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Língua mirandesa
língua românica Da Wikipédia, a enciclopédia livre
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A língua mirandesa (lhéngua/léngua mirandesa, mirandés) é o nome oficial que recebe o asturo-leonês em território português. Um estudo da Universidade de Vigo revelou que em março de 2020 a língua era conhecida de cerca de 3500 pessoas, das quais cerca de 1500 são capazes de a falar regularmente.[2] Os falantes distribuem-se principalmente por uma área de 550 km²,[3] conhecida como Terra de Miranda[1] e formada pelo concelho de Miranda do Douro e freguesias de Angueira e Vilar Seco, no concelho de Vimioso.[4] A inclusão de Caçarelhos (atualmente parte da freguesia de Caçarelhos e Angueira) na área de domínio linguístico mirandês tem sido defendida por autores como Amadeu Ferreira.[5]


O mirandês tem três subdialetos (central ou normal, setentrional ou raiano, meridional ou sendinês) e está dotado de um dicionário, gramática e ortografia próprios; os seus falantes são em maior parte bilíngues, trilíngues ou até mesmo quadrilíngues falando muitos deles o mirandês, o português e o castelhano, e até por vezes o galego.[carece de fontes] As associações como a SIL International outorgam um código próprio à língua, enquanto que a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) a enquadra no contexto do asturo-leonês.[6]
Os textos recolhidos em mirandês mostram a envolvência de traços fonéticos, sintáticos ou vocabulares das diferentes línguas; o português é mais cantado pelos mirandeses, porque é considerado língua culta, fidalga, importante. Possui status de língua reconhecida em Portugal desde 1999.[7][8][9]
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Situação atual
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Perspectiva
Um estudo da Universidade de Vigo revelou que em março de 2020 existiam apenas 3500 pessoas que conheciam a língua, das quais apenas cerca de 1500 eram capazes de a falar regularmente. Foi identificada uma ruptura com esse idioma, em particular nas gerações mais novas, através de uma “forte portugalização linguística”, derivada sobretudo do efeito dos meios de comunicação social, e da associação do mirandês à ruralidade e à pobreza. Encontra-se em situação muito crítica, prevendo-se o seu desaparecimento em cerca de 20 anos se se mantiver o ritmo atual.[2]
O mirandês é, desde 1999, a segunda língua oficial do país. A preservação da língua mirandesa deve-se à geografia e ao isolamento das designadas Terras de Miranda. Os rios ou cordilheiras são fatores cruciais para a criação de uma "fronteira linguística". No caso das Terras de Miranda, o rio Sabor teve influência, isolando a área da influência da língua portuguesa. Outro factor para a preservação da língua é a proximidade e a acessibilidade a Espanha, tendo assim um comércio virado para o turismo espanhol, uma atividade crucial na cidade de Miranda do Douro. Essa cidade tem uma grande vertente comercial destinada aos espanhóis que outrora faziam parte do Reino de Leão, que muitas vezes ainda falam o asturiano, língua de origem do mirandês. Isso terá feito com que o mirandês chegasse aos nossos dias quase intacto, a acessibilidade e o contacto constante a uma Espanha que fala, essencialmente, o asturiano e um isolamento face ao português. Havia muitos anos que o mirandês não era falado no coração da comarca, Miranda do Douro, mas, nos últimos anos, a deslocação das pessoas das aldeias para a cidade trouxe o mirandês de volta, porque nas aldeias era onde se conservava o mirandês e esse êxodo rural trouxe a língua mirandesa novamente à cidade. A língua mirandesa está numa situação de diglossia, isto é, quando duas línguas coexistem mas uma prevalece sobre a outra, por razões extralinguísticas. Nesse caso, o português tem conquistado os habitantes das Terras de Miranda pelo seu prestígio e difusão global. A atitude dos falantes em relação à sua língua autóctone também leva a uma relação de diglossia. Como exemplo, tem-se "Lição de Mirandês: You falo como bós i bós nun falais como you" de Manuela Barros Ferreira (do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa) em que é evidente a desvalorização da língua mirandesa face ao português. Segundo os entrevistados,[10] não falam o mirandês quando estão em situações formais, como por exemplo, na relação professor-aluno (como é o caso do entrevistado) é, de uma forma geral, a língua portuguesa que prevalece. Há também alguns complexos com a língua, reservando-a a contextos mais familiares, do quotidiano ou mesmo contextos de extrema intimidade. Todos esses fatores levam a língua a uma situação de diglossia.[11][10]
O ensino do mirandês, opcional nas escolas do concelho de Miranda do Douro, é limitado a uma hora por semana, não dispondo até hoje de livros de texto, materiais pedagógicos e vagas próprias de docentes especializados.[2]
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Proteção
Entre as possíveis medidas de proteção, contam-se a ratificação da Carta Europeia das Línguas Minoritárias, a criação de uma nova Lei do Mirandês, atualizada de acordo com as ações e medidas planeadas e orçamentadas em áreas como educação, justiça, administração local e regional, serviços públicos, meios de comunicação, atividades e equipamentos sociais, economia e intercâmbios transfronteiriços. Essa nova Lei do Mirandês serviria como ponto de partida para impulsionar o desenvolvimento dessas áreas e promover o uso e a preservação do Mirandês como uma língua minoritária e culturalmente significativa, possivelmente levando a que a língua mirandesa ganhasse nova vitalidade.[2]
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Fonologia
Características comuns ao português, ao galego e ao asturo-leonês ocidental (origem linguística da língua mirandesa):
- manutenção de f- inicial latino: filiu (latino) = filho (português);
- evolução do grupo latino -ct- em -it-: nocte (latino) = noite (português);
- evolução dos grupos latinos pl-, cl- e fl- em africada /tʃ/;
- conservação dos ditongos ei e ou.
Algumas diferenças fonológicas em relação ao português:
- palatização da consoante inicial l: língua = lhéngua / léngua (sendinês);
- manutenção das consoantes l e n em posição intervocálica: lua = lhuna/luna (sendinês), mau = malo;
- palatização das consoantes duplas ll/nn/mn: castelo = castielho, ano = anho, dano = danho;
- ditongação da vogal breve e em posição tónica: ferro = fierro.
Amostras de texto
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Perspectiva
Segue-se um texto amostra em língua mirandesa publicado no jornal Público por Amadeu Ferreira, a 24 de julho de 2007. Para comparação, apresentam-se as traduções do texto para leonês, asturiano, português, galego e castelhano.
Excerto de “O Natal em Barroso (L Natal an Barroso)” por Bento da Cruz e traduzido para mirandês por Amadeu Ferreira (a versão em português apresentada não é a do original, pois foi ligeiramente rescrita para ser mais similar à tradução mirandesa).
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Referências
- «Lei n.o 7/99 de 29 de janeiro: Reconhecimento oficial de direitos linguísticos da comunidade mirandesa» (PDF). Imprensa Nacional-Casa da Moeda. Diário da República (24): 574. 29 de janeiro de 1999
- «Visão | Mirandês em situação "muito crítica" devido ao abandono das entidades públicas». Visão. 21 de fevereiro de 2023. Consultado em 9 de maio de 2023
- Gómez Bautista, Alberto (2016). «Contributo para uma história do asturo-leonês em Portugal» (PDF). Academia da Língua Asturiana. Lletres Asturianes (115): 89-102. ISSN 0212-0534. Consultado em 14 de janeiro de 2019
- «Convenção Ortográfica da Língua Mirandesa» (PDF). Câmara Municipal de Miranda do Douro e Centro de Linguística da Universidade de Lisboa. 1999. Consultado em 14 de janeiro de 2019. Arquivado do original (PDF) em 29 de junho de 2003
- Ferreira, Amadeu (2010). «O Mínimo sobre a Língua Mirandesa». Sendim: Sons da Terra. Revista do Festival Intercéltico (13): 61–63. Consultado em 14 de janeiro de 2019.
A língua mirandesa é falada em todas as aldeias do concelho de Miranda do Douro, com exceção de duas (Atenor e Teixeira), e em três aldeias do concelho de Vimioso (Vilar Seco, Angueira e Caçarelhos), no distrito de Bragança. O mirandês foi, apressadamente, dado como extinto em aldeias como Caçarelhos, porém, apesar de muitíssimo debilitado, continua aí a ser falado por pessoas de idade.
- «UNESCO Interactive Atlas of the World's Languages in Danger». Livro Vermelho das Línguas Ameaçadas (em inglês). Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Consultado em 14 de janeiro de 2019
- Ferreira, Manuela Barros (1999). «Lição de Mirandês: You falo como bós i bós nun falais como you». In: Francisco Fernández Rei; Antón Santamarina Fernández. Estudios de Sociolingüística Románica. Linguas e variedades minorizadas (em mirandês). Santiago de Compostela: Servizo de Publicacións da Universidade de Santiago de Compostela. p. 150
- «Sítio de l Mirandés». Centro de Linguística da Universidade de Lisboa (em mirandês). Universidade de Lisboa. Consultado em 14 de janeiro de 2019. Arquivado do original em 16 de fevereiro de 2006
- «Universal Declaration of Human Rights (Article 1)». Omniglot (em inglês). Consultado em 14 de janeiro de 2019
- González-Quevedo, Roberto (2001). La fala de Palacios del Sil (em asturiano). Oviedo: Academia da Língua Asturiana. ISBN 9788481682168. Consultado em 14 de janeiro de 2019
- Lobato, María Concepción Casado (2002). El habla de La Cabrera Alta (em asturiano e espanhol). Oviedo: Academia da Língua Asturiana. p. 25. ISBN 9788481683271. Consultado em 14 de janeiro de 2019
- Conde, Francisco Xavier Frías (2001). Notes de lingüística asturlleonesa: asturiano y mirandés (em asturiano). Gijón: VTP Editorial. ISBN 978-84-89880-48-1
- García, Ismael Carmona (2002). «Morfología del extremeño» (em espanhol). Consultado em 14 de janeiro de 2019
- «Daque custiones alredor de la sintaxis del cántabru occidental» (PDF). Asociación ReDe. Alcuentros. Revista cántabra de lenguas minoritarias (em cântabro) (5). 2005. Consultado em 14 de janeiro de 2019
- «La Declaración Universal de Derechos Humanos» (em espanhol). Organização das Nações Unidas. Consultado em 14 de janeiro de 2019
- «Declaração Universal dos Direitos Humanos». Diário da República. Imprensa Nacional-Casa da Moeda. Consultado em 14 de janeiro de 2019
- «Declaración Universal dos Dereitos das Persoas». Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (em galego). Organização das Nações Unidas. Consultado em 14 de janeiro de 2019
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