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estilo literário catacterizado por uma forte expressividade das palavras Da Wikipédia, a enciclopédia livre
A poesia é uma das mais populares formas de arte de todos os tempos.
O termo vem do grego poíesis e indica a ideia de "criar". Segundo Aristóteles, a poesia seria o "impulso do espírito humano para criar algo a partir de imaginação e dos sentimentos"[1]. Desta forma, em sua origem, o termo está relacionado ao processo de mimese, que é a reprodução estética da "realidade percebida pelos sentidos"[2], podendo assim ser empregado como sinônimo de arte.
Hoje em dia, porém, costuma-se associar a poesia especificamente à literatura e quando não à composição musical. Segundo alguns autores, como Afrânio Coutinho, a poesia, neste contexto, "é a forma literária em que o artista utiliza uma série de meios intermediários - os artifícios líricos - para traduzir a sua visão da realidade e veiculá-la ao leitor" e corresponde a uma "inclinação elementar do homem: a de vazar emoções por meio de expressão rítmica: o verso e o canto"[3]. Ou seja, a poesia acontece quando o artista reproduz suas percepções e emoções por meio de um texto que redunda em música.
Já para outros autores, como Massaud Moisés, a poesia "é a expressão metafórica do "eu", cujo resultado, o poema, pode ser em verso ou em "prosa""[4]. Ou seja, a poesia acontece quando o artista procura transmitir um conteúdo relacionado ao seu "eu" (ex: a saudade que sinto da minha amada, o medo que sinto em meio ao contexto ditatorial do meu país etc.), servindo-se de metáforas, comparações, tropos em geral, em um texto (escrito seja em verso seja em prosa) que chamamos de poema, em oposição direta à prosa, que é a "expressão do não-eu, do objeto", ou seja, um texto que, em linguagem também metafórica, procura transmitir um conteúdo relacionado às impressões do artista quanto aos entes externos (ex: a fome no Brasil, os impactos do ciúme em um relacionamento amoroso etc.).
Nem todos os autores modernos, porém, restringem a abrangência do conceito de poesia à literatura. Inclusive, grande parte dos teóricos contemporâneos trabalha o conceito de poesia como uma forma de linguagem em geral, e não apenas uma forma de linguagem verbal ou literária.
O reconhecido escritor brasileiro Ariano Suassuna, em seu livro Iniciação à Estética, afirma que a poesia é “uma linguagem com predominância da imagem e da metáfora sobre a precisão e a clareza”[5]. Ou seja, a poesia se refere à qualquer tipo de linguagem, verbal ou não, que procure transmitir seu conteúdo por meio de metáforas e imagens e não por meio de uma linguagem especificamente clara.
Vale também destacar o conceito de função poética, criado pelo linguista Roman Jakobson. Segundo a teoria, a função poética "consiste na projeção do eixo da seleção sobre o eixo da combinação dos elementos linguísticos. Centrada na mensagem, essa função caracteriza-se pelo enfoque na mensagem e em sua forma"[6]. Ou seja, ocorre quando, em um texto, tantos os significantes (palavras, fonemas etc.) quantos os significados adquirem fundamental importância para a comunicação.
Na linguagem popular, é muito comum o emprego das palavras poesia e poético como termos sinônimos de "beleza", "inspiração" e "elevação de ideias".
A poesia como uma forma de arte pode ser anterior à escrita.[7] Muitas obras antigas, desde os vedas indianos (1700–1200)
e os Gatas de Zoroastro (1200–900 a.C.), até a Odisseia (800–675 a.C.), parecem ter sido compostas em forma poética para ajudar a memorização e a transmissão oral nas sociedades pré-históricas e antigas.[8] A poesia aparece entre os primeiros registros da maioria das culturas letradas, com fragmentos poéticos encontrados em antigos monólitos, pedras rúnicas e estelas.
O poema épico mais antigo sobrevivente é a Epopeia de Gilgamexe, originado no terceiro milênio a.C. na Suméria (na Mesopotâmia, atual Iraque), que foi escrito em escrita cuneiforme em tabletes de argila e, posteriormente, papiro.[9] Outras antigas poesias épicas incluem os épicos gregos Ilíada e Odisseia, os livros iranianos antigos Avestá, Gatas e Iasna, o épico nacional romano Eneida, de Virgílio, e os épicos indianos Ramaiana e Maabárata.
Os esforços dos pensadores antigos em determinar o que faz a poesia uma forma distinta, e o que distingue a poesia boa da má, resultou na "poética", o estudo da estética da poesia. Algumas sociedades antigas, como a chinesa através do Shi Jing (Clássico da Poesia), um dos Cinco Clássicos do confucionismo, desenvolveu cânones de obras poéticas que tinham ritual bem como importância estética. Mais recentemente, estudiosos têm se esforçado para encontrar uma definição que possa abranger diferenças formais tão grandes como aquelas entre The Canterbury Tales de Geoffrey Chaucer e Oku no Hosomichi de Matsuo Basho, bem como as diferenças no contexto que abrangem a poesia religiosa Tanaque, poesia romântica e rap.[10]
O contexto pode ser essencial para a poética e para o desenvolvimento do gênero e da forma poética. Poesias que registram os eventos históricos em termos épicos, como Gilgamexe ou o Épica dos Reis, de Ferdusi,[11] serão necessariamente longas e narrativas, enquanto a poesia usada para propósitos litúrgicos (hinos, salmos, suras e hádices) é suscetível de ter um tom de inspiração, enquanto que elegia e tragédia são destinadas a invocar respostas emocionais profundas. Outros contextos incluem cantos gregorianos, o discurso formal ou diplomático,[12] retórica e invectiva políticas,[13] cantigas de roda alegres e versos fantásticos, e até mesmo textos médicos.[14]
O historiador polonês de estética Władysław Tatarkiewicz, em um trabalho acadêmico sobre "O Conceito de Poesia", traça a evolução do que são na verdade dois conceitos de poesia. Tatarkiewicz assinala que o termo é aplicado a duas coisas distintas que, como o poeta Paul Valéry observou, "em um certo ponto encontram união. […] A poesia é uma arte baseada na linguagem. Mas a poesia também tem um significado mais geral […] que é difícil de definir, porque é menos determinado: a poesia expressa um certo estado da mente.[15]
Em literatura, é comum a discussão acerca dos gêneros poéticos.
Segundo os gregos, havia quatro: lírico, satírico, didático e épico.
O gênero lírico tratava-se dos poemas cantados ao som de uma lira, abrangendo uma variedade de temas.
O gênero satírico tratava-se dos poemas que tinham por objetivo o humor e a zombaria a alguém.
O gênero didático tratava-se dos poemas que tinham por objetivo a educação.
O gênero épico tratava-se dos poemas que cantavam histórias lendárias de heróis antigos, como é o caso da Ilíada e da Odisseia.
Com o passar do tempo, os gêneros se transformaram muito. Hoje em dia, costuma-se trabalhar apenas com os gêneros lírico e épico, e a concepção deles é totalmente diferente da concepção grega.
Segundo o professor Massaud Moisés, a poesia lírica é a "poesia do "eu", poesia da confissão ou poesia da emoção"[16]. Ou seja, é a poesia que procura exprimir conteúdos relacionados diretamente a um único indivíduo (ex: as saudades que sinto pela minha infância, a ilusão que me domina perto dos 40 anos etc.).
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Trecho do poema Meus Oito anos, de Casimiro de Abreu
Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Trecho do poema Tabacaria, de Fernando Pessoa
O autor tece muitas críticas a essa espécie poética, e para isso pega como exemplo Casimiro de Abreu: "Em suma, emoção e sentimento narcisistas e, porventura, masoquistas. Poeta sem problema, ou de problema visível e equacionável, o seu lirismo é limitado, ainda que espontâneo. [...] O aficionado da poesia que ainda permanece enleado nos conflitos da emoção e do sentimento, deleita-se com a poesia lírica; enquanto aquele que, ou conhece apenas haver desencanto para quem nutre demasiadas ilusões, ou já alcançou o estágio em que a sabedoria ocupa o lugar das esperanças fagueiras, somente encontra ressonância para o seu apetite estético num lirismo de outro naipe, como o de Rimbaud ou Mário de Sá-Carneiro, para recordarmos dois jovens poetas de superior talento, ou de Baudelaire e Fernando Pessoa, para pensarmos em dois emblemáticos poetas modernos"[17].
Já a poesia épica é a poesia do "nós", onde "o "eu", alargado para além dos ímpetos que o tornariam recluso e exclusivista, como sujeito e objeto, acaba por transformar-se em "nós". [...] O canto que brota dessa cosmovisão totalizante decerto que expressa o poeta como indivíduo, mas ao mesmo tempo serve de porta-voz ao seu povo e a toda a espécie humana, não pelo tom intimista, como no caso da poesia lírica, mas pela universalidade decorrente"[18]. Ou seja, é a poesia que procura exprimir conteúdos relacionados ao coletivo a qual o poeta faz parte (ex: o mito fundador da nossa pátria, a importância estética do rio da nossa cidade etc.).
O mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo —
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.
Este, que aqui aportou,
Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou.
Por não ter vindo foi vindo
E nos criou.
Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,
E a fecundá-la decorre.
Em baixo, a vida, metade
De nada, morre.
Poema Ulisses, de Fernando Pessoa
A cidade é passada pelo rio
como uma rua
é passada por um cachorro;
uma fruta
por uma espada.
O rio ora lembrava
a língua mansa de um cão,
ora o ventre triste de um cão,
ora o outro rio
de aquoso pano sujo
dos olhos de um cão.
Trecho do poema O cão sem plumas, de João Cabral de Melo Neto
O autor ressalta ainda que poemas que apresentam um eu lírico pessoal, mas que veiculam-no como o porta-voz de determinado grupo coletivo (ou coisa semelhante a isto) não escapam à abrangência do termo.
— O meu nome é Severino,
como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria.
Como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
[...]
Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,
a de querer arrancar
alguns roçado da cinza.
Trecho do poema Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto
A poesia pode fazer uso da chamada licença poética, que é a permissão para extrapolar o uso da norma culta da língua, tomando a liberdade necessária para utilizar recursos como o uso de palavras de baixo-calão, desvios da norma ortográfica que se aproximam mais da linguagem falada ou a utilização de figuras de estilo como a hipérbole ou outras que assumem o carácter "fingidor" da poesia, de acordo com a conhecida fórmula de Fernando Pessoa ("O poeta é um fingidor").
A matéria-prima do poeta é a palavra e, assim como o escultor extrai a forma de um bloco, o escritor tem toda a liberdade para manipular as palavras, mesmo que isso implique romper com as normas tradicionais da gramática. Limitar a poética às tradições de uma língua é não reconhecer, também, a volatilidade das falas.
A poesia contemporânea está a ser produzida com palavras que pulam para “fora da página”. A nova corrente literária, que explora a plataforma da Web não apenas em termos de divulgação, mas também no que se refere à criação, tem chamado a atenção dos estudiosos. O professor Jorge Luís Antônio, autor do livro Poesia Digital: teoria, história, antologias, afirmou a um jornal brasileiro sobre esses artistas recentes: “Alguns fazem apresentações em público, na mesma linha dos dadaístas do Cabaret Voltaire, no começo do século XX. Outros fazem poesia ‘cíbrida’ [contração de ‘híbrido’ e ‘cibernético’], com uso de arte, design e tecnologia. O importante é que todos focam nos aspectos poéticos”.
A poesia digital é marcada pela natureza multimidiática. A palavra ganha novos valores ao interagir com recursos sonoros e de vídeo. Não raro é o uso da tridimensionalidade para efeitos de criação artística. Ela pode ser considerada resultado de negociações semióticas com a tecnologia; são elas a mediação, transmutação e intervenção. A mediação poeta-máquina possibilita a assimilação de neologismos e conceitos tecnológicos, ambos aplicados como temas e expressões poéticas. É quando o poeta realiza a semiose (no sentido peirciano) poesia-computador, tomando conhecimento do significado cultural da máquina, que passa a ter valor em sua arte verbal. Outro nível de mediação ocorre na mudança da função predominante da máquina — de pragmática, referencial e objetiva para poética —. Isso se dá quando o poeta assimila a linguagem da máquina e intervém nela, lançando mão da criatividade de que dispõe.
A relação entre poesia e tecnologia assemelha-se a alguns conceitos da literatura na medida em que repete as teorias “imitativa” e “expressiva” da arte (o Realismo). A realidade interior e exterior é simulação para a tecnologia computacional e a expressão é uma recriação do mundo tecnológico através da arte da palavra. O tecnopoeta, ciente de tal tecnopólio, que é avassalador, encontra-se cercado de uma realidade tecnocentrista que se lhe serve como linguagem poética. Da mesma forma, o poeta romântico na Revolução Industrial criava um mundo subjetivo e idealizado como resposta à realidade extenuante da industrialização. A linguagem tecnológica se transforma em tecnopoética, sedo que a cultura não se rende à tecnologia, mas sofre a intervenção do poeta para fazer dela outra forma de comunicação.
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