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Neoconservadorismo
corrente da filosofia política Da Wikipédia, a enciclopédia livre
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Neoconservadorismo (ou neocon) é uma corrente da filosofia política que surgiu nos Estados Unidos a partir da rejeição do liberalismo social, pacifismo, relativismo moral, social-democracia e da contracultura da Nova Esquerda dos anos 1960.[1] Alguns também começaram a questionar suas crenças social-liberais em relação às políticas domésticas, como a Grande Sociedade. Os neoconservadores normalmente defendem a promoção da democracia e do intervencionismo nos assuntos internacionais, incluindo a paz pela força, e são conhecidos por defender o desdém pelo comunismo e pelo radicalismo político.[2][3]

O neoconservadorismo influenciou o governo George W. Bush,[4] representando um realinhamento da política estadunidense e a "conversão" de alguns membros da esquerda para a direita do espectro político.[5]
Neoconservadores proeminentes na administração de George W. Bush incluíram Paul Wolfowitz, Elliott Abrams, Richard Perle e Paul Bremer. Embora não se identificassem como neoconservadores, altos funcionários do vice-presidente Dick Cheney e do secretário de Defesa Donald Rumsfeld ouviram atentamente os conselheiros neoconservadores em relação à política externa, especialmente a defesa de Israel e a promoção da influência americana no Oriente Médio. Muitos de seus adeptos tornaram-se politicamente influentes durante as administrações presidenciais republicanas das décadas de 1970, 1980, 1990 e 2000, atingindo o pico de influência durante a administração de George W. Bush, quando desempenharam um papel importante na promoção e planejamento da invasão do Iraque em 2003.[6]
O neoconservadorismo estadunidense enfatiza a política externa, especialmente as intervenções políticas e militares em outros países, como sendo o aspecto mais importante das responsabilidades do governo, no sentido de assegurar o papel dos Estados Unidos como única superpotência - condição considerada indispensável para a preservação da ordem mundial.[7]
Os críticos do neoconservadorismo usaram o termo para descrever a política externa e os falcões de guerra que apóiam o militarismo agressivo ou o neoimperialismo. Historicamente falando, o termo neoconservador se refere àqueles que fizeram a jornada ideológica da esquerda antistalinista para o campo do conservadorismo americano durante as décadas de 1960 e 1970.[8] O movimento teve suas raízes intelectuais na revista Commentary, editada por Norman Podhoretz.[9] Eles se manifestaram contra a Nova Esquerda e assim ajudaram a definir o movimento.[10][11]
O primeiro neoconservador declarado foi Irving Kristol, que explicitou sua condição em artigo de 1979, intitulado Confessions of a True, Self-Confessed 'Neoconservative' ("Confissões de um verdadeiro 'neoconservador' confesso"). O pensamento neocon rompeu com o conservadorismo a medida que se mostrou ser um pensamento europeu e não do novo mundo.[12]
De acordo com Roberto Moll Neto, o neoconservadorismo surge como resposta à crise estrutural que os EUA enfrentaram entre as décadas de 1960-70. Alguns fatores como a derrota na Guerra do Vietnã – com perdas humanas e materiais, impactando de forma negativa a moral do país. Os altos custos do Welfare State e os movimentos sociais de contracultura; a luta por igualdade racial; além da inflação e perda de crescimento econômico devido à concorrência internacional, obrigam os EUA a se decidirem entre a manutenção dos gastos militares pesados ou o investimento em produtividade econômica interna.[13]
O autor evoca as ideias de Irving Kristol para considerar que o neoconservadorismo surge como contraposição à política de Welfare, que gera dependência e desestimula a produção. Além disso, rejeitam a contracultura e os demais movimentos sociais – feminismo, movimento negro, questões de gênero –, entendidos como expressão da decadência moral da sociedade norte-americana.[13]
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A relação entre neoconservadorismo e neoliberalismo
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Neto destaca que os “neocons” adotam a política neoliberal em sua plataforma identitária. A valorização da liberdade econômica e o ceticismo sobre a justiça distributiva, além da proposta de diminuir os impostos para incentivar investimentos em guerra e produtividade foram pautas neoliberais fagocitadas pelos neoconservadores. Contudo, por mais que o Estado devesse intervir menos na economia, deveria investir no fortalecimento militar e ser agressivo geopoliticamente.[13]
O governo de Ronald Reagan na década de 1980 implementou práticas neoconservadoras, tais como cortes em programas sociais, redução de impostos, desregulamentação econômica e contenção da inflação por meio de uma política monetária restritiva. A redução de políticas redistributivas pelo Estado, combinada ao déficit público gerado pela política armamentista, aumenta as desigualdades sociais e rebaixa as minorias de forma econômica e moral.[13]
Gabriel da Fonseca Onofre complementa essa discussão, enfatizando como o Neoliberalismo forneceu o programa econômico (via SMP/Hayek/Friedman), e o Neoconservadorismo forneceu a força política e a justificativa geopolítica para que esse programa fosse levado adiante por presidentes como Reagan, sendo uma aliança política e estratégica ao invés de uma fusão entre as doutrinas.[14]
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Neoconservadorismo no Partido Republicano
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O triunfo do neoconservadorismo, particularmente durante o governo de Ronald Reagan (1981–1989), foi inseparável de uma transformação estrutural mais ampla dentro do Partido Republicano (GOP) que marginalizou a antiga guarda moderada. Enquanto figuras como Irving Kristol forneciam a justificativa moral e intelectual para o novo conservadorismo — criticando a "Nova Classe" liberal e defendendo um papel ativo do governo na promoção de virtudes sociais e um intervencionismo externo —, essa agenda só pôde se consolidar após uma purga interna.[15]
O historiador Geoffrey Kabaservice, em seu livro "Rule and Ruin: The Downfall of Moderation and the Destruction of the Republican Party, from Eisenhower to the Tea Party" (2012), detalha esse processo.[15]
Kabaservice sustenta que a ala ideologicamente pura do Partido Republicano travou uma guerra civil interna sistemática contra os moderados (conhecidos como "Rockefeller Republicans") desde os anos 1960. A moderação, que valorizava o compromisso e aceitava o status quo de programas sociais (como o New Deal e a Great Society), era vista pelos ideólogos, incluindo a nascente facção neoconservadora, não como uma divergência política, mas como uma traição ideológica ("RINO" - Republican In Name Only).[15]
O sucesso da agenda neoconservadora em dominar as políticas do GOP foi facilitado pela eliminação tática de sua oposição interna. A prioridade passou a ser a pureza ideológica, mesmo às custas da vitória eleitoral, criando um ambiente onde as ideias neoconservadoras (e outras vertentes da direita "pura") se tornaram a ortodoxia. Isso ocorrera por meio de ativistas organizados da nova direita que concentraram-se em derrotar candidatos moderados nas primárias do partido, garantindo que apenas candidatos ideologicamente alinhados concorressem nas eleições gerais. Logo, a eliminação progressiva dos moderados abriu espaço para a ascensão dos neoconservadores aos escalões de liderança, think tanks e cargos de política externa e doméstica, especialmente sob a presidência de Reagan.[15]
Em última análise, Kabaservice argumenta que a ascensão da pureza ideológica (e, por extensão, a ascensão do neoconservadorismo como uma das forças dominantes do GOP) levou à lógica do "Regra e Ruína": os ideólogos "regraram" (conquistaram o controle interno do partido), mas, ao eliminar o compromisso, geraram a "ruína" da capacidade do partido de governar de forma eficaz, culminando no extremismo consolidado pelo movimento Tea Party no século XXI.[15]
O neoconservadorismo, portanto, pode ser visto como uma das principais ideologias beneficiadas pela destruição da moderação, fornecendo o arcabouço intelectual para um Partido Republicano unificado e intransigente.[15]
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O papel dos Think Tanks
Os think tanks funcionaram como plataformas de lançamento e combate ideológico, especialmente contra o coletivismo e o intervencionismo estatal. De acordo com Onofre, organizações como a Foundation for Economic Education (FEE), fundada em 1946 por Leonard Read, e o Cato Institute (e, posteriormente, a Atlas Foundation de Anthony Fisher) surgiram com o objetivo explícito de promover as ideias do livre-mercado na sociedade americana.[14]
Eles encamparam a "batalha de ideias" proposta por Friedrich Hayek, sustentando que a influência política viria apenas após o sucesso em divulgar o programa liberal entre intelectuais e formadores de opinião. Logo, buscaram intencionalmente ser o contraponto intelectual ao establishment da época, oferecendo uma "filosofia da liberdade". O próprio sucesso de Hayek nos EUA foi visto como crucial, dada a fragilidade do movimento conservador anti-New Deal no país.[14]
Portanto, a estrutura bem-sucedida de think tanks construída pelos liberais econômicos forneceu o arcabouço institucional que ajudou a Nova Direita, como um todo (incluindo os neoconservadores), a consolidar o poder em Washington a partir da década de 1980.[14]
Neoconservadores notáveis
- Georges W. Bush, 43º presidente dos Estados Unidos da América entre 2001 e 2009;[16]
- Dick Cheney, ex-vice-presidente dos Estados Unidos entre 2001 e 2009;[17]
- William Bennett, Secretário de Educação de Ronald Reagan;[18][19]
- John R. Bolton, ex-embaixador nas Nações Unidas e ex-conselheiro de segurança nacional;[20]
- Jeb Bush, 43º governador da Flórida e candidato republicano às eleições presidenciais de 2016;[21]
- Liz Cheney, ex-representante dos EUA por Wyoming;[22]
- Nikki Haley, 29º Embaixadora dos EUA nas Nações Unidas e 116º Governadora da Carolina do Sul;[23]
- Asa Hutchinson, 46º governador do Arkansas;[24]
- Jeane Kirkpatrick, Embaixadora nas Nações Unidas;
- Irving Kristol, jornalista e colunista;[25]
- Douglas Murray, autor e comentarista político britânico;[26]
- Niall Ferguson, autor e historiador escocês;[27][28]
- Ben Shapiro, comentarista político, autor, fundador e editor do The Daily Wire;[29]
- Joseph Liberman, candidato democrata em 2000 para vice-presidente dos Estados Unidos;
- John McCain, candidato republicano à eleição presidencial de 2008;[30]
- Mike Pompeo, ex-representante pelo Kansas e ex-secretário de Estado dos EUA;[31]
- Colin Powell, general e político americano;
- Marco Rubio, candidato republicano nas eleições presidenciais de 2016;[32][33]
- Donald Rumsfeld, secretário de Defesa de George W. Bush;
- Paul Wolfowitz, vice-secretário de Defesa entre 2001 e 2005 e Diretor do Banco Mundial de 2005 a 2007.[34][35]
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Referências Bibliográficas
Ver também
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