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Tradição oral

transmissão oral de cultura de uma geração para outra Da Wikipédia, a enciclopédia livre

Tradição oral
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Tradição oral ou conhecimento oral é a cultura imaterial e tradição transmitida oralmente de uma geração para outra.[1][2] As mensagens ou testemunhos são verbalmente transmitidas em discurso ou canção e podem tomar a forma, por exemplo, de contos, provérbios, canções ou cânticos. Desta forma, é possível que uma sociedade possa transmitir a história oral, literatura oral, a lei oral, e outros saberes entre as gerações, sem um sistema de escrita. Técnica iniciada antes do surgimento da escrita (3 000 a.C) quando as memórias auditiva e visual eram os únicos recursos de armazenamento e a transmissão do conhecimento entre gerações (linguagem).[3]

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Um manaschi Quirguiz.

Uma definição mais estreita de tradição oral é, por vezes apropriada.[1] Sociólogos também podem enfatizar a exigência de que o material é realizado em comum por um grupo de pessoas, ao longo de várias gerações, e pode distinguir tradição oral do testemunho ou da história oral.[4] Em um sentido geral, "tradição oral" refere-se à transmissão de material cultural através da emissão vocal, e foi por muito tempo considerado um descritor-chave do folclore (um critério não mais realizado rigidamente por todos os folcloristas).[5] Como uma disciplina acadêmica, refere-se tanto a um conjunto de objetos de estudo e um método pelo qual eles são estudados[6] — o método pode ser chamado variadamente de "teorias da tradição oral", "a teoria da composição oral-fórmula" e a "teoria de Parry-Lord" (em homenagem a dois dos seus fundadores). O estudo da tradição oral é diferente da disciplina acadêmica da história oral,[7] que é a gravação de memórias pessoais e histórias de quem experimentou épocas ou eventos históricos. Ele também é distinta do estudo da oralidade, o que pode ser definido como o pensamento e a sua expressão verbal em sociedades onde as tecnologias de alfabetização (especialmente escrita e impressão) não estão familiarizados com a maioria da população.[8]

Atualmente as Populações Tradicionais ou Comunidades Tradicionais continuam transmitindo de forma oral o conhecimento sócio-cultural-religioso.[9][10] Por meio da contração de histórias e da prática cotidiana que ela mantém viva a sua tradição. Por isso, para os povos nativos é fundamental o respeito aos mais velhos, que geralmente são responsáveis por contar as histórias dos antepassados. De acordo com o Governo Federal do Brasil, a comunidade tradicional realiza práticas cotidianas de produção baseadas no desenvolvimento sustentável;[11] a "Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais" (PNPCT) subordinada ao Ministério do Meio Ambiente do Brasil,[12][13] determina as comunidade que são tradicionais: caboclo; caiçara; extrativista; indígena; jangadeiro; pescador; quilombola; ribeirinho, e; seringueiro.[14]

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Estudo da tradição oral

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A oralidade é uma atitude diante da realidade e não a ausência de uma habilidade. As tradições desconcertam o historiador contemporâneo – imerso em tão grande número de evidências escritas, vendo-se obrigado, por isso, a desenvolver técnicas de leitura rápida – pelo simples fato de bastar à compreensão a repetição dos mesmos dados em diversas mensagens. As tradições requerem um retorno contínuo à fonte. Fu Kiau, do Zaire, diz, com razão que é ingenuidade ler um texto oral uma ou duas vezes e supor que já o compreendemos. Ele deve ser escutado, decorado, digerido internamente, como um poema, e cuidadosamente examinado para que se possam apreender seus muitos significados – ao menos no caso de se tratar de uma elocução importante. O historiador deve, portanto, aprender a trabalhar mais lentamente, refletir, para embrenhar-se numa representação coletiva, já que o corpus da tradição é a memória coletiva de uma sociedade que se explica a si mesma. Muitos estudiosos africanos, como Amadou Hampâté-Ba ou Boubou Hama muito eloquentemente têm expressado esse mesmo raciocínio. O historiador deve iniciar-se, primeiramente, nos modos de pensar da sociedade oral, antes de interpretar suas tradições.[15]|

Origina-se do primórdio dos tempos, quando ainda não havia a escrita e os materiais que pudessem manter e circular os registros históricos. Na atualidade, é própria das classes iletradas. A tradição oral tem sido, contudo, muito valorizada pelos eruditos que se dedicam ao seu estudo e compilação (os contos dos Irmãos Grimm, por exemplo), ao considerarem que é na tradição oral que se fundamenta a identidade cultural mais profunda de um povo. Supõe-se, por exemplo, que a Ilíada e a Odisseia de Homero foram, inicialmente, longos poemas recitados de memória. No romantismo, voltou-se a valorizar estes temas, como é visível, por exemplo, nas Lendas e Narrativas, de Alexandre Herculano, em Portugal.

O folclore também é visto como fonte rica para a tradição oral. Se pensarmos nas inúmeras versões que existe dos contos, fábulas e lendas em todo mundo (por exemplo, o saci pererê, que é chamado de vários nomes), conclui-se o quanto a oralidade é importante na historicidade do ser humano e até mesmo antropologicamente.

A partir da expansão dos centros urbanos e a deslocação de pessoas do campo para as cidades grandes, a tradição oral ameaçou a se extinguir. Por isso, famosos escritores como Charles Perrault e os Irmãos Grimm dedicaram-se a publicar essas histórias, que, antes, eram contadas oralmente.

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Tradição oral na escrita da História

As escolas mais tradicionais, demonstraram por bastante tempo uma aversão a utilização de fontes orais na História acadêmica, apenas recentemente se vê uma abertura para esse tipo de fonte, amplamente utilizada no campo da antropologia, que pouco é criticada ao utilizar relatos de indivíduos, para compor o perfil daquele povo, por outro lado historiadores mais ortodoxos tendem a focar no aspecto subjetivo das memorias, argumentando que dependem totalmente de como cada indivíduo irá guardar aquelas informações.

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Tradição oral nas sociedades africanas:

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Nas sociedades africanas da região ocidental, especialmente entre os povos do Mali, Senegal, Guiné e Burkina Faso, os griôs (ou griottes, no caso das mulheres) ocupavam um papel essencial como guardiões da memória coletiva. Eles eram responsáveis por preservar e transmitir oralmente os acontecimentos importantes das comunidades, as genealogias, os ensinamentos morais, os mitos de origem e até mesmo os acordos políticos. Muitos eram treinados desde a infância dentro de suas famílias, pois a função era tradicionalmente hereditária. Ao longo dos anos, memorizavam uma enorme quantidade de informações sobre a história dos clãs, os feitos de reis e heróis, além de recitar provérbios e ensinar valores éticos por meio das narrativas.

A tradição oral dos griôs era transmitida através de performances musicais, acompanhadas de instrumentos como o kora, um tipo de harpa africana. As histórias muitas vezes eram cantadas, e a entonação, o ritmo e a repetição desempenhavam um papel importante na memorização e na força emocional das narrativas. Mesmo após a colonização e a introdução da escrita europeia, os griôs continuaram sendo figuras centrais na vida cultural de muitas comunidades, reforçando o papel duradouro da oralidade como forma legítima e poderosa de conhecimento.  

Ver também

Notas

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Referências

  1. Vansina, Jan: Oral Tradition as History, 1985, James Currey Publishers, ISBN 0-85255-007-3, ISBN 978-0-85255-007-6; na página 27 e 28, onde Vasina define tradição oral como "mensagens verbais onde são relatadas declarações da geração atual", que "especifica que a mensagem devem ser declarações orais faladas, cantadas ou gritadas apenas em instrumentos musicais"; "Deve haver transmissão por palavra por pelo menos uma geração". Ele ressalta que "Nossa definição é uma definição funcional para o uso de historiadores. Sociólogos, linguistas ou estudiosos das artes verbais propõem sua própria, que em, por exemplo, sociologia, salienta conhecimento comum. Em linguística, características que distinguem a linguagem do diálogo comum (linguistas) e nas características das artes verbais de forma e conteúdo que definem arte (folcloristas)."
  2. Ki-Zerbo, Joseph: "Methodology and African Prehistory", 1990, UNESCO International Scientific Committee for the Drafting of a General History of Africa; James Currey Publishers, ISBN 0-85255-091-X, 9780852550915; veja o capítulo 7; "A tradição oral e sua metodologia" nas páginas 54-61; na página 54: "tradição oral pode ser definida como um testemunho transmitido de geração em geração. Suas características especiais são que é oral e a forma em que ele é transmitida."
  3. Machado, Vanda . Tradiçao Oral- Vida Africana e Afro-brasileira. In: FLORENTINA SOUZA E MARIA NAZARÉ LIMA. (Org.). Literatura Afro-brasileira. 1ed.Salvador: CEAO - Fundaçao Cultural Palmares, 2006, v. , p. 79-109.
  4. Henige, David. "Oral, but Oral What? The Nomenclatures of Orality and Their Implications" Oral Tradition, 3/1-2 (1988): 229-38. p 232; Henige cita Jan Vansina (1985). Oral tradition as history. Madison, Wisconsin: University of Wisconsin Press
  5. Degh, Linda. American Folklore and the Mass Media. Bloomington: IUP, 1994, p. 31
  6. Dundes, Alan, "Editor's Introduction" para The Theory of Oral Composition, John Miles Foley. Bloomington, IUP, 1988, pp. ix-xii
  7. Henige, David. "Oral, but Oral What? The Nomenclatures of Orality and Their Implications" Oral Tradition, 3/1-2 (1988): 229-38. p 232; Henige cita Jan Vansina (1985). Oral tradition as history. Madison, Wisconsin: University of Wisconsin Press
  8. Ong, Walter, S.J., Orality and Literacy: The Technologizing of the Word. Londres: Methuen, 1982 pp. 12
  9. «Comunidades ou Populações Tradicionais». Organização Eco Brasil. Consultado em 18 de julho de 2018
  10. «Povos e Comunidades Tradicionais». Ministério do Meio Ambiente. Consultado em 18 de julho de 2018
  11. «Comunidades ou Populações Tradicionais». Organização Eco Brasil. Consultado em 18 de julho de 2018
  12. «Comunidades ou Populações Tradicionais». Organização Eco Brasil. Consultado em 18 de julho de 2018
  13. «Povos e Comunidades Tradicionais». Ministério do Meio Ambiente. Consultado em 18 de julho de 2018
  14. «Comunidades ou Populações Tradicionais». Organização Eco Brasil. Consultado em 18 de julho de 2018
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Bibliografia

Ver também

Notas

Referências

    Ligações externas

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