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Língua cebuana
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A língua cebuana ou vissaiana (em cebuano: Sinugboanon ou Binisaya)[nota 1] é um idioma da família austronésia e uma das línguas regionais das Filipinas, a língua franca de Mindanau e das ilhas Vissaias.
Com aproximadamente 24,3 milhões de falantes, o cebuano é a segunda língua mais falada das Filipinas e a maior do subgrupo vissaiano, sendo o idioma indígena do povo vissaiano, nativos das ilhas de Cebu, Bojol, Siquijor, Negros, Leyte e Mindanau; a maior comunidade de diáspora cebuana se localiza nos Estados Unidos. Entre o período da independência e da década de 1970, o cebuano foi a língua com o maior número de falantes nativos no país, superando o tagalo filipino.[2] Apesar disso, o baixo prestígio histórico da língua, tanto na esfera doméstica quanto internacional, classifica o idioma como em estado potencialmente vulnerável de acordo com as métricas da UNESCO.[3][4]
Estima-se que os ancestrais linguísticos do cebuano já eram falados na ilha de Cebu no quarto milênio a.C. e que o sistema de escrita Bayabayin Badlit, de influência indiana, já era utilizado para registrar o cebuano desde, ao menos, o século XVI. Contudo, nenhum texto original da literatura indígena resistiu à conquista espanhola das Filipinas e a documentação mais antiga sobrevivente da língua é uma lista de vocabulário produzida por Antonio Pigafetta em 1521, durante a expedição de Fernão de Magalhães às ilhas Molucas. Com a decadência das elites vissaianas pela colonização do arquipélago, as variantes literárias do cebuano registradas nos textos espanhóis de gramática e catequese foram fossilizadas; atualmente, suas estruturas e vocabulário são irreconhecíveis aos falantes nativos senão em contextos culturais tradicionais específicos.[5]
Na tipologia linguística, o cebuano é caracterizado por seu inventário fonológico simples, sua estrutura silábica simples, morfologia flexiva e aglutinante, sua estrutura sintática verbo-sujeito-objeto com o alinhamento simétrico e pelo fenômeno da inclusividade nos pronomes pessoais.[3]
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Etimologia
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O termo cebuano é um exônimo e, entre todos os nomes possíveis do idioma, é o mais internacionalmente conhecido para referenciar a língua cebuana; sua etimologia deriva do castelhano com a sufixação Cebu + -ano, transformando o nome da ilha em adjetivo. A versão em língua tagalo deriva dessa construção latina, diz-se sebwano.[nota 2] Por sua vez, o nome de Cebu tem sua origem no termo do cebuano antigo para «comércio», sibo, que é uma metonímia da expressão sinibu-ayng bingpit, significando «lugar para comércio pleno» em referência ao porto da cidade.[6]
Há dois endônimos para a língua cebuana e ambos são utilizados amplamente dependendo do contexto. O nome Sinugboanon[nota 3] é formado pela afixação Sugbo + -in- + -anon; Sugbo é o nome cebuano da Cidade de Cebu, que significa «queimado» em cebuano antigo, remontando a lenda de fundação da cidade; o infixo -in- transforma o nome da cidade em adjetivo, sinugbo é o equivalente a «à moda de Sugbo»; por fim, o sufixo -anon indica uma outra adjetivação, sinugboanon traduz-se para «[língua] com as características à moda de Sugbo». O nome Binisaya[nota 4] é composto de maneira parecida, Bisaya + -in-; Bisaya é o nome cebuano para o arquipélago das Vissaias;[nota 5] similarmente, o infixo -in- adjetiva o substantivo próprio, significando «[língua] à moda de Bisaya». Pelo fato de os termos referenciarem diferentes localidades, os habitantes da ilha de Cebu, sobretudo os da Cidade de Cebu, são mais propensos a utilizarem o nome Sinugboanon enquanto os falantes nativos do cebuano em outras ilhas geralmente preferem Binisaya.[7]
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Distribuição
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O cebuano é uma língua de distribuição geograficamente limitada, sendo principalmente um idioma étnico associado ao povo vissaiano e à macrorregião do arquipélago Malaio. São aproximadamente 24,3 milhões de falantes distribuidos nas regiões filipinas de Bicol, Vissaias Ocidentais, Vissaias Centrais, Vissaias Orientais, Península de Zamboanga, Mindanau Setentrional, Davau, Soccsksargen, Caraga e Bangsamoro. Em 2020, o governo filipino[8] estimou que 95,5% da população dessas regiões é alfabetizada no alfabeto abakada.[3][9]
As principais comunidades de falantes de cebuano fora das Filipinas estão localizadas no Havaí, Canadá, Austrália e Nova Zelândia, somando aproximadamente cem mil falantes.[1][3]
Dialetos

Os falantes de cebuano, distribuídos no arquipélago filipino, se dividem em dialetos de acordo com as separações geográficas. O dialeto da Cidade de Cebu é considerado a variante padrão da língua, sendo a mais prestigiada e a única disseminada fora de sua ilha natal. Tanangkingsing (2009)[10] classifica a seguinte divisão: as ilhas de Leyte, Bojol e Negros têm seus próprios dialetos; o dialeto de Zamboanga é separado da variante falada no restante da ilha de Mindanau.[5]
Línguas relacionadas

Como uma língua austronésia do subgrupo das malaio-polinésias, o cebuano tem uma forte relação com a maioria dos grandes idiomas falados nas ilhas do oceano Índico e do Pacífico; especificamente línguas indígenas da Malásia, da Indonésia, de Madagascar, das Filipinas, de Taiwan e da Oceania insular em geral.[12]

Meridional
Cebuano
Central
de Banton
Ocidental
Além disso, o idioma cebuano faz parte de um contínuo dialetal que compreende a região geográfica das Vissaias, sendo ele o grupo dialetal intermediário entre os conjuntos meridional e central. Tanangkingsing (2009)[2] descreve a seguinte organização das línguas vissaianas:
Contínuo dialetal vissaiano |
| |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
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Fonologia
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Assim como outras línguas malaio-polinésias, o cebuano possui um inventário de fonemas relativamente pequeno de somente 19 fones plenamente distintos. Por se tratar de um idioma com pouca institucionalização e alta variação dialetológica, o conteudo desta seção se refere, em geral, à variante formal da Cidade de Cebu, entendida academicamente como a variante padrão do cebuano.[13]
Consoantes

O inventário consonantal do cebuano é composto de 16 fones, dos quais nenhum é particular ao idioma. As principais diferenças em relação ao português são: a presença explícita da parada glotal; a ausência de fones comuns como as demais sibiliantes; e a dentalização.[14]
A vibrante múltipla /r/ pode ser substituída por outros sons róticos, como [ɾ] ou [ɹ], sem prejuízo à compreensão, fenômeno especialmente frequente entre falantes influenciados pelo uso do inglês.[14]
- O fone /w/ é, mais especificamente a aproximante labiovelar, ou seja, é uma consoante articulada em dois pontos; por isso, ela ocupa duas células na tabela.
Vogais

O inventário vocálico do cebuano é composto de somente três fonemas plenamente distintos. São eles: a vogal /ɪ/, que pode variar em [ɪ] (padrão), em [i] e em [ɛ]; a vogal /ʊ/, que pode variar em [ʊ] (padrão), em [u] e em [ɔ]; e a vogal /ʌ/, que não varia na pronúncia padrão, mas é alófona de [a].[15]
Acerca das variações, a diferença nas realizações [ɪ]/[i] e [ʊ]/[u] é sutil, esses pares são alófonos internos para fins de análise fonêmica. A inclusão dos fones [ɛ] e [ɔ] ocorre mediante palavras de empréstimo e certas transformações fonológicas específicas, essas vogais possuem suas próprias notações ortográficas ⟨e⟩ e ⟨o⟩ respectivamente. Apesar disso, a tolerância a essas variações é suficiente para que as diferentes realizações não prejudiquem o entendimento das palavras; Nelson (1964)[16] e Endriga (2010)[15] postulam que os três fonemas estão em variação livre interna.
Transformações fonológicas

Devido à alta variação dialetológica e ao espaçamento geográfico entre os grupos dialetais, alguns sons específicos são realizados de maneira diferente da variante padrão em ambientes fonéticos específicos.
Na Cidade de Cebu e em Bojol, o fone /l/ é realizado como um /w/ em ambiente intervocálico entre /ʌ/ e /ʊ/, e vice-versa, de forma que o /ʊ/ é deletado. Exemplo: [pʊˈlʌ] → [ˈpwʌ] «vemelho». Há também, na Cidade de Cebu e em Bojol, o caso em que o /l/ intervocálico é deletado quando ocorre entre duas vogais iguais; nessa situação, a vogal sempre se torna longa quando o /l/ deletado não é o ataque da antepenúltima sílaba. Exemplo: [kʌˈlʌjɔ] → [kʌːˈjɔ] «fogo»; [kʌˌlʌˈmʊŋgʌj] → [kʌˈmʊŋgʌj] «moringa».[17]
Particularmente no dialeto bojolano, o fone /r/ é sempre realizado como o fone /d/ em ambiente intervocálico. Além disso, no bojolano, o fone /j/ se transforma em [d͡ʒ] sempre que ocorre como ataque de uma sílaba. Exemplo: [ˈjʊtʌ] → [ˈd͡ʒʊtʌ] «terra, solo».[14][18]
Fonotática

Assim como a maioria das línguas austronésias, o cebuano possui uma estrutura silábica simples de padrão (C)(C)V(C). Os tipos mais comuns são a sílaba aberta CV (consoante-vogal) e a sílaba fechada CVC (consoante-vogal-consoante). Apesar de seram raramente atestados em palavras nativas, encontros consonantais do tipo C1C2V(C) são mais comuns em empréstimos do espanhol e do inglês, nos quais C2 é uma semivogal ou uma rótica.[19]
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Ortografia
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Assim como a maioria dos idiomas austronésios, o cebuano é atualmente grafado com o alfabeto latino. Contudo, a escrita já era conhecida no arquipélago desde, pelo menos, o século XVI. Até a introdução de missionarios espanhóis, o cebuano era escrito com o sistema Baybayin, um alfassilabário; ou seja, um sistema no qual cada símbolo representa uma sílaba que possui uma consoante dominante e sua vogal alterada de acordo com a aplicação de diacríticos.
Abakada
O sistema Abakada é uma adaptação do alfabeto latino para as línguas filipinas; ele possui somente 20 letras, excluindo ⟨c⟩, ⟨f⟩, ⟨j⟩, ⟨k⟩, ⟨q⟩, ⟨v⟩ e ⟨z⟩, mas incluindo o dígrafo ⟨ng⟩.[20]
Originalmente, o Abakada foi desenvolvido por Lope K. Santos em 1939, durante a ocupação estadunidense do arquipélago, para a escrita da «língua nacional» das Filipinas, uma variante padronizada do tagalo. A iniciativa substituiu o alfabeto espanhol nas demais línguas nativas, mas ele não é mais utilizado nacionalmente desde 2013, quando a Comissão sobre a Língua Filipina publicou uma reforma na ortografia nacional.[21]
Badlit


O Badlit (ᜊᜇ᜔ᜎᜒᜆ᜔), chamado de Baybayin em tagalo, é a escrita pré-colonial do arquipélago filipino. Trata-se de um abugida da família brâmica, grupo de sistemas de escrita com origem indiana descendentes do Brami, com forte influência do Grantha. Sua ordem de escrita moderna é da esquerda para a direita, mas era tradicionalmente escrito de baixo para cima.[22][23]
Historicamente, o Badlit era utilizado para registrar passagens curtas como poesia e anúncios públicos, sendo engravado em tiras de bambu. Com a conquista espanhola do arquipélago filipino, o sistema de escrita caiu em desuso e nenhum dos textos pré-contato sobreviveu à colonização. Entretanto, há iniciativas contemporâneas para reviver o Badlit/Baybayin, sobretudo na cultura popular como um estilo artístico de patriotismo. Desde 2016, tramita uma proposta de lei[24] no Congresso das Filipinas que declararia o Baybayin como o "sistema de escrita nacional", a iniciativa foi aprovada pelo Comitê sobre a Educação Básica e Cultura em 2018, mas a medida ainda não foi à votação.[25]
Em conformação com a fonologia cebuana, há somente três diacríticos que simbolizam as vogais no silabário abugida Badlit; a ausência de diacrítico indica a vogal /ʌ/, chamada de inerente, e o diacrítico virama suprime a vogal da sílaba. As vogais também podem ser representadas como unidades próprias, sendo independentes das consoantes. Além disso, os fone /r/ é representado pela mesma unidade do /d/.
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Gramática
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Apesar de as notáveis diferenças de sotaque e léxico entre as variedades do cebuano, as estruturas gramaticais são comuns ao contínuo dialetal vissaiano. As maiores divergências estão entre o cebuano falado e o cebuano literário. Para este artigo, utilizam-se fontes do cebuano falado.[26]
Pronomes
Na linguística da gramática cebuana, os pronomes são classificados junto aos substantivos, formando uma mesma classe gramatical.[27]
A inclusividade, ou clusividade, marcada nas tabelas como (exc.)/(inc.), é um fenômeno linguístico que ocorre nos pronomes quando há a distinção entre as expressões no sentido de incluir ou de excluir o interlocutor. Em português, uma aproximação desse significado seria «eu e os demais, mas sem incluir você» para o exclusivo e «eu, os demais e também você» para o inclusivo.
Pronomes pessoais

Os pronomes pessoais do cebuano variam de acordo com pessoa, número e clusividade. Diferente do português, não há distinção por gênero nos pronomes de terceira pessoa.[28]
Há também um fenômeno na existência de formas longas e curtas; as formas curtas se comportam como afixos e não há forma curta para a terceira pessoa. O alinhamento sintático do cebuano permite o destaque selecionado dos elementos da frase, usa-se sempre a forma longa quando o pronome é destacado. Além disso, as formas longas estão associadas a contextos de especial formalidade enquanto as curtas, a conversas ordinárias.[28]
Pronomes possessivos

Há duas maneiras de indicar posse no cebuano: o pronome possessivo antecede o substantivo possuído; o pronome no caso genitivo segue o substantivo possuído.[29]
Além disso, os pronomes possessivos podem ser acompanhados pelos sufixos definidor -a, na primeira pessoa, e -ha, na segunda e terceira pessoas. O sufixo definidor cumpre uma função análoga ao artigo definido do português.[29]
Pronomes demonstrativos

Os pronomes demonstrativos do cebuano também possuem formas curtas e longas. Os demonstrativos estão dispostos a seguir.[30]
Substantivos

Assim como no português, os substantivos cebuanos são divididos entre comuns e próprios. As raízes nominais cebuanas variam em número e podem, através da afixação, derivar em sentidos mais complexos, sendo sintaticamente marcadas em casos gramaticais. Além disso, há variação de gênero em adjetivos empréstimos do espanhol, como em amigo e amiga.[31]
Casos gramaticais
O cebuano possui quatro casos gramaticais: o caso nominativo (ergativo); o caso genitivo (absolutivo); o caso dativo; e o caso locativo. As partículas marcadoras de caso ocorrem sempre antes do sintagma nominal marcado. Apesar de se comportarem como casos de uma língua ergativa-absolutiva, utiliza-se a nomenclatura tipológica mais ampla «nominativo» e «genitivo» devido às outras funcionalidades que esses casos assumem tanto no cebuano como em outras línguas austronésias.[32]
Caso nominativo
No cebuano, o caso nominativo possui, nas vozes atuante e paciente, uma funcionalidade semelhante ao do caso ergativo; tanto o agente intransitivo quanto o objeto transitivo são marcados no nominativo. Ademais, o tema frasal, isto é, o assunto da mensagem deslocado para o início da frase, também é marcado no nominativo. Suas partículas são ang, para substantivos comuns, e si, para substantivos próprios.[33]
Exemplo:
⠀⠀⠀Si katong Maria, giuyog ang kahoy!
⠀⠀⠀ɴᴏᴍ. aquele Maria, ᴠᴏᴢ.ᴘᴀᴄ-balançar ɴᴏᴍ. árvore
⠀⠀⠀Aquela Maria, [ela que] balançou a árvore!
Caso genitivo

O caso genitivo, como um caso absolutivo, marca o agente transitivo na oração e, em verbos de emoção, marca a fonte do sentimento. Sua partícula é sa, para substantivos comuns, e ni, para substantivos próprios. A partícula sa também pode ser usada para marcar o caso locativo.[34]
Exemplo:
⠀⠀⠀Gikuha ni Juan ang telepono.
⠀⠀⠀ᴠᴏᴢ.ᴘᴀᴄ-pegar ɢᴇɴ. Juan ɴᴏᴍ. telefone
⠀⠀⠀Juan pegou o telefone.
Caso dativo

O caso dativo marca o receptor, a fonte, o objetivo ou a razão por trás de uma ação. Sua partícula é kang, que só é utilizada em substantivos próprios; em substantivos comuns, também aplica-se o sa.[35]
Exemplo:
⠀⠀⠀Nagtrabaho siya kang Cebu Pacific.
⠀⠀⠀ᴠᴏᴢ.ᴀᴛᴜ-trabalhar ele ᴅᴀᴛ. Cebu Pacific
⠀⠀⠀Ele trabalha para a Cebu Pacific.
Caso locativo
O caso locativo marca localização espacial e temporal. Esse é o uso mais comum e mais estável da partícula sa.[36]
⠀⠀⠀Dako kaayo gasto diri sa Taiwan
⠀⠀⠀grande muito gastos aqui ʟᴏᴄ. Taiwan
⠀⠀⠀Os gastos são enormes aqui em Taiwan.
Verbos

Os verbos no cebuano são morfologicamente complexos devido à natureza aglutinadora-amalgamante da língua. É possível conjugar os verbos de acordo com tempo, modo, aspecto e voz.[37]
Conjugação

Exceto em casos de voz atuante imperativa, todas as raízes verbais cebuanas recebem afixos que conjugam voz, tempo, aspecto e modo. A seguir, está a tabela com a relação simplificada de afixos de conjugação verbal.[38]
Tempo, aspecto e modo

Diferentemente do português, o tempo verbal no cebuano compreende somente as categorias de futuro e de não-futuro, que contém o pretérito e o presente.[39]
Os sentidos de aspecto e modo não se separam nos afixos cebuanos. Para o aspecto, a diferença entre «pontual» e «progressivo» está no tempo de duração necessário pra completar a ação. No âmbito do modo, «voluntário» determina uma ação planejada ou proposital enquanto «potencial» indica um ato espontâneo ou acidental.[40]
Voz
O cebuano possui quatro vozes verbais: a voz atuante, a voz paciente, a voz locativa e a voz instrumental. A voz atuante indica verbos intransitivos enquanto as demais vozes formam verbos transitivos.[39]
Devido à peculiaridade do alinhamento morfossintático cebuano, o afixo de voz determina a função sintática do termo nominal, chamado de tópico, em uma frase. Os tópicos são marcados pelas partículas si e ang para substantivos próprios e comuns, respectivamente.
Voz atuante
Em termos gerais, a voz atuante é responsável por dar destaque ao agente da ação. Em uma oração de voz atuante, o componente paciente é menosprezado, sendo não-participante ou irrelevante em relação ao discurso do enunciador. Todavia, o componente paciente ainda pode ser marcado pelo caso acusativo de forma acessória, com o sentido da oração fortemente concentrada no agente e na própria ação.[41][42]
Voz paciente
O emprego da voz paciente não deve ser confundido com a voz passiva do português; apesar de as construções passivas do cebuano utilizarem a voz paciente, elas não são o principal uso dessa estrutura gramatical.[43]
Uma vez que dão igual destaque aos elementos agente e paciente, a voz paciente são a organização padrão para orações transitivas no cebuano, seguindo uma lógica de casos análoga à de línguas ergativas.[43]
Voz locativa

As construções em voz locativa são definidas por um agente marcado no genitivo e um substantivo marcado no nominativo que, a depender do contexto, cumpre o papel de beneficiário, de destinatário, de objetivo ou de estímulo fornecido pela localização.[44]
Voz instrumental
A voz instrumental topicaliza a ferramenta utilizada pelo agente na realização da ação. Essa construção oracional é a menos comum.[45]
Sentença

Ordem da frase
Como outras línguas austronésias, o cebuano segue uma sintaxe relativamente incomum. A ordem sintática padrão é a verbo-sujeito-objeto (VSO), sendo o sujeito e o objeto marcados por casos gramaticais distintos.[46]
Exemplo:
⠀⠀⠀Gikaon ni Juan ang bugas.
⠀⠀⠀ᴠᴏᴢ.ᴘᴀᴄ-comer ɢᴇɴ. Juan ɴᴏᴍ. arroz
⠀⠀⠀Juan comeu arroz (literalmente: comeu Juan arroz)
Alinhamento
O alinhamento sintático do cebuano é complexo. Com características do sistema de voz simétrica, o papel sintático marcado pelo caso nominativo se altera de acordo com a conjugação verbal de voz, mas não configura simetria total como em outras línguas austronésias, como o malaio, por associar a transitividade verbal à conjugação de voz. Ademais, Tanangkingsing (2009) afirma que, ao analisar as vozes mais comuns (atuante e paciente), há um padrão ergativo-absolutivo na marcação dos casos gramaticais pelas posições sintáticas transitivas e intransitiva.[32][34][43][47][48][49][50]
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Vocabulário
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Amor pela Terra Nativa

A obra Amor pela Terra Nativa (Gugma sa Yutang Natawhan) é a primeira peça teatral realista cebuana. Publicada em 1902 por Vicente Sotto, a peça se trata de uma curta narrativa do fim de um noivado entre Aurora, filha de um líder local, e Octavio, um ex-combatente da Revolução Filipina que se submeteu à ocupação estadunidense e foi apontado para um cargo público na administração colonial. O texto original escrito em 1900 foi censurado pelas autoridades estadunidenses, com Sotto recebendo uma advertência judicial e uma multa pela inclusão da expressão dukot (conjugada como gidukot no texto), que remetia ao sequestro e assassinato de nativos colaboracionistas por parte das guerrilhas nacionalistas. A seguir, está a íntegra do trecho final da peça na versão não censurada de 1900 com tradução para o português.[51][52]
Declaração Universal dos Direitos Humanos

A Declaração Universal dos Direitos Humanos é um documento internacional adotado em 1948 pela terceira sessão regular da Assembléia Geral das Nações Unidas. Embora não possua força legal, a declaração é a base para os subsequentes tratados das Nações Unidas. Como membros fundadores, tanto as Filipinas quanto o Brasil votaram a favor do documento. A seguir, está seu primeiro artigo na versão em cebuano acompanhada da versão em português.[53]
Hino da Província de Cebu

A Província de Cebu é uma subdivisão administrativa da Região VII (Vissaias Centrais) das Filipinas que compreende a própria ilha de Cebu e outras 167 ilhas. A região metropolitana de Cebu, centrada na Cidade de Cebu, é a terceira maior aglomeração urbana do país e a maior do arquipélago das Vissaias, sendo apelidada de "Cidade Rainha do Sul". Em 1521, a expedição de Fernão de Magalhães ergueu uma cruz em Cebu e presenteou o Rajá da ilha com uma imagem do menino jesus, ambas consideradas relíquias católicas; Magalhães foi morto na Batalha de Mactán, no território atual da Província de Cebu. A seguir, está o hino da Província de Cebu, escrito e cantado em 2018, acompanhado da tradução para o português.[54]
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Ver também
Notas
- Não há consenso em torno da etimologia do termo Bisaya. As possíveis teorias são:
• do sânscrito viṣaya (विषय), significando «reino, país»;
• corruptela do malaio Srivijaya, nome do Império Serivijaia, que se origina no sânscrito Śrī Vijayá (श्री विजय), significando «[reino] da vitória próspera, glorioso».
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Referências
- Tanangkingsing 2009, p. 8
- Eberhard et al. 2023, Cebuano
- Wolff 2001, p. 121
- Montebon 2000, p. 18
- Montebon 2000, p. 15
- Eberhard et al. 2023, Philippines
- Tanangkingsing 2009, pp. 7–8
- Blake 1905, p. 16
- Endriga 2010, p. 1
- Endriga 2010, p. 4
- Endriga 2010, p. 6
- Nelson 1964, p. xvi
- Endriga 2010, pp. 4–5
- Endriga 2010, p. 5
- Tanangkingsing 2009, p. 20–21
- Tanangkingsing 2009, p. 19–20
- Zafra 2018, p. xi
- Cabuay 2009, p. 7
- Cabuay 2009, p. 9
- Cabuay 2009, p. 4–6
- Tanangkingsing 2009, p. iii
- Tanangkingsing 2009, p. 104
- Tanangkingsing 2009, p. 120
- Tanangkingsing 2009, p. 123
- Tanangkingsing 2009, p. 124
- Tanangkingsing 2009, p. 24
- Tanangkingsing 2009, p. 106
- Tanangkingsing 2009, p. 107
- Tanangkingsing 2009, p. 111
- Tanangkingsing 2009, p. 112
- Tanangkingsing 2009, p. 113–114
- Tanangkingsing 2009, p. 38–40
- Tanangkingsing 2009, p. 47
- Tanangkingsing 2009, p. 40
- Tanangkingsing 2009, pp. 337–338
- Tanangkingsing 2009, pp. 336–337
- Tanangkingsing 2009, pp. 353–354
- Tanangkingsing 2009, pp. 370–371
- Tanangkingsing 2009, pp. 415–416
- Tanangkingsing 2009, p. 442
- Tanangkingsing 2009, pp. 81–91
- Tanangkingsing 2009, pp. 107–110
- Tanangkingsing 2009, pp. 62–63
- Himmelmann 2005, pp. 112–114
- Mojares 1976, p. 104
- Mojares 1976, pp. 108–109
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Bibliografia
Ligações externas
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