Coreia do Norte
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Coreia do Norte, oficialmente República Popular Democrática da Coreia (RPDC; em coreano: 조선민주주의인민공화국; hanja: 朝鮮民主主義人民共和國; transl. Chosŏn Minjujuŭi Inmin Konghwaguk), é um país no leste da Ásia que constitui a parte norte da península coreana, com Pyongyang como capital e maior cidade do país. Ao norte e noroeste, o país é limitado pela China e pela Rússia ao longo dos rios Amnok (conhecido como o Yalu em chinês) e Tumen;[6] é limitado ao sul pela Coreia do Sul, os dois países são separados pela Zona Desmilitarizada Coreana (ZDC). Os dois estados afirmam ser o governo legítimo de toda a península coreana e de suas ilhas adjacentes.[7] A Coreia do Norte e a Coreia do Sul se tornaram membros das Nações Unidas em 1991.[8]
República Popular Democrática da Coreia 조선민주주의인민공화국 朝鮮民主主義人民共和國 Chosŏn Minjujuŭi Inmin Konghwaguk[1] | |||||
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Lema: 강성대국 Gangseongdaegug "Poderosa e próspera nação" | |||||
Hino nacional: 애국가 Aegukka "A Canção Patriótica" | |||||
Gentílico: norte-coreano | |||||
Localização da Coreia do Norte (em verde escuro); área reivindicada (verde claro) | |||||
Capital | Pyongyang | ||||
Cidade mais populosa | Pyongyang | ||||
Língua oficial | Coreano | ||||
Governo | República popular socialista (juche) | ||||
• Presidente da Comissão de Assuntos Estatais | Kim Jong-un2 | ||||
• Presidente da Suprema Assembleia Popular | Choe Ryong-hae | ||||
• Premier | Kim Tok-hun | ||||
Independência | do Império do Japão | ||||
• Declarada (dia V-J) | 15 de agosto de 1945 | ||||
• Reconhecida | 9 de setembro de 1945 | ||||
Área | |||||
• Total | 120 540 km² (96.º) | ||||
• Água (%) | 0,1 | ||||
Fronteira | Coreia do Sul, China, Rússia | ||||
População | |||||
• Estimativa para 2022 | 25 955 138[2] hab. (55.º) | ||||
• Densidade | 214[3] hab./km² | ||||
PIB (base PPC) | Estimativa de 2015 | ||||
• Total | US$ 40 bilhões*[4] | ||||
• Per capita | US$ 1 800[4] | ||||
PIB (nominal) | Estimativa de 2015 | ||||
• Total | US$ 16 bilhões*[4] | ||||
• Per capita | US$ 506[4] | ||||
Moeda | Won norte-coreano (KPW ) | ||||
Fuso horário | (UTC+9:00[5]) | ||||
Cód. ISO | PRK | ||||
Cód. Internet | .kp | ||||
Cód. telef. | +850 | ||||
1
Kim Il-Sung, falecido em 1994, foi nomeado Presidente Eterno em 1998. |
Em 1910, a Coreia foi anexada pelo Império do Japão. Em 1945, após a rendição japonesa no final da Segunda Guerra Mundial, a Coreia foi dividida em duas zonas, com o norte ocupado pela União Soviética e o sul ocupado pelos Estados Unidos. Negociações sobre a reunificação fracassaram e, em 1948 foram formados governos independentes na República Popular Democrática da Coreia, no norte, e na República da Coreia, no sul. Uma invasão iniciada pelo Norte desencandeou a Guerra da Coreia (1950–1953). O Acordo de Armistício Coreano conduziu a um cessar-fogo, mas nenhum tratado de paz jamais foi assinado.[9]
A Coreia do Norte oficialmente se descreve como um Estado socialista autossuficiente e formalmente realiza eleições.[10] Vários analistas, no entanto, classificam o governo do país como uma ditadura stalinista totalitária,[11][12][13] particularmente por conta do intenso culto de personalidade em torno de Kim Il-sung e sua família. O Partido dos Trabalhadores da Coreia (PTC), liderado por um membro da família governante,[14] detém o poder e lidera a Frente Democrática para a Reunificação da Pátria, da qual todos os oficiais políticos são obrigados a ser membros.[15] Juche, a ideologia de autossuficiência nacional, foi introduzida na constituição em 1972. Os meios de produção são de propriedade do Estado através de empresas estatais e fazendas coletivizadas. A maioria dos serviços, como saúde, educação, habitação e produção de alimentos, também é subsidiada ou financiada pelo Estado. O país segue a política Songun, ou "militares em primeiro lugar",[16] com um total de 9 495 000 de pessoas entre soldados ativos, na reserva e paramilitares. Seu exército ativo, de 1,21 milhão de homens, é o quarto maior do mundo, depois da China, dos Estados Unidos e da Índia.[17] O país também possui armas nucleares.[18][19]
Várias organizações internacionais avaliam que graves violações de direitos humanos na Coreia do Norte são comuns e tão severas que não têm paralelo no mundo contemporâneo.[20][21][22] De 1994 a 1998, a Coreia do Norte sofreu uma crise de fome que resultou na morte de milhares de pessoas (entre 240 mil e 420 mil norte-coreanos), sendo que a população continua a sofrer de desnutrição. O governo norte-coreano nega veementemente a maioria das alegações, mesmo com provas e acusando organizações internacionais de fabricar abusos de direitos humanos como parte de uma campanha difamatória com a intenção secreta de derrubar o regime, embora admitam que há questões de direitos humanos relacionadas às condições de vida que o governo está tentando corrigir.[23][24][25][26]
O nome Coreia deriva de Goryeo (também escrito Koryŏ). O nome Goryeo foi usado pela primeira vez pelo antigo reino de Goguryeo (Koguryŏ), que foi uma das grandes potências do leste asiático durante seu período de existência,[27][28][29] governando a maior parte da Península Coreana, Manchúria, partes do Extremo Oriente Russo[30] e da Mongólia Interior,[31] sob a liderança de Guangaeto, o Grande.[32] No século X, o reino de Goryeo sucedeu o de Goguryeo, e assim herdou seu nome,[33] que foi pronunciado por comerciantes visitantes da Pérsia como "Coreia".[34] A grafia moderna da Coreia surgiu pela primeira vez no final do século XVII nos escritos de viagem de Hendrick Hamel, da Companhia Holandesa das Índias Orientais.[35]
Após a divisão do país em Coreia do Norte e do Coreia do Sul, os dois lados usaram termos diferentes para se referir à Coreia: Chosun ou Joseon (조선) no Norte, e Hanguk (한국) no Sul.[36][37] Em 1948, a Coreia do Norte adotou como nome oficial República Popular Democrática da Coreia (DPRK; em coreano: 조선민주주의인민공화국, Chosŏn Minjujuŭi Inmin Konghwaguk; ouçaⓘ).[38] Em todo o mundo, como o governo controla a parte norte da península, o país geralmente é chamado de Coreia do Norte para distingui-lo da Coreia do Sul, que é oficialmente denominada República da Coreia. Ambos os governos se consideram o governo legítimo de toda a Coreia.[39][40] Por este motivo, a população não gosta que estrangeiros chamem o país de Coreia do Norte, preferindo seu nome oficial, pois este representaria o controle "verdadeiro e legítimo" das lideranças do país sobre a Coreia.[41]
Antes da divisão
Artefatos da era do Paleolítico que foram descobertos indicam que a ocupação de humanos na Península Corena começou há cerca de meio milhão de anos.[42] De acordo com o relato mítico, o reino de Gojoseon, o primeiro Estado coreano, foi fundado no norte da Coreia e no sul da Manchúria em 2333 a.C..[43] Gojoseon tinha Pyongyang como sua capital e a data de sua fundação (3 de outubro) é comemorada na Coreia do Norte como o Dia da Fundação Nacional. Em 108 d.C., após invasão dos chineses, o reino de Gojoseon foi dividido em quatro territórios. Os povos trocaram um amplo intercâmbio cultural, fazendo com que a cultura chinesa influenciasse fortemente os coreanos.[44]
O domínio direto dos chineses se tornou enfraquecido e a península foi eventualmente dividida em três reinos, Baekje, Silla e Koguryo, um período conhecido como Três Reinos da Coreia.[45] Os reinos viveram em constante conflito entre si até 676, quando Silla unificou com sucesso a maior parte do território coreano, com exceção do reino de Balhae.[46][47] O Reino de Silla, governado por uma monarquia absoluta,[48] era próspero,[49] e sua capital Seorabeol (atualmente Gyeongju, na Coreia do Sul) era a quarta maior cidade do mundo na época, além de influente centro asiático.[50]
Em 918, o general Wang Geon fundou o reino de Goryeo, substituindo a dinastia Silla.[51] O período Goryeo foi a "era de ouro do budismo" na Coreia, sendo sua religião nacional e um importante ponto de unificação.[52] O comércio prosperou,[53] com comerciantes vindos do Oriente Médio,[54] e sua principal capital Kaesong (hoje parte da Coreia do Norte) era um centro de comércio e indústria.[55] Foi ainda um período de grandes conquistas na arte e cultura coreana, como por exemplo a Tripitaca Coreana.[56] Goryeo sofreu constantes invasões e ocupações pelo Império Mongol e,[57] em 1392, uma rebelião iniciada pelo general Yi Seong-gye culminou com o fim da dinastia, que foi substituída pela dinastia Joseon.[58]
Joseon foi a última dinastia da Coreia, governando até 1897.[59] O regime adotou o neoconfucionismo como a ideologia de Estado e o budismo foi desencorajado, com seus seguidores ocasionalmente enfrentando perseguições.[60][61] Durante o final do século XVI e início do XVII, a dinastia foi severamente enfraquecida por invasões dos vizinhos Japão e Qing, levando a uma política cada vez mais dura de isolamento, pela qual o país se tornou conhecido como o "Reino eremita".[62][63][64] No final do século XIX, conflitos internos e pressão internacional levaram à queda de Joseon, que deu lugar ao Império Coreano. Naquele momento, era uma das sociedades mais antigas e etnicamente e culturalmente homogêneas. O império adotou reformas que "abriram suas portas", o que contudo não foi capaz de impedir que o Japão o anexasse em 1910, tornando-se uma colônia japonesa.[65][66]
O Império Coreano permaneceu sob o domínio japonês até o final da Segunda Guerra Mundial em 1945. A maioria da população era composta por camponeses voltados para a agricultura de subsistência.[67] O Japão desenvolveu minas, represas hidroelétricas, siderúrgicas e fábricas no norte da Coreia e na vizinha Manchúria.[68] A classe trabalhadora industrial expandiu-se rapidamente e muitos foram trabalhar na Manchúria.[69] Consequentemente, 65% da indústria pesada estava localizada no norte, mas, devido ao seu terreno acidentado, apenas 37% de sua agricultura.[70] Um movimento de guerrilha surgiu no interior montanhoso e na Manchúria, assediando as autoridades imperiais japonesas. Um dos líderes de guerrilha mais proeminentes foi o comunista Kim Il-sung.[71]
No decorrer da guerra, o Japão recorreu aos recursos da Coreia, alistando à força cerca de 725 mil coreanos, que atuaram tanto como mão de obra no Japão como em seus territórios ocupados.[72] Ao final da guerra, aproximadamente um terço da força de trabalho industrial do Japão era formada por coreanos. Com as condições de trabalho próximas à escravidão,[73] aproximadamente 400 mil dos 5,4 milhões de trabalhadores coreanos morreram. Também houve o envio de 670 mil coreanos para o Japão, e cerca de 60 mil deles morreram.[74] Nos bombardeamentos atômicos, perpetrados pelos Estados Unidos em Hiroshima e Nagasaki, entre 40 e 50 mil coreanos foram instantaneamente mortos.[75][76] Outras milhares serviram como "Mulheres de conforto", sendo forçadas à prostituição e à escravidão sexual nos bordéis militares japoneses.[77]
Depois da divisão
Divisão e Guerra da Coreia
Após a rendição do Japão em 1945, o domínio japonês sobre a Coreia chegou ao fim. As negociações para uma reunificação da Coreia fracassaram e a península foi dividida em duas regiões seguindo o paralelo 38 N, com a metade norte sendo ocupada pela União Soviética e a metade sul pelos Estados Unidos.[78][79] As Nações Unidas propuseram a realização de eleições, mas os soldados soviéticos impediram a entrada de observadores eleitorais.[80][81] A Coreia do Sul realizou suas próprias eleições e em seguida foi reconhecida pela ONU como o "único governo legal na Coreia".[82] No Norte, os soviéticos governaram interinamente a região e posteriormente ajudaram Kim Il-sung a se estabelecer como o líder;[83][84] a República Popular Democrática da Coreia foi proclamada em 9 de setembro de 1948.[85]
Com a divisão, ambos os países tentaram controlar toda a península sob seus respectivos governos, o que levou a uma escalada de conflitos na fronteira.[86][87] As forças soviéticas se retiraram do norte em 1948, e a maioria das forças norte-americanas estacionadas no sul fizeram o mesmo em 1949.[88] Os soviéticos e norte-coreanos suspeitavam que os sulistas planejavam invadir a Coreia do Norte, e o embaixador soviético Terenty Shtykov, simpático à ideia de Kim de reunificar a Coreia sob um governo comunista, conseguiu convencer Joseph Stalin a apoiar uma rápida guerra contra a Coreia do Sul.[89][90][91] Em 25 de junho de 1950, os militares norte-coreanos invadiram o Sul, dando início à Guerra da Coreia.[92]
A Coreia do Norte rapidamente dominou a maior parte do sul, controlando 95% da península em agosto de 1945,[93] mas uma força das Nações Unidas, liderada pelos norte-americanos, interveio para defender o sul e conseguiu avançar para o norte.[94] A União Soviética e a China decidiram apoiar a Coreia do Norte, enviando efetivos militares e provisões para as tropas. Em julho de 1953, um armistício foi firmado e a península divida ao longo da Zona Desmilitarizada da Coreia, muito próxima à linha da demarcação original.[95] Nenhum tratado de paz foi firmado, e tecnicamente os dois países continuaram em guerra.[96] Estimou-se que aproximadamente 3 milhões de civis morreram, com a Coreia do Norte sendo o país mais devastado: entre 12–15% de sua população (na época c. de 10 milhões) morreu e quase todos os seus edifícios importantes foram destruídos.[97][98] Uma zona desmilitarizada (DMZ) fortemente protegida ainda divide a península, e um sentimento anticomunista e antiCoreia do Norte permanece na Coreia do Sul. Os Estados Unidos mantêm uma forte presença militar no sul, representada pelo governo norte-coreano como uma força de ocupação imperialista.[99]
Pós-guerra
No pós-guerra, a relativa paz entre as Coreias foi interrompida por conflitos na fronteira, sequestros e tentativas de assassinato. A Coreia do Norte não obteve êxito em suas tentativas de assassinar os presidentes sul-coreanos, como no ataque à Casa Azul em 1968 e no atentado de Rangum em 1983.[100][101] Por quase duas décadas, os dois Estados não buscaram negociar entre si. Na década de 1970, comunicações secretas começaram a ser trocadas, culminando em uma declaração conjunta em 1972 que estabeleceu princípios de trabalho em prol de uma reunificação pacífica.[102] As negociações fracassaram em 1973 pois a Coreia do Sul declarou sua preferência de que os dois países deveriam apresentar candidaturas separadas para organizações internacionais.[103]
Internamente, Kim estabeleceu um Estado socialista com uma economia planificada por um regime totalitário.[104][105] Kim foi responsável por violações generalizadas de direitos humanos, punindo dissidentes através de execuções públicas e desaparecimentos forçados.[106] Em 1956, conseguiu impedir que a União Soviética e a China o depusessem em favor de um governo mais moderado.[107] Os norte-coreanos permanecerem estreitamente alinhados com a China e a URSS, e a ruptura sino-soviética permitiu que Kim jogasse com as potências.[108] Também tentou ganhar influência no Movimento Não Alinhado[109] e, buscando se diferenciar da URSS e da China, desenvolveu a ideologia Juche, que se concentrou no nacionalismo coreano, autodeterminação e aplicação dos ideais marxistas-leninistas no contexto norte-coreano.[110][111]
A recuperação da guerra foi rápida — em 1957, a produção industrial atingiu os níveis de 1949, pré-conflito. Em 1959, as relações com o Japão haviam melhorado um pouco e a Coreia do Norte começou a permitir a repatriação de cidadãos japoneses no país. No mesmo ano, a Coreia do Norte reavaliou o Won norte-coreano, que detinha um valor maior do que o seu homólogo sul-coreano. Até a década de 1960, o crescimento econômico era superior ao da Coreia do Sul, e o PIB per capita da Coreia do Norte era igual ao de seu vizinho do sul em 1976.[112] No entanto, na década de 1980 a economia começou a estagnar; em 1987 a economia iniciou seu longo declínio e quase entrou em colapso após a dissolução da União Soviética em 1991, quando a ajuda financeira soviética foi subitamente interrompida.[113]
Em 1992, a saúde de Kim Il-sung começou a se deteriorar e seu filho Kim Jong-il passou lentamente a assumir várias funções governamentais. Kim Il-sung morreu de ataque cardíaco em 1994 e Kim Jong-il se tornou o líder supremo;[114][115] o país é a única dinastia comunista do mundo.[116] Kim Jong-il instituiu a política Songun para priorizar os esforços destinados a área militar em detrimento de todas as outras.[117] Ainda em 1994 os norte-coreanos se comprometeram a interromper o desenvolvimento de armas nucleares em acordo negociado pelo presidente norte-americano Bill Clinton.[118] Em meados da década de 1990, as enchentes exacerbaram a crise econômica, danificando severamente as plantações e a infraestrutura e levando à fome generalizada que o governo se mostrou incapaz de reduzir, resultando na morte de 250 mil a 3 milhões de pessoas.[119][120] O governo acabou aceitando a ajuda alimentar da ONU e de outros países, incluindo os EUA.[121][122] No final do século, a Coreia do Sul adotou a Política do Sol e as duas nações começaram a se aproximar publicamente.[123]
Século XXI
O ambiente internacional mudou com a eleição de George W. Bush como presidente dos EUA em 2000. Rejeitando a Política do Sol e o acordo mediado por Clinton, seu governo tratou a Coreia do Norte como um Estado vilão e classificou seu regime como parte de um "eixo do mal" e um "posto avançado da tirania".[124][125] De modo a evitar que tivesse o mesmo fim que o do Iraque, o regime redobrou seus esforços para adquirir armas nucleares.[126][127][128] Em 2006, os norte-coreanos realizaram seu primeiro teste nuclear;[129] em resposta, o Conselho de Segurança da ONU adotou de forma unânime uma resolução que impôs uma série de sanções comerciais e econômicas contra o país.[130]
Em 2007, a Coreia do Norte chegou a um acordo com outros países para encerrar suas atividades nucleares, obtendo em troca ajuda econômica e energética.[131] Porém, o governo fez o segundo teste nuclear em 2009.[132] Em 2010, as tensões entre as Coreias aumentaram após o Naufrágio do Cheonan, causado, de acordo com acusação da Coreia do Sul, pelos norte-coreanos.[133][134] Em 2013, a inteligência norte-americana reportou, com "confiança moderada", que a Coreia do Norte poderia ter alcançado tecnologia suficiente para armar mísseis com ogivas nucleares.[135]
Kim Jong-il faleceu em 2011 e seu filho Kim Jong-Un assumiu o cargo de líder supremo.[136][137] Apesar da condenação internacional, Kim Jong-Un continuou o desenvolvimento do arsenal nuclear, possivelmente incluindo uma bomba de hidrogênio e um míssil capaz de atingir os EUA.[138] Também empreendeu uma campanha contra dissidentes, recorrendo a execuções — inclusive do próprio tio Jang Song-thaek.[139] Em 2014, um relatório endossado pela Assembleia Geral da ONU acusou o governo de cometer crimes contra a humanidade.[140] Ao longo de 2017, após o início do governo de Donald Trump nos EUA, as tensões aumentaram e houve uma retórica maior entre os dois países.[141] A hostilidade diminuiu substancialmente em 2018, dando lugar a uma détente,[142] e cúpulas históricas ocorreram entre Kim Jong-un, o presidente sul-coreano Moon Jae-in e Trump, mas as nações não chegaram a um acordo.[143][144]
A Coreia do Norte ocupa a porção norte da Península Coreana, situado entre as latitudes 37° e 43°N e as longitudes 124° e 130°E.[145] O país abrange uma área de 120 540 km², sendo 130 km² de água.[146] Ao norte, faz fronteira com a China e a Rússia ao longo dos rios Yalu e Tumen e, a sul, com a Coreia do Sul ao longo da Zona Desmilitarizada da Coreia.[147][148] A oeste, há o Mar Amarelo e, a leste, é banhada pelo Mar do Japão.[149] O país tem 1 607 km de fronteira terrestre, sendo que a mais extensa é com a China (1 352 km), seguida pela Coreia do Sul (237 km) e a Rússia (18 km).[150]
Cerca de 80% do território é composto por montanhas e planaltos, separados por vales profundos e estreitos.[151] A grande maioria da população vive em planaltos e planícies;[151] na maior parte, as planícies são pequenas. As mais extensas são as de Pyongyang e Chaeryong, cada uma cobrindo uma área de cerca de 200 mi.[152] Todas as montanhas da península com elevações de 2 000 m ou mais estão localizadas na Coreia do Norte.[151] O ponto mais alto é a Montanha Baekdu, uma montanha vulcânica com uma altitude de 2 744 m acima do nível do mar.[153]
O rio mais longo é o Yalu, chamado de Amnok em coreano. O Yalu possui 790,1 km de comprimento, dos quais 675,9 km são navegáveis. O Tumen é o segundo maior rio, com 521,4 km de comprimento.[154] Os lagos tendem a ser pequenos devido à falta de atividade glacial e à estabilidade da crosta terrestre na região. Ademais, ao contrário de seus vizinhos China e Japão, a Coreia do Norte experiencia poucos terremotos severos.[151]
Topografia
A elevação média no país é de 600 m, caracterizada por pequenas planícies. As mais extensas são as planícies de Pyongyang e Chaeryong, cada com uma área de cerca de 500 km². Ao contrário do vizinho Japão ou o norte da China, a Coreia do Norte é pouca propensa a terremotos violentos.[155]
O ponto mais elevado da Coreia do Norte é a Montanha Baekdu, uma montanha vulcânica próxima à fronteira com a China, um planalto de lava basáltica de elevações entre 1 400 e 2 000 m acima do nível do mar.[155] A Serra Hamgyong, localizada no extremo nordeste da península, possui muitos picos altos, incluindo Gwanmosan, com aproximadamente 1 756 m (5 761 pés). Outras serras de maior relevo incluem as Montanhas Rangrim, que atravessam o centro-norte do país numa direção norte-sul, dificultando a comunicação entre as partes leste e oeste do país; e a Serra Kangnam, ao longo da fronteira China-Coreia do Norte. Geumgangsan, frequentemente escrita Mt Kumgang, ou Montanha Diamantina, (aproximadamente 1 638 m) nos montes Taebaek, prolonga-se para a Coreia do Sul. É famosa pela sua beleza cênica.[155]
Clima
A Coreia do Norte possui um clima continental com quatro estações bem distintas.[156] Longos invernos trazem uma temperatura baixa e condições meteorológicas claras intercaladas entre tempestades de neve como resultado dos invernos do norte e noroeste, soprados da Sibéria. A nevasca média é de 37 dias durante o inverno. É provável que o tempo seja particularmente rigoroso ao norte, onde há regiões montanhosas. O verão tende a ser curto, quente, úmido e chuvoso por causa das monções de inverso do sul e sudeste que trazem ar úmido do Oceano Pacífico. Tufões afetam a península em uma média de pelo menos uma vez a cada verão.[156] Primavera e outono são estações transicionais marcadas por temperaturas amenas e trazem um clima mais agradável. Os perigos naturais incluem secas ao final da primavera, muitas vezes seguidas por graves inundações.
O verão tende a ser curto, quente, úmido e chuvoso devido aos ventos das monções do sul e sudeste que trazem o ar úmido do Oceano Pacífico. A primavera e o outono são estações de transição marcadas por temperaturas amenas e ventos variáveis e trazem o clima mais agradável. As temperaturas médias diárias altas e baixas dar-se-ã entre 29 °C e 20 °C.[156] Em média, aproximadamente 60% de toda a precipitação ocorre de junho a setembro. Os riscos naturais incluem secas no final da primavera, que são frequentemente seguidas por severas inundações. Os tufões afetam a península em média pelo menos uma vez a cada verão ou início do outono.[156]
A população da Coreia do Norte, de cerca de 26 milhões de habitantes, é uma das populações mais homogêneas étnica e linguisticamente do mundo, com um número muito pequeno de chineses, japoneses, vietnamitas, sul-coreanos, e uma minoria de europeus expatriados.
De acordo com o CIA World Factbook, a expectativa de vida da Coreia do Norte era de 63,8 anos em 2009, um valor quase equivalente ao do Paquistão e Myanmar e pouco menor que a da Rússia.[157] A mortalidade infantil situa-se em um nível elevado, de 51,34, a qual é 2,5 vezes maior do que a da República Popular da China, 5 vezes a da Rússia e 12 vezes a da Coreia do Sul.[158] De acordo com a lista "The State of the world's Children 2003" da UNICEF, a Coreia do Norte aparece na 73ª posição (com o primeiro lugar tendo o maior nível de mortalidade), entre a Guatemala (72ª) e Tuvalu (74º).[158][159] A taxa de fecundidade da Coreia do Norte é relativamente baixa e situa-se em 1,96 em 2009, comparável à dos Estados Unidos e da França.[160]
Religião
Ambas as Coreias compartilham uma herança budista e confucionista e uma recente aparição do movimento cristão. A constituição da Coreia do Norte declara que a liberdade de religião é permitida.[162] De acordo com os padrões de religião,[163] a maioria da população norte-coreana pode ser caracterizada como irreligiosa. No entanto, existe ainda uma influência cultural de religiões tradicionais como do budismo e confucionismo na vida espiritual da Coreia do Norte.[164][165][166]
Entretanto, o grupo budista norte-coreano é restritamente controlado pelo estado e, declaradamente, maior que outros grupos religiosos; particularmente os cristãos, que são perseguidos pelas autoridades.[167][168] O governo oferece apoio financeiro aos budistas para promover a religião, pois o budismo desempenha um papel fundamental na cultura tradicional coreana.[169]
De acordo com o Human Rights Watch, atividades de liberdade religiosa não existem mais na Coreia do Norte, enquanto o governo patrocina grupos religiosos apenas para criar uma ilusão de liberdade religiosa.[170] Conforme a Religious Intelligence, a situação norte-coreana é a seguinte:[171] irreligião: 15 460 000 adeptos (64,31% da população, uma vasta maioria dos quais são adeptos à filosofia Juche); xamanismo coreano: 3 846 000 adeptos (16% da população); chondoismo: 3 245 000 adeptos (13,5% da população); budismo: 1 082 000 adeptos (4,5% da população); cristianismo: 406 000 adeptos (1,69% da população).
Pyongyang era o centro da atividade cristã na Coreia antes da Guerra da Coreia. Hoje em dia, existem quatro igrejas sancionadas pelo Estado, na qual os defensores da liberdade religiosa dizem ser "igrejas de fachada", servindo apenas para criar uma falsa imagem da situação.[172][173] Estatísticas oficiais do governo reportam que existem 10 000 protestantes e 4 000 católicos romanos na Coreia do Norte.[174]
De acordo com um ranking publicado pela Missão Portas Abertas, uma organização que apoia cristãos perseguidos, a Coreia do Norte é atualmente (2020) o país com as mais severas perseguições dos cristãos no mundo.[175] Grupos de direitos humanos, como a Anistia Internacional, também se manifestaram sobre perseguições religiosas na Coreia do Norte.[176]
Idioma
O idioma oficial do país e o mais falado pelos norte-coreanos é o coreano, cuja classificação ainda é objeto de debate; alguns autores afirmam que ela pertence à família altaica, enquanto outros afirmam que é uma língua isolada.[177] O coreano tem o seu próprio alfabeto, o hangul, que foi inventado ao redor do século XV.[178] Ainda que por seu aspecto pareça ser um alfabeto pictográfico, na realidade é um alfabeto organizado em blocos silábicos. Cada um destes blocos consiste em pelo menos dois dos 24 caracteres (jamo): pelo menos uma das quatorze consoantes e uma das dez vogais. Os alfabetos hanja (chinês) e o latino são usados dentro de alguns textos em coreano, uma prática mais usual no sul do que no norte.[179]
Ainda que também seja o idioma nacional da vizinha Coreia do Sul, o coreano falado na Coreia do Norte difere dos falado pelos sul-coreanos em alguns aspectos como a pronúncia, a ortografia, a gramática e o vocabulário.[180]