissimilação vocálica em São Vicente e Santo Antão (lambú /lɐ̃ˈbu/) ou então os dois fenómenos em Boa Vista, Sal e São Nicolau (bambú /bɐ̃ˈbu/). No entanto, aqui neste artigo será utilizada a forma *lumbú.
- A palavra portuguesa «joelho» deveria ter evoluído regularmente para *djuêdju /ʤuˈeʤu/ em crioulo. No entanto, essa forma já não existe. Em Brava, Fogo e Santiago a forma é duêdju /duˈeʤu/, em Maio, Boa Vista, Sal e São Nicolau a forma é zuêdj’ /zuˈeʤ/, em São Vicente e Santo Antão a forma é juêi’ /ʒuˈej/. A antiga forma do crioulo cabo-verdiano pode ser atestada pelo crioulo guineense onde a palavra é djúdju /ˈʤuʤu/. Aqui neste artigo será utilizada a forma *djuêdju.
Para a ortografia que será usada neste artigo ver a secção Sistema de escrita.
De um ponto de vista linguístico as variantes mais importantes são as de Fogo, Santiago, São Nicolau e Santo Antão, e qualquer estudo profundo do crioulo deve ter em conta pelo menos estas quatro variantes. São as únicas ilhas que receberam escravos diretamente do continente africano, e são as ilhas que possuem características linguísticas mais conservadoras e mais distintas entre si[carece de fontes].
De um ponto de vista social as variantes mais importantes são as de Santiago e São Vicente, e qualquer estudo ligeiro do crioulo deve ter em conta pelo menos estas duas variantes. São as variantes dos dois principais núcleos urbanos (Praia e Mindelo), são as variantes com maior número de falantes e são as variantes que têm uma tendência glotofagista sobre as variantes vizinhas[carece de fontes].
O crioulo de São Vicente foi divulgado através dos poemas de Sérgio Frusoni. Por seu lado, o crioulo da Brava é conhecido através das mornas de Eugénio Tavares, o crioulo de Santo Antão pelos contos de Luís Romano de Madeira Melo e o crioulo do Fogo pela colectânea de contos de Elsie Clews Parsons.
Diferenças entre os crioulos:
Para mais exemplos consultar a Lista de Swadesh — Crioulo cabo-verdiano.
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Origens
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de Eugénio Tavares.
um dos primeiros livros com textos em crioulo.
A história do crioulo cabo-verdiano é difícil de traçar devido, primeiro, à falta de registos escritos desde a formação do crioulo, segundo, devido ao ostracismo a que o crioulo foi relegado durante a administração portuguesa.
Existem presentemente três teorias acerca da formação do crioulo cabo-verdiano.[5] A teoria eurogenética defende que o crioulo foi formado pelos colonizadores portugueses, numa simplificação da língua portuguesa de modo a torná-la acessível aos escravos africanos. É o ponto de vista de alguns autores como Prudent, Waldman, Chaudesenson, Lopes da Silva. A teoria afrogenética defende que o crioulo foi formado pelos escravos africanos, aproveitando as gramáticas de línguas da África Ocidental, e substituindo o léxico africano pelo léxico português. É o ponto de vista de alguns autores como Adam, Quint. A teoria neurogenética defende que o crioulo formou-se espontaneamente, não por escravos nascidos no continente, mas pela população nascida nas ilhas, aproveitando as estruturas gramaticais inatas com as quais todo o ser humano nasce. É o ponto de vista de alguns autores como Chomsky, Bickerton, que explicaria porquê que os crioulos localizados a quilómetros de distância apresentam estruturas gramaticais similares, mesmo sendo de base lexical diferente. O melhor que se pode dizer é que nenhuma dessas três teorias foi concludentemente provada.
Segundo A. Carreira,[6] o crioulo cabo-verdiano ter-se-ia formado a partir de um pidgin de base lexical portuguesa, na ilha de Santiago, a partir do Séc. XV. Esse pidgin seria depois transposto para a costa Ocidental da África através dos lançados. A partir daí, esse pidgin teria divergido em dois proto-crioulos, um que estaria na base de todos os crioulos de Cabo Verde, e outro que estaria na base do crioulo da Guiné Bissau.
Cruzando documentos referentes à colonização das ilhas com a comparação linguística é possível conjecturar algumas conclusões. A propagação do crioulo cabo-verdiano nas diversas ilhas foi feito em três fases:[7]
- Numa primeira fase foi colonizada a ilha de Santiago (2.ª metade do Séc. XV), e em seguida a do Fogo (fins do Séc. XVI).
- Numa segunda fase foi colonizada a ilha de São Nicolau (sobretudo na 2.ª metade do Séc. XVII), e em seguida a de Santo Antão (sobretudo na 2.ª metade do Séc. XVII).
- Numa terceira fase, foram colonizadas as restantes ilhas a partir de populações originárias das primeiras ilhas: Brava foi colonizada a partir de populações do Fogo (sobretudo no início do Séc. XVIII), Boa Vista foi colonizada a partir de populações de São Nicolau e Santiago (sobretudo na 1.ª metade do Séc. XVIII), Maio foi colonizada a partir de populações de Santiago e Boa Vista (sobretudo na 2.ª metade do Séc. XVIII), São Vicente foi colonizada a partir de populações de Santo Antão e São Nicolau (sobretudo no Séc. XIX), Sal foi colonizada a partir de populações de São Nicolau e Boa Vista (sobretudo no Séc. XIX).
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Situação a(c)tual
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Perspectiva
Apesar do crioulo ser a língua materna de quase toda a população de Cabo Verde, o português ainda é a única língua oficial. Entretanto há atualmente um movimento para tornar a língua oficial no país.[2][3][4] Como a língua portuguesa é utilizada na vida quotidiana (na escola, pela administração pública, em actos oficiais, etc.) o português e o crioulo vivem num estado de diglossia.[8] Em consequência desta presença generalizada do português, regista-se um processo de descrioulização em todas as variantes dos crioulos cabo-verdianos.
Atente-se neste texto fictício:
- Variante de Santiago:
- Quêl mudjêr cú quêm m’ encôntra ónti stába priocupáda púrqui êl sqêci dí sês minínus nâ scóla, í cándu êl bâi procurâ-’s êl câ olhâ-’s. Alguêm lembrâ-’l quí sês minínus sâ tâ pricisába dí material pâ úm pesquisa, entõ êl bâi encontrâ-’s nâ biblioteca tâ procúra úqui ês cría. Pâ gradêci â túdu quêm djudâ-’l, êl cumêça tâ fála, tâ flâ cômu êl stába contênti di fúndu di curaçãu.
- Variante de São Vicente:
- Quêl m’djêr c’ quêm m’ encontrá ônt’ táva priocupáda púrq’ êl sq’cê d’ sês m’nín’s nâ scóla, í cónd’ êl bái procurá-’s êl câ olhá-’s. Alguêm lembrá-’l qu’ sês m’nín’s táva tâ pr’cisá d’ material pâ úm pesquisa, entõ êl bâi encontrá-’s nâ biblioteca tâ procurá úq’ ês cría. Pâ gradecê â túd’ quêm j’dá-’l, êl c’meçá tâ fála, tâ dzê côm’ êl táva contênt’ d’ fúnd’ d’ curaçãu.
- Tradução para português:
- Aquela mulher com quem me encontrei ontem estava preocupada porque se esqueceu das suas crianças na escola, e quando as foi procurar não as viu. Alguém lhe lembrou que as suas crianças estavam a precisar de material para uma pesquisa, então ela foi encontrá-las na biblioteca a procurar o que elas queriam. Para agradecer a todos os que a ajudaram, ela começou a falar, dizendo como estava contente do fundo do coração.
Nota-se neste texto várias situações de descrioulização / intromissão do português:
- cú quêm / c’ quêm — estrutura do português «com quem»;
- encôntra / encontrá — léxico português, em crioulo seria mais comum átcha / otchá;
- priocupáda — léxico português, em crioulo seria mais comum fadigáda;
- púrqui / púrq’ — léxico português, em crioulo seria mais comum pamódi / pamód’;
- sês minínus / sês m’nín’s — estrutura do português (concordância dos plurais);
- procurâ-’s / procurá-’s — léxico português, em crioulo seria mais comum spiâ-’s / spiá-’s;
- olhâ-’s / olhá-’s — fonética do português (intromissão do fonema /ʎ/);
- quí — léxico português, a conjunção integrante em crioulo é ’mâ;
- sâ tâ pricisába / táva ta pr’cisá — léxico português, em crioulo seria mais comum sâ tâ mestêba / táva tâ mestê;
- material, pesquisa, biblioteca — palavras pouco comuns num basilecto; se são palavras em português usadas ao falar crioulo devem ser pronunciadas em português e escritas em itálico ou entre aspas;
- úqui / úq’ — intromissão do português «o que»;
- gradêci â / gradecê â — regência com preposição errada, a preposição «a» não existe em crioulo:
- fála — só em São Vicente e Santo Antão é que se usa a forma falá, nas outras ilhas é papiâ;
- cômu / côm’ — intromissão do português «como»;
- curaçãu — fonética do português (redução do fonema /o/ para /u/ e pronúncia /ɐ̃w/ em vez do crioulo /õ/);
O mesmo texto «corrigido»:
- Variante de Santiago:
- Quêl mudjêr quí m’ encôntra cú êl ónti stába fadigáda pamódi êl sqêci sês minínu nâ scóla, í cándu quí êl bâi spiâ-’s êl câ odjâ-’s. Alguêm lembrâ-’l ’ma sês minínu sâ tâ mestêba «material» pâ úm «pesquisa», entõ êl bâi atchâ-’s nâ «biblioteca» tâ spía cusê quí ês cría. Pâ gradêci pâ túdu quêm quí djudâ-’l, êl cumêça tâ pâpia, tâ flâ módi quí êl stába contênti di fúndu di coraçõ.
- Variante de São Vicente:
- Quêl m’djêr qu’ m’ encontrá má’ êl ônt’ táva fadigáda pamód’ êl sq’cê sês m’nín’ nâ scóla, í cónd’ êl bái spiá-’s êl câ oiá-’s. Alguêm lembrá-’l ’mâ sês m’nín’ táva tâ mestê «material» pâ úm «pesquisa», entõ êl bâi otchá-’s nâ «biblioteca» tâ spiá c’sê qu’ ês cría. Pâ gradecê pâ túd’ quêm qu’ j’dá-’l, êl c’meçá tâ fála, tâ dzê qu’ manêra qu’ êl táva contênt’ d’ fúnd’ d’ coraçõ.
Como consequência desta descrioulização existe um contínuo entre variedades basilectais e acrolectais.
Um pequeno inquérito estudantil levado a cabo em 2000 a alunos do 12.º ano de quatro escolas secundárias públicas de São Vicente e de Santo Antão revelou pouca receptividade ao uso do crioulo na sala de aulas. A razão principal é que o crioulo é uma língua de uso privado na vida quotidiana. Mas, assim que uma conversa se torna formal ou oficial, a língua portuguesa é sempre a preferida.
Apesar de o crioulo não estar oficializado, existe uma normativa governamental que defende a criação de condições necessárias para a oficialização do crioulo.[9] Essa oficialização ainda não foi efectivada sobretudo porque o crioulo não está normalizado, por vários motivos:
- Existe uma grande fragmentação dialectal. Os falantes opõem-se a falar uma variante que não seja a sua.
- Ausência de normas a estabelecer qual a forma correcta (e grafia) a ser adoptada para cada palavra. Por ex.: apenas para a palavra correspondente à palavra portuguesa «algibeira», A. Fernandes[10] regista as formas algibêra, agibêra, albigêra, aljubêra, alj’bêra, gilbêra, julbêra, lijbêra.
- Ausência de normas a estabelecer quais os limites lexicais a serem adoptados. É frequente os falantes do crioulo, ao escrever, juntarem classes gramaticais diferentes.[11] Por ex.: pâm… em vez de pâ m’… «para que eu…».
- Ausência de normas a estabelecer quais as estruturas gramaticais a serem adoptadas. Não são apenas diferenças dialectais, até numa só variante encontram-se flutuações. Por ex.: na variante de Santiago, quando existem duas orações e uma é subordinada à outra, existe concordância nos tempos dos verbos (bú cría pâ m’ dába «tu querias que eu desse»), mas alguns falantes não a praticam (bú cría pâ m’ dâ ou bú crê pâ m’ dába).
- O sistema de escrita adoptado (ALUPEC) não foi bem aceite por todos.
- Ainda não estão estabelecidos os níveis de linguagem: familiar, formal, informal, científico, gíria, etc.
É por esse motivo que cada falante ao falar (ou a escrever) utiliza o seu próprio dialecto, o seu próprio sociolecto, o seu próprio idiolecto.
Para ultrapassar estes problemas, alguns autores[12] defendem um processo de normalização dos crioulos de Sotavento em torno da variante de Santiago e outro processo de normalização dos crioulos de Barlavento em torno da variante de São Vicente. Assim sendo, o crioulo tornar-se-ia numa língua pluricêntrica.
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Sistema de escrita
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Apesar de o ALUPEC ser o único sistema de escrita oficialmente reconhecido pelo governo de Cabo Verde, a mesma lei permite o uso de outros modelos de escrita, «desde que apresentados de forma sistematizada e científica». Por esse motivo, como nem todos os leitores estão familiarizados com o ALUPEC ou com o AFI, nos artigos do Wikipédia sobre o crioulo cabo-verdiano foi adoptado um sistema de escrita alternativo:
- O som /s/ será representado de um modo etimológico, isto é, se em português é escrito com ç em crioulo é escrito com ç, se em português é escrito com ss em crioulo é escrito com ss, etc..
- O som /z/ será representado de um modo etimológico, isto é, se em português é escrito com s em crioulo é escrito com s, se em português é escrito com z em crioulo é escrito com z.
- O som /ʧ/ será representado por tch.
- O som /ʤ/ será representado por dj.
- O som /ʃ/ será representado de um modo etimológico, isto é, se em português é escrito com ch em crioulo é escrito com ch, se em português é escrito com x em crioulo é escrito com x.
- O som /ʒ/ será representado de um modo etimológico, isto é, se em português é escrito com g em crioulo é escrito com g, se em português é escrito com j em crioulo é escrito com j.
- O som /k/ será representado de um modo etimológico, isto é, se em português é escrito com c em crioulo é escrito com c, se em português é escrito com qu em crioulo é escrito com qu.
- O som /ɡ/ será representado de um modo etimológico, isto é, se em português é escrito com g em crioulo é escrito com g, se em português é escrito com j em crioulo é escrito com j.
- A escolha entre a letra m, n ou o til para representar a nasalidade das vogais é feita segundo uma base etimológica, ou seja, se em português é escrito com m em crioulo é escrito com m, se em português é escrito com n em crioulo é escrito com n, se em português é escrito com til em crioulo é escrito com til.
- A sílaba tónica leva sempre acento gráfico; estamos conscientes que é uma sobrecarga de acentos mas é a única maneira de representar inequivocamente a sílaba tónica e o grau de abertura da vogal, simultaneamente.
- Para representar uma vogal que foi eliminada usa-se o apóstrofo ’.
Convém referir que esse sistema de escrita é adoptado neste artigo da Wikipédia apenas para simplificar aos leitores. Não se trata de nenhum sistema oficial, nem deve ser indicado como referência para a escrita do crioulo cabo-verdiano.
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Vocabulário
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O vocabulário do crioulo cabo-verdiano vem em grande parte do português. Embora as diversas fontes não estejam de acordo, os números oscilam entre 90 a 95 % de palavras originárias do português. O restante provém de diversas línguas da África Ocidental (mandinga, uolofe, fula, balanta, manjaco, temne, etc.), e o vocabulário proveniente de outras línguas é diminuto (inglês, francês, latim, etc.).
A página das Etimologias do Dicionário Caboverdiano Português On-Line fornece uma ideia de diferentes origens do vocabulário cabo-verdiano.
O crioulo manteve alguns vocábulos que já caíram em desuso no português contemporâneo. Outros vocábulos, embora persistem no português contemporâneo, ou mantiveram o significado que tinham outrora, ou sofreram evoluções semânticas. Por exemplo:
Palavra em crioulo | Significado que tem em português | Significado que tem em crioulo |
afrónta | afronta, desafio | desespero, inquietação |
botâ | colocar, pôr | arremessar, atirar |
confortâ | confortar, dar conforto | resignar-se |
fadíga | cansaço, fadiga | arrelia, preocupação |
fúscu | fusco, obscuro | bêbado |
limária | do português «alimária» | animal de pecuária |
máncu | do português «manco» | coxo |
papiâ | do português «papear» | falar |
pintchâ | do português «pinchar» | empurrar |
pólpa | polpa, parte carnuda das frutas | nádegas |
pupâ | do português «apupar» | gritar |
tchêu | cheio | muito, muita, muitos, muitas |
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Fonologia
O crioulo cabo-verdiano possui os seguintes fonemas (segundo o AFI):
Vogai
anteriores não-arredondadas | centrais não-arredondadas | posteriores arredondadas | |
fechadas | /i/, /ĩ/ | /u/, /ũ/ | |
semifechadas | /e/, /ẽ/ | /o/, /õ/ | |
semiabertas | /ɛ/, /ɛ̃/ | /ɐ/, /ɐ̃/ | /ɔ/, /ɔ̃/ |
abertas | /a/, /ã/ |
Consoantes e semi-vogais
labiais | apicais | pré-dorsais | pós-dorsais | |||||
nasais | /m/ | /n/ | /ɲ/ | /ŋ/ | ||||
oclusivas e africadas | /p/ | /b/ | /t/ | /d/ | /ʧ/ | /ʤ/ | /k/ | /g/ |
fricativas | /f/ | /v/ | /s/ | /z/ | /ʃ/ | /ʒ/ | ||
semi-vogais | /w/ | /j/ | ||||||
vibrantes | /ɾ/ | /ʀ/ | ||||||
laterais | /l/ | /ʎ/ |
Para mais pormenores:
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Gramática
A gramática do crioulo cabo-verdiano é significativamente diferente da gramática do português. Em contrapartida, apresenta muitas similaridades com outros crioulos, quer sejam de base portuguesa ou não.
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Exemplos de crioulo cabo-verdiano
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Exemplo 1 (variante de Santiago)
Excerto da letra de Dôci Guérra da autoria de Antero Simas. A letra completa pode ser encontrada (com uma ortografia diferente) em CABOINDEX » Doce Guerra.
Exemplo 2 (variante de São Vicente)
Excerto da letra de Nôs Ráça da autoria de Manuel d’ Novas. A letra completa pode ser encontrada (com uma ortografia diferente) em Cap-Vert :: Mindelo Infos :: Musique capverdienne: Nos raça Cabo Verde / Cape Verde.
Exemplo 3
Tradução livre por parte de (?) do 1.º artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos
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Referências
- Santos, Carlos, «Cultura e comunicação: um estudo no âmbito da sociolinguística»
- Carreira, António (1982)
- Pereira, Dulce (2006)
- Duarte, D. A. (1998)
- Resolução n.º 48/2005 (Boletim Oficial da República de Cabo Verde – 2005)
- Fernandes, Armando Napoleão Rodrigues (1969)
- Pereira, Dulce, «Pa Nu Skrebe Na Skola Arquivado em 18 de setembro de 2007, no Wayback Machine.»
- Veiga, Manuel (2002)
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Bibliografia
Ligações externas
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