Top Qs
Linha do tempo
Chat
Contexto

Simulação da ONU

Da Wikipédia, a enciclopédia livre

Simulação da ONU
Remove ads

As simulações da ONU (também conhecidas como MUNs, do inglês Model United Nations, modelos de organizações internacionais, modelos diplomáticos ou, simplesmente, simulações) são eventos acadêmicos direcionados a alunos do ensino fundamental, ensino médio e ensino superior de simulação de organismos das Organização das Nações Unidas (ONU), organizações internacionais (como OEA, União Africana e Parlamento Europeu), dos estabelecimentos jurídicos (como tribunais internacionais e nacionais), gabinetes de guerras ou entidades nacionais como Supremo Tribunal Federal e Câmara dos Deputados do Brasil,[1][2] onde os participantes atuam como diplomatas, juízes, deputados, jornalistas, etc., tendo como objetivo o debate e a solução da problemática proposta a cada comitê, espelhando as reais posições políticas dos países, ONGs, partidos e personalidades designadas a eles.

Thumb
Delegados em sessão na Jakarta MUN (JMUN), em Jacarta, Indonésia
Thumb
Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova Iorque

Conferências deste tipo ocorrem em diversos lugares, estimando-se que mais de 400 mil estudantes ao redor do mundo participem dessas atividades anualmente.[3] As simulações são uma alternativa para o aprendizado tradicional, unindo a prática com a teoria das relações internacionais (ou política internacional), ensinando práticas parlamentares,[4] oratória, debate e escrita,[5] assim como pensamento crítico, liderança, capacidade de ouvir e ser ouvido e cooperação, dando espaço para a compreensão de situações complexas[6] e estimulando o respeito e a empatia em relação a outros povos.[7]

Pessoas notáveis já participaram destes eventos durante sua vida acadêmica, como o ator estadunidense Samuel L. Jackson, a filha do ex-presidente Bill Clinton, Chelsea Clinton[8] e o ex-Secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon.[9]

Remove ads

História

Resumir
Perspectiva
Thumb
Comissão da Sociedade das Nações

As simulações começaram antes mesmo da própria ONU, como simulações da extinta Sociedade das Nações, na década de 1920.[10] As duas primeiras que se tem registro são a Oxford International Assembly, que ocorreu em 13 de novembro de 1921[11] e a Havard International Assembly, em 10 de janeiro de 1923, onde foi discutida o status da Ilha de Rodes e o tráfico internacional de ópio com 15 nações sendo representadas.[12] Após a Segunda Guerra Mundial, as simulações da Sociedade das Nações se transformaram nas simulações das Nações Unidas,[13] com a primeira conferência no modelo das Nações Unidas acontecendo no Swarthmore College em abril de 1947.[14]

As conferências mais antigas que continuam em atividade hoje são: Model United Nations of the Far West (MUNFW), instituída em 1951[15] e Harvard National Model United Nations (HNMUN), de 1954,[16] em nível universitário e a Berkeley Model United Nations (BMUN), de 1952[17] e Harvard Model United Nations (HMUN), de 1953,[16] em nível secundário.

No Brasil, o conceito foi trazido por professores e estudantes de relações internacionais da Universidade de Brasília em 1997, com a criação do Clube de Simulações de Organismos Internacionais (CSOI) e, em 1998, aconteceu a primeira conferência do gênero na América Latina, o Americas Model United Nations (AMUN)[18] em Brasília.

Durante o desenvolvimento das conferências de Modelo das Nações Unidas (Model United Nations, ou MUN), especialmente ao longo do século XX, consolidou-se um sistema de regras parlamentares amplamente inspirado no funcionamento de congressos e parlamentos nacionais. Essas regras, oriundas em grande parte de tradições legislativas foram adotadas por conveniência, estruturando os debates em moldes mais familiares para organizadores e participantes.[19]

Esse modelo parlamentar se difundiu rapidamente entre os circuitos de MUN ao redor do mundo, especialmente em ambientes educacionais. Com o tempo, termos como “debate não moderado”, “moção para suspender a sessão”, “questão de ordem” ou “questão de privilégio pessoal” tornaram-se parte do vocabulário comum entre os jovens envolvidos nessas simulações, mesmo que essas expressões e procedimentos não tenham correspondência direta com o funcionamento real das Nações Unidas.

Na prática diplomática, as Nações Unidas não operam por meio de regras parlamentares voltadas à aprovação de projetos de lei com força mandatória. Ao contrário de parlamentos, que buscam a votação majoritária para impor decisões legislativas, a ONU privilegia processos baseados em consenso, visando garantir legitimidade e implementação prática das resoluções, que são de caráter recomendatório.

A partir de 2015, um esforço significativo de aproximação entre os Modelos da ONU e os procedimentos reais adotados nas Nações Unidas foi liderado pela World Federation of United Nations Associations (WFUNA), através da realização da conferência WFUNA International Model United Nations (WIMUN), sediada em Nova Iorque. Foi nessa ocasião que surgiu o chamado WIMUN Approach — inicialmente conhecido como UN4MUN —, um sistema de regras desenvolvido com o apoio do Departamento de Comunicação Global da ONU para refletir com fidelidade os processos e práticas diplomáticas da Organização. Esse modelo prioriza a construção de consenso, o papel dos blocos regionais e as nuances da negociação multilateral, buscando oferecer uma experiência educacional mais próxima da realidade das Nações Unidas.

Apesar do crescimento e da influência do WIMUN Approach, o modelo parlamentar tradicional ainda é o mais amplamente utilizado no circuito global de MUNs, principalmente por sua familiaridade, simplicidade organizacional e legado histórico dentro do movimento estudantil internacional.

Remove ads

Conceito

Resumir
Perspectiva

Uma simulação de organizações internacionais busca ter respaldo académico, sendo considerada como um laboratório de aprendizado,[20] especialmente relacionando-se com áreas como a diplomacia, ciência política, política internacional[21] e o direito. Assim como os laboratórios das ciências exatas permitem aos estudantes presenciar, praticar, e experimentar as teorias e ideias, os modelos de organizações internacionais fazem o mesmo com as ciências sociais.

Seus participantes são convidados a lidar com resolução de conflitos e negociação por meios diplomáticos, exercendo a oratória e dinâmicas de grupo,[5] entendendo o funcionamento das organizações internacionais as dinâmicas política internacional.[5] É também uma oportunidade de estabelecer redes de contatos com outros participantes de outras localidades ou países e de formações acadêmicas variadas. Em sua maioria, os organizadores são oriundos dos cursos de relações internacionais e direito, embora também participem estudantes de economia, sociologia, jornalismo e de outras formações universitárias das mais variadas.

A maior parte destas simulações representam o funcionamento das Nações Unidas e seus organismos, como o Conselho de Segurança, a Assembleia Geral, Organização Mundial da Saúde e qualquer de suas seis comissões, mas há um espaço para a representação de outras organizações internacionais, como a Organização dos Estados Americanos, União Africana, Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, Liga Árabe ou mesmo para organizações não-governamentais ou entidades nacionais como o Parlamento do Reino Unido, Supremo Tribunal Federal.

No entanto, também existem modelos específicos para outras organizações, como o Model Organization of American States (MOAS), que é realizado anualmente em sistema trilíngue (inglês, francês e espanhol) em local rotativo, com o apoio oficial por resolução da própria OEA.

Remove ads

Funcionamento

Resumir
Perspectiva
Thumb
Votação plenária no ECOSOC do Model United Nations Baden-Württemberg. 2004, Stuttgart, Alemanha

Os estudantes se organizam e executam as conferências exercendo variados papéis, desde Secretário-geral, a diretores de comitês, assistentes, delegados (que atuam como embaixadores nas organizações internacionais), juízes, deputados e jornalistas.

Planejamento

Como em qualquer tipo de evento, o primeiro passo é o planejamento. Os estudantes organizadores irão debater quais serão os possíveis comitês de uma ou mais organizações a serem representados, e com isso escolher os temas a serem discorridos durante o modelo.

Os comitês são as arenas de debates, representando como exemplo o Conselho de Segurança, o Conselho de Tutela, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, a FAO, entre outros possíveis.

Os temas discutidos geralmente são aqueles abordados nas agendas oficiais dos fóruns internacionais sendo simulados. Como exemplos, podemos citar a questão palestina e o massacre de Darfur no Conselho de Segurança. Assim, os organizadores têm a possibilidade de aprofundar o assunto para posteriormente criar um manual a ser distribuído a todos os futuros participantes.

O segundo passo é buscar apoio institucional, desde universidades até empresas privadas. Com isso, é possível realizar convites à profissionais conceituados de áreas afins, como diplomatas e professores, para realizarem palestras no dia da abertura ou encerramento do modelo.

Com o apoio institucional encaminhado, se necessário, procura-se locais para materializar a realização do evento, e posteriormente dá-se início a divulgação para a inscrição de novos participantes nos meios acadêmicos.

Para discutir os temas abordados em cada comitê, os participantes inscritos precisam fazer uma pesquisa com relação ao posicionamento oficial dos países representados, possibilitando escrever os princípios de política externa a serem apresentados ao início das atividades. Além disto, a pesquisa precisa apreender a política interna, forma de governo e especificidades culturais, criando assim maior realismo na argumentação e justificativas do posicionamento das delegações.

Prática

Os cargos de Secretário Geral, diretores de comitês e assistentes geralmente são ocupados pelos organizadores do evento, e os demais participantes que se inscrevem, atuam como delegados de países.

Geralmente o Secretariado é dividido em "Administrativo" e "Acadêmico", sendo este responsável pela análise de projetos de comitês, recrutamento de diretores e pelo bom andamento das discussões durante as sessões dentro dos comitês; e aquele responsável por toda a parte administrativa do modelo, o que inclui patrocínios, a disponibilidade do lugar onde será realizado o evento, suporte "material" para os comitês (como cópias de documentos, água, etc).

Um bom Secretariado trabalha de forma integrada, garantindo o bom andamento e o sucesso do evento.

Assembleia Geral

Em alguns dos Modelos das Nações Unidas realiza-se a Assembleia Geral. Tanto no primeiro como último dia do encontro. É neste momento que a palestra de convidados é realizada. No último dia, os resultados obtidos em cada comitê é apresentado a todos.

Thumb
Exemplo de documento de posição de delegação para um modelo de organização internacional

Delegações e comitês

As delegações criadas são habilitadas para exprimir as opiniões nos debates de países que estejam participando dos comitês reais das organizações internacionais do modelo em questão, podendo variar de tamanho, pois nem todos os países participam de todos os comitês. O Conselho de Segurança da ONU, por exemplo, possui quinze membros, sendo cinco permanentes, e os demais rotativos. Países grandes tendem a estar presentes nos debates a maioria das questões e, portanto, necessitam de delegações maiores. No modelo, alguns países dispõem de representação única, também chamada de delegação individual.

O posicionamento de cada país é entregue à mesa diretora dos comitês, e então escolhe-se qual será o primeiro tema a ser abordado. Neste momento, para defender seus objetivos os delegados formulam discursos, muitas vezes de improviso, sempre de acordo com os procedimentos parlamentares. Para isso, é necessária a prática do diálogo, da tomada de decisões em conjunto e o pensamento estratégico. A defesa de ideais diferentes em questões de política e externa, além da adoção de outras normas culturais para a argumentação, se transforma em uma oportunidade de compreender a visão de mundo do outro.

Ao final, os delegados se juntam para produzir uma resolução que atenda os padrões das Nações Unidas ou da organização em questão. Com a resolução acabada, ela é levada à votação no plenário competente, podendo ser aprovada ou não. Algumas vezes a resolução é aprovada no primeiro dia, mas muitas vezes o debate termina apenas no começo do segundo dia do encontro.

Imprensa

Na maioria das simulações, sejam elas na modalidade on-line ou presencial, existe um comitê de imprensa (às vezes também chamado de agência de comunicação). Os participantes desse comitê, bem como seus diretores, são responsáveis pela cobertura do evento. Isto é, redigir matérias sobre as cerimônias de abertura, encerramento, debates, resoluções, propostas e/ou crises.

Ou seja, não somente são interpretados papéis de representantes diplomáticos dentro da simulação, como também podem existir jornalistas, fotógrafos, gestores de mídias, dentre outras demais funções que a imprensa pode contribuir para o andamento e imersão completa na conferência.

Remove ads

Simulações no Brasil

Resumir
Perspectiva

Simulações abertas

Mais informação Nome, Abreviação ...

Simulações internas

Mais informação Nome, Abreviação ...
Remove ads

Referências

  1. «O que é Politeia». Projeto Politeia. Consultado em 18 de fevereiro de 2020
  2. CARVALHO, Esther (2017). Educando no século XXI. [S.l.]: CLA. 62 páginas
  3. «About Model UN | outreach.un.org.mun». outreach.un.org. Consultado em 18 de fevereiro de 2020
  4. Martins, Alex Lara; Costa, Alfredo; Palhares, Leonardo Machado (10 de dezembro de 2018). «Cidadania global e direitos humanos: efeitos educacionais do desenvolvimento de simulação da ONU no Vale do Jequitinhonha». Monções: Revista de Relações Internacionais da UFGD. 7 (14). 12 páginas. ISSN 2316-8323. doi:10.30612/rmufgd.v7i14.9105
  5. Karns, Margaret Padelford (1980). Teaching International Organization through Model U.N.'s (em inglês). Los Angeles, Califórnia: [s.n.] pp. 3–9. Consultado em 19 de fevereiro de 2020
  6. Boardman, Robert (junho de 1969). «THE THEORY AND PRACTICE OF EDUCATIONAL SIMULATION». Educational Research (em inglês). 11 (3): 179–184. ISSN 0013-1881. doi:10.1080/0013188690110302
  7. Martins, Alex Lara; Costa, Alfredo; Palhares, Leonardo Machado (10 de dezembro de 2018). «Cidadania global e direitos humanos: efeitos educacionais do desenvolvimento de simulação da ONU no Vale do Jequitinhonha». Monções: Revista de Relações Internacionais da UFGD. 7 (14). 14 páginas. ISSN 2316-8323. doi:10.30612/rmufgd.v7i14.9105
  8. Clinton, Chelsea (abril de 2017). «I loved Model U.N. & was a proud member of our high school team for 3 years (never ran to be Model U.N. president). Good luck Broti!». @ChelseaClinton (em inglês). Consultado em 18 de fevereiro de 2020
  9. «Programme No. 1207» (PDF). Nações Unidas. Outubro de 2009. Consultado em 18 de fevereiro de 2020
  10. «The History of the First MUN». WiseMee (em inglês). 15 de outubro de 2019. Consultado em 18 de fevereiro de 2020
  11. «Geneva in Oxford». The Observer. 4 de dezembro de 1921
  12. «Hold First Meeting Of International Assembly Tonight». The Harvard Crimson (em inglês). 10 de janeiro de 1921. Consultado em 18 de fevereiro de 2020
  13. Muldoon, James P. (março de 1995). «The Model United Nations Revisited». Simulation & Gaming (em inglês). 26 (1): 27–35. ISSN 1046-8781. doi:10.1177/1046878195261003
  14. «Model U.N. Sessions Held at Swarthmore». The New York Times (em inglês). 6 de abril de 1947. ISSN 0362-4331
  15. «Past Hosts – MUNFW» (em inglês). Consultado em 19 de fevereiro de 2020
  16. Lewis, Paul; Times, Special To the New York (22 de fevereiro de 1990). «Role Playing and Oratory Limits at This U.N.». The New York Times (em inglês). ISSN 0362-4331
  17. «Secretary General Welcome». Berkeley Model United Nations (em inglês). Consultado em 19 de fevereiro de 2020
  18. «About Us | Americas Model United Nations | AMUN | Brasilia». AMUN (em inglês). Consultado em 19 de fevereiro de 2020
  19. «The WIMUN Advantage • WFUNA». WFUNA (em inglês). Consultado em 10 de julho de 2025
  20. Hazleton, William A.; Mahurin, Ronald P. (junho de 1986). «External Simulations as Teaching Devices: The Model United Nations». Simulation & Games (em inglês). 17 (2). 150 páginas. ISSN 0037-5500. doi:10.1177/0037550086172002
  21. Engel, Susan; Pallas, Josh; Lambert, Sarah (3 de abril de 2017). «Model United Nations and Deep Learning: Theoretical and Professional Learning». Journal of Political Science Education (em inglês). 13 (2): 171–184. ISSN 1551-2169. doi:10.1080/15512169.2016.1250644
  22. «Página Principal». GOMUN. Consultado em 5 de julho de 2021
  23. Santos, Edvanderson Ramalho dos (31 de outubro de 2018). «Simulado das Nações Unidas: uma forma diferente de aprender». IFC Araquari
  24. SANTOS, Edvanderson Ramalho dos (31 de outubro de 2019). «Simulado da ONU ensina cultura e geopolítica de forma lúdica». IFC Araquari
Remove ads
Loading related searches...

Wikiwand - on

Seamless Wikipedia browsing. On steroids.

Remove ads