Canadá
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O Canadá (em inglês: Canada, pronunciado [ˈkænədə] (escutarⓘ); em francês: Canada, pronunciado: [kanada]) é um país que ocupa grande parte da América do Norte e se estende desde o oceano Atlântico, a leste, até o oceano Pacífico, a oeste. Ao norte o país é limitado pelo oceano Ártico. É o segundo maior país do mundo em área total,[10] superado apenas pela Rússia, e a sua fronteira comum com os Estados Unidos, no sul e no noroeste, é a mais longa fronteira terrestre do mundo.
As terras ocupadas pelo Canadá são habitadas há milênios por diferentes grupos de povos aborígines. Começando no fim do século XV, expedições britânicas, portuguesas e francesas exploraram e, mais tarde, se estabeleceram ao longo da costa Atlântica do país. A França cedeu quase todas as suas colônias na América do Norte em 1763 depois da Guerra dos Sete Anos. Em 1867, com a união de três colônias britânicas da América do Norte em uma confederação, o Canadá foi formado como um domínio federal de quatro províncias.[11][12][13] Isto começou com um acréscimo de províncias e territórios e com um processo de aumento de autonomia do Reino Unido. Esta ampliação de autonomia foi salientada pelo Estatuto de Westminster de 1931 e culminou no Ato de Canadá de 1982, que eliminou os vestígios de dependência jurídica do Parlamento Britânico.
O Canadá é uma federação composta por dez províncias e três territórios, uma democracia parlamentar e uma monarquia constitucional, com o rei Carlos III como chefe de Estado — um símbolo dos laços históricos do Canadá com o Reino Unido — sendo o governo dirigido por um primeiro-ministro, cargo ocupado atualmente (2024) por Justin Trudeau. É um país bilíngue e multicultural, com o inglês e o francês como línguas oficiais. Um dos países mais desenvolvidos do mundo, o Canadá tem uma economia diversificada, dependente dos seus abundantes recursos naturais e do comércio, particularmente com os Estados Unidos, país com que o Canadá tem um relacionamento longo e complexo. É um membro do G7, do G20, da OTAN, da OCDE, da OMC, da Comunidade das Nações, da OIF, da OEA, da APEC e das Nações Unidas.
Existem várias teorias quanto à origem etimológica da palavra Canadá. O Dictionary of Canadianisms on Historical Principles Online considera que a etimologia da palavra Canadá não se encontra claramente estabelecida e apresenta uma extensa lista com várias teorias que foram apresentadas ao longo dos tempos.[14]
A teoria com mais aceitação talvez seja a de que a origem do nome Canadá venha da palavra iroquesa kanata, que significa "aldeia" ou "povoado". Em 1535, nativos americanos vivendo na região utilizaram a palavra para explicar ao explorador francês Jacques Cartier o caminho para a aldeia de Stadacona,[15] local onde se encontra atualmente a cidade de Quebec. Cartier utilizou a palavra não somente em referência a Stadacona, mas também a toda a região sujeita ao domínio de Donnacona, então cacique de Stadacona. Por volta de 1547, mapas europeus passaram a nomear esta região, acrescida das áreas que a cercavam, pelo nome Canada.[16]
Outra teoria atribui a origem do nome Canadá a navegadores espanhóis que, tendo chegado às costas do Canadá e não encontrado nem ouro nem nada de proveito, teriam dito "Acá nada", palavras que, mais tarde, repetir-se-iam pelos nativos e pelos franceses.[14][17][lower-alpha 1]
Outra teoria bastante divulgada há séculos é que um navegador português, depois de visitar as terras geladas do continente norte-americano, teria deixado escrito num mapa "Cá Nada", pois nas terras nada haveria de interessante, e mais tarde um copista francês teria interpretado essas duas palavras como sendo o nome da terra.[18][19] O historiador luso-alemão Rainer Daehnhardt, defensor desta última teoria, refuta a hipótese da origem nativa iroquesa, argumentando que os iroqueses habitavam o interior e que existe cartografia anterior aos primeiros contatos com iroqueses a qual já fazia uso da palavra Canada.[20][lower-alpha 2]
A partir do século XVII, aquela parte da Nova França, situada ao longo do rio São Lourenço e das margens norte dos Grandes Lagos, era conhecida como Canadá. Posteriormente, foi dividida em duas colônias britânicas, Canadá Superior e Canadá Inferior, até a união das duas como uma única Província Britânica do Canadá, em 1841. Até a década de 1950, o Canadá era oficialmente — e comumente — chamado de Dominion of Canada (Domínio do Canadá).[21] À medida que o Canadá adquiriu maior autoridade e autonomia política do Reino Unido, o governo federal passou a utilizar cada vez mais somente Canadá em documentos oficiais, em documentos governamentais e em tratados. Com o Ato do Canadá de 1982, o nome oficial do país passou a ser simplesmente Canadá, assim escrito nos dois idiomas oficiais do país, o inglês e o francês. Com o Ato do Canadá, o dia da independência canadense, em 1.º de julho, mudou de nome, de Dominion Day para Dia do Canadá.[22]
Povos ameríndios
Estudos arqueológicos e genéticos indicam uma presença humana no norte de Yukon há 26 500 anos e no sul de Ontário há 9 500 anos.[23][24][25] As planícies de Old Crow e as cavernas de Bluefish são dois dos mais antigos sítios arqueológicos de habitação humana (paleoamericanos) no Canadá.[26][27][28] Entre os povos das Primeiras Nações, há oito mitos únicos de criação e suas adaptações. As características das civilizações aborígines canadenses incluíam assentamentos permanentes ou urbanos, agricultura, cidadania, arquitetura monumental e complexas hierarquias sociais.[29] Algumas dessas civilizações já tinham desaparecido antes da colonização europeia (início do século XVI) e foram descobertas através de pesquisas arqueológicas.
Estima-se que no final do século XV e início do século XVI viveriam entre 200 000 e dois milhões de indígenas no que é atualmente o Canadá[30] — o valor atualmente aceito pela Comissão Real sobre a Saúde Aborígine do Canadá é de 500 000.[31] Surtos repetidos de doenças infecciosas europeias como a gripe, o sarampo e a varíola (para as quais os indígenas não tinham imunidade natural), combinados com outros efeitos do contato europeu, resultou em uma diminuição de 40% a 80% da população indígena após a chegada dos europeus.[32] Os povos aborígines do Canadá incluem as Primeiras Nações,[33] Inuítes[34] e Métis.[35] Métis é uma cultura mestiça originada em meados do século XVII, quando as Primeiras Nações e os Inuítes se misturaram com os colonos europeus.[36] Os esquimós tinham uma interação mais limitada com os colonizadores europeus durante períodos iniciais.[37]
Colonização europeia
Por volta do ano 1000, viquingues estabeleceram o colonato de Vinlândia (atual região do Golfo de São Lourenço, Novo Brunswick e Nova Escócia). A ocupação de Leifsbudir foi superficial e durou pouco tempo, porém representou o primeiro contato europeu com a América e o primeiro assentamento escandinavo na América do Norte[38] (com exceção da Groenlândia), cerca de 500 anos antes das viagens de Cristóvão Colombo.[39]
A primeira visita documentada a terras canadenses por navegadores europeus ocorreu em 1497 ou 1498, quando o veneziano ao serviço de Inglaterra Giovanni Caboto (conhecido em inglês como John Cabot) aportou à Terra Nova. Alguns historiadores defendem que há indícios que a Terra Nova já teria sido visitada pelo navegador português João Vaz Corte Real em 1472 ou antes[40][41][42] e por Diogo de Teive e o seu piloto Pero Vasques Saavedra em 1452.[43]
Baseando-se no Tratado de Tordesilhas, a Coroa Portuguesa alegava ter direitos territoriais na área visitada por John Cabot, em 1497–1498.[44] Em 1498, o marinheiro luso João Fernandes Lavrador visitou o que é agora a costa leste do Canadá, sendo que o seu apelido deu origem ao topônimo "Labrador".[45] Posteriormente, entre 1501 e 1502, os irmãos Corte-Real exploraram Terra Nova e Labrador.[46] Em 1506, o rei D. Manuel I criou impostos para a pesca do bacalhau nas águas da região.[47] No ano 1521, João Álvares Fagundes e Pêro de Barcelos comandaram viagens de reconhecimento e estabeleceram postos avançados de pesca.[48] No entanto, a extensão e natureza da presença portuguesa no norte do continente americano durante o século XVI permanecem obscuras. Em 1534 Jacques Cartier explorou o Canadá em nome da França.[49] O explorador francês Samuel de Champlain chegou em 1603 e estabeleceu os primeiros assentamentos europeus permanentes em Port Royal em 1605 e Quebec em 1608.[50]
A colonização europeia começou efetivamente no século XVI, quando os britânicos, e principalmente, os franceses se estabeleceram pelo Canadá. Os britânicos não tiveram uma forte presença no antigo Canadá, instalando-se originalmente na Terra de Rupert — uma gigantesca área que posteriormente daria origem aos Territórios do Noroeste, Manitoba, Saskatchewan e Alberta, que são áreas no centro, oeste e noroeste do país — sendo que a região dos Grandes Lagos e do Rio São Lourenço, bem como a região que atualmente compõe as atuais províncias de Nova Escócia e Novo Brunswick, estava toda nas mãos dos franceses.[51] A Nova França (Nouvelle-France) e a Acádia continuavam a se expandir.[50] Essa expansão não foi bem aceita pelos iroqueses e, principalmente, pelos britânicos e os colonos das chamadas Treze Colônias (as quais se tornariam os Estados Unidos), desencadeando uma série de batalhas que culminou, em 1763, no Tratado de Paris — no qual os franceses cederam seus territórios da Nova França e da Acádia aos britânicos.[52]
Os britânicos, que já então dominavam as imensas Terras de Rupert bem como os territórios de Nunavut, Territórios do Noroeste e Yukon — emitiram o Quebec Act, que permitiu aos franceses estabelecidos no antigo Canadá que continuassem a manter seu código civil e sancionou a liberdade de religião e de idioma — permitindo que a Igreja Católica e a língua francesa continuassem a sobreviver no Canadá até os dias atuais.[53]
Com a Guerra da Independência dos Estados Unidos, que durou de 1775 até 1783, o Canadá recebeu levas de colonos leais aos britânicos, provenientes das Treze Colônias britânicas rebeldes.[54] Tais colonos se estabeleceram no que é a atual província de Ontário. Com isso, os britânicos decidiram separar o Canadá em dois, criando o Canadá Superior (atual Ontário) e o Canadá Inferior (atual Quebec), além do território de Novo Brunswick (antiga Acádia — parte dos territórios antigamente colonizados pelos franceses).[55][56]
Os Estados Unidos, em 1812, invadiram o Canadá Inferior e o Canadá Superior, na tentativa de anexar o resto das colônias britânicas na América do Norte, desencadeando a Guerra de 1812. Os Estados Unidos não tiveram sucesso, recuando ao tomarem conhecimento da chegada de tropas britânicas enviadas para combatê-los — mas ocuparam temporariamente as cidades de York (atual Toronto) e Quebec, queimando-as ao se retirarem. Em retaliação, tropas canadenses e britânicas perseguiram os americanos em fuga, invadindo o nordeste dos Estados Unidos, atacando e queimando várias cidades, inclusive a capital, Washington, D.C.[57]
Em 1837, houve uma grande rebelião de colonos, tanto no Baixo Canadá quanto no Alto Canadá. Isso levou os britânicos a uma tentativa de assimilar a cultura francesa à britânica — entre outras coisas, o Baixo Canadá e o Alto Canadá foram unidos em uma única província do Canadá.[53]
Confederação e expansão
O receio de uma segunda invasão vinda dos Estados Unidos gerou imensas despesas em relação ao quesito de defesa (mais tropas, armamentos, suprimentos, etc.), aliado ao fracasso britânico em assimilar os franceses em 1830, fez com que a ideia da Confederação Canadense (idealizada por colonos canadenses), cujo objetivo era integrar o Canadá e defender melhor a região de um eventual ataque dos Estados Unidos, fosse aprovada pelos britânicos.[11]
Em 1-7-1867, as províncias do Canadá, Novo Brunswick e Nova Escócia tornaram-se uma federação, tornando-se em parte politicamente independentes do Reino Unido — porém, os britânicos ainda teriam controle sobre o Ministério das Relações Exteriores do Canadá por mais 64 anos.[11][58]
Depois de 1867, lentamente outras colônias britânicas aceitaram unir-se à Confederação Canadense, sendo que a primeira foi a Colúmbia Britânica, e em 1880, os Territórios do Noroeste — cedidos pela Companhia da Baía de Hudson. Posteriormente, os Territórios do Noroeste seriam divididos nas atuais províncias de Alberta, Saskatchewan e Manitoba, além dos territórios de Yukon e Nunavut.[11]
O oeste canadense foi totalmente integrado ao território canadense, não sem a geração de conflitos de cunho étnico, social e econômico, dos quais destacam-se a Rebelião de Red River, ocorrida entre 1869 e 1870, e a Rebelião de Saskatchewan, ocorrida em 1885, ambas lideradas pelo líder Métis Louis Riel.[11]
Início do século XX
Como o Reino Unido ainda mantinha o controle das relações exteriores do Canadá, ao abrigo da Lei da Confederação, com a declaração britânica de guerra em 1914, o Canadá foi automaticamente envolvido na Primeira Guerra Mundial. Os voluntários enviados para a Frente Ocidental passaram mais tarde a fazer parte do Corpo Canadense. O Corpo desempenhou um papel importante na Batalha de Vimy e em outras grandes batalhas da guerra.[59] Dos cerca de 625 000 que serviram, cerca de 60 000 foram mortos e outros 173 000 ficaram feridos.[60] A Crise de Recrutamento de 1917 eclodiu quando o primeiro-ministro conservador Robert Borden decretou o serviço militar obrigatório com a oposição dos quebequenses que falavam a língua francesa.[59] Em 1919, o Canadá entrou na Liga das Nações, independentemente do Reino Unido e,[59] em 1931, o Estatuto de Westminster, afirmou a independência do Canadá.[61]
A Grande Depressão trouxe dificuldades econômicas para todo o Canadá. Em resposta, o partido político Co-operative Commonwealth Federation (CCF), em Alberta e Saskatchewan, promulgou várias medidas para estabelecer um estado de bem-estar social (sendo Tommy Douglas o pioneiro) em 1940 e 1950.[62] O Canadá declarou guerra à Alemanha de forma independente durante a Segunda Guerra Mundial sob o governo do primeiro-ministro liberal William Lyon Mackenzie King, três dias após o Reino Unido. As primeiras unidades do Exército canadense chegaram na Grã-Bretanha em dezembro de 1939.[59]
As tropas canadenses desempenharam papéis importantes na Batalha de Dieppe em 1942 em França, na invasão aliada da Itália, nos desembarques do Dia D, na Batalha da Normandia e na Batalha do rio Escalda, em 1944.[59] O Canadá deu asilo e proteção à monarquia dos Países Baixos, enquanto este país esteve ocupado, e é creditado pela liderança e contribuição importante para a sua libertação da Alemanha nazista.[63] A economia canadense cresceu fortemente com a fabricação de materiais militares pela indústria para o Canadá, Reino Unido, China e União Soviética.[59] Apesar de uma outra crise de recrutamento em Quebec, o Canadá terminou a guerra com uma das maiores forças armadas do mundo e com a segunda maior economia do planeta.[64][65]
Tempos modernos
O Domínio de Terra Nova (hoje Terra Nova e Labrador), na época um equivalente do Canadá e da Austrália como um domínio, uniu-se ao Canadá em 1949.[66] O crescimento do Canadá, combinado com as políticas dos sucessivos governos liberais, levou ao aparecimento de uma nova identidade canadense, marcada pela adoção da atual bandeira, em 1965,[67] a aplicação do bilinguismo oficial (inglês e francês), em 1969,[68] e o multiculturalismo oficial em 1971.[69] Houve também a fundação de programas social-democratas, tais como saúde universal, o Canada Pension Plan e empréstimos estudantis, apesar de os governos provinciais, sobretudo Québec e Alberta, se oporem a muitos destes planos como incursões em suas jurisdições.[70] Finalmente, uma outra série de conferências constitucionais resultou na chamada patriation ("patriamento" ou "patriação") de 1982 — até essa altura a constituição do Canadá era uma lei britânica que só podia ser alterada pelo parlamento britânico. Simultaneamente a esse processo, foi criada a Carta Canadense dos Direitos e das Liberdades.[71] Em 1999, Nunavut tornou-se território terceiro do Canadá, após uma série de negociações com o governo federal.[72]
Ao mesmo tempo, o Quebec passou por profundas mudanças sociais e econômicas através da "Revolução Tranquila", dando origem a um movimento nacionalista e mais radical na província chamado Front de libération du Québec (FLQ), cujas ações culminaram na Crise de Outubro de 1970.[73] Uma década depois, um referendo malsucedido sobre a soberania-associação da província de Quebéc realizou-se em 1980,[73] depois que as tentativas de emenda constitucional fracassaram em 1990. Em um segundo referendo realizado em 1995, a soberania da província foi rejeitada por uma margem de apenas 50,6% para 49,4%.[74] Em 1997, a Suprema Corte decidiu que a secessão unilateral de uma província seria inconstitucional e o Clarity Act foi aprovada pelo parlamento, que define os termos de uma saída negociada da Confederação.[74]
Além das questões sobre a soberania de Quebec, uma série de crises sacudiu a sociedade canadense no final dos anos 1980 e início dos anos 1990. Estes incluem a explosão do Voo Air India 182 em 1985, o maior assassinato em massa da história do Canadá;[75] o Massacre da Escola Politécnica de Montreal em 1989, quando um atirador alvejou várias estudantes universitárias;[76] e a crise Oka, em 1990,[77] o primeiro de uma série de violentos confrontos entre o governo e grupos aborígines do país.[78] O Canadá também participou da Guerra do Golfo, em 1990, como parte de uma força de coalizão liderada pelos Estados Unidos, e foi ativo em várias missões de paz no final dos anos 1990.[79] O país enviou tropas para o Afeganistão em 2001, mas recusou-se a enviar tropas para o Iraque quando os Estados Unidos invadiram esta nação em 2003.[80]
O Canadá ocupa a maior parte do norte da América do Norte, partilhando as fronteiras terrestres com os Estados Unidos Continentais ao sul e com o estado estadunidense do Alasca a noroeste, estendendo-se desde o oceano Atlântico a leste até o oceano Pacífico a oeste, e com o oceano Ártico a norte.[10] Em área total (incluindo as suas águas), o Canadá é o segundo maior país do mundo, sendo superado apenas pela Rússia. Em área terrestre (área total menos a área de lagos e rios), o Canadá é o quarto maior país do planeta.[10]
O Canadá tem um litoral muito extenso no seu norte, leste e oeste e, desde o último período glacial consiste em oito regiões florestais distintas, incluindo a vasta floresta boreal sobre o Escudo Canadense.[81] A vastidão e a variedade da geografia, ecologia, vegetação e relevo do Canadá deram origem a uma grande variedade de climas em todo o país.[82]
Desde 1925, o Canadá reivindica a porção do Ártico entre os meridianos 60° W e 141° W,[83] mas essa reivindicação não é universalmente reconhecida. O assentamento humano mais setentrional do Canadá (e do mundo) é a Canadian Forces Station Alert, na ponta norte da Ilha Ellesmere, latitude 82,5°N, a 817 km do Polo Norte.[84] A maior parte do Ártico canadense é coberto por gelo e permafrost. O Canadá também tem o litoral mais extenso do mundo com 202 080 km de extensão.[10]
As temperaturas médias do inverno e do verão em todo o Canadá variam de acordo com a região. O inverno pode ser rigoroso em muitas regiões do país, particularmente no interior e nas pradarias canadenses, que têm um clima continental, onde as temperaturas médias diárias estão perto de −15 °C, mas podem cair abaixo de −40 °C com uma sensação térmica extremamente fria.[85] No interior, a neve pode cobrir o solo durante quase seis meses do ano (mais no norte). O litoral da Colúmbia Britânica desfruta de um clima temperado, com um inverno ameno e chuvoso. Nas costas leste e oeste, as temperaturas médias são mais elevadas, geralmente um pouco acima de 20 °C, enquanto entre as costas, a média de temperatura máxima no verão varia de 25 a 30 °C, com calor extremo ocasional em algumas localidades do interior superior a 40 °C.[86]
Por causa de seu grande tamanho, o Canadá tem mais lagos do que qualquer outro país do mundo, contendo grande parte da água doce do planeta.[87] Há também água nas geleiras das Montanhas Rochosas canadenses e nas Montanhas Costeiras. O Canadá também é geologicamente ativo, com muitos terremotos e vulcões potencialmente ativos, nomeadamente o Complexo Vulcânico Monte Edziza e os montes Meager, Garibaldi e Cayley.[88] A erupção vulcânica do Cone Tseax em 1775 causou um desastre catastrófico, matando 2 000 pessoas do povo Nisga'a, destruindo sua aldeia no vale do rio Nass no norte da Colúmbia Britânica; a erupção produziu um fluxo de lava de 22,5 km, e segundo a lenda do povo Nisga'a, bloqueou o fluxo do rio Nass.[89]
O censo canadense de 2016 registrou uma população total de 35 151 728 habitantes, um aumento de cerca de 5% em relação aos números de 2011.[92][93] Entre 2011 e maio de 2016, a população do Canadá cresceu 1,7 milhão de pessoas, em grande parte pelos imigrantes, representando dois terços do aumento da população.[94] Entre 1990 e 2008, a população aumentou 5,6 milhões, equivalente ao crescimento de 20,4%.[95] Cerca de quatro quintos da população do Canadá vive a 150 km da fronteira com os Estados Unidos.[96] Os principais impulsionadores do crescimento da população são a imigração e, em menor medida, o crescimento natural.[97]
A densidade populacional do Canadá é de apenas 3,7 pessoas por quilômetro quadrado, esta densidade está entre as mais baixas do mundo.[98] Em comum com muitos outros países desenvolvidos, o Canadá está passando por uma mudança demográfica para uma população mais idosa, com mais aposentados e menos pessoas em idade ativa. Em 2006, a idade média da população era de 39,5 anos. Os resultados censitários também indicam que, apesar do aumento da imigração desde 2001 (que deu ao Canadá uma maior taxa de crescimento da população do que no anterior período intercensitário), o envelhecimento da população canadense não diminuiu durante o período.[99]
Urbanização
A parte mais densamente povoada do país é o Corredor Cidade de Quebec–Windsor, (situado no sul de Quebec e Sul de Ontário) ao longo dos Grandes Lagos e do rio São Lourenço, no sudeste.[100] Isto inclui as áreas de Toronto, Montreal e Ottawa), a Lower Mainland (que consiste na região do entorno de Vancouver) e o Corredor Calgary-Edmonton em Alberta.[101]
Etnias
De acordo com o censo de 2016, a maior origem étnica autodeclarada do país é a canadense (representando 32% da população), seguida de ingleses (18,3%), escoceses (13,9%), franceses (13,6%), irlandeses (13,4%), alemães (9,6%), chineses (5,1%), italianos (4,6%), aborígenes (4,4%), indianos (4,0%) e ucranianos (3,9%).[103] São reconhecidos 600 povos das Primeiras Nações abrangendo 1 172 790 pessoas.[104] A população indígena do Canadá está crescendo quase o dobro da taxa nacional, 4% da população reivindicava uma identidade indígena em 2006. Outros 22,3% da população pertenciam a uma minoria não indígena visível.[105]
Em 1961, menos de 2% da população (cerca de 300 000 pessoas) eram membros de grupos minoritários.[106] Os povos indígenas ou aborígenes não são considerados uma minoria visível na Lei de Equidade no Emprego,[107] e essa é a definição que a Statistics Canada também usa. Em 2031, estima-se que um em cada três canadenses poderá pertencer a um grupo minoritário relevante.[108] Em 2016, os maiores grupos étnicos minoritários visíveis foram asiáticos do sul da Ásia (5,6%), chineses (5,1%) e negros (3,5%).[105] Entre 2011 e 2016, a população minoritária visível aumentou 18,4%.[105]
O Canadá tem a maior taxa de imigração per capita do mundo, impulsionada pela política econômica e pelo reagrupamento familiar, e acolheu um número entre 240 000 e 265 000 novos residentes permanentes em 2010.[109] A maioria da população canadense, bem como os principais partidos políticos, apoiam o nível atual de imigração no país.[110][111][112] Em 2014, um total de 260 400 imigrantes foram admitidos no Canadá.[113] E recentemente o governo canadense aceitou entre 280 mil e 305 mil novos residentes permanentes.[114][115] Os novos imigrantes se instalam principalmente em grandes áreas urbanas do país, como Toronto, Montreal, Vancouver e Calgary.[116] O país também aceita um grande número de refugiados,[117] representando mais de 10% do acolhimento global de refugiados.[118]
O termo Primeiras Nações se refere aos povos aborígines do Canadá que não são nem Métis nem Inuítes. Em 2011, esta população era de aproximadamente 1,3 milhões. A migração do povo aborígine data de cerca de 15 000 anos até a última era do gelo, que reduziu o nível do mar e criou uma ponte terrestre entre a Eurásia e as Américas, permitindo que eles se estabelecessem.[119]
Em outubro de 2019, o Canadá é o tema de um relatório da ONU sobre as condições de vida dos povos indígenas. A comissão de inquérito aponta que os aborígines estão "mais propensos a serem mal alojados e a terem problemas de saúde como resultado". Além disso, "a proporção de desabrigados entre eles é desproporcionalmente alta e eles são extremamente vulneráveis a despejos forçados, apropriação de terra e aos efeitos da mudança climática. Ao defenderem seus direitos, eles são frequentemente alvos de extrema violência. As comunidades indígenas também são fortemente afetadas pela falta de moradia no norte do Canadá: comunidades que dormem em turnos. Quinze pessoas vivem em uma casa do tamanho de uma caravana. [...] Elas têm que se revezar dormindo quando não há muito espaço.[120]
Religiões
O apoio ao pluralismo religioso é uma parte importante da cultura política do Canadá. Segundo o censo de 2011, 67,3% dos canadenses identificam-se como cristãos; destes, os católicos formam o maior grupo (38,7% dos canadenses).[121] A maior denominação protestante é a Igreja Unida do Canadá (9,5% dos canadenses), seguida pelos anglicanos (6,8%), os batistas (2,4%), luteranos (2%) e outros cristãos (4,4%).[121] 23,9% dos canadenses declaram-se sem religião e os restantes 8,2% são filiados com religiões não cristãs, sendo a maior delas o islamismo (3,2%), seguido pelo hinduísmo (1,5%).[121]
Idiomas
As duas línguas oficiais do Canadá são o inglês e o francês. O bilinguismo oficial é definido na Carta Canadense dos Direitos e das Liberdades, o Official Languages Act e o Official Language Regulations; é aplicado pelo Comissário de Línguas Oficiais. O inglês e francês têm o mesmo estatuto em tribunais federais, no Parlamento, e em todas as instituições federais. Os cidadãos têm o direito, sempre que houver demanda suficiente, de receber serviços do governo federal em inglês ou francês, e as minorias que utilizam um dos idiomas oficiais têm garantidas suas próprias escolas em todas as províncias e territórios do país.[122]
O inglês e o francês são as línguas maternas de 59,7% e 23,2% da população, respectivamente,[123] e as línguas mais faladas em casa, 68,3% e 22,3% da população, respectivamente.[124] 98,5% dos canadenses falam inglês ou francês (67,5% falam apenas em inglês, 13,3% falam apenas francês e 17,7% falam ambas as línguas).[125] Comunidades cujas línguas oficiais são o inglês ou o francês, constituem 73,0% e 23,6% da população, respectivamente.[125]
A Carta da Língua Francesa faz do francês a língua oficial em Quebec.[126] Embora mais de 85% dos canadenses francófonos vivam em Quebec, existem populações significativas de francófonos em Ontário, Alberta e no sul de Manitoba. Ontário tem a maior população de língua francesa fora de Quebec.[127] Novo Brunswick, a única província oficialmente bilíngue, tem uma minoria de acadianos de língua francesa constituindo 33% da população. Há também grupos de acadianos no sudoeste da Nova Escócia, na Ilha Cape Breton e nas partes central e ocidental da Ilha do Príncipe Eduardo.[128]
Outras províncias não têm línguas oficiais, mas o francês é utilizado como língua de instrução, nos tribunais, e para outros serviços do governo, além do inglês. Manitoba, Ontário e Quebec permitem que o inglês e francês sejam falados nas legislaturas provinciais e que leis sejam aprovadas em ambas as línguas. Em Ontário, o francês tem um estatuto legal, mas não é completamente cooficial.[129] Existem 11 grupos de línguas aborígines, compostas por mais de 65 dialetos distintos.[130] Destes, apenas as línguas Cree, Inuktitut e Ojibway têm uma população de falantes fluentes grande o suficiente para serem consideradas viáveis para sobreviverem no longo prazo.[131] Várias línguas indígenas têm estatuto oficial nos Territórios do Noroeste.[132] O inuktitut é a língua maioritária em Nunavut e uma das três línguas oficiais do território.[133]
Mais de seis milhões de pessoas no Canadá indicam uma língua não oficial como sua língua materna. Algumas das mais comuns primeiras línguas não oficiais incluem o chinês (cantonês, principalmente, 1 012 065 falantes como primeira língua), italiano (455 040), alemão (450 570), punjabi (367 505), espanhol (345 345), árabe (261 640) e português (219 275).[123]