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Entradas e Bandeiras
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Entradas e Bandeiras são designações convencionais de diversas expedições, organizadas e compostas por membros da sociedade civil brasileira, que tinham por objetivo a exploração territorial das possessões portuguesas no continente americano, bem como a captura e escravização de indígenas.
Essas expedições tiveram início nos primórdios da colonização, no século XVI, e término em meados do século XVIII, contribuindo para expansão territorial das possessões portuguesas para além dos limites estabelecidos no Tratado de Tordesilhas e delimitando as fronteiras do Brasil atual; embora não tivessem esse objetivo.
É comum a utilização do termo “monções” para designação das expedições que seguiam por vias fluviais.[1][2]
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Estrutura

Fatores como: objetivos, número de componentes, experiência do grupo, distância a percorrer, tempo de viagem e financiamento, eram variáveis determinantes da estrutura de uma expedição. Qualquer generalização que se faça sobre o assunto, estará distante da realidade.
Apesar disso, é possível dizer que, nas Bandeiras paulistas, seus integrantes eram quase todos mamelucos e índios que utilizavam, em larga escala, armas indígenas como: arco e flecha, borduna[nota 1] e azagaia. A alimentação era a ofertada pela floresta, obtida pela caça, pesca e coleta de frutas e raízes.
Ao contrário do que retrataram artistas plásticos, em seus quadros e esculturas, os bandeirantes não usavam roupas de boa qualidade e nem botas. Usavam roupas rústicas, de algodão, e andavam descalços. Alguns enrolavam tiras de couro nas pernas, para protegê-las, e colete de couro, acolchoado, que os protegia, precariamente, das flechas inimigas.
As monções eram expedições mais bem estruturadas que as terrestres: contavam com animais, para o transporte das armas e víveres; barcos largos, que permitiam o transporte dos animais; e outras coisas mais.
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Resenha histórica
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Por tratar-se de organizações civis, essas expedições nem sempre estavam vinculadas aos interesses da Coroa Portuguesa,[nota 2] mas sim, aos interesses de seus financiadores.
Atribuiu-se o nome de Entradas, genericamente, às expedições predominantemente financiadas pela Coroa Portuguesa. O nome Bandeira, que provavelmente tem origem no costume tupiniquim de se levantar uma bandeira em sinal de guerra, é atribuído às expedições predominantemente financiadas por membros da sociedade civil; especialmente às que partiram de São Paulo.[2]
As Entradas e as Bandeiras estão diretamente relacionadas com a escravização do índio, elemento fundamental para os planos de colonização do território brasileiro. A expansão territorial das possessões portuguesas, para além dos limites estabelecidos no Tratado de Tordesilhas, não foi uma coisa planejada pela Coroa Portuguesa, mas sim, consequência da caça aos índios e da busca de minérios a que se dedicavam as Bandeiras paulistas.[3]
Apesar do grande número de estudos sobre o assunto, são enormes as divergências encontradas na historiografia brasileira. Muitos pontos permanecem obscuros e as dificuldades na obtenção de informações detalhadas sobre as formações desses grupos são, em grande parte, responsáveis pelas divergências entre os autores.[2] Relatos extremistas, que descrevem as Bandeiras como expedições organizadas por bravos heróis, ou por desprezíveis facínoras, na maioria das vezes servem a interesses político-ideológicos e não correspondem à verdade.
A partir do final do século XX, o repúdio à escravização do índio e à destruição de quilombos, deu origem a uma série de críticas às Bandeiras. Os bandeirantes, antes lembrados como heróis, passaram a ser vistos como facínoras; o que é um erro, pois não devemos julgar as ações do passado utilizando a moral do presente. As ações humanas devem ser analisadas e avaliadas de acordo com a moral e as leis de sua época.[4]
A escravidão só passou a ser entendida como algo abominável e inaceitável a partir do século XIX. Até então, ela fora aceita e praticada em todos os continentes, por quase todos os povos, e nem sempre tinha relação com diferenças étnicas. Um indivíduo podia tornar-se escravo por diversos motivos, como: ter sido derrotado em uma guerra; ter contraído dívidas e não ter conseguido pagá-las; ter cometido um crime; ter se oferecido como escravo em troca de alimentos ou bens para a salvação de seus familiares; ser considerado culturalmente inferior; entre outros.[5]
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Entradas
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As Entradas precederam as Bandeiras.
Organizadas e financiadas pela Coroa Portuguesa, as primeiras Entradas, ocorridas no norte e nordeste do país, tiveram como objetivo a exploração territorial, o mapeamento, o estabelecimento de currais para criação de gado e roçados para agricultura acessória. Depois as incursões passaram a ter os mais variados objetivos como: conquista de territórios ocupados por índios; captura de índios para o trabalho escravo nas lavouras; prospecção de minérios e pedras preciosas; reconhecimento das drogas do sertão e captura de negros escravos fugitivos, entre outros.
A necessidade de mão de obra para as lavouras e a possibilidade de obtenção de riqueza, com a descoberta de minérios e pedras preciosas, eram as motivações principais dos sertanistas.[1] Além disso, também buscavam a obtenção de títulos, honras e benefícios, como prêmios pelos serviços prestados à Coroa. Esses títulos eram carregados de simbolismo e garantiam uma invejável ascensão social.[2]
Quando os portugueses iniciaram a monocultura de cana-de-açúcar, nas regiões norte e nordeste da colônia, logo perceberam que a mão de obra indígena não apresentava os resultados desejados. Além disso, interesses comerciais internacionais pressionaram a Coroa Portuguesa a desistir dos escravos indígenas, substituindo-os por escravos africanos; o que logo foi feito.[6] Com a entrada da mão de obra africana, as Entradas para o sertão diminuíram naquelas regiões.
Destaques
Algumas Entradas
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Bandeiras
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Se a mão de obra africana acabou tomando o lugar da mão de obra indígena, nas grandes lavouras de cana-de-açúcar das regiões norte e nordeste da colônia, o mesmo não ocorreu na vila de São Paulo de Piratininga.
Fora do eixo econômico da colônia, São Paulo tinha uma população pobre, que praticava a lavoura de subsistência e não tinha condições de comprar escravos africanos.[7] As miseráveis condições sociais que imperavam na vila de São Paulo motivaram os paulistas a continuar adentrando o sertão em busca do índio. Mais tarde, passaram a buscar também, minérios e pedras preciosas.
Na vila de São Paulo, o trabalho do índio era importante não apenas nas lavouras e propriedades de seus senhores, mas também na manutenção e limpeza de logradouros públicos, caminhos, pontes e edificações, sendo uma espécie de escravo público que prestava serviços para o bem comum.[3]
Em 1570, a Coroa Portuguesa proibiu a caça aos índios. Apesar de não proibir a escravidão, a carta régia impunha que os índios só poderiam ser apreendidos e escravizados nas chamadas Guerras Justas, que só podiam ser decretadas pelo Rei.[8] A determinação caiu como uma bomba sobre a cabeça dos paulistas, que em 1585 apresentaram um longo requerimento ao capitão-mor da província, Jerônimo Leitão, onde pediam autorização para iniciar guerra contra os índios Carijós.[3]
Pressionado pelos paulistas, mas sem poder desacatar a determinação real, Jerônimo Leitão autorizou a formação de uma Bandeira, não para caçar índios, mas para persuadi-los, por vias pacíficas, a se tornarem escravos. Mas o texto fazia a seguinte observação:
“ | "... não querendo vir o dito gentio com estas condições em tal caso o dito capitão com os que em sua companhia estiverem tomará determinação de como se há de tratar com o gentio que não quiser vir em paz ..." (Ibid., p. 279-280) | ” |
Absurdamente criava-se a possibilidade de que índios selvagens, que viviam livremente em suas aldeias, distantes da vila, pudessem desejar se tornar escravos. Mas se eles não desejassem, o capitão da Bandeira estava autorizado a adotar as medidas que julgasse necessárias para “convencê-los”.
Movidos pela necessidade de conseguir mão de obra barata, e amparados por decisões legais semelhantes a essa, os paulistas continuaram organizando Bandeiras de caça aos índios. Com o passar dos anos, tornaram-se hábeis guerreiros, conhecedores das matas. Percorreram longas distâncias e fundaram povoados que depois viraram cidades.[3]
Não eram apenas os proprietários rurais que faziam uso da mão de obra indígena. A pretexto de inserir o índio na sociedade, dentro dos princípios cristãos, os padres jesuítas domesticavam e profissionalizavam o índio. Depois faziam uso dessa mão de obra em suas propriedades, que não eram poucas. Apesar de não fazerem uso da força, o trabalho dos jesuítas também era de exploração da mão de obra indígena, e não contava com apoio da Coroa Portuguesa nem da Igreja Católica.
Se, para os bandeirantes, convencer índios selvagens a se tornarem escravos era algo improvável, o mesmo não ocorria para com os índios domesticados pela Companhia de Jesus. Acostumados ao trabalho junto aos jesuítas, e submetidos à rígida disciplina cristã, os índios a serviço dos padres tornaram-se presas fáceis dos bandeirantes, que não necessitavam empreender muitos esforços para convencê-los a servir outro senhor. O alvo das Bandeiras passou a ser as missões jesuíticas distantes da Vila de São Paulo, mas os padres do planalto tomaram as dores de seus colegas e começaram a excomungar os bandeirantes. Os habitantes de São Paulo ficaram do lado dos bandeirantes e também começaram a ser excomungados. Os atritos terminaram com a expulsão dos jesuítas de São Paulo, em 13 de julho de 1640, e as Bandeiras de caça aos índios continuaram.[3]
Bandeiras de prospecção

Em meados do século XVII, São Paulo começou a organizar Bandeiras destinadas à procura de minérios, as chamadas Bandeiras de prospecção. Por volta de 1677, Manoel Borba Gato e Garcia Rodrigues Paes Leme, remanescentes da Bandeira de Fernão Dias, encontram ouro nas proximidades do Rio das Velhas, onde hoje estão as cidades mineiras de Sabará e Lagoa Santa.[9] Também descobriram ouro na Serra do Sabarabuçu e nos ribeirões do Carmo e do Tripuí.
Por conta da descoberta do ouro, em 1720 a capitania de São Paulo foi dividida, criando-se a Capitania de Minas Gerais.
Bandeiras de contrato
Em meados do século XVII, os paulistas começaram a ser contratados por proprietários rurais do norte e nordeste do país, e pela própria Coroa Portuguesa, para uma espécie de atividade mercenária. Os contratos tinham por objetivo a criação de Bandeiras para combater índios hostis e destruir quilombos.
Bandeiras paulistas destruíram, por contrato, a Confederação dos Cariris, no Ceará e no Rio Grande do Norte. Em 1694, a Bandeira de Domingos Jorge Velho, contratada pelo governador de Pernambuco, Caetano de Melo e Castro, destruiu o Quilombo dos Palmares, símbolo da resistência negra por mais de um século.[10]
Destaques
Algumas Bandeiras
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Notas
Ver também
Referências
- Antônio A. da Costa e Paulo S. C. Farias (2009). «Formação Territorial do Brasil - Aula 5» (PDF). 06/07/2010. Consultado em 30 de novembro de 2019
- Leandro Santos de Lima (2011). «Bandeirismo Paulista:O avanço na colonização e exploração do interior do Brasil» (PDF). Consultado em 30 de novembro de 2019
- Pacheco Neto, Manuel (2015). «A escravização indígena e o bandeirante no Brasil colonial» (PDF). Consultado em 30 de novembro de 2019
- Luiz Gilberto Kronbauer. «Moral e História» (PDF). Consultado em 30 de novembro de 2019
- Érica Turci. «História da Escravidão». Consultado em 30 de novembro de 2019
- Heverton Nascimento (1 de outubro de 2011). «Por que os africanos foram escravizados no Brasil?». Consultado em 30 de novembro de 2019
- Volpato, Luíza (1985). Entradas e Bandeiras. [S.l.]: Global. 45 páginas
- Marcos Costa (2016). História do Brasil para quem tem pressa. [S.l.]: Valentina
- Revista Mineração Sustentabilidade (1 de novembro de 2011). «Berço do ouro». Consultado em 30 de novembro de 2019
- Jefferson Evandro Machado Ramos (22 de setembro de 2008). «Sertanismo de contrato». 22/09/2008. Consultado em 30 de novembro de 2019
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